Mostrar mensagens com a etiqueta Antropologia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Antropologia. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Notícia sobre a mais famosa austalopiteca

Estudo publicado na Science
Australopiteco Lucy já estava adaptado para caminhar de pé

O osso visto em diferentes posições

O andar bípede não é só atitude. Os ossos dos pés, dos joelhos, das ancas, da coluna e dos braços permitem ao Homem andar com duas pernas sem esforço, ao contrário dos chimpanzés ou gorilas. Agora, através do estudo de um único osso do pé de um australopiteco parente da carismática Lucy, uma equipa de cientistas provou que este hominídeo já tinha o pé arqueado, próprio de quem está totalmente adaptado ao bipedismo. A descoberta é publicada hoje na revista Science.

As adaptações ao andar bípede foram feitas ao longo da evolução. Os fósseis do Homo habilis, que apareceu há 2,3 milhões de anos, já denunciavam um esqueleto bípede, mas nunca tinha sido provado que o Austrolopithecus afarensis, a espécie da Lucy, tinha completado estas adaptações ou se, por outro lado, ainda partilhava o dia-a-dia com as árvores.

O fóssil foi encontrado em 2000, em Haida, no Sudão, num local onde já foram descobertos mais de 250 fósseis da espécie. A Lucy e os seus congéneres viveram entre 3,7 e 2,9 milhões de anos no continente Africano em África, antes do género Homo ter aparecido (do qual nós, humanos, somos a única espécie sobrevivente). O fóssil estudado pela equipa dos EUA chama-se AL 333-160 e tem 3,2 milhões de anos. É o quarto dos cinco ossos que compõem o metatarso – que no pé faz a ligação entre os ossos do calcanhar e dos dedos.

Segundo o artigo, o quarto metatarso “é o elemento chave ao longo da coluna lateral do pé que difere entre os símios superiores e os humanos” e que testa a presença da dobra do pé e do bipedismo.

“As dobras do pé são um componente chave para o andar humano porque absorvem o choque [quando se caminha] e proporcionam uma plataforma rija que dá o apoio para começar um novo movimento do nosso pé andar para a frente”, disse em comunicado Carol Ward, a primeira dos três autores do artigo, que pertence à Universidade do Missouri. Segundo a investigadora, quando as pessoas têm o pé chato e falta-lhes esta dobra têm vários problemas a nível das junções ósseas.

Nunca se tinha encontrado este osso de A. afarensis preservado. Quando a equipa estudou o fóssil verificou que o osso é arqueado como na espécie humana e como noutras espécies do género Homo. No caso de primatas como o gorila ou chimpanzé, o metatarso é muito mais direito.

“Isto afecta muito do que sabemos sobre [Lucy e os seus parentes], desde onde eles viviam, o que é que comiam até como é que evitavam os predadores”, explicou a cientista. “O desenvolvimento da dobra do pé foi fundamental para a mudança em direcção à condição humana, porque significa que houve uma desistência na utilização do dedo grande [do pé] para agarrar os ramos das árvores, o que mostra que os nosso antepassados finalmente trocaram a vida nas árvores pela vida no chão.”

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Novidades sobre a nossa família biológica

HOMO, PAN & PONGO

Crónica publicada no "Diário de Coimbra":

Cerca de seis anos de trabalho de uma equipa internacional envolvendo 34 instituições de vários países, (incluindo os biólogos portugueses Rui Faria e Olga Fernando na Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona), liderada pelo geneticista Devin Locke, da Escola de Medicina da Universidade de Washington (São Luís, Missouri, EUA), determinou a sequência de três mil milhões de moléculas que compõem as longas cadeias de DNA (ácido desoxirribonucleico) nos 48 cromossomas que compõem o genoma do Orangotango (género Pongo). A sua sequenciação genómica foi agora publicada na revista Nature.

Depois do genoma da nossa espécie (Homo sapiens) em 2003, do chimpanzé (Pan troglodytes) em 2005, este é o terceiro primata a ter o genoma mapeado.

Actualmente já só existem duas espécies de orangotango. A espécie Pongo abelii vive nas florestas de Samatra (Indonésia), enquanto que a Pongo pygmaeus tem como habitat as florestas de Bornéu (Malásia). Ambas estão ameaçadas de extinção devido à acção da mesma espécie que agora a sequenciou: a humana.

