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terça-feira, setembro 18, 2018

As Regiões Demarcadas do Dão e do Vinho Verde fazem hoje 110 anos

Há duas regiões de vinho que fazem 110 anos. E estas são as quintas que pode visitar

A Casa da Ínsua, mandada construir no século XVIII, é uma das referências de Enoturismo no Dão

Quinta da Aveleda (Vinhos Verdes) que está na família Guedes desde 1870 e, além da beleza óbvia, apresenta várias propostas de Enoturismo

O Dão e os Vinhos Verdes celebram esta terça-feira 110 anos de vida, resultado da Carta de Lei que D. Manuel II assinou em 1908. Mais de um século depois, as regiões prosperam. No enoturismo também.

Esta podia ser uma terça-feira normal. E para muitos até será. Mas há duas regiões de vinho no país que estão de parabéns. Há 110 anos, o rei D. Manuel II assinava a Carta de Lei de 18 de setembro que permitiu a demarcação do Dão e dos Vinhos Verdes, para tentar impulsionar o sector vinícola nacional, numa altura em que os licorosos do Douro já levavam anos de avanço e de reconhecimento. Em jeito de celebração, traçamos o perfil de ambas as regiões e apresentamos algumas propostas de enoturismo, de quintas seculares e históricas a outras bem mais recentes e modernas.

Cartão de Cidadão do Dão
Falar no Dão é falar em vinhos elegantes e equilibrados, sem demasiada cor ou demasiado álcool. Aromáticos também. Com potencial de guarda por causa dos taninos e frescos na boca. Arlindo Cunha, presidente da CVR do Dão, traça o perfil dos vinhos tendencialmente gastronómicos que, em tempos, não encontravam concorrência de maior. A política agrícola imposta pelo Estado Novo — que olhava para o vinho como um alimento agrícola, sendo, por isso, vendido mais barato — e a entrada na CEE — que permitiu a regiões como o Alentejo converter muitos hectares em vinha –, no final dos anos 1980, contribuíram para que a região sofresse um impacto negativo e demorasse a reagir. Diz Arlindo Cunha que, à data, o Dão “não estava habituado a concorrência no segmento de vinho de qualidade”. O Dão emergiu assim que os produtores de maior e média dimensão arregaçaram as mangas e começaram a reestruturar as vinhas: foram plantadas vinhas novas, trabalhadas exposições diferentes e as castas típicas da região jamais foram abandonadas. “Temos 64 castas que estão cá há muitos anos”, explica ao Observador. Uma nova geração de profissionais também contribuiu para o progresso. “A pouco e pouco, o Dão saiu do fundo do poço e o consumidor foi-nos descobrindo.” Há dois tipo de uva que servem de bandeiras. A muito conhecida touriga nacional, nas castas tintas — que, segundo Arlindo Cunha, vem de uma aldeia chamada Tourigo, no Dão — e a malvasia e o encruzado, nas brancas. O encruzado, muito mineral, está a ser alvo de um cada vez maior interesse pelos críticos e consumidores, devido à sua versatilidade quando à mesa e à capacidade de guarda.

O Dão em números
  • existem cerca de 20.000 hectares de vinha para 16 mil produtores
  • há quatro adegas cooperativas na região, de dimensão razoável, que representam cerca de 40% de toda a produção
  • o Dão divide-se em 7 sub-regiões e produz anualmente entre 30 a 40 milhões de litros, metade é vinho certificado
  • cerca de 40% dos vinhos certificados são exportados para 74 mercados, incluindo 26 países da União Europeia
  • nos últimos quatro anos assistiu-se a um aumento de 45% de vinho certificado
  • entre janeiro e agosto de 2018, as vendas do vinho certificado cresceram 12% em relação ao período homólogo do ano passado
  • em 2018, devido à primavera muito chuvosa e ao escaldão na primeira semana de agosto, ter-se-á perdido entre 20 a 25% da produção.

Cartão de Cidadão dos Vinhos Verdes
Quando foi demarcada, em 1908, era essencialmente uma região de vinhos tintos — nos anos 60-70, já no fim do século XX, a região descobriu os vinhos brancos. “No passado, os vinhos verdes eram mais ácidos e menos alcoólicos. Hoje, são mais redondos e apresentam uma riqueza muito maior de aromas, correspondendo às castas que foram plantadas, o loureiro e o alvarinho”, diz Manuel Pinheiro, da CVR dos Vinhos Verdes. Mais mudanças foram acontecendo ao longo do tempo: se antigamente os vinhos verdes eram tradicionalmente consumidos pelos minhotos, atualmente o mercado está muito mais recetivo. Uma questão de adaptação e reinvenção. “Os primeiros anos da região foram muito difíceis. Havia uma legislação que dava privilégios ao Douro, que colocou dificuldades aos Vinhos Verdes. Esses privilégios andaram até meio do século XX. A entrada na CEE foi marcante: passámos a ter apoios generosos para as vinhas e regras específicas para a denominação de origem”, continua. Mais recentemente assistiu-se a outra transformação, desta vez a cargo dos produtores, que apostaram em mudar a rotulagem dos vinhos e em desenvolver uma cultura de exportação que trouxe implicações económicas. Já antes Manuel Pinheiro explicou ao Observador como o vinho verde é “único”: é um vinho gastronómico, sem dúvida, resultado de uma feliz combinação — influência marítima, solo granítico e castas típicas. O clima, marcado pela ausência de verões muito quentes e de invernos muito frios, também contribui para a equação.

Os Vinhos Verdes em números
  • existem cerca de 15 mil produtores para 16 mil hectares
  • os Vinhos Verdes distribuem-se ao longo de 9 sub-regiões
  • no primeiro semestre de 2018, os vinhos foram exportados para 102 países;
  • as exportações aumentaram 5% em valor e 4% em volume face ao período homólogo e assistiu-se à diversificação de mercados
  • em 2018, estima-se que haja uma perda de produção na ordem dos 20%, também devido às situações climatéricas
Percorra a fotogaleria para conhecer 5 quintas no Dão e 5 quintas nos Vinhos Verdes que pode visitar.

segunda-feira, julho 02, 2018

Música para recordar um triste dia...


EL-REI


Longe da luz
A que sonhou na infância
Em vez de predomínio e de conquista
Sonhos de amor
Entre visões de artista
Morreu de desconsolo e de distância.


Caminho aberto
À morte por essa ânsia
Que mais se exalta
Quanto mais contrista
De quem recorda o lar que nunca avista
E se consome em lúcida constância.
 

Porque acima do trono e da realeza
Havia o céu azul, a claridade
Da sua amada Terra Portuguesa
Havia a Pátria, e dizem, que impiedade
Dizem que não se morre de tristeza
Dizem que não se morre de saudade.
 
Branca Gonta Colaço

El-Rei D. Manuel II morreu há 86 anos...

