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sábado, outubro 08, 2022

José Saramago ganhou o Nobel da Literatura há vinte e quatro anos...

(imagem daqui)
    
Foi galardoado com o Nobel de Literatura em 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. A 24 de agosto de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 3 de dezembro de 1998 foi elevado a Grande-Colar da mesma Ordem.
O seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.
Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi diretor-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
   
(...)
   
Em setembro de 1997, a agência publicitária sueca, Jerry Bergström AB, de Estocolmo, contratada pelo ICEP (órgão estatal português para a promoção do comércio e turismo nacional), organizou uma visita de José Saramago a Estocolmo, incluindo um seminário na Hedengrens, a principal cadeia de livrarias sueca, um discurso na Universidade de Estocolmo e várias entrevistas a jornais, revistas e rádios suecas. Nesses mesmos dias, a televisão estatal sueca produziu um programa especial dedicado ao escritor.
Em outubro do mesmo ano, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt tem neste ano Portugal como país em destaque, estando José Saramago neste local, em 8 de outubro de 1998, quando recebe a informação de ter ganho o prémio, que, em 7 de dezembro de 1998, Saramago recebe em Estocolmo.
Segundo o Diário de Notícias, o diretor da empresa sueca Jerry Bergström AB afirmou: "Portugal nunca tinha tido um Prémio Nobel da literatura e uma parte da nossa missão consistia em mudar essa situação".
Comentando esta atribuição, Sture Allén, então secretário da Academia Sueca, negou que a decisão tenha sido afetada por "campanhas publicitárias, comentários de académicos ou escritores, ou qualquer outro tipo de pressão".
Contradizendo Allén, Knut Ahnlund e Lars Gyllensten, membros da academia afirmaram que seria ridículo afirmar que os membros da academia sejam "imunes a agências publicitárias". Ahnlund foi crítico da atribuição do prémio Nobel a Saramago, que segundo ele foi o culminar de uma campanha profissional de relações públicas.

 

Alegria

Já ouço gritos ao longe
Já diz a voz do amor
A alegria do corpo
O esquecimento da dor

Já os ventos recolheram
Já o verão se nos oferece
Quantos frutos quantas fontes
Mais o sol que nos aquece

Já colho jasmins e nardos
Já tenho colares de rosas
E danço no meio da estrada
As danças prodigiosas

Já os sorrisos se dão
Já se dão as voltas todas
Ó certeza das certezas
Ó alegria das bodas


in Provavelmente Alegria (1970) - José Saramago

sábado, junho 18, 2022

Poema alusivo à data...


(imagem daqui)

 

No Coração, Talvez
 
No coração, talvez, ou diga antes:
Uma ferida rasgada de navalha,
Por onde vai a vida, tão mal gasta.
Na total consciência nos retalha.
O desejar, o querer, o não bastar,
Enganada procura da razão
Que o acaso de sermos justifique,
Eis o que dói, talvez no coração.


 
in
Os Poemas Possíveis (1966) - José Saramago

Poesia cantada adequada à data - Mísia canta Saramago...

 

Nenhuma Estrela Caiu




Janelas que me separam 
Do vento frio da tarde
Num recanto de silêncio
Onde os gestos do pensar
São as traves duma ponte 
Que não paro de lançar
Vem a noite e o seu recado 
Sua negra natureza 
Talvez a lua não falte 
Ou venha a chuva de estrelas 
Basta que o sono desperte 
O sonho que deixa vê-las 
Abro as janelas por fim 
E o frio vento se esquece 
Nenhuma estrela caiu 
Nem a lua me ajudou 
Mas a ruiva madrugada
Por trás da ponte aparece.
 
 
José Saramago

quinta-feira, novembro 18, 2021

Bartolomeu de Gusmão morreu há 297 anos

   
Bartolomeu Lourenço de Gusmão, SJ (Santos, dezembro de 1675 - Toledo, 18 de novembro de 1724), cognominado o padre voador, foi um sacerdote secular, cientista e inventor luso-brasileiro nascido na capitania de São Vicente, em Santos, na colónia portuguesa do Brasil, famoso por ter inventado o primeiro aeróstato operacional, a que chamou de "passarola".
   
Bartolomeu de Gusmão apresenta os seus protótipos à corte de D. João V
    
(...)
    
