São Gonçalo (O.P.) (também conhecido como São Gonçalo de Amarante; Arriconha, Tagilde, Vizela, 1187 - Amarante, 10 de Janeiro de 1259), eclesiástico português considerado beato pela Igreja Católica, gozando de grande devoção popular. Existem, em sua honra, as Festas de São Gonçalo. A forma correcta de o denominar é Beato Gonçalo de Amarante.
Nasceu Gonçalo de Amarante, da família dos Pereiras, no lugar de Arriconha, freguesia de Tagilde, próximo de Vizela, igualmente concelho de Vizela. Em Arriconha não falta, desde tempos imemoriais, a capela dedicada a São Gonçalo.
Os seus pais eram pessoas de nobre linhagem e deram ao seu filho uma
esmerada educação cristã não só pela palavra como, sobretudo, pelos
exemplos das suas virtudes cristãs.
Atingido o uso da razão, foi confiado a um douto e virtuoso sacerdote
sob cuja direcção iniciou os seus estudos. Chamava a atenção a sua
modéstia, a candura, o esforço em se aperfeiçoar na prática da vida
cristã e os progressos que ia fazendo nos estudos. Entre outros foram
estes os motivos principais que moveram o Arcebispo de Braga
a admiti-lo, como seu familiar, e, sob os auspícios do Prelado, cursou
as disciplinas eclesiásticas, vindo a ser ordenado sacerdote e nomeado
Pároco da freguesia de São Paio (ou São Pelágio) de Riba-Vizela, apesar da sua humildade e resistência.
No desempenho do seu múnus pastoral começou a brilhar na prática das
virtudes, sobressaindo no zelo apostólico, na castidade e na prática das
obras de misericórdia para com os pobres, gastando a maior parte dos
rendimentos da paróquia em aliviar as suas necessidades materiais, sem
esquecer as necessidades espirituais do seu rebanho, prodigalizando a
todos amor e consolação.
Alimentava, no seu coração, um desejo ardente de visitar os túmulos dos apóstolos São Pedro e São Paulo e os lugares santos da Palestina
a fim de melhor viver as mistérios cristãos. Obtida a licença do seu
bispo, deixou os seus paroquianos ao cuidado dum sobrinho sacerdote e
peregrinou: primeiro, a Roma, donde passou a Jerusalém
e demais terras da Palestina, onde se demorou catorze anos. Entretanto,
começou a sentir certo remorso por tão longo abandono da sua paróquia,
avivaram-se as saudades da pátria e dos seus filhos espirituais e
veio-lhe, ao íntimo, o pressentimento dos males espirituais de que
padeciam, provocados por tão longa ausência e possível falta de zelo de
seu sobrinho. Foram motivos mais que suficientes para regressar, apesar
dos inumeráveis incómodos e perigos que a viagem supunha.
O seu sobrinho, além de o não aceitar e não reconhecer como
verdadeiro e legítimo pároco, escorraçou-o de casa e conseguiu, mediante
documentos falsos, provar ao Arcebispo D. Silvestre Godinho que Gonçalo morrera e ser nomeado pároco da freguesia.
Resignado com semelhante atitude, deixou S. Paio de Riba-Vizela e
foi-se pregando o Evangelho por aquelas terras até à margem do Tâmega, vindo a encontrar o lugar onde hoje é a cidade de Amarante, então sítio inculto e quase despovoado, mas apto para a vida eremítica. Construiu uma pequena ermida que dedicou a Nossa Senhora da Assunção,
nela se recolheu, saindo, de vez em quando, a pregar nos arredores e
consagrando o tempo que lhe sobrava à oração e à penitência.
Sentia, no entanto, necessidade de encontrar um caminho mais seguro em ordem a alcançar a glória eterna. Jejuou uma Quaresma
inteira a pão e água e suplicou fervorosamente a Nossa Senhora lhe
alcançasse do Senhor esta graça… Diz-se que a Virgem Maria lhe apareceu e
lhe disse procurasse a Ordem em que iniciavam o seu Ofício com a
Saudação angélica ou Ave-Maria. Essa Ordem era a dos Pregadores ou
Dominicanos.
