Há duas regiões de vinho que fazem 110 anos. E estas são as quintas que pode visitar
A Casa da Ínsua, mandada construir no século XVIII, é uma das referências de Enoturismo no Dão
Quinta da Aveleda (Vinhos Verdes) que está na família Guedes desde 1870 e, além da beleza óbvia, apresenta várias propostas de Enoturismo
Quinta da Aveleda (Vinhos Verdes) que está na família Guedes desde 1870 e, além da beleza óbvia, apresenta várias propostas de Enoturismo
O Dão e os Vinhos Verdes celebram esta terça-feira 110 anos de vida, resultado da Carta de Lei que D. Manuel II assinou em 1908. Mais de um século depois, as regiões prosperam. No enoturismo também.
Esta podia ser uma terça-feira normal. E para muitos até será. Mas há duas regiões de vinho no país que estão de parabéns. Há 110 anos, o rei D. Manuel II assinava a Carta de Lei de 18 de setembro que permitiu a demarcação do Dão e dos Vinhos Verdes, para tentar impulsionar o sector vinícola nacional, numa altura em que os licorosos do Douro já levavam anos de avanço e de reconhecimento. Em jeito de celebração, traçamos o perfil de ambas as regiões e apresentamos algumas propostas de enoturismo, de quintas seculares e históricas a outras bem mais recentes e modernas.
Cartão de Cidadão do Dão
Falar no Dão é falar em vinhos elegantes e equilibrados, sem demasiada cor ou demasiado álcool. Aromáticos também. Com potencial de guarda por causa dos taninos e frescos na boca. Arlindo Cunha, presidente da CVR do Dão, traça o perfil dos vinhos tendencialmente gastronómicos que, em tempos, não encontravam concorrência de maior. A política agrícola imposta pelo Estado Novo — que olhava para o vinho como um alimento agrícola, sendo, por isso, vendido mais barato — e a entrada na CEE — que permitiu a regiões como o Alentejo converter muitos hectares em vinha –, no final dos anos 1980, contribuíram para que a região sofresse um impacto negativo e demorasse a reagir. Diz Arlindo Cunha que, à data, o Dão “não estava habituado a concorrência no segmento de vinho de qualidade”. O Dão emergiu assim que os produtores de maior e média dimensão arregaçaram as mangas e começaram a reestruturar as vinhas: foram plantadas vinhas novas, trabalhadas exposições diferentes e as castas típicas da região jamais foram abandonadas. “Temos 64 castas que estão cá há muitos anos”, explica ao Observador. Uma nova geração de profissionais também contribuiu para o progresso. “A pouco e pouco, o Dão saiu do fundo do poço e o consumidor foi-nos descobrindo.” Há dois tipo de uva que servem de bandeiras. A muito conhecida touriga nacional, nas castas tintas — que, segundo Arlindo Cunha, vem de uma aldeia chamada Tourigo, no Dão — e a malvasia e o encruzado, nas brancas. O encruzado, muito mineral, está a ser alvo de um cada vez maior interesse pelos críticos e consumidores, devido à sua versatilidade quando à mesa e à capacidade de guarda.
O Dão em números
- existem cerca de 20.000 hectares de vinha para 16 mil produtores
- há quatro adegas cooperativas na região, de dimensão razoável, que representam cerca de 40% de toda a produção
- o Dão divide-se em 7 sub-regiões e produz anualmente entre 30 a 40 milhões de litros, metade é vinho certificado
- cerca de 40% dos vinhos certificados são exportados para 74 mercados, incluindo 26 países da União Europeia
- nos últimos quatro anos assistiu-se a um aumento de 45% de vinho certificado
- entre janeiro e agosto de 2018, as vendas do vinho certificado cresceram 12% em relação ao período homólogo do ano passado
- em 2018, devido à primavera muito chuvosa e ao escaldão na primeira semana de agosto, ter-se-á perdido entre 20 a 25% da produção.
Cartão de Cidadão dos Vinhos Verdes
Quando foi demarcada, em 1908, era essencialmente uma região de vinhos tintos — nos anos 60-70, já no fim do século XX, a região descobriu os vinhos brancos. “No passado, os vinhos verdes eram mais ácidos e menos alcoólicos. Hoje, são mais redondos e apresentam uma riqueza muito maior de aromas, correspondendo às castas que foram plantadas, o loureiro e o alvarinho”, diz Manuel Pinheiro, da CVR dos Vinhos Verdes. Mais mudanças foram acontecendo ao longo do tempo: se antigamente os vinhos verdes eram tradicionalmente consumidos pelos minhotos, atualmente o mercado está muito mais recetivo. Uma questão de adaptação e reinvenção. “Os primeiros anos da região foram muito difíceis. Havia uma legislação que dava privilégios ao Douro, que colocou dificuldades aos Vinhos Verdes. Esses privilégios andaram até meio do século XX. A entrada na CEE foi marcante: passámos a ter apoios generosos para as vinhas e regras específicas para a denominação de origem”, continua. Mais recentemente assistiu-se a outra transformação, desta vez a cargo dos produtores, que apostaram em mudar a rotulagem dos vinhos e em desenvolver uma cultura de exportação que trouxe implicações económicas. Já antes Manuel Pinheiro explicou ao Observador como o vinho verde é “único”: é um vinho gastronómico, sem dúvida, resultado de uma feliz combinação — influência marítima, solo granítico e castas típicas. O clima, marcado pela ausência de verões muito quentes e de invernos muito frios, também contribui para a equação.
Os Vinhos Verdes em números
- existem cerca de 15 mil produtores para 16 mil hectares
- os Vinhos Verdes distribuem-se ao longo de 9 sub-regiões
- no primeiro semestre de 2018, os vinhos foram exportados para 102 países;
- as exportações aumentaram 5% em valor e 4% em volume face ao período homólogo e assistiu-se à diversificação de mercados
- em 2018, estima-se que haja uma perda de produção na ordem dos 20%, também devido às situações climatéricas
Percorra a fotogaleria para conhecer 5 quintas no Dão e 5 quintas nos Vinhos Verdes que pode visitar.
in O Observador
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