O genoma de um exemplar fêmea da espécie Pongo abelii, de nome Susie, vivendo em cativeiro no Jardim Zoológico de Glayds Porter, Texas (EUA), serviu a base à sequenciação. Sobre ele foram anotados as divergências da sequência genómica de outros cinco orangotangos de Sumatra e cinco orangotangos de Bornéu, que também foram sequenciados, embora em menor detalhe, assim como as diferenças com os genomas humano e do chimpanzé.

Os cientistas encontraram uma semelhança de 97% entre o genoma humano e o do orangotango, uma diferença na posição de 120 milhões de moléculas. Recorde-se que a diferença entre o nosso genoma e o do chimpanzé é de apenas 1% (cerca de 40 milhões de bases).


Mas o genoma agora sequenciado apresenta várias surpresas para os geneticistas. O genoma do Orangotango sofreu muito menos variações do que o dos humanos e dos chimpanzés desde que os nossos antepassados comuns divergiram. O género do orangotango originou-se há cerca de 12 a 16 milhões de anos, enquanto que as linhagens que nos deram origem e aos chimpanzés se separaram entre 5 a 6 milhões de anos atrás. Os estudos comparados mostram agora que quer o nosso genoma quer o do chimpanzé ganha ou perde genes a uma taxa dupla daquela que afecta o genoma do orangotango.

O estudo agora publicado redefine também o momento de separação entre as duas espécies de orangotangos ainda existentes. Estudos anteriores apontavam para que as duas espécies se tinham originado há cerca de um milhão de anos. Esta distância foi agora encurtada para 400 mil anos pelo presente estudo.

Curiosamente, num outro artigo publicado no dia seguinte, mas on-line, na revista Genome Research, Mikkel Schierup e Thomas Mailund da Universidade Dinamarquesa de Aarhus (também co-autores do artigo na Nature), comparam a estrutura dos genomas dos três primatas e mostram que apesar de mais distanciados, 0,5% do nosso genoma e do orangotango são muito mais semelhantes entre si do que com o do chimpanzé, nosso primata evolutivamente mais próximo de nós. Isto significa que mantivemos genes comuns ao orangotango que foram suprimidos na evolução do chimpanzé. Muito estudo funcional e proteómico terão ainda de ser feito para descodificar estas semelhanças e diferenças.

As expectativas aumentam sobre o que é que nos trará a sequenciação em curso de mais dois primatas: o gorila (género Gorilla) e o bonobo (Pan paniscus).

De volta ao orangotango, é curiosa a singularidade do genoma desta espécie em vias de extinção ter sido acabado de sequenciar em 2010 (o manuscrito foi submetido a 11 de Março de 2010 e aceite em 19 de Novembro para publicação), ano internacionalmente dedicado à Biodiversidade, e publicado agora no início do Ano Internacional da Floresta. É que o nome orangotango resulta da junção de duas palavras da língua malaia que significam “pessoa da floresta”.

Felizmente o estudo agora publicado mostra uma grande variabilidade genética entre as populações de orangotangos, o que significa uma maior capacidade adaptação a mudanças ambientais o que por si só é um bom indicador para a sobrevivência destas espécies ameaçadas.

in De Rerum Natura - post de António Piedade

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Há quanto tempo existimos?

Cientistas põem em causa idade e origem do Homo sapiens
Dentes humanos encontrados em gruta de Israel são mais antigos do que Homem moderno

Os fósseis de dentes com 400 mil anos, encontrados perto de Telavive

A descoberta de oito dentes numa gruta de Israel levanta questões sobre a nossa origem. Uma equipa de cientistas da Universidade de Telavive descobriu fósseis que parecem ser de Homem moderno, mas que estão em camadas de terra com idade entre os 400 e 200 mil anos – mais antigas do que o nascimento dos antepassados directos do Homem.

O estudo, que tem vindo a ser desenvolvido desde 2006, foi publicado online na revista American Journal of Physiscal Anthropology. “Há muitas possibilidades”, disse à agência Bloomberg Avi Gopher, professor de arqueologia da Universidade de Telavive que co-dirigiu a escavação na gruta de Qesem. “É preciso sermos cuidadosos, não podemos atirar para o lixo um paradigma só por causa de alguns dentes.”