Encaminhou-se para o Convento de Guimarães da Ordem dos Pregadores, recentemente fundado por São Pedro González Telmo,
grande apóstolo da região de Entre-Douro e Minho, o qual lhe deu o
hábito e, uma vez feito o noviciado, ao modo daquele tempo, o admitiu à
profissão religiosa e, depois de algum tempo lhe deu licença para, com
um outro religioso, voltar para o seu eremitério de Amarante,
continuando a sua vida evangélica e caritativa.
Com o seu ministério operou muitas conversões, levou o povo à prática
duma autêntica vida cristã, sem esquecer de os promover socialmente em
muitos aspectos. Sobressai neste particular a construção de uma ponte em
granito sobre o rio Tâmega, angariando pessoalmente donativos em terras
circunvizinhas e levando os moradores mais abastados a darem ajuda
vultosa para assim pagarem aos operários.
O povo atribui-lhe muitos milagres, mesmo de ordem material, desde o começo até terminar a construção da referida ponte.
Concluída a ponte, S. Gonçalo viveu ainda alguns anos dedicado à
pregação e à vida de oração, enriquecendo-se de virtudes e merecimentos.
Reza a tradição que Nossa Senhora lhe revelou o dia da sua santa morte
para a qual se preparou com a recepção dos Sacramentos da Igreja.
Descansou santamente no Senhor, a 10 de Janeiro de 1262. O seu venerado
corpo, após a celebração das solenes exéquias por sua alma, foi
sepultado na referida ermida, continuando a efectuar-se muitos milagres,
atribuídos à sua intercessão.
Mais tarde, a ermida primitiva construída por S. Gonçalo foi ampliada em igreja. Sobre esta, em 1540, D. João III
mandou erguer o sumptuoso templo e convento que ainda hoje existem e
que são monumento histórico da cidade de Amarante de que S. Gonçalo pode
muito bem ser considerado segundo fundador.
Efectuaram-se três Processos canónicos em ordem à Beatificação e
Canonização de S. Gonçalo, o último dos quais foi levado a cabo por D. Rodrigo Pinheiro, Bispo do Porto, por comissão do Papa Pio IV (1561). A instâncias de EI-Rei D. Sebastião, do Arcebispo de Braga, da Ordem dos Pregadores, do Cardeal D. Henrique
e da população de Amarante, a sentença de Beatificação foi promulgada a
16 de Setembro de 1561 pelo representante da Sé Apostólica,
confirmando-se a concessão de lhe tributar culto público permitido antes
pelo Papa Júlio III (1551).
Mais tarde, o Papa Clemente X, em 10 de Julho de 1671, estendeu a toda a Ordem dos Pregadores
e a todo o reino de Portugal a concessão de honrarem este glorioso
Santo, um dos santos mais populares de Norte a Sul do País,
especialmente no Norte, com Missa e Ofício litúrgicos próprios. O seu
culto espalhou-se pelos domínios ultramarinos de Portugal, chegando à Índia e ao Brasil, como o confirma um longo e engenhoso sermão do Padre António Vieira sobre S. Gonçalo. É celebrado a 10 de Janeiro.
Tornou-se o santo patrono da cidade de Amarante, onde faleceu, e ainda das cidades de São Gonçalo do Amarante nos estados brasileiros do Rio Grande do Norte e do Ceará (nessas cidades homónimas também o padroeiro permaneceu idêntico).
É, no entanto, importante salientar que Gonçalo de Amarante, apesar de chamado Santo pelo povo, na verdade é apenas Beato, porque o processo de canonização nunca foi levado a bom termo, ao contrário da sua beatificação. Deste modo, a forma correcta de o denominar é Beato Gonçalo de Amarante, o que é atestado pelos calendários litúrgicos portugueses.
Os moradores do Bairro da Beira Mar, na freguesia da Vera Cruz, em Aveiro, tratam, carinhosamente, São Gonçalo de Amarante por São Gonçalinho. A capela existente neste bairro aveirense em honra deste santo é conhecida como Capela de São Gonçalinho.
Em várias cidades do Brasil, como Cajari, Matinha e Viana, no Maranhão, e Cuiabá, em Mato Grosso, também festejam com devoção São Gonçalo de Amarante, com uma dança folclórica, o Baile de São Gonçalo.
in Wikipédia
Sem comentários:
Enviar um comentário