Carolus Linnaeus, em português Carlos Lineu, e em sueco, após nobilitação Carl von Linné (Råshult, Kronoberg, 23 de maio de 1707 - Uppsala, 10 de janeiro de 1778) foi um botânico, zoólogo e médico sueco, criador da nomenclatura binomial e da classificação científica, sendo assim considerado o "pai da taxonomia moderna". Foi um dos fundadores da Academia Real das Ciências da Suécia. Lineu participou também no desenvolvimento da escala Celsius (então chamada centígrada) de temperatura, invertendo a escala que Anders Celsius havia proposto, que tinha 0° como ponto de ebulição da água e 100° como o ponto de fusão.
Lineu era o botânico mais reconhecido da sua época, sendo também conhecido pelos seus dotes literários. O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau enviou-lhe a mensagem: "Diga-lhe que não conheço maior homem no mundo"; o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe escreveu: "Além de Shakespeare e Spinoza, não conheço ninguém entre os que já não se encontram entre nós que me tenha influenciado mais". O autor sueco August Strindberg escreveu: "Lineu era na realidade um poeta que por acaso se tornou um naturalista".
É ainda o cientista da área das ciências naturais mais famoso da Suécia e a sua figura pode ser encontrada nas actuais notas suecas de cem kronor.
Primeiros estudos
Lineu era o mais velho de cinco irmãos (três mulheres e um rapaz, Samuel) e o seu pai, Nils, era o vigário de Stenbrohult, em Kronoberg.
Quando criança, Lineu foi criado para ser da Igreja, como seu pai e seu
avô materno haviam sido, mas ele tinha muito pouco entusiasmo pela
profissão. Nils passou, no entanto, o seu interesse em plantas para o seu filho. Em 1714, foi estudar para a escola primária em Växjö e passou para o ensino secundário em 1724. Os seus resultados escolares eram insuficientes para prosseguir estudos clérigos; no entanto, seu interesse em Botânica impressionou um médico de sua cidade, Johan Rothman, e Lineu foi então mandado para estudar Medicina na Universidade de Lund em 1727. Em Lund, instalou-se na casa do médico Kilian Stobaeus, de quem adquiriu conhecimentos em Medicina e ciências naturais.
Transferiu-se para a Universidade de Uppsala um ano depois. A sua estadia em Uppsala foi economicamente viável graças à intervenção do clérigo Olof Celsius (tio do cientista Anders Celsius), que o apresentou a Olof Rudbeck filho, professor de medicina na universidade; este acolheu Lineu na sua casa. Lineu tomou conhecimento também com o professor de medicina Lars Roberg.
Lineu passou os sete anos seguintes em Uppsala, interrompendo a estada apenas para as suas viagens à Lapónia (1732) e Dalarna (1734). Durante esse tempo, tomou contacto com uma obra de Sebastien Vaillant, Sermo de Structura Florum (Leiden, 1718), após o qual se convenceu que os estames e pistilos das flores seriam as bases para a classificação das plantas
e ele escreveu um curto estudo sobre o assunto que lhe rendeu a posição
de professor adjunto. Começou então a leccionar em 1730.
Em 1732, a Academia de Ciências de Uppsala cedeu todos os seus fundos para financiar a sua expedição para explorar a Lapónia, então praticamente desconhecida. O resultado dessa viagem foi o livro Flora lapponica, publicado em 1737. Durante sua viagem à Lapónia, Lineu conheceu e descreveu em seus diários um jogo tradicional da família tafl, o Tablut,
sendo por esse motivo o Tablut o exemplo melhor documentado de toda
essa família de jogos. Lineu iniciou a viagem, que durou cinco meses e
em que percorreu mais de dois mil quilómetros, indo até Luleå e atravessando o sistema montanhoso interior até chegar à costa atlântica norueguesa, voltando depois pela mesma via e descendo pela costa do golfo da Bótnia na Finlândia; regressou então a Uppsala viajando através do arquipélago de Åland.
Tanto a viagem à Lapónia como a viagem a Dalarna, dois anos depois,
tinham objectivos científicos, como o de inventariar recursos naturais
de utilidade ao reino. Na viagem a Dalarna, Lineu fez-se acompanhar de
um grupo de estudantes, que o assistiam nas suas saídas de campo e
recebiam tutoria do seu professor.