(imagem daqui)

Regulus

Não há sombra para nela abrigares
o olhar das estilhas da luz no amanhecer.

Nenhuma trama nasce dos teus passos
que o vento não apague, com o andar.

Sem passado, tens por céu um alvo
neutro como o horizonte. Não há intenção

por detrás do sono dos teus passos,
posto que é tudo deserto à tua volta.

As cidades foram o lugar de uma morte espaçosa
enquanto a chama ia medrando no calor.


in As Esperas e outros poemas (1997) - Paulo Teixeira 
 
  
(imagem daqui)
 

quinta-feira, setembro 28, 2017

Hoje é o aniversário de El-Rei D. Carlos I e da Rainha Dona Amélia

D. Carlos I de Portugal, de nome completo: Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon e Saxe-Coburgo-Gotha (Palácio da Ajuda, Lisboa, 28 de setembro de 1863 - Terreiro do Paço, Lisboa, 1 de fevereiro de 1908) foi o penúltimo Rei de Portugal.

Nascido em Lisboa, era filho do rei Luís I de Portugal e da rainha Maria Pia de Sabóia, tendo subido ao trono em 1889. Foi cognominado O Diplomata (devido às múltiplas visitas que fez a Madrid, Paris e Londres, retribuídas com as visitas a Lisboa dos Reis Afonso XIII de Espanha e Eduardo VII do Reino Unido, do Kaiser Guilherme II da Alemanha e do presidente da República Francesa Émile Loubet), O Martirizado e O Mártir (em virtude de ter morrido assassinado), ou O Oceanógrafo (pela sua paixão pela oceanografia, partilhada com o pai e com o príncipe do Mónaco).
D. Carlos era um apreciador das tecnologias que começavam a surgir no princípio do século XX. Instalou luz eléctrica no Palácio das Necessidades e fez planos para a electrificação das ruas de Lisboa. Embora fossem medidas sensatas, contribuíram para a sua impopularidade visto que o povo as encarou como extravagâncias desnecessárias. Foi ainda um amante da fotografia e autor do espólio fotográfico da Família Real. Foi ainda um pintor de talento, com preferências por aguarelas de pássaros que assinava simplesmente como "Carlos Fernando". Esta escolha de tema refletia outra das suas paixões, a ornitologia. Recebeu prémios em vários certames internacionais e realizou ensaios notáveis na área de cerâmica.
Para além da ornitologia, era um apaixonado pela oceanografia, tendo adquirido um iate, o Amélia, especificamente para se dedicar a campanhas oceanográficas. Estabeleceu uma profunda amizade com Alberto I, Príncipe do Mónaco, igualmente um apaixonado pela oceanografia e as coisas do mar. Desta relação nasceu o Aquário Vasco da Gama, que pretendia em Portugal desempenhar papel semelhante ao Museu Oceanográfico do Mónaco. Alguns trabalhos oceanográficos realizados por D. Carlos, ou por ele patrocinados, foram pioneiros na oceanografia mundial. Honrando esta faceta do monarca, a Armada Portuguesa opera atualmente um navio oceanográfico com o nome de D. Carlos I.
D. Carlos foi também um excelente agricultor, tendo tornado rentáveis as seculares propriedades da Casa de Bragança (património familiar destinado a morgadio dos herdeiros da Coroa), produzindo vinho, azeite, cortiça, entre outros produtos, tendo também organizado uma excelente ganadaria e incentivado a preservação dos prestigiados cavalos de Alter.
Jaz no Panteão dos Braganças, no mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa, ao lado do filho que com ele foi assassinado. As urnas com tampas transparentes ficaram aí depositadas durante 25 anos. Só em 1933 é que uma comissão privada abriu uma subscrição nacional que levou à inauguração de dois belos túmulos, concebidos pelo arquiteto Raúl Lino, junto dos quais está uma figura feminina, representando "A Dor", esculpida por Francisco Franco, conjunto esse que ainda hoje pode ser visto.
 