Qual é o paradigma? Apesar de ao longo do último milhão de anos diversas migrações feitas por várias espécies de hominídeos terem colonizado a Terra, pensa-se que a última tenha começado há cerca de 60 mil anos, feita pelo Homem moderno. Estes nossos antepassados, segundo o que se conhece hoje, evoluíram há 200 mil anos, em África, e migraram para o resto do mundo, substituindo os humanos que existiam em cada local.

Um dos fenómenos mais conhecido nesta viagem foi o encontro e substituição dos neandertais pelo Homem moderno, que sucedeu na Europa, apesar de já existirem provas genéticas de ter havido cruzamento sexual entre os dois grupos.

Os dentes molares encontrados na gruta competem com esta visão. No resumo do artigo, os autores defendem que estes fósseis têm muitas parecenças com outros crânios encontrados em Israel de Homem moderno, que são muito mais recentes. O que pode mudar aquilo que se sabe sobre a idade e origem da nossa espécie.

“É aceite que o mais antigo Homo sapiens que se conhece foi descoberto na África Oriental e tem 200 mil anos de idade, ou um pouco menos. Não conhecemos mais nenhum local onde alguém defenda a existência de um Homo sapiens mais antigo”, disse Gopher à AFP.

Paul Mellars, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, disse que outra hipótese é que estes dentes possam ser de neandertal. O artigo também diz que os dentes têm algumas características destes humanos.

“Esta região do mundo tem sido um cruzamento para movimentos da população humana durante um longo período de tempo e está situado mesmo ao lado de África e da Europa”, explicou à Bloomberg Rolf M. Quam, um dos investigadores que produziu o estudo, professor de antropologia na Universidade Estatal de Nova Iorque.

“É possível que os dentes mais velhos representem uma espécie e os mais novos representem uma espécie diferente, já que sabemos que diferentes espécies humanas estavam a ocupar a Europa e a África durante este tempo”, acrescentou o investigador.

Além das características dos fósseis, há outros factores que suportam a teoria dos dentes pertencerem ao Homem moderno. No local verificou-se a existência de lâminas sílex, do uso habitual de fogo, caça, corte e partilha de carne animal, e de actividade mineira de sílex para a produção de utensílios – actividades e objectos que, segundo os autores, traduzem um comportamento que corresponde à aparição do Homem moderno.

A escavação continua a decorrer na gruta. Os cientistas esperam encontrar mais provas que ajudem a confirmar esta descoberta.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Tempos extraordinários

Partilho convosco 3 deliciosos acontecimentos do mundo da Ciência que apareceram na espuma destes nossos recentes dias:

- foram encontrados dentes humanos com mais de 400.000 anos; a descoberta deu-se em Israel e, a confirmar-se, permite "esticar" a localização temporal dos primeiros Homo sapiens para muito mais cedo do que o que se pensava. O último consenso sobre esta matéria aponta que os primeiros "homens sábios" surgiram há 200.000 anos. Eis um fabuloso desafio para a antropologia...

- O Carlos Oliveira, do blog AstroPT, conta-nos que há novas e interessantes teorias sobre os mistérios do despromovido Plutão! Não, não se trata de uma obsessão por encontrar oceanos em tudo o que é local do nosso Sistema Solar, mas parece que Plutão pode esconder um oceano por baixo da sua superfície gelada... para já, é apenas uma teoria, um modelo computorizado, que indica que o núcleo desse "em tempos planeta" contém materiais radioactivos cujo fenómeno de decaimento poderá ser suficiente para aquecer o gelo. E não será um mero lago; de acordo com o modelo, esse oceano poderá ter 100 a 170 quilómetros de espessura! Eis um fabuloso desafio para a missão New Horizons desvendar em 2015 quando chegar a essas terras distantes do nosso Sistema Solar!