Viagens na Europa
Depois disso, Lineu se mudou para os Países Baixos, em 1735, de modo a obter a qualificação necessária para a obtenção do grau de doutor. Era usual a ida de suecos para os Países Baixos desde meados do século XVII para obter doutoramentos,
devido à influência cultural deste país na Suécia dessa época. Após
apenas alguns dias na pequena universidade de Harderwijk, obteve o grau
de doutor em medicina, com um trabalho sobre a malária. Conheceu Jan Frederick Gronovius e mostrou-lhe o rascunho de seu trabalho em Taxonomia, o "Systema Naturae". Nele, as desajeitadas descrições usadas anteriormente - physalis amno ramosissime ramis angulosis glabris foliis dentoserratis - haviam sido substituídas pelos concisos e hoje familiares nomes "Género-espécie" - Physalis angulata - e níveis superiores eram construídos de uma maneira simples e ordenada. Embora esse sistema, a nomenclatura binomial, tenha sido criado pelos irmãos Johann e Gaspard Bauhin, Lineu ficou a fama, por tê-la popularizado.
Lineu nomeou os taxa em formas que lhe pareciam pessoalmente do senso-comum, por exemplo, seres humanos são Homo sapiens (de "sapiência"), mas ele também descreveu uma segunda espécie humana, Homo troglodytes ("homem das cavernas", nome dado por ele ao chimpanzé, hoje em dia mais commumente colocado em outro género, Pan). A classe Mammalia foi nomeada por suas glândulas mamárias porque uma das definições de mamíferos é que eles amamentam seus filhotes.
Lineu permaneceu nos Países Baixos durante um ano, tendo ido então a Londres em 1736. Visitou a Universidade de Oxford e conheceu diversas personalidades da comunidade científica, como o médico Hans Sloane e os botânicos Philip Miller e Johann Jacob Dillenius. Após alguns meses, Lineu voltou a Amesterdão, onde continuou a impressão do seu livro Genera Plantarum, o ponto de partida para o seu sistema de taxonomia.
Em 1737, começou a trabalhar e estudar no jardim de George Clifford em Heemstede, na Holanda do Norte. Clifford coleccionou plantas de todo o mundo graças às suas ligações comerciais com mercadores holandeses e o seu jardim era famoso. Lineu descreveu o jardim na obra Hortus Cliffortianus. No ano seguinte, tendo concluído este trabalho, Lineu iniciou a sua viagem de regresso à Suécia: permaneceu em Leiden durante um ano, enquanto imprimiu a sua obra Classes Plantarum; viajou então até Paris, antes de navegar até Estocolmo.
Regresso à Suécia
Voltou à Suécia em 1738, onde praticou medicina (especializando-se no tratamento da sífilis) e leccionou em Estocolmo até ser nomeado professor em Uppsala em 1741. No jardim botânico da Universidade de Uppsala, Lineu organizou as plantas de acordo com o seu sistema de classificação, com a ajuda do arquitecto Carl Hårleman. O jardim botânico original de Lineu ainda pode ser visto em Uppsala. Ele também originou a prática de se usar os símbolos de ♂ - (lança e escudo - símbolo de Marte) e ♀ - (espelho de mão - símbolo de Vénus) como símbolos de macho e fêmea.
Fez depois mais três expedições a diversas partes da Suécia, pagas pelo Parlamento: em 1741 foi a Stora Alvaret, em Öland e a Gotland; em 1746 a Västergötland; e em 1749 à Escânia. Estas viagens tinham como motivação "a necessidade de explorar o próprio país" e as suas descrições seriam publicadas em sueco. O seu trabalho Systema naturae
continuou a sofrer revisões que o fizeram crescer de uma pequena obra a
um trabalho com vários volumes, à medida que as suas ideias se
desenvolviam e ele recebia mais e mais espécimens animais e vegetais de diversos lugares do mundo. O seu orgulho no seu trabalho levou-a a afirmar "Deus creavit, Linnaeus disposuit" ("Deus criou, Lineu organizou", em latim). Essa sua percepção pessoal é evidente na capa do Systema naturae, em que é representado um homem dando nomes do sistema de Lineu a novas criaturas do Jardim do Éden.
Em 1739,
Lineu se casou com Sara Lisa Moraea, filha de um médico, com quem havia
noivado cinco anos. Do casamento nasceram sete filhos: Carolus,
Elisabeth, Sara Magdalena, Lovisa, Sara Christina, Johannes e Sophie.