O Sobreiro (1905), pintura de D. Carlos I
 
in Wikipédia
D.ª Maria Amélia Luísa Helena de Orleães (Twickenham, 28 de setembro de 1865 - Chesnay, 25 de outubro de 1951) foi a última Rainha de facto de Portugal.
Durante a sua vida, D. Amélia perdeu todos os seus familiares diretos: defrontou-se com o assassinato do marido, o Rei Carlos I, e do filho mais velho, D. Luís Filipe (episódio conhecido como regicídio de 1908); vinte e quatro anos mais tarde, recebeu a notícia da morte do segundo e último filho, o futuro Rei Manuel II; e também ficou de luto com a morte de sua filha, a Infanta D. Maria Ana de Bragança, nascida em um parto prematuro.
Ela foi o único membro da família real portuguesa exilada após a implantação da república - facto ocorrido a 5 de outubro de 1910 - que visitou Portugal em vida, bem como o último membro a morrer, aos oitenta e seis anos. Amélia de Orleães viveu sofridas décadas de exílio, entre Inglaterra e França, onde aguentou a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Esta frase estava entre as suas últimas palavras:
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Quero bem a todos os portugueses, mesmo àqueles que me fizeram mal.
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D. Amélia era a filha primogénita de Luís Filipe, conde de Paris (neto do último rei da França, Luís Filipe I, e como tal pretendente ao trono francês) e de Maria Isabel de Orleães-Montpensier, infanta da Espanha, filha do duque António de Montpensier. Através de sua irmã Luísa, a princesa era tia-avó do rei Juan Carlos I da Espanha.
D. Amélia passou parte da infância em Inglaterra, onde nasceu, devido ao exílio a que a sua família estava sujeita desde que Napoleão III assumira o trono da França, em 1848. Somente após a queda do império, em 1871, os Orleães puderam regressar ao país. A princesa teve então a esmerada educação reservada às princesas, embora o seu pai apenas fosse pretendente à coroa.
A princesa cresceu em grandes casas e frequentemente viajava para a Áustria e Espanha, onde visitava seus parentes da família real espanhola (sua avó materna era filha de Fernando VII). D. Amélia adorava o teatro e a ópera. Uma ávida leitora, escrevia para seus autores favoritos e, ademais, tinha dons para pintura.
O matrimónio de D. Amélia de Orleães com o Príncipe Real D. Carlos, Duque de Bragança, ocorreu após falharem várias hipóteses de uma união com a família imperial austríaca e a família real espanhola.
É dito que Otto von Bismarck foi contrário ao seu noivado com o arquiduque Francisco Fernando da Áustria, cujo assassinato, após a tragédia de Sarajevo, foi uma das causas da Primeira Guerra Mundial. D. Amélia poderia ter ficado no lugar de Sofia, Duquesa de Hohenberg, também assassinada na ocasião. Porém, ironicamente, ela acabou tendo uma experiência semelhante ainda antes da morte do arquiduque: o Regicídio de 1908.
Apesar do casamento arranjado, D. Amélia e D. Carlos apaixonaram-se um pelo outro. A 18 de maio de 1886, a futura Duquesa de Bragança partiu de França. Ao chegar a Pampilhosa, terá descido do comboio com o pé esquerdo. No dia seguinte, em 19 de maio, às 5 horas da tarde, a princesa conheceu a corte em Lisboa, que estava à sua espera. Foi bem recebida pelos sogros, o rei Luís I e a rainha Maria Pia.
O casamento foi celebrado no dia 22 de maio de 1886, na Igreja de São Domingos, e grande parte do povo lisboeta saiu às ruas para acompanhar a cerimónia. O Duque e a Duquesa de Bragança mudaram-se para sua nova residência, o Palácio de Belém, onde nasceriam os dois filhos: D. Luís Filipe e o futuro D. Manuel II de Portugal. Eles também tiveram uma filha, D. Maria Ana, nascida em 14 de dezembro de 1887, mas essa sobreviveu por poucas horas.
Em outubro de 1889, com a morte do sogro, D. Amélia, então com apenas vinte e quatro anos, tornou-se rainha de Portugal. Contudo, o reinado de seu marido, titulado Carlos I, enfrentava crises políticas, tais como o Ultimato britânico de 1890, e a insatisfação popular; crescia o ódio à família real portuguesa. Em janeiro de 1891, no Porto, houve uma rebelião republicana, mas foi sufocada.
Em 1892, D. Amélia recebeu a Rosa de Ouro do Papa Leão XIII.
Como rainha, porém, D. Amélia desempenhou um papel importante. Com sua elegância e caráter culto, influenciou a corte portuguesa. Interessada pela erradicação dos males da época, como a pobreza e a tuberculose, fundou dispensários, sanatórios, lactários populares, cozinhas económicas e creches. Todavia, suas obras mais conhecidas são as fundações do Instituto de Socorros a Náufragos (em 1892); do Museu dos Coches Reais (1905); do Instituto Pasteur em Portugal (Instituto Câmara Pestana); e da Assistência Nacional aos Tuberculosos.
A propaganda republicana, que estava ganhando força, apelidava-a de "beata gastadora e leviana".
Como mãe, a rainha soube dar uma excelente educação aos seus dois filhos, alargando-lhes os horizontes culturais com uma viagem pelo Mediterrâneo, a bordo do iate real Amélia, mostrando-lhes as antigas civilizações romana, grega e egipcía.
O regicídio de 1 de fevereiro de 1908 lançou-a num profundo desgosto, do qual D. Amélia jamais se recuperou totalmente. Retirou-se então para o Palácio da Pena, em Sintra, não deixando porém de procurar apoiar, por todos os meios, o seu jovem filho, o rei D. Manuel II, no período em que se assistiu ao degradar das instituições monárquicas. Encontrava-se justamente no Palácio da Pena, quando eclodiu a revolução de outubro de 1910.
Após a proclamação da República Portuguesa, em 5 de outubro de 1910, D. Amélia seguiu o caminho do exílio com o resto da família real portuguesa para Londres, Inglaterra. Depois do casamento de D. Manuel II, com Augusta Vitória de Hohenzollern-Sigmaringen, a rainha passou a residir em Château de Bellevue, perto de Versalhes, em França. Em 1932, D. Manuel II morreu inesperadamente em Twickenham, o mesmo subúrbio londrino onde sua mãe havia nascido.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo Salazar ofereceu-lhe asilo político em Portugal, mas D. Amélia permaneceu em França ocupada, com imunidade diplomática portuguesa.
Após o fim da guerra, em 8 de junho de 1945, regressou a Portugal, numa emocionante jornada, visitando o Santuário de Fátima e todos os lugares que lhe estavam ligados, com exceção de Vila Viçosa, apesar da grande afeição que sentia por esta vila alentejana.
Pouco antes da sua visita a Portugal, D. Amélia aceitara ser madrinha de baptismo de D. Duarte Pio de Bragança, confirmando a reconciliação dos dois ramos da família Bragança.
No dia 25 de outubro de 1951, a rainha D. Amélia faleceu em sua residência em Versalhes, aos oitenta e seis anos. Tinha sido atingida por um fatal ataque de uremia, morrendo às 09.35 horas da manhã. O corpo da rainha foi então trasladado pela fragata Bartolomeu Dias para junto do marido e dos filhos, no panteão real dos Bragança, na Igreja de São Vicente de Fora. Esse foi o seu último desejo na hora de sua morte. O funeral teve honras de Estado e foi visto por grande parte do povo de Lisboa.
 

domingo, julho 02, 2017

Saudades de El-Rei...

(imagem daqui)

Regulus

Não há sombra para nela abrigares
o olhar das estilhas da luz no amanhecer.

Nenhuma trama nasce dos teus passos
que o vento não apague, com o andar.

Sem passado, tens por céu um alvo
neutro como o horizonte. Não há intenção

por detrás do sono dos teus passos,
posto que é tudo deserto à tua volta.

As cidades foram o lugar de uma morte espaçosa
enquanto a chama ia medrando no calor.


in As Esperas e outros poemas (1997) - Paulo Teixeira

El-Rei D. Manuel II morreu há 85 anos

D. Manuel II (Lisboa, 15 de novembro de 1889Londres, 2 de julho de 1932), também chamado "o Patriota" ou "o Desaventurado", foi o último Rei de Portugal e dos Algarves de 1908 até à sua deposição em 1910. com a Implantação da República Portuguesa. Era o segundo filho do rei D. Carlos I e da sua esposa a princesa Amélia de Orleães, tendo ascendido ao trono após o assassinato do seu pai e do irmão mais velho, D. Luís Filipe, Príncipe Real de Portugal.

(imagem daqui)

terça-feira, novembro 15, 2016

O último Rei de Portugal nasceu há 127 anos

Manuel II (Lisboa, 15 de novembro de 1889Londres, 2 de julho de 1932), também chamado de "o Patriota" ou "o Desaventurado", foi o último Rei de Portugal e Algarves de 1908 até à sua deposição em 1910, com a Implantação da República Portuguesa. Era o segundo filho do rei D. Carlos I e sua esposa a princesa Amélia de Orleães, tendo ascendido ao trono após o assassinato de seu pai e irmão mais velho D. Luís Filipe, Príncipe Real de Portugal.

sábado, novembro 15, 2014

O último Rei de Portugal nasceu há 125 anos...