- continuemos pelo sistema solar exterior: neste mesmo dia, mas no ano de 1612, Galileu tornou-se no primeiro homem a observar o planeta Neptuno; terá reparado num "estranha estrela fixa" perto de Júpiter e registou essa descoberta:


Assim, e em honra e memória de Galileu e Neptuno, deixo-vos com o elogio de Gustav Holst fez a esse planeta na sua maravilhosa obra The Planets Suite, escrita na segunda década do século passado.


in De Rerum Natura - post de Miguel Gonçalves

terça-feira, dezembro 28, 2010

Artigo na PNAS
Estudo revela que os neandertais afinal cozinhavam e comiam legumes

Comparação dos crâneos de um homem moderno e de um neandertal

O homem de Neandertal, extinto há 30 mil anos, alimentava-se de carne e de vegetais e cozinhava os alimentos, segundo um estudo publicado hoje na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, PNAS, citado pela AFP.

As investigações anteriores indicavam que os Neandertais eram sobretudo caçadores carnívoros, o que teria precipitado a sua extinção.

Pensava-se que os primeiros homens modernos com os quais aqueles coexistiram durante cerca de 10 mil anos teriam sobrevivido graças ao consumo de outros tipos de alimentos, como vegetais, peixes e mariscos, conforme os locais onde viviam.

O novo estudo parte da análise de partículas de alimentos contidas nas placas de tártaro dos dentes fossilizados de Neandertais descobertos em sítios arqueológicos do Iraque e da Bélgica, e trazem uma nova luz sobre estes primos desaparecidos.

Os investigadores, orientados por Dolores Piperno, do departamento de Antropologia do Museu de História Natural Americano Smithsonian, descobriram grãos de amido provenientes de várias plantas, entre as quais uma erva selvagem, e vestígios de diferentes legumes, raízes e tubérculos.

Muitos desses alimentos tinham sofrido modificações físicas correspondentes à cozedura, nomeadamente os grãos de amido, o que faz pensar que o homem de Neandertal dominava o fogo, tal como os primeiros homens modernos.

Os dentes continham também vestígios de partículas de tâmaras e de amido de outros vegetais que os investigadores continuam a tentar identificar.

Nenhum artefacto de pedra indica, no entanto, que os Neandertais utilizavam utensílios para moer os grãos, pelo que é provável que não praticassem agricultura.

in Público - ler notícia

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Os humanos modernos e os denisovianos

Ancient humans, dubbed 'Denisovans', interbred with us

Professor Chris Stringer: "It's nothing short of sensational - we didn't know how ancient people in China related to these other humans"

Scientists say an entirely separate type of human identified from bones in Siberia co-existed and interbred with our own species.

The ancient humans have been dubbed Denisovans after the caves in Siberia where their remains were found.

There is also evidence that this group was widespread in Eurasia.

A study in Nature journal shows that Denisovans co-existed with Neanderthals and interbred with our species - perhaps around 50,000 years ago.

An international group of researchers sequenced a complete genome from one of the ancient hominins (human-like creatures), based on nuclear DNA extracted from a finger bone.

DNA from a tooth (pictured) and a finger bone show the Denisovans were a distinct group

'Sensational' find

According to the researchers, this provides confirmation there were at least four distinct types of human in existence when anatomically modern humans (Homo sapiens sapiens) first left their African homeland.

long with modern humans, scientists knew about the Neanderthals and a dwarf human species found on the Indonesian island of Flores nicknamed The Hobbit. To this list, experts must now add the Denisovans.

The implications of the finding have been described by Professor Chris Stringer of the Natural History Museum in London as "nothing short of sensational".

Scientists were able to analyse DNA from a tooth and from a finger bone excavated in the Denisova cave in southern Siberia. The individuals belonged to a genetically distinct group of humans that were distantly related to Neanderthals but even more distantly related to us.

The finding adds weight to the theory that a different kind of human could have existed in Eurasia at the same time as our species.

Researchers have had enigmatic fossil evidence to support this view but now they have some firm evidence from the genetic study carried out by Professor Svante Paabo of the Max Planck Institute in Leipzig, Germany.

"A species of early human living in Europe evolved," according to Professor Paabo.

"There was a western form that was the Neanderthal and an eastern form, the Denisovans."

The study shows that Denisovans interbred with the ancestors of the present day people of the Melanesian region north and north-east of Australia. Melanesian DNA comprises between 4% and 6% Denisovan DNA.