Em Toledo (Espanha), Bartolomeu adoece gravemente, recolhendo-se ao Hospital da Misericórdia daquela cidade, onde veio a falecer em 18 de novembro de 1724, aos 38 anos. Antes de morrer, porém, confessou-se e recebeu a comunhão, conforme o rito católico, e assim foi sepultado na Igreja de São Romão, em Toledo. Foram feitas, ao longo de décadas, várias tentativas para localizar a sua tumba, o que só ocorreu em 1856. Parte dos restos mortais foi transportada para o Brasil e se encontra, desde 2004, na Catedral Metropolitana de São Paulo.
  
Figura como uma das personagens centrais de Memorial do Convento, romance de José Saramago.
    

terça-feira, novembro 16, 2021

José Saramago nasceu há 99 anos...

   
Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. A 24 de agosto de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 3 de dezembro de 1998 foi elevado a Grande-Colar da mesma Ordem, uma honra reservada apenas a Chefes de Estado.
O seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.
Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
A 29 de junho de 2007 constitui a Fundação José Saramago para a defesa e difusão da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos problemas do meio ambiente. Em 2012 a Fundação José Saramago abre as suas portas ao público na Casa dos Bicos em Lisboa, presidida pela sua mulher Pilar del Río.
   
  
  
Passado, Presente, Futuro

Eu fui. Mas o que fui já me não lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim.
  
   
 

in Os Poemas Possíveis (1966) - José Saramago

sexta-feira, outubro 08, 2021

José Saramago ganhou o Nobel da Literatura há vinte e três anos...

(imagem daqui)
    
Foi galardoado com o Nobel de Literatura em 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. A 24 de agosto de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 3 de dezembro de 1998 foi elevado a Grande-Colar da mesma Ordem.
O seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.
Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
   
(...)
   
Em setembro de 1997, a agência publicitária sueca, Jerry Bergström AB, de Estocolmo, contratada pelo ICEP (órgão estatal português para a promoção do comércio e turismo nacional), organizou uma visita de José Saramago a Estocolmo, incluindo um seminário na Hedengrens, a principal cadeia de livrarias sueca, um discurso na Universidade de Estocolmo e várias entrevistas a jornais, revistas e rádios suecas. Nesses mesmos dias, a televisão estatal sueca produziu um programa especial dedicado ao escritor.
Em outubro do mesmo ano, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt tem neste ano Portugal como país em destaque, estando José Saramago neste local, em 8 de outubro de 1998, quando recebe a informação de ter ganho o prémio, que, em 7 de dezembro de 1998, Saramago recebe em Estocolmo.
Segundo o Diário de Notícias, o director da empresa sueca Jerry Bergström AB afirmou: "Portugal nunca tinha tido um Prémio Nobel da literatura e uma parte da nossa missão consistia em mudar essa situação".
Comentando esta atribuição, Sture Allén, então secretário da Academia Sueca, negou que a decisão tenha sido afectada por "campanhas publicitárias, comentários de académicos ou escritores, ou qualquer outro tipo de pressão".
Contradizendo Allén, Knut Ahnlund e Lars Gyllensten, membros da academia afirmaram que seria ridículo afirmar que os membros da academia sejam "imunes a agências publicitárias". Ahnlund foi crítico da atribuição do prémio Nobel a Saramago, que segundo ele foi o culminar de uma campanha profissional de relações públicas.

 

Alegria

Já ouço gritos ao longe
Já diz a voz do amor
A alegria do corpo
O esquecimento da dor

Já os ventos recolheram
Já o verão se nos oferece
Quantos frutos quantas fontes
Mais o sol que nos aquece

Já colho jasmins e nardos
Já tenho colares de rosas
E danço no meio da estrada
As danças prodigiosas

Já os sorrisos se dão
Já se dão as voltas todas
Ó certeza das certezas
Ó alegria das bodas


in Provavelmente Alegria (1970) - José Saramago

sexta-feira, junho 18, 2021

Mísia canta Saramago...

Poema alusivo à data...

(imagem daqui)

 

No Coração, Talvez
 
No coração, talvez, ou diga antes:
Uma ferida rasgada de navalha,
Por onde vai a vida, tão mal gasta.
Na total consciência nos retalha.
O desejar, o querer, o não bastar,
Enganada procura da razão
Que o acaso de sermos justifique,
Eis o que dói, talvez no coração.


 
in
Os Poemas Possíveis (1966) - José Saramago

José Saramago morreu há onze anos...