D. Manuel II de Portugal (nome completo: Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança Orleães Sabóia e Saxe-Coburgo-Gotha) GCNSC (Santa Maria de Belém, Lisboa, 15 de novembro de 1889Londres, 2 de julho de 1932) foi o trigésimo-quinto e último Rei de Portugal. Manuel II sucedeu ao seu pai, o Rei D. Carlos I, depois do assassinato deste e do seu irmão mais velho, o príncipe real Luís Filipe, a 1 de fevereiro de 1908. Antes da sua ascensão ao trono, D. Manuel foi Duque de Beja e Infante de Portugal.

Biografia
Manuel II nasceu no Palácio de Belém, em Lisboa, cerca de um mês depois da subida de seu pai ao trono de Portugal. Baptizado alguns dias depois, no mesmo Paço de Belém, teve por padrinho o avô materno, o Conde de Paris, tendo participado na cerimónia o Imperador do Brasil, D. Pedro II, deposto do seu trono exactamente no dia do seu nascimento. Manuel recebeu à nascença os títulos reais de Infante de Portugal e de Duque de Beja.
Teve o tratamento e a educação tradicionais dos filhos dos monarcas da sua época, embora sem preocupações políticas, dado ser o filho segundo do rei e, como tal, não esperar um dia vir a ser rei. Como tal, é de notar que durante a infância e juventude posava para os fotógrafos com uma atitude mais altiva que o irmão. Este divertia-se com os tiques snobes do irmão mais novo, embora sempre tenham sido bons amigos. Paradoxalmente, depois de subir inesperadamente ao trono, Manuel teve uma atitude oposta, afastando-se regularmente dos costumes protocolares: foi o primeiro rei de Portugal a não dar a mão a beijar aos dignitários durante a cerimónia anual do beija-mão real, a 1 de janeiro.
Aos seis anos já falava e escrevia em francês. Estudou línguas, história e música (tendo como professor Alexandre Rey Colaço). Desde cedo se mostrou a sua inclinação pelos livros e pelo estudo, contrastando com o seu irmão, Luís Filipe, mais dado a actividades físicas. Viajou em 1903 com a mãe, a rainha Amélia de Orleães, e o irmão ao Egipto, no iate real Amélia, aprofundando assim os seus conhecimentos das civilizações antigas. Em 1907 iniciou os seus estudos de preparação para ingresso na Escola Naval, preparando-se para seguir carreira na Marinha.
  
Casamento
Em 4 de setembro de 1913, Manuel casou-se com Augusta Vitória, princesa de Hohenzollern-Sigmaringen (1890-1966), sua prima (por ser neta da Infanta Antónia de Portugal), e filha do príncipe Guilherme de Hohenzollern-Sigmaringen. Durante a missa na manhã do enlace, que teve lugar na capela do castelo de Sigmaringen, Manuel assistiu de pé, ostentando a ordem da Jarreteira e o Grande cordão das Três Ordens Portuguesas, sobre um caixote cheio de terra portuguesa. A cerimónia foi presidida por José Neto, cardeal-patriarca de Lisboa, à altura exilado em Sevilha, e que já havia baptizado Manuel, e assistiram o príncipe de Gales, (futuro Eduardo VIII), bem como representantes das casas reinantes ou reais da Espanha, Alemanha, Itália, França, Roménia e de vários principados e reinos alemães próximos. O casamento, uma união calma e serena, durou até à morte súbita do rei, mas não teve descendência, fonte de grande descontentamento para os monárquicos portugueses. Nunca se ouviram falar em gravidezes de Augusta Vitória, pelo que se julga que os dois eram geneticamente incompatíveis.

Reinado
A sua futura carreira naval foi inesperadamente interrompida a 1 de fevereiro de 1908, com o Regicídio de 1908.
O infante havia regressado a Lisboa (depois de ter estado alguns dias em Vila Viçosa, com toda a família) para se preparar para os exames da escola naval, tendo ido esperar os pais e o irmão ao Terreiro do Paço. Minutos depois deu-se o atentado que vitimou o rei e o príncipe real, sendo Manuel atingido no braço.
O infante tornou-se assim Rei de Portugal. A sua primeira decisão consistiu em reunir o Conselho de Estado, a conselho do qual demitiu o primeiro-ministro João Franco, cuja política de força foi considerada responsável pela tragédia. Nomeou então um governo de aclamação partidária, presidido pelo Almirante Francisco Joaquim Ferreira do Amaral. Esta atitude acalmou momentaneamente os ânimos mas, em retrospectiva, acabou por enfraquecer a posição monárquica, pois foi vista como fraqueza perante os republicanos.
Foi solenemente aclamado "Rei" na Assembleia de Cortes a 6 de maio de 1908, perante os deputados da Nação, jurando cumprir a Carta Constitucional. Manuel manteve-se sempre fiel a este juramento mesmo quando, já no exílio, foi pressionado a apoiar outras formas de governo para uma possível restauração. O rei auferiu, no início, uma simpatia generalizada devido à sua tenra idade (18 anos) e à forma trágica e sangrenta como alcançou o trono. Foi então fortemente protegido pela sua mãe, Amélia, e procurou o apoio do experiente José Luciano de Castro.
Julgando que a intervenção directa na governação pelo seu pai havia sido a causa principal para o desfecho trágico do reinado deste, Manuel II absteve-se de intervir directamente nos assuntos do governo, seguindo a máxima de que o rei reina, mas não governa. No entanto, sobre um aspecto se debruçou directamente o rei, a Questão Social.