David Reich from the Harvard Medical School, who worked with Svante Paabo on the study, says that the fact that Denisovan genes ended up so far south suggests they were widespread across Eurasia: "These populations must have been spread across thousands and thousands of miles," he told BBC News.

One mystery is why the Denisovan genes are unique in modern Melanesians and are not found in other Eurasian groups that have so far been sampled.

The remains were excavated at a cave site in southern Siberia

'Fleeting encounter'

Professor Stringer believes it is because there may have been only a fleeting encounter as modern humans migrated through South-East Asia and then on to Melanesia.

"It could be just 50 Denisovans interbreeding with a thousand modern humans. That would be enough to produce this 5% of those archaic genes being transferred," he said.

"So the impact is there but the number of interbreeding events might have been quite small and quite rare."

No one knows when or how these humans disappeared but, according to Professor Paabo, it is very likely something to do with modern people because all the "archaic" humans, like Denisovans and Neanderthals disappeared sometime after Homo sapiens sapiens appeared on the scene.

"It is fascinating to see direct evidence that these archaic species did exist (alongside us) and it's only for the last few tens of thousands of years that is unique in our history that we are alone on this planet and we have no close relatives with us anymore," he said.

The study follows a paper published earlier this year by Professor Paabo and colleagues that showed there was interbreeding between modern humans and Neanderthals as they emerged from Africa 60,000 years ago.

 in BBC

Os cro-magnons, os denisovanos e os neandertais

Nós, os Neandertais e agora também a Mulher-X

Na gruta Denisova, descobriu-se uma falange e um molar

Era uma mulher. Viveu entre há 30 a 50 mil anos. E, sem que o suspeitássemos até agora, pertencia a um grupo de humanos diferente de nós, mas que se reproduziu com a nossa espécie. Eis a Mulher-X, o primeiro indivíduo identificado desse grupo.

Este novo capítulo na história complexa da nossa espécie, os humanos modernos ou Homo sapiens sapiens, é contado amanha na revista Nature, pela equipa de Svante Pääbo, guru mundial da paleoantropologia genética do Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva, em Leipzig, na Alemanha.

Em 2008, encontrava-se a ponta do dedo de um humano na Sibéria, na gruta Denisova. Pensando estar perante a falange de um humano moderno, talvez de um Neandertal com sorte, a equipa de Pääbo sequenciou o ADN extraído desse pedaço de osso — não o ADN do núcleo das células, mas o que está nas mitocôndrias, as baterias das células e que é herdado só pela parte da mãe.

Quando viram os resultados, os cientistas não queriam acreditar: tinham em mãos ADN de um humano antigo desconhecido, pertencente a uma linhagem diferente das duas que até aqui se sabia terem habitado a Europa e a Ásia nessa altura — os humanos modernos, que saíram de África há cerca de 60 mil anos, e os Neandertais, que surgiram na Europa e Médio Oriente há 300 mil anos e extinguiram há cerca de 30 mil. Em Março último, a equipa revelou esses resultados, também na Nature, e espantou toda a gente.

Era também a primeira vez que um novo grupo de humanos era descrito não a partir da morfologia dos seus ossos fossilizados, mas da sua sequência de ADN.

Só pelo ADN das mitocôndrias, que está fora do núcleo das células, os cientistas não podiam saber se aquela falange, de um indivíduo com cinco a sete anos de idade, era de homem ou mulher. Mas deram-lhe a alcunha de Mulher-X, porque o ADN mitocondrial é matrilinear e porque gostavam de imaginar que era de uma mulher.

Depois, partiram para a sequenciação do ADN contido no núcleo celular e é a análise desses resultados que agora publicam. Além de confirmarem que a falange é mesmo feminina, os cientistas dizem que este novo grupo de humanos partilha um antepassado comum com os Neandertais, mas cada um seguiu uma história evolutiva diferente. Portanto, há 50 mil anos, além de nós e dos Neandertais, havia um terceiro grupo de humanos. Chamaram-lhe denisovanos.

Também sequenciaram agora o ADN mitocondrial retirado de um dente molar de outro indivíduo, um jovem adulto, descoberto na mesma gruta. Tanto o ADN como a morfologia do dente corroboram que se trata de um humano distinto dos Neandertais e da nossa espécie.