Destes, só cinco chegaram à idade adulta, quatro raparigas e Carolus, o
único a quem foi permitido estudar e formar-se em botânica. Nesse mesmo
ano, Lineu co-fundou a Academia Real das Ciências da Suécia (Kungliga vetenskapsakademien). Ele conseguiu a cadeira de Medicina em Uppsala dois anos depois, logo a trocando pela cadeira de Botânica. Ele continuou a trabalhar em suas classificações, estendendo-as para o reino dos animais e dos minerais. A teoria da evolução
ainda não existia, e Lineu estava apenas tentando categorizar o mundo
natural de uma forma conveniente. Durante este período, Lineu tomou
conta dos jardins botânicos da Universidade e foi por diversas vezes
vice-chanceler desta, além de presidente da Academia Real que havia
ajudado a fundar.
Em 1745, Lineu decidiu inverter a escala de Celsius, desenhando o termómetro da forma como é conhecido na actualidade: 0° correspondendo ao ponto de fusão do gelo e 100° ao ponto de ebulição da água (Anders Celsius havia inventado a escala, mas de forma invertida, com o ponto de ebulição mais baixo que o de fusão).
O rei Adolfo Frederico concedeu um título nobiliárquico a Lineu em 1757, tendo Lineu tomado o nome von Linné em 1761, e assinando frequentemente Carl Linné.
Últimos anos
Lineu continuou os seus estudos botânicos depois da obtenção do seu
título nobre, tendo mantido correspondência com diversas personalidades
de todo o mundo. Por exemplo, Catarina II da Rússia enviou-lhe sementes do seu país.
Os últimos anos de vida de Lineu foram afectados por problemas de saúde: sofria de gota e dores de dentes. Sofreu um primeiro acidente vascular cerebral em 1774 e um segundo um ano mais tarde, que inutilizou o lado direito do seu corpo. Faleceu em 10 de Janeiro de 1778, durante uma cerimónia religiosa na catedral de Uppsala, onde foi sepultado.
Após a sua morte, as colecções de Sinvaldo foram vendidas pela sua esposa a um inglês, Sir James Edward Smith, em 1784, sendo actualmente mantidas pela Linnean Society, em Londres.
Obras
Lineu escreveu as suas principais obras científicas em latim, mas os seus diários de viagem e cartas em sueco são considerados os seus melhores trabalhos do ponto de vista literário. Entre estes encontram-se os relatórios das viagens a Öland e Gotland (Öländska och Gothländska resor, 1745), a Västergötland (Wästgöta Resa, 1747) e à Escânia (Skånska resa, 1751).
Lineu enviou estudantes seus a diversos locais no mundo, incluíndo as Índias Orientais, China, Japão e Ártico; os jovens enviaram descrições de espécies animais e vegetais, além de amostras de espécimens, de volta. Alguns desses enviados não voltaram, tendo falecido de doenças ou em assaltos em zonas problemáticas, e sofrido problemas mentais e físicos que impossibilitaram o seu regresso à Suécia.
No entanto, muitos dos relatórios chegaram a Lineu e este construiu e
expandiu as suas principais obras científicas também com base nesses
relatos.
No total, Lineu escreveu mais de setenta livros e trezentos artigos científicos. Algumas das suas obras científicas mais relevantes são:
- Systema naturae (1735)
- Fundamenta botanica (1736)
- Flora lapponica (1737)
- Genera plantarum (1735-1737)
- Hortus Cliffortianus (1737)
- Flora Suecica (1745)
- Fauna Suecica (1746)
- Philosophia botanica (1751)
- Species plantarum (1753)
- Clavis medicinae duplex (1766)
- Mundus invisibilis (1767)
Lineu concebeu a ideia de divisio et denominatio, "divisão e denominação", como forma de organizar os organismos vivos, algo que transparece na sua obra Systema naturae, considerado o ponto de partida da moderna nomenclatura binomial. Para as plantas, Lineu utilizou as características sexuais recentemente descobertas nestas. Os animais e minerais, os outros dois reinos do sistema "animal-vegetal-mineral" idealizado por Lineu, foram organizados pela sua aparência externa.
Orientou teses de estudantes na Universidade de Uppsala, supervisionando (e escrevendo grande parte de) 186 dissertações.
Lineu escreveu ainda quatro autobiografias, encaradas nessa época mais como curricula vitae do que como veículo de auto-elogio. O estilo descritivo poético de Lineu, em particular nos relatos das suas viagens, influenciou a literatura sueca do século XVIII, tendo este tipo de obra sido predominante na Suécia em particular na segunda metade do século. Os relatos das suas viagens são, por esta razão, os livros mais populares de Lineu na Suécia. Lineu empregou termos como "nicho" e "equilíbrio entre espécies" e descreveu a Natureza como "recheada de maravilhas e segredos", mostrando uma preocupação ecológica com alguns contornos modernos.
in Wikipédia
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