D. Manuel II e a Questão Social
Por “Questão Social” compreende-se a preocupação, por parte de alguns intelectuais e governantes, com a sorte do crescente proletariado urbano criado ao longo do século XIX com as mudanças impostas na sociedade pela Revolução Industrial. Em Portugal, dada a fraca industrialização, essa questão não teve o peso que teve noutros países, no entanto, o seu peso era exacerbado tanto pela crise económica do país, como pela acção reivindicativa do Partido Republicano.
Existia um partido socialista desde 1875, mas nunca chegou a ter representação parlamentar. Isto devia-se não só ao fraco peso do operariado no país e às divergências internas de carácter doutrinário, mas sobretudo ao facto de o Partido Republicano concentrar em si, pela sua natureza mais radical, todos os descontentes. Dado que era teoria dos socialistas, ao contrário dos republicanos, que a questão do regime era secundária face à melhoria de condições de vida para os operários e por conseguinte, estarem dispostos a colaborar com o regime, Manuel II vai tomar iniciativas de moto próprio. Pretendia com isto o rei, sem infringir os seus deveres constitucionais, incentivar o Partido Socialista de forma a que este retirasse apoios ao Partido Republicano, nomeadamente o apoio do proletariado urbano, dado que este último partido punha para depois da mudança de regime quaisquer medidas sociais concretas.
Assim, logo em 1909 Manuel convida para Portugal, a expensas suas, o sociólogo francês Léon Poinsard. Este percorreu o país com o fito de elaborar um extenso relatório. Neste documento defendia que, para se combater os clientelismos derivados do rotativismo, se devia reorganizar o trabalho e a administração locais, em consequência do qual a reforma política viria naturalmente.
Entusiasmado, o rei escreve, em Junho de 1909, ao então Presidente do Conselho de Ministros, Venceslau de Lima, pondo-o ao corrente da recente reorganização do Partido Socialista, então unido sob a chefia de Aquiles Monteverde, e lembrando-o da importância de uma colaboração do regime com os socialistas: “Desta maneira, vamos desviando o operariado do partido republicano e, orientando-o, o que virá a ser uma força útil e produtiva”.
Apesar de contactos anteriores do governo de Campos Henriques com o socialista Azedo Gneco, Venceslau de Lima considerou a acção difícil, dadas as dificuldades que surgiam então na realização do Congresso Nacional Operário, boicotado por anarquistas e republicanos com um congresso rival. Por seu lado, os socialistas entusiasmam-se com o apoio régio, iniciando-se correspondência entre o rei e Aquiles Monteverde. Este dá conta ao rei, em outubro de 1909, da falência do rival Congresso Sindicalista, agradecendo-lhe o interesse pelos operários. Apesar do apoio Real, e devido à instabilidade governativa, durante o ano de 1909 não se tomaram medidas legais que mostrassem concretamente essa aproximação aos socialistas, excepto nas portarias que de facto facilitaram e permitiram o trabalho de Poinsard.
Foi só já no governo de Teixeira de Sousa, em julho de 1910, que o governo criou uma comissão com o fito de estudar o estabelecimento de um Instituto de Trabalho Nacional. Desta comissão faziam parte três socialistas, incluindo Azedo Gneco. No entanto, Aquiles Monteverde queixava-se, que faltavam à comissão meios para ser eficaz, nomeadamente, que a comissão tivesse um carácter permanente e que aos delegados socialistas tivessem acesso ilimitado aos transportes do estado para prosseguirem a sua tarefa de propaganda pelo país. Informado, o rei passou palavra ao governo que, através do ministro das obras públicas, concordou com o estabelecimento de um Instituto de Trabalho Nacional. Estava-se em fins de Setembro de 1910, e no início do mês seguinte ocorria o golpe de estado do Partido Republicano, o que pôs fim à tentativa do monarca de revitalizar um partido que não se opusesse ao regime: de certa forma o mesmo que o seu pai tentara fazer, mas por meios menos drásticos e mais demorados. Mas faltou-lhe tempo para o conseguir.

Situação interna e Revolução Republicana
Entretanto a situação política degradou-se, tendo-se sucedido sete governos em cerca de 24 meses. Os partidos monárquicos voltaram às costumeiras questiúnculas e divisões, fragmentando-se, enquanto o partido republicano continuava a ganhar terreno. As eleições legislativas de 28 de agosto de 1910 fizeram aumentar os deputados republicanos no parlamento para 14 deputados (9% de republicanos, contra 58 % de apoio ao governo, e 33% do bloco da oposição), o que parece ter favorecido bastante a causa revolucionária, embora já tivesse sido tomada a decisão de tomar o poder pela via revolucionária, no Congresso de Setúbal, 24 a 25 de abril de 1909.
Na verdade, a 4 de outubro de 1910, começou uma revolução e no dia seguinte, 5 de outubro deu-se a Proclamação da República em Lisboa. O Palácio das Necessidades, residência oficial do rei, foi bombardeado, pelo que o monarca terá sido aconselhado a dirigir-se ao Palácio Nacional de Mafra, onde a sua mãe, a rainha, e a avó, a rainha-mãe Maria Pia de Saboia viriam juntar-se a ele. No dia seguinte, consumada a vitória republicana, Manuel II decidiu-se a embarcar na Ericeira no iate real "Amélia" com destino ao Porto.
Os oficiais a bordo terão demovido Manuel dessa intenção, ou raptaram-no simplesmente, levando-o para Gibraltar. A família real desembarcou em Gibraltar, recebendo-os logo a notícia de que o Porto aderira à República. O golpe de Estado estava terminado. A família real seguiu dali para o Reino Unido, onde foi recebido pelo rei Jorge V.

Exílio
Manuel fixou residência em Fulwell Park, Twickenham, nos arredores de Londres, local para onde seguiram os seus bens particulares, e onde já sua mãe havia nascido, também no exílio. Ali procurou recriar um ambiente português, à medida que fracassavam as tentativas de restauração monárquica (em 1911, 1912 e 1919). Manteve-se sempre activo na comunidade, frequentando a igreja católica de Saint James, e sendo o padrinho de baptismo de várias dezenas de crianças. A sua passagem no lugar ainda se vê hoje em topónimos como "Manuel Road", "Lisbon Avenue" e "Portugal Gardens".
Continuou a seguir de perto a política portuguesa, gozando de alguma influência junto de alguns círculos políticos, nomeadamente das organizações monárquicas. Se preocupava de que a anarquia da Primeira República provocasse uma eventual intervenção espanhola e o seu perigo para a independência nacional.
Pelo menos um caso é conhecido em que a intervenção directa do rei teve efeito. Depois do afastamento de Gomes da Costa pelo general Fragoso Carmona, foi nomeado novo embaixador de Portugal em Londres, substituindo o anteriormente designado. Dada a aparente instabilidade e rápida sucessão de embaixadores designados o governo britânico recusou-se a reconhecer as credenciais do novo enviado. Ora acontece que na altura estava a ser negociada a liquidação da dívida de Portugal à Inglaterra, pelo que o assunto se revestia de grande importância. Nesta conjuntura, o ministro dos negócios estrangeiros da república pediu a Manuel que exercesse a sua influência para desbloquear a situação. O rei ficou encantado com esta oportunidade para ajudar o seu país e levou a cabo vários contactos (incluindo provavelmente o seu amigo, o rei Jorge V), o que teve de imediato os efeitos desejados.
Apesar de deposto e exilado, Manuel teve sempre um elevado grau de patriotismo, o que o levou, em 1915, a declarar no seu testamento a intenção de legar os seus bens pessoais ao Estado Português, para a fundação de um Museu, manifestando também a sua vontade de ser sepultado em Portugal.

Política externa
Durante o seu reinado visitou várias localidades do norte do país e visitou oficialmente a Espanha, a França e a Inglaterra, onde foi nomeado cavaleiro da prestigiada Ordem da Jarreteira, em Novembro de 1909. Recebeu as visitas de Afonso XIII, Rei de Espanha, em 1909 e de Hermes da Fonseca, Presidente eleito do Brasil, em 1910.
Procurou sempre seguir uma política de aproximação à Grã-Bretanha. Este imperativo era ditado não só por uma orientação geo-política já seguida pelo seu pai, mas também como um recurso para fortalecer o trono. Considerava-se que o casamento do rei com uma princesa inglesa colocaria definitivamente a casa de Bragança sob a protecção da Inglaterra. No entanto, a instabilidade do país, o recente regicídio e a lentidão das investigações sobre este atrasaram as negociações até que a morte do rei britânico, Eduardo VII, lhes pôs fim. O velho monarca, amigo pessoal de Carlos, havia sido o grande protector da Casa de Bragança e, sem ele, o governo liberal britânico não tinha especial interesse pela manutenção do regime monárquico em Portugal.