Durante décadas, discutiu-se se os Neandertais se teriam reproduzido ou não com a nossa espécie e se, apesar de extintos, haveria um bocadinho deles dentro de nós. Em Maio, o mesmo Pääbo pôs um ponto final na polémica, com a sequenciação do genoma dos Neandertais, dizendo que sim, que nos actuais euroasiáticos há um pouco de Neandertal. E agora a sua equipa diz que nos humanos modernos há igualmente um pouco dos denisovanos.

Mas, ao contrário dos Neandertais, os denisovanos não contribuíram geneticamente para os euroasiáticos actuais. As comparações genéticas entre os denisovanos e humanos modernos da Euroásia, África e Melanésia mostraram que são estes últimos que herdaram os seus genes.

De facto, a equipa descobriu que os naturais da Papuásia-Nova Guiné e das Ilhas Salomão partilham um número elevado de traços genéticos com os denisovanos, o que sugere que houve reprodução entre estes humanos até há poucos meses desconhecidos e os antepassados dos melanésios.

Sozinhos há pouco tempo

“Em conjunto com a sequenciação do genoma dos Neandertais, o genoma dos denisovanos sugere uma imagem complexa das interacções genéticas entre os nossos antepassados e diferentes grupos antigos de hominíneos”, comenta Pääbo, citado num comunicado de imprensa do seu instituto.

“O facto de os denisovanos terem sido descobertos no Sul da Sibéria, mas terem contribuído para o material genético de populações de humanos modernos da Papuásia-Nova Guiné sugere que os denisovanos podem ter-se espalhado pela Ásia”, diz.

Para Eugénia Cunha, especialista em evolução humana da Universidade de Coimbra, estes resultados mostram ainda quão diversos eram os grupos humanos no passado. “Sempre houve coexistência de várias espécies. Agora é que estamos numa situação anómala”, sublinha a antropóloga. “Há 50 mil anos, viviam os Neandertais, os humanos modernos e pelo menos este grupo distinto. Só muito recentemente é que nos tornámos a única espécie.” 

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Os chimpanzés fêmeas e as brincadeiras femininas humanas

Crias fêmeas de chimpanzés brincam com pauzinhos como se fossem bonecas

As fêmeas põem de lado os seus galhos assim que se tornam mães

Talvez o presente perfeito para uma jovem chimpanzé esteja na própria árvore de Natal e não debaixo dela. Cientistas de Harvard descobriram que as crias fêmeas tratam os pauzinhos e galhos como se fossem bonecas. Os machos têm brincadeiras diferentes.

Segundo os investigadores da Universidade de Harvard e do Bates College, Richard W. Wrangham e Sonya M. Kahlenberg, respectivamente, as jovens fêmeas mantêm os galhos consigo até elas próprias terem crias.

O estudo, publicado ontem na revista “Current Biology”, apresenta-se como a primeira prova de que uma espécie selvagem brinca com bonecas rudimentares e de que os machos e as fêmeas escolhem brincadeiras diferentes.

Em 14 anos de recolha de dados sobre o comportamento dos chimpanzés no Parque Nacional Kibale, no Uganda, Kahlenberg e Wrangham registaram mais de cem exemplos de crias que carregavam os seus pauzinhos. Em muitos casos, as jovens fêmeas não usavam os galhos para procurar alimentos ou lutar, como fazem por vezes os adultos, ou para qualquer objectivo perceptível. Segundo um comunicado da Universidade de Harvard, alguns jovens chimpanzés levavam os galhos para o sítio onde dormiam e houve uma cria que chegou mesmo a construir uma cama para o seu galho.

“Ao longo de muitos anos temos visto juvenis com galhos de um lado para o outro e porque, às vezes, tratavam-nos como bonecas, queríamos saber se este comportamento representava alguma coisa parecida com uma brincadeira com bonecas”, explicou Wrangham. “Se a hipótese da boneca estivesse certa, pensámos que as fêmeas iriam andar com os seus galhos mais do que os machos e que os abandonariam assim que tivessem as primeiras crias. Agora observámos chimpanzés suficientes para testar ambas as situações.”

Ambos os cientistas acreditam que o seu estudo ajuda a provar que, provavelmente, as crianças dos seres humanos já nascem com as suas próprias ideias sobre como se comportar em vez de imitarem outras raparigas a brincar com bonecas ou, no caso dos rapazes, optar pelos carrinhos. Talvez a escolha dos bonecos não se deva totalmente à socialização, apontam.