   
Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.
   
   
Alegria

Já ouço gritos ao longe
Já diz a voz do amor
A alegria do corpo
O esquecimento da dor

Já os ventos recolheram
Já o verão se nos oferece
Quantos frutos quantas fontes
Mais o sol que nos aquece

Já colho jasmins e nardos
Já tenho colares de rosas
E danço no meio da estrada
As danças prodigiosas

Já os sorrisos se dão
Já se dão as voltas todas
Ó certeza das certezas
Ó alegria das bodas


in Provavelmente Alegria (1970) - José Saramago

quarta-feira, novembro 18, 2020

Bartolomeu de Gusmão morreu há 296 anos

   
Bartolomeu Lourenço de Gusmão, SJ (Santos, dezembro de 1675 - Toledo, 18 de novembro de 1724), cognominado o padre voador, foi um sacerdote secular, cientista e inventor luso-brasileiro nascido na capitania de São Vicente, em Santos, na colónia portuguesa do Brasil, famoso por ter inventado o primeiro aeróstato operacional, a que chamou de "passarola".
   
Bartolomeu de Gusmão apresenta os seus protótipos à corte de D. João V
    
(...)
    
Em Toledo (Espanha), Bartolomeu adoece gravemente, recolhendo-se ao Hospital da Misericórdia daquela cidade, onde veio a falecer em 18 de novembro de 1724, aos 38 anos. Antes de morrer, porém, confessou-se e recebeu a comunhão, conforme o rito católico, e assim foi sepultado na Igreja de São Romão, em Toledo. Foram feitas, ao longo de décadas, várias tentativas para localizar a sua tumba, o que só ocorreu em 1856. Parte dos restos mortais foi transportada para o Brasil e se encontra, desde 2004, na Catedral Metropolitana de São Paulo.
  
Figura como uma das personagens centrais de Memorial do Convento, romance de José Saramago.
    

segunda-feira, novembro 16, 2020

Hoje é dia de ouvir cantada a poesia de Saramago...

 
 
 
Circo
  
  
Poeta não é gente, é bicho coiso 
Que da jaula ou gaiola vadiou 
E anda pelo mundo às cambalhotas, 
Recordadas do circo que inventou. 

Estende no chão a capa que o destapa, 
Faz do peito tambor, e rufa, salta, 
É urso bailarino, mono sábio, 
Ave torta de bico e pernalta 

Ao fim toca a charanga do poema, 
Caixa, fagote, notas arranhadas, 
E porque bicho é, bicho lá fica, 
A cantar às estrelas apagadas.



in Os Poemas Possíveis (1966) - José Saramago

José Saramago nasceu há 98 anos

   
Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. A 24 de agosto de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 3 de dezembro de 1998 foi elevado a Grande-Colar da mesma Ordem, uma honra reservada apenas a Chefes de Estado.
O seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.
Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
A 29 de junho de 2007 constitui a Fundação José Saramago para a defesa e difusão da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos problemas do meio ambiente. Em 2012 a Fundação José Saramago abre as suas portas ao público na Casa dos Bicos em Lisboa, presidida pela sua mulher Pilar del Río.
   
  
  
Passado, Presente, Futuro

Eu fui. Mas o que fui já me não lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim.

 

in Os Poemas Possíveis (1966) - José Saramago

quinta-feira, outubro 08, 2020

José Saramago ganhou o Nobel da Literatura há 22 anos

 

      
Foi galardoado com o Nobel de Literatura em 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. A 24 de agosto de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 3 de dezembro de 1998 foi elevado a Grande-Colar da mesma Ordem.
O seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.
Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
   
(...)
   