D. Manuel II na I Guerra Mundial
Sendo anglófilo, e admirador do espírito britânico, Manuel defende a partir da entrada de Portugal na guerra, uma participação activa, instando os monárquicos a não lutarem contra a república e a porem de lado as tentativas restauracionistas enquanto durasse o conflito, e a unirem-se como portugueses na defesa da Pátria, chegando mesmo, no exílio, a ter solicitado a sua incorporação no exército republicano português.
Mas ao contrário do que esperava, a maioria dos monárquicos não corresponde às suas expectativas, pois eram germanófilos, que esperavam que a vitória do kaiser se saldasse pela restauração da monarquia. O rei por seu lado acreditava que só o apoio à Grã-Bretanha garantia a manutenção das colónias portuguesas, que se perderiam para a ambição alemã em caso de vitória destes, quer Portugal fosse uma república ou uma monarquia. Mas apenas aqueles mais próximos do rei se ofereceram para lutar, embora a República não tenha aceite os serviços de nenhum monárquico.
O próprio monarca se pôs à disposição dos aliados para servir como melhor pudesse. Ficou de início um pouco desapontado quando o colocaram como oficial da Cruz Vermelha britânica, mas o esforço que desenvolveu ao longo da guerra, participando em conferências e recolha de fundos, visitando hospitais e mesmo os feridos na frente, acabou por ser muito gratificante. As visitas á frente foram dificultadas pelo governo francês, mas a amizade com Jorge V era suficiente para desbloquear esses entraves.
O seu esforço nem sempre foi reconhecido. Anos mais tarde, em entrevista a António Ferro, lamentou-se, "A sala de operações do Hospital Português, em Paris, durante a guerra, foi montada por mim. Sabe o que puseram na placa da fundação? ‘De um português de Londres'."
Ao rei se deveu a criação do departamento ortopédico do hospital de Sheperds Bush, que por sua insistência continuou a funcionar até 1925, assistindo aos mutilados de guerra. Uma prova de reconhecimento dos ingleses para Manuel e para com Portugal foi o facto de Jorge V tê-lo convidado a ocupar um lugar a seu lado na tribuna de honra do desfile da vitória, em 1919.

As incursões monárquicas
Desde 1911 que forças de monárquicos exilados se centram na Galiza, com o beneplácito do governo espanhol, para entrarem em Portugal e restaurarem o regime monárquico. Eram lideradas pelo carismático Henrique de Paiva Couceiro, veterano das campanhas de África e o único oficial que se havia batido com denodo pelo regime aquando do golpe de estado de 5 de outubro. Acreditava o Paladino (assim o alcunhava a imprensa republicana) que bastava uma demonstração de força para que o povo rural se erguesse em apoio da restauração. Os acontecimentos mostraram que estava enganado, pois além de mal preparadas e mal financiadas, a reacção do povo não correspondeu ao esperado, tendo a sua apatia e a defesa das forças republicanas batido as incursões de volta para a Galiza.
Manuel apoiou como pôde estas incursões, embora os seus recursos financeiros, nos primeiros anos de exílio, fossem bastante limitados. Acresce o facto de que esta primeira incursão ter sido feita sob a bandeira azul e branca, mas sem a coroa, e foi precedida de um manifesto de Paiva Couceiro que identificava o movimento como neutro, e reclamando um plebiscito para decidir a forma de regime. Ora como monarca constitucional legalmente jurado, Manuel II não aceitava ser sujeito a um referendo. Foi só após troca de correspondência e aceite que a restauração seria baseada na sua pessoa e na carta constitucional de 1826, que o rei passou a apoiar os exilados da Galiza.
A segunda incursão ocorreu em 1912 e apesar de melhor preparada, não encontrou maior sucesso. Isto deveu-se ao facto de que o governo espanhol, cedendo às pressões diplomáticas, agora que a república já gozava de um reconhecimento mais alargado, ter forçado os conjurados a escolherem, ou entrarem em Portugal, ou serem desarmados. Após o falhanço e retirada o governo espanhol desarmou os combatentes restantes, cuja presença na Galiza era, de resto, ilegal.
No entanto, é de notar que Manuel II nunca fez fé numa restauração baseada na força, e sempre defendeu que os monárquicos se deveriam organizar internamente para tentarem chegar ao poder legalmente, através do jogo eleitoral. Esta orientação não era acatada de bom grado pela maioria dos monárquicos, mais radicais nas suas acções, pelo que nos anos seguintes continuavam as mal preparadas tentativas restauracionistas (por exemplo, em 20 de outubro de 1914), que o monarca achava apenas contribuíam para agravar a situação anárquica do país. Esta preocupação agravou-se com o começo da Guerra Mundial. Temia que a situação de do país, combinada com a aproximação da Espanha às potências ocidentais, levasse a Inglaterra a substituir Portugal pelo seu vizinho como seu aliado, e que o próprio país fosse o preço cobrado por Afonso XIII pela sua entrada na guerra.

O Pacto de Dover
Depois do fracasso da primeira incursão monárquica, e perante o que parecia desinteresse da parte de Manuel, já que este não punha fé em movimentos baseados na força, ganhou vigor o ramo legitimista, que apoiava os descendentes de Miguel I, e que haviam participado no movimento. Para contrariar isto o monarca entrou em negociações directas com os representantes miguelistas. Pretendia-se que Miguel reconhecesse Manuel como rei e em troca que este reconhecesse a linhagem de Miguel como segunda na linha de sucessão, restabelecendo os direitos e cidadania portuguesa aos príncipes miguelistas. De facto parece que houve um encontro entre Manuel II e Miguel II, em Dover, em 30 de janeiro de 1912, onde se trocaram cartas protocolares. Os resultados efetivos ainda hoje são discutidos. Argumentaram os seus adversários que o conteúdo daquelas cartas não correspondia ao que se tinha previamente acordado, tendo ficado o encontro por acordos quanto ao modo de ação na luta contra a república, enquanto que no que toca à sucessão nenhum acordo efetivo teria sido levado a cabo. Manuel não teria abdicado dos seus direitos como rei. Por outro lado é possível que esta interpretação tenha surgido apenas em consequência de parcialidade por parte de alguns elementos constitucionalistas adversos ao acordo. A situação não ficou de todo resolvida, pois ainda houve uma posterior tentativa de entendimento – no Pacto de Paris.

