Andrija Mohorovičić (Volosko, 23 de janeiro de 1857 - Zagreb, 18 de dezembro de 1936) foi um meteorologista, sismólogo e geofísico croata
que ganhou fama ao postular a existência de uma descontinuidade nas
propriedades mecânicas dos materiais geológicos marcando a transição
entre a crusta e o manto da Terra. Esta descontinuidade denomina-se hoje descontinuidade de Mohorovičić, ou simplesmente descontinuidade Moho, em homenagem ao seu descobridor.
Biografia
Mohorovičić nasceu numa localidade na cercania da cidade de Opatija, na península da Ístria, hoje território croata, filho de um operário siderúrgico
(fazia âncoras para navios) também chamado Andrija Mohorovičić. Depois
de fazer os seus estudos elementares na sua aldeia natal, completou o
ensino secundário na cidade de Rijeka. Demonstrando grande brilhantismo nos seus estudos, aos quinze anos já falava, para além de croata, italiano, inglês e francês. Mais tarde aprenderia alemão, latim e o grego clássico.
Enveredou pelo estudo da Matemática e da Física, ingressando em 1875 na Faculdade de Filosofia da Universidade de Praga , tendo entre os seus professores o físico Ernst Mach.
Carreira na docência
Terminados os seus estudos em Praga, Mohorovičić iniciou a sua carreira profissional como professor liceal em Zagreb (1879 -1880) e depois na escola secundária da cidade de Osijek (1880-1882). Em 1882 transferiu-se para a Real Escola Naval de Bakar,
próximo de Rijeka, onde permaneceu por 9 anos. O estudo e investigação
que fez ou iniciou nesta época foi crucial para o desenvolvimento futuro
da carreira científica de Mohorovičić.
A partir de 1893, quando foi aceito como sócio correspondente da Academia, até 1917-1918, ensinou disciplinas na área da geofísica e da astronomia na Faculdade de Filosofia da Universidade de Zagreb.
Em 1898 foi eleito membro da Academia Croata das Ciências e Artes de Zagreb (então Academia Jugoslava das Ciências e Artes), cidade onde também trabalhava como docente privado (explicador). Em 1910 foi nomeado professor associada da Universidade de Zagreb.
Meteorologia, astronomia e doutoramento
Foi quando ensinou na Real Escola Naval de Bakar que Mohorovičić teve o primeiro contacto com a meteorologia, deixando apaixonar pela disciplina ao ponto de fundar, em 1887, naquela cidade a primeira estação meteorológica local.
A partir dessa estação fez observações sistemáticas, medições e
análises, desenvolvendo alguns dos instrumento de que necessitava. Entre
os instrumentos que construiu está um equipamento destinado medir a
velocidade horizontal e vertical das nuvens.
A seu pedido, foi transferido, em 1891, para a escola secundária de Zagreb,cidade onde em 1892
foi encarregue de dirigir o Observatório Meteorológico de Grič,
estabelecendo um serviço de observações por toda a Croácia, ao mesmo
tempo que ensinava geofísica e astronomia na Universidade local.
Em Março de 1892 Mohorovičić iniciou observações astronómicas regulares no Observatório de Grič, observando a passagem meridiana de estrelas com o objectivo de fazer a determinação rigorosa da hora local.
Nos princípios de Abril de 1893 estabeleceu uma cadeia de estações de observação destinadas a seguir as trovoadas e interessou-se pelo estudo da formação de granizo. O seu interesse pelas trovoadas levou mais tarde, em 1899, à fundação de estações na região de Jaska (Jastrebarsko) destinadas à defesa contra a destruição das culturas pelo granizo.
A sua tese doutoral foi sobre a observação de nuvens, tendo para isso
utilizado as suas observações feitas em Bakar. O título da dissertação
foi Sobre a observação das nuvens – variação diária e anual dos períodos nublados em Bakar, sendo presente à Universidade de Zagreb, que lhe concedeu o título de doutor em 1893.
Observou alguns eventos meteorológicos pouco usuais, como o tornado que em 31 de março de 1892, em Novska, atirou para 30 metros de distância uma carruagem de caminho de ferro com treze toneladas de peso e cinquenta passageiros a bordo. Também observou o "vijor" (redemoinho) de Čazma em 1898 e estudou o clima da cidade de Zagreb.