Em setembro de 1997, a agência publicitária sueca, Jerry Bergström AB, de Estocolmo, contratada pelo ICEP (órgão estatal português para a promoção do comércio e turismo nacional), organizou uma visita de José Saramago a Estocolmo, incluindo um seminário na Hedengrens, a principal cadeia de livrarias sueca, um discurso na Universidade de Estocolmo e várias entrevistas a jornais, revistas e rádios suecas. Nesses mesmos dias, a televisão estatal sueca produziu um programa especial dedicado ao escritor.
Em outubro do mesmo ano, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt tem neste ano Portugal como país em destaque, estando José Saramago neste local, em 8 de outubro de 1998, quando recebe a informação de ter ganho o prémio, que, em 7 de dezembro de 1998, Saramago recebe em Estocolmo.
Segundo o Diário de Notícias, o director da empresa sueca Jerry Bergström AB afirmou: "Portugal nunca tinha tido um Prémio Nobel da literatura e uma parte da nossa missão consistia em mudar essa situação".
Comentando esta atribuição, Sture Allén, então secretário da Academia Sueca, negou que a decisão tenha sido afectada por "campanhas publicitárias, comentários de académicos ou escritores, ou qualquer outro tipo de pressão".
Contradizendo Allén, Knut Ahnlund e Lars Gyllensten, membros da academia afirmaram que seria ridículo afirmar que os membros da academia sejam "imunes a agências publicitárias". Ahnlund foi crítico da atribuição do prémio Nobel a Saramago, que segundo ele foi o culminar de uma campanha profissional de relações públicas.


Química

Sublimemos, amor. Assim as flores
No jardim não morreram se o perfume
No cristal da essência se defende.
Passemos nós as provas, os ardores:
Não caldeiam instintos sem o lume
Nem o secreto aroma que rescende.

 

in Os Poemas Possíveis (1982 - 2ª edição) - José Saramago

quinta-feira, junho 18, 2020

Porque hoje é dia de recordar Mísia - e Saramago...


Nasceu um dia (18) de junho, na cidade do Porto, fruto de um caso de amor sem a bênção de bons presságios: pai engenheiro, educado numa burguesia que nunca veria com bons olhos o passado artístico colorido e saleroso da mãe bailarina, espanhola, habituada a enquadramentos sociais menos formais. A menina, Susana, começa assim a sua estranha forma de vida, entre dois mundos. Fado de início, para continuar anos fora.

Boa aluna, mesmo dividida entre os dois lados da barreira, já com cada progenitor de costas viradas. Mas os interesses da jovem são muitos: letras, filosofia, talvez as artes. Falaram mais alto as artes... e Espanha, opção natural para quem procurava outros ares. Mudou para terras do lado de lá da fronteira, assentou arraiais em Barcelona. Abrem-se então os panos dos palcos, de muitos palcos, em ruas boémias e canções de engate, cafés nocturnos, espectáculos em que se variam as músicas.

Era já Mísia, uma influência da avó, figura que sempre lhe faz nascer um sorriso nos lábios, como quem lembra uma fada de força maior. A artista em formação trabalhava tanto que aprendia músicas ao ritmo frenético e ávido da "Broadway" de las calles mayores de Catalunha, sem nunca parar. Era conhecida pela versatilidade; hoje um programa de rádio, amanhã uma pantalla de television, tudo ao som dos reportórios internacionais, cantando uma torre de babel de idiomas e influências sonoras. As coisas até corriam bem, mas cansou-se.

Mutatis, mutandis. Ala para Madrid, começar de novo, procurar outras coisas. Período das viagens entre um show e outro, uma paragem geográfica e a seguinte. Talvez fosse o desassossego de querer mais, talvez a necessidade de aprender o que só os livros lhe davam, no meio do ruído e dos brilhos exagerados dessas noites longas de cabarés dourados e salas de cantigas cheias de fumos e gargalhadas abertas. Não bastava, como sempre.
  

Neste procura, surgiram um dias as raízes do passado que parecia distante, o fado popular das ruas mais típicas da cidade invictamente paterna. O Porto, um porto... de abrigo, pausa para a viagem. Seria este o caminho mais certo? Cruzou de novo a fronteira e o futuro. Voltou, malas feitas e os olhos a sonhar, como sempre. Reinício, take número... (a quem é que interessam as estatísticas? Somos gente... apenas). Decidida a procurar a paz das raízes, de uma cultura que poderia finalmente situá-la entre pares, fazê-la partilhar um grupo. A intenção era boa, mas as concretizações deram que falar. Quem era aquela jovem de franja negra e olhos intensos que aparecia assim desta forma, a querer saber o que era o fado sem pedir licença a ninguém. Buscando a verdadeira tradição, sem se render à evidência nem confundindo o genuíno com o conservador ou reaccionário... Uma nova barreira para saltar: entre os que viam o fado como mácula de um regime desfeito a toque de cravos e os que se espantavam pelo ar arrojado desta mulher de pele branca, cabelo preto, olhos em arco, às vezes de espanto.