A monarquia do Norte
Depois do falhanço das incursões monárquicas continuam amiúde os levantamentos ocasionais, sem mais que repercussão local, e que o monarca condenava, exortando os seus correlegionários a organizarem-se e a fazerem propaganda, de forma a restaurar o regime pelo voto, e não pela força. Esta opção pareceu viável quando a ditadura do general Pimenta de Castro, em janeiro de 1915, quebrou momentaneamente o monopólio político do Partido Democrático e, numa tentativa de captar as simpatias mais conservadoras, retirou as restrições à liberdade de associação que desde o 5 de outubro limitavam os monárquicos. Entre abril e maio de 1915 abriram-se 55 centros monárquicos (33 no Norte e 12 no Centro do país), mas perante esta abertura cerrou fileiras todo o espectro republicano e em 14 de maio de 1915 a revolução saiu à rua. 15000 civis armados e a marinha em revolta manietaram o exército fiel ao governo e ao fim de três dias de combates, 500 mortos e mais de 1000 feridos, o Partido Democrático estava de volta ao poder e os monárquicos de volta à ilegalidade.
A opção das urnas voltou a ter possibilidade com a subida ao poder de Sidónio Pais. Apesar de claramente republicano, também ele procurou apoio no sector mais conservador da sociedade, estabelecendo o sufrágio universal. O assassinato do presidente-rei levou ao poder forças republicanas mais moderadas, mas não sem oposição. O estabelecimento de juntas militares na província, algumas com tendências monárquicas e em oposição ao governo criaram expectativas de que uma restauração através de um golpe militar. Por esta altura a guerra já tinha acabado, o que com a situação anárquica do país dava força aos que argumentavam por um golpe.
Manuel, no entanto, continuava a pedir calma e, não pondo de parte a ideia de uma acção pela força num futuro próximo, insistia que se esperasse pelo fim das negociações de paz em Paris. Temia que um aumento da anarquia prejudicasse a posição negocial do país. Mas para Paiva Couceiro e para os integralistas era chegado o momento, bastava apenas a autorização real na pessoa do seu lugar-tenente. Este, Aires de Ornelas, recebeu o memorando que pedia autorização para um movimento de carácter monárquico, e convencido de que não se tratava de uma acção imediata, escreveu à margem “Go on. Palavras de El-Rei” e assinava.
A 19 de janeiro de 1919, com um milhar de soldados e algumas peças de artilharia, Paiva Couceiro restaurava no Porto a Monarquia Constitucional, na pessoa de Manuel II. Um governo provisório foi estabelecido, aderindo o Minho, Trás-os-Montes (com excepção de Chaves, Mirandela e Vila Real) e parte do distrito de Aveiro. Mas, ao contrário do que esperava Couceiro, o resto do país não se levantou. O poder republicano continuava firme em Lisboa, onde Aires de Ornelas foi completamente apanhado de surpresa, e mais não pôde do que refugiar-se, com algumas centenas de monárquicos, no Regimento de Lanceiros 2, à Ajuda. Aumentando o número de refugiados que temiam represálias republicanas, o comandante do regimento, que era monárquico, fez retirar a guarnição e os civis, marchando para Monsanto, que na época tinha pouca vegetação. Aí juntaram-se a outras forças monárquicas, entrincheirando-se com parte das forças de cavalaria 4, 7 e 9, além da Bateria de Belém e do Regimento de Infantaria 30. Aires de Ornelas hesitou entre obedecer ao rei e ficar à margem, correndo o risco de os integralistas passarem a sua lealdade a Miguel, ou assumir a liderança deste movimento monárquico conjunto. Num terreno pouco propício para a arma de cavalaria, e cercados por forças republicanas, os monárquicos acabaram por se render em 24 de janeiro.
Com o falhanço da restauração no Centro e Sul do país, a sorte acabou por se virar contra Paiva Couceiro. A 13 de fevereiro, a parte da Guarda Nacional Republicana que o havia apoiado desertou e reinstaurou a república no Porto. Os monárquicos que não conseguiram fugir foram presos e condenados a pesadas penas. O rei, no exílio, poucas informações recebeu e acabou por saber do falhanço através dos jornais. As forças republicanas responsáveis pela vitória na escalada de Monsanto repuseram no poder a “Republica Velha”, o que não facilitava a vida aos monárquicos.
Nos meses seguintes, o monarca moveu a sua influência na corte britânica de modo a que tivesse lugar uma amnistia para os seus correlegionários. Esta teve finalmente lugar em aquando do 3º aniversário da batalha de La Lys. Além do fracasso do movimento em si, com o qual não concordara nem fora consultado, Manuel II ainda teve que se confrontar com as acusações de desinteresse em regressar ao país e a deserção de parte dos activistas monárquicos.

Os Integralistas
A queda da monarquia constitucional em Portugal teve como reacção a criação de um movimento monárquico de renovação nacional que se distanciou das formas parlamentares cujos defeitos se consideraram como responsáveis pela queda do regime. Esse movimento, conhecido como Integralismo Lusitano, começou por afirmar a sua lealdade a Manuel II, então já no exílio.
No entanto, os proponentes do movimento nunca deixaram de salientar que a forma monárquica que pretendiam diferia da que fora derrubada em 1910. A monarquia tradicional que defendiam, das corporações e dos municípios, renegava as formas de representação parlamentar assentes exclusivamente em partidos ideológicos. Esta atitude chocava contra os princípios do rei que, embora reconhecendo defeitos na constituição vigente antes de 1910, não se achava no direito de ditar ou defender quaisquer alterações, considerando-se preso por juramento à carta constitucional. Quaisquer mudanças, defendia o monarca, teriam que ser discutidas e implementadas pelas cortes gerais da nação uma vez restabelecida a monarquia.
À medida que crescia a força das ideias integralistas entre as hostes monárquicas, aumentava o tom das exigências daqueles sobre o monarca exilado. Dada a recusa de Manuel em faltar ao seu juramento, aliada ao fracasso da Monarquia do Norte, e acusando o monarca de falta de interesse na restauração, a Junta do Integralismo Lusitano declarou-se desobrigada de lealdade para com o antigo monarca em outubro de 1919. Em julho de 1920, representantes do movimento reunir-se-iam com os representantes do ramo legitimista de que resultaria a transferência de lealdades para o terceiro filho de Miguel II, o então ainda menor Duarte Nuno.