Em 1899, Mohorovičić iniciou um projecto pioneiro destinado a aproveitar a energia eólica contida nos ventos da bura (bora) que sopram do norte com grande intensidade na região do Carso.
A sua reconhecida competência em meteorologia levou a que fosse nomeado em 1901 encarregado da organização das observações na Croácia e Eslovénia,
e chefe dos respectivos serviços meteorológicos. Preocupou-se com a
formação dos observadores, tenso elevado os padrões de qualidade dos
serviços para o nível dos melhores da Europa. Em 1907 publicou um manual de instruções para normalizar a acção dos observadores.
Nas suas funções no serviço de meteorologia, que também tinha a sue
cargo as observações de geofísica, foi gradualmente canalizando o seu
interesse para a geofísica, com destaque para a sismologia, geomagnetismo e estudos de gravimetria, concentrando-se progressivamente na sismologia, área a que dedicaria o resto da sua vida.
No seu último artigo sobre meteorologia, publicado em 1901,
ele discutiu a o decréscimo da temperatura atmosférica com a altitude. A
partir dessa data, as suas publicações passaram a ser feitas sobre
temas de geofísica.
Sismologia
A 8 de outubro de 1909 registou-se um sismo com epicentro na região de Pokuplje,
a 39 quilómetros a sueste de Zagreb. Tendo os sismo sido registado por
uma rede de sismógrafos recentemente instalada, coube a Mohorovičić
proceder à análise dos dados obtidos. A partir desses dados, comparando
os tempos de chegada das ondas sísmicas
aos diferentes aparelhos, Mohorovičić chegou à conclusão que aquelas
ondas se comportam como qualquer outro fenómeno ondulatório, sendo
refractadas e reflectidas nas interfaces entre materiais com
características de condução (isto é velocidade de propagação)
diferentes. Também reconheceu, pela primeira vez, a existência nos
sismos de ondas diferentes (longitudinais e transversais), propagando-se
pelo solo a velocidades diferentes.
Ao analisar os registos de estações progressivamente mais distantes
do epicentro, Mohorovičić reconheceu que a Terra era composta por
camadas diferenciadas colocadas em torno de um núcleo central. Pela sua
evidência, mesmo em sismos próximos, foi capaz de detectar a existência
de uma descontinuidade na velocidade de propagação das ondas sísmicas na
interface entre a crusta e o manto, determinando a sua profundidade (que ele estimou então ser a 54 quilómetros).
Hoje sabe-se que aquela descontinuidade, que recebeu o nome de descontinuidade de Mohorovičić
em honra do seu descobridor, se encontra a uma profundidade que varia
dos cinco a nove quilómetros sob a crusta oceânica e de 25 a 60
quilómetros sob os continentes (embora possa ser mais sob altas
montanhas ou próximo a uma zona de subducção), tendo observações posteriores confirmado a existência daquela descontinuidade sob toda a superfície terrestre.
Ideias pioneiras e homenagens
Muitos dos conceitos e teorias postulados por Mohorovičić eram
visionários e muito avançados para o seu tempo, alguns deles só ganhando
aceitação décadas mais tarde. Dedicou-se a um conjunto ecléctico de
temas que incluíam o efeito dos sismos sobre os edifícios, a teoria da geração de sismos de foco profundo, a localização automática de epicentros, os modelos da composição e estrutura da Terra, sismógrafos electrónicos, aproveitamento da energia eólica e defesa contra o granizo.
Aposentou-se em 1921 e faleceu, em Zagreb, a 18 de dezembro de 1936, com a reputação de ser um dos mais proeminentes cientistas que se dedicaram à geofísica no século XX.
Em sua honra, no ano de 1970 foi dado o nome de cratera Mohorovičić a uma cratera de 77 km de diâmetro situada na face oculta da Lua. Também em 1996, o asteróide 8422 Mohorovičić, com um período orbital de 5 anos e 38 dias, foi baptizado em sua honra.
in Wikipédia
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