Encontrou as respostas (ou o princípio das respostas, porque as perguntas não ficaram por ali) na mudança que os tempos tinham trazido a esta expressão musical urbana, onde cada tempo e voz tinham deixado marca. Das origens mais formais foi buscar sustentação para lançar outros voos. Juntou sonoridades (instrumentos que este género não ouvia há muitos anos - o violoncelo ou o acordeão; o piano de vagares aristocráticos, quando o fado ainda era de salão). E principalmente, descobriu um mundo novo de palavras, um tesouro de frases sem rima obrigatória mas liberdades poéticas. Círculo literário a que se vão juntando os mais importantes nomes da literatura portuguesa: Lídia Jorge, Mário Cláudio, Eduardo Prado Coelho, Vasco Graça Moura, Agustina, Saramago.

Os discos sucediam-se: 1991, "Mísia", de nome próprio, "Fado, em 93", "Tanto menos, tanto mais", a meio da década, já vivida - novamente - entre chegadas e partidas internacionais. Embaixadora da voz, segue com Garras dos Sentidos (98), distinguido com o prémio Charles Cros, disco que se arrisca a arranjos com os tais instrumentos ainda não usados neste género musical. Maria João Pires acompanha-a no disco lançado quase de imediato, "Paixões Diagonais" que cruza muitas estreias de autores nesta área, tantos nas melodias como nas letras. A nova década, porém, dá lugar à tradição. Quer fazer uma evocação às casas de fado, aos textos populares, e grava Ritual (em 2001), como se estivesse a fazer apresentações ao vivo, cada canção de uma vez só. Carlos Paredes e as suas melodias, que Mísia enche das palavras comovidas de uma verdadeira homenagem ao mestre da guitarra, dão corpo a "Canto", em 2003, premiado pela crítica especializada na Alemanha.

Cada registo saía em novos pontos do globo, dava origem a outros concertos, e mais palcos em pontos do mundo nunca antes navegados pelo fado. Uma redescoberta do Japão à Argentina, passando pela Espanha, pela França (que a condecorará mais tarde pela relevância artística da carreira). As nuvens de outras histórias e tradições pintam os céus de influências: mescla tango, bolero e fado num "Drama Box" (gravado em 2005) repleto de afectos sonoros e cumplicidades artísticas: Fanny Ardant, Miranda Richardson, Ute Lemper, Carmen Maura, Maria de Medeiros e Sophia Calle participam no projecto, depressa transformado em espectáculo ao vivo. Esta procura das emoções que ilustram o "fado" de outras culturas (fatum, relação trágica com o destino, como explica Mísia) estão aliás agora bem presentes nestas Ruas (de 2009) mostradas a todos. Entre Lisboa (o bairro virado para o rio, os passeios de pedras brancas, os amigos) e o resto do universo. Como sempre.



Nenhuma estrela caiu - Mísia
Letra (adaptada) de José Saramago e música de Franklin Rodrigues 
   
Janelas que me separam
Do vento frio da tarde
Num recanto de silêncio
Onde os gestos do pensar
São as traves duma ponte
Que não paro de lançar
  
Vem a noite e o seu recado
Sua negra natureza
Talvez a lua não falte
Ou venha a chuva de estrelas
Basta que o sono desperte
O sonho que deixa vê-las
  
Abro as janelas...
E o frio vento se esquece
Nenhuma estrela caiu
Nem a lua me ajudou
Mas a ruiva madrugada
Por trás da ponte aparece.

  
Janelas que me separam
Do vento frio da tarde
Num recanto de silêncio
Onde os gestos do pensar
São as traves duma ponte
Que não paro de lançar
  

  

NOTA: aqui fica a versão original do poema de Saramago, tão bem adaptado por Mísia:
    
  
A ponte
  
Vidraças que me separam

Do vento fresco da tarde

Num casulo de silêncio

Onde os segredos e o ar

São as traves duma ponte

Que não paro de lançar

   

Fica-se a ponte no espaço

À espera de quem lá passe

Que o motivo de ser ponte

Se não pára a construção

Vai muito mais a vontade

De estarem onde não estão

  

Vem a noite e o seu recado

Sua negra natureza

talvez a lua não falte

Ou venha a chuva de estrelas

Basta que o sono consinta

A confiança de vê-las

  

Amanhã o novo dia

Se o merecer e me for dado

Um outro pilar da ponte

Cravado no fundo do mar

Torna mais breve a distância

Do que falta caminhar

  