O Pacto de Paris
Tendo em conta o afastamento dos integralistas, e mais ainda o facto de depois de quase uma década de casamento Manuel e Augusta Victória ainda não terem filhos, o monarca exilado tentou uma nova aproximação ao ramo miguelista. O encontro teve lugar em 17 de abril de 1922, em Paris, sendo representante do rei, o seu lugar-tenente Aires de Ornelas, e pelos miguelistas do Conde de Almada, a pedido de Aldegundes de Bragança, Duquesa de Guimarães e Condessa de Bardi, tutora de Duarte Nuno.
Concordou-se que, a faltar sucessor directo a Manuel, se reconhecia que era aceite o Sucessor indicado pelas Cortes Gerais da Nação Portuguesa. Ambos os lados colaborariam, cessando actividade conflituosas.
Os monárquicos constitucionalistas ficaram satisfeitos, mas entre as hostes integralistas isso não aconteceu. Devia-se o desagrado ao facto do acordo, como publicado, não fazer referência ao aspecto tradicionalista da monarquia a ser restaurada, algo em que a junta do Integralismo considerava fundamental. Embora nessa altura, em 4 de maio de de 1922, tivesse sido retirado o seu apoio público ao acordo, este ainda se manteve, se bem com utilidade limitada, dado o seu falhanço em unir as forças monárquicas, até que em setembro de 1925 foi formalmente repudiado por Aldegundes, em carta a Manuel, alegando não cumprimento pela outra parte, dado continuar a funcionar o jornal constitucionalista, enquanto o órgão integralista já havia sido fechado, e nenhum legitimista ou integralista ter sido convidado para o conselho superior monárquico. Terminava assim a última tentativa de reconciliação entre os dois ramos da casa de Bragança.

O Bibliófilo
Manuel sempre se havia interessado pelos livros, e nos seus anos de exílio dedicou-se aos estudos e escreveu um tratado sobre literatura medieval e renascentista em Portugal. Nos tempos a seguir à Grande Guerra, e com mais tempo livre, embora sem descurar os contactos com as organizações monárquicas, o rei passou a dedicar-se mais aos estudos, seguindo assim a tradição que já vinha de seu pai.
Inicialmente planeou fazer uma biografia, assente em fontes primárias, sobre a vida de Manuel I, que achava ter sido mal tratado pelos historiadores recentes. Para isso contratou os serviços do bibliófilo Maurice Ettinghausen em 1919, que se encarregou de lhe achar os livros antigos de que necessitava. Esta acção foi beneficiada pela dissolução de inúmeras bibliotecas privadas em Portugal depois da implantação da república. Teria sido Ettinghausen que lhe sugira que precedesse o seu estudo pela feitura de uma lista de todos os livros antigos da sua biblioteca.
Cerca de 1926 o objectivo do real investigador já havia mudado e, abandonando a ideia da biografia, concentrou-se na descrição dos livros antigos da sua biblioteca. Mais do que uma simples lista, a obra foi aproveitada pelo autor para descrever as glórias passadas de Portugal, descrevendo cada obra não só bibliograficamente mas acompanhando-o com um ensaio sobre cada autor e cada assunto do livro, inserindo-o no seu contexto histórico. A sua interpretação era fundamentada com documentos e rigor científico, e o resultado final só pode ser criticado pelo marcado amor à sua pátria, bem patente na leitura e que o leva a uma exaltação dos valores ancestrais da Grei, ainda assim desculpáveis num exilado.
Sendo uma obra de tema especifico, o número de exemplares era de tiragem limitada e obtido por subscrição. Estava ilustrado por fac-similis das obras tratadas e escrito em português e em inglês. O primeiro volume da obra “Livros Antigos Portuguezes 1489-1600, da Bibliotheca de Sua Magestade Fidelíssima Descriptos por S. M. El-Rey D. Manuel em Três volumes foi publicado em 1929, tendo Manuel se deslocado ao palácio de Windsor para entregar em mão o exemplar ao rei Jorge V, que havia sido o primeiro subscritor da obra. O volume debruça-se sobre dois manuscritos, cinco incunábulos e trinta e três livros impressos em Portugal até 1539.
A obra recebeu excelentes criticas dos especialistas e o rei dedicou-se de imediato ao segundo volume, que abrangia o período de 1540 a 1569. O trabalho foi estafante, mas, com excepção das sobrecapas, estava terminado em 1932. O rei faleceria inesperadamente pouco depois, tendo o terceiro volume sido publicado, sob a supervisão da sua bibliotecária, Miss Margery Withers, já postumamente. Este volume já só é uma listagem de obras, sem os ensaios que enriqueciam os anteriores, e que deram ao rei a merecida reputação de historiador e mais erudito dos reis portugueses. O seu busto está hoje no átrio de entrada da Biblioteca Nacional em Lisboa.

Sucessão
Embora nenhum dos pactos entre os dois ramos da dinastia tenha levado, como se viu, a um acordo definitivo para além de qualquer dúvida, é de notar que ao longo de todo o exílio Manuel nunca se procurou entender quer com o ramo brasileiro dos Orléans e Bragança, quer com a linhagem do Duque de Loulé no que toca à sua própria sucessão. Apesar de todas as dificuldades criadas quer pelas diferentes inclinações políticas e pela mudança de lealdade dos integralistas, o rei nunca duvidou onde estava a legitimidade.
Tendo isto em conta, além do próprio peso do movimento integralista, aquando do falecimento súbito do rei a Causa Monárquica declarou-se como cortes gerais da Nação e aclamaram Duarte Nuno de Bragança como rei de Portugal. Para este príncipe, seu primo, neto do rei Miguel I, passou a chefia da casa real portuguesa, ao abrigo das regras de sucessão e no respeito da alegada vontade do falecido monarca, uma vez que este tinha procurado aproximar os dois ramos desavindos da família, através dos referidos Pacto de Dover e Pacto de Paris.
Por seu lado, Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança de Laredo sempre contestou as pretensões dos descendentes do ramo miguelista e, alegando a existência de laços familiares directos com Manuel II como sendo ela sua meia-irmã, filha de uma relação adúltera entre o rei Carlos I de Portugal, apesar de nunca provada oficialmente, reivindicou-se como sendo a legítima sucessora na chefia da casa real portuguesa e herdeira dos bens da família.
Após a morte de Manuel II, o governo de António de Oliveira Salazar instituía a Fundação D. Manuel II com os seus bens pessoais e a Fundação da Casa de Bragança com os da extinta Casa de Bragança.

Morte
Faleceu inesperadamente na sua residência, a 2 de julho de 1932, sufocado por um edema da glote. O governo português, chefiado por António de Oliveira Salazar, autorizou a sua sepultura em Lisboa, organizando o funeral com honras de Estado. Os seus restos mortais chegaram a Portugal, em 2 de agosto, sendo sepultados no Panteão dos Braganças, no Mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.
  
Balanço
Passou à história com os cognomes O Patriota, pela preocupação que os assuntos pátrios sempre lhe causaram; O Desventurado, em virtude da Revolução que lhe retirou a coroa; O Estudioso ou o Bibliófilo (devido ao seu amor pelos livros antigos e pela literatura portuguesa). Os monárquicos chamavam-lhe O Rei-Saudade, pela saudade que lhes deixou, após a abolição da monarquia.