Há sempre um ponto de mira

O mais comum horizonte

Nunca as pontes lá chegaram

Porque acaba o construtor

Antes que a ponte se entronque

Onde se acaba o transpor

  

Sobre o vazio do mar

Desfere o traço da ponte

Vá na frente a construção

Não perguntem de que serve

Esta humana teimosia

Que sobre a ponte se atreve

  

Abro as vidraças por fim

E todo o vento se esquece

Nenhuma estrela caiu

Nem a lua me ajudou

Mas a ruiva madrugada

Por trás da ponte aparece.
   
in Provavelmente Alegria (1970) - José Saramago

Hoje é dia de recordar os eternos namorados de Lanzarote...

(imagem daqui)

OS DOIS DE LANZAROTE

Eram um casal aéreo, cruzavam aeroportos,
digo eu o delator, o escriba acocorado, e sigo-os
nas suas fantasias voadoras,
açambarcando as nuvens, os romances,
toda a luta de classes
nas longas, estreitíssimas passagens dos jactos
pelo céu alucinante e cru.

Um casal a encher uma península.
Ruídos pérfidos perseguiam a sua alta rota revoltada,
a ela lambuzavam-lhe os vestidos, transparentes,
abertos sobre as nuvens.
E a ele arrancavam-lhe os cabelos
agarrados ao cérebro.
Mas eles voam mais alto, no assombro, mais livres.

Só eu pareço agora um cão acabrunhado
nas coxias deste chão sem ar,
e os olhos presos naquela exuberância.
Eles são dois padrões erguidos na terra retalhada
pelos elegantes domadores da fala,
e do mar mediterrâneo.

Recordai, ó leitores, a exibição da ternura,
a estridência feliz dos abraços frente à multidão,
a imponência do sucesso a pulso.
Um velho, uma mulher madura, uma ilha vulcânica.
E o ar que acolhe os seus impulsos
com a firme decisão de fazer estremecer
o mundo.

  
    

in De Amore (2012) - Armando Silva Carvalho

Hoje é dia de recordar Saramago...

(imagem daqui)
  
Demissão 
 
Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.
  
   

in Os Poemas Possíveis (1966) - José Saramago

José Saramago morreu há dez anos...

 
   
Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.
   
   
Alegria

Já ouço gritos ao longe
Já diz a voz do amor
A alegria do corpo
O esquecimento da dor

Já os ventos recolheram
Já o verão se nos oferece
Quantos frutos quantas fontes
Mais o sol que nos aquece

Já colho jasmins e nardos
Já tenho colares de rosas
E danço no meio da estrada
As danças prodigiosas

Já os sorrisos se dão
Já se dão as voltas todas
Ó certeza das certezas
Ó alegria das bodas


in Provavelmente Alegria (1970) - José Saramago

segunda-feira, novembro 18, 2019

Bartolomeu de Gusmão morreu há 295 anos

Bartolomeu Lourenço de Gusmão, SJ (Santos, dezembro de 1675 - Toledo, 18 de novembro de 1724), cognominado o padre voador, foi um sacerdote secular, cientista e inventor luso-brasileiro nascido na capitania de São Vicente, em Santos, na colónia portuguesa do Brasil, famoso por ter inventado o primeiro aeróstato operacional, a que chamou de "passarola".
  
Bartolomeu de Gusmão apresenta os seus protótipos à corte de D. João V
  
(...)
   
Em Toledo (Espanha), Bartolomeu adoece gravemente, recolhendo-se ao Hospital da Misericórdia daquela cidade, onde veio a falecer em 18 de novembro de 1724, aos 38 anos. Antes de morrer, porém, confessou-se e recebeu a comunhão, conforme o rito católico, e assim foi sepultado na Igreja de São Romão, em Toledo. Foram feitas, ao longo de décadas, várias tentativas para localizar a sua tumba, o que só ocorreu em 1856. Parte dos restos mortais foi transportada para o Brasil e se encontra, desde 2004, na Catedral Metropolitana de São Paulo.
 
Figura como uma das personagens centrais de Memorial do Convento, romance de José Saramago.
  

sábado, novembro 16, 2019

José Saramago nasceu há 97 anos

Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.
  
  
Demissão 
 
Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.
 
 

in Os Poemas Possíveis (1966) - José Saramago