A investigação de Kahlenberg e Wrangham foi financiada pela Fundação Nacional da Ciência, Fundação Leakey, National Geographic Society, Fundação Getty e Fundação Wenner-Gren.


sexta-feira, abril 09, 2010

Eugénia Cunha lança livro de divulgação científica

Lançado no dia 13, em Coimbra
Antropóloga portuguesa publica livro sobre como nos tornámos humanos

Eugénia Cunha é especialista em evolução humana da Universidade de Coimbra
(Paulo Ricca/PÚBLICO)


Eugénia Cunha, antropóloga forense e especialista em evolução humana. "Como nos Tornámos Humanos", publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra, e que vai ser lançado no próximo dia 13 (no Museu da Ciência daquela universidade, às 17h30), cabe no bolso do casaco, ou não tivesse só 17 por 12 centímetros. Mas contém tudo o que é essencial para compreender o que se lê e ouve sobre evolução humana.


Tem as descobertas importantes de fósseis, numa espécie de "quem é quem" dos protagonistas da nossa história evolutiva, sistematiza os conhecimentos, traça o "estado da arte", tudo de forma concisa e simples. Inclui referências a alguns achados portugueses, como a criança do Lapedo, com 24 mil anos ("o mais importante fóssil humano alguma vez descoberto em Portugal").

Nesta história, já sabemos como tudo acaba: somos agora a única espécie de humanos ("Homo sapiens"), mas houve muitas outras, como o "Homo habilis", o "Homo erectus" ou o "Homo neanderthalensis", algumas coexistiram, e descobrir como chegámos até aqui faz-nos continuar a ler.

"O que nos torna humanos constitui uma incrível questão científica", lê-se no início. "O destaque da imprensa à nossa história natural fundamenta-se por se tratar das nossas origens, de saber quem foi o 'big daddy', enfim compreender por que somos como somos."

Eugénia Cunha leva-nos, assim, numa viagem com início há 55 milhões de anos, quando surgiram os primatas, e, com grande parte da acção em África, conta como nos fomos tornando no que somos: bípedes, com cérebros grandes, fabricantes de ferramentas, com uma linguagem articulada e produtores de símbolos.

in Público - ler notícia



Eugénia Cunha numa palestra em Leiria (Foto: Fernando Martins)

NOTA: é sempre um prazer divulgar aqui actividades de ex-professores dos Geopedrados - até porque a Professora Doutora Eugénia Cunha tem feito imenso pela Ciência, Antropologia e Divulgação Científica no nosso país e até fora dele...

quarta-feira, março 03, 2010

Palestra sobre Antropologia Forense em Porto de Mós

Foi-nos solicitada a divulgação da seguinte actividade, envolvendo uma ex-professora de muitos geopedrados e um local que nos (me) é muito caro (dirigido por um geólogo e ex-colega de Coimbra):

No próximo dia 11 de Março terá lugar uma conferência subordinada ao tema “Antropologia Forense”, pelas 15.30 horas, na Ecoteca de Porto de Mós.


Andreia Ferreira, Ângela Santos, Cristiana Miguel, Fábio Santos e Rafaela Ferreira, alunos do 12ºA da Escola Secundária de Porto de Mós, estão a desenvolver um projecto com base na temática «Ciências Forenses», no âmbito de Área de Projecto.

Uma das actividades integradas neste projecto consiste num “Ciclo de Conferências”, que se iniciará no dia 11 de Março de 2010, com a conferência “Antropologia Forense”, tendo como convidada especial a Professora Catedrática de Antropologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), Eugénia Cunha.

A sessão terá início pelas 15.30 horas, com uma breve apresentação acerca da Antropologia Forenses dinamizada pelos elementos do grupo, seguindo-se a participação da antropóloga Eugénia Cunha, como oradora.

A antropologia forense consiste na aplicação da antropologia física a questões legais, sendo que um antropólogo forense tem como principais funções a recuperação e a identificação de corpos em adiantado estado de decomposição.

Consideramos que esta conferência poderá sensibilizar a comunidade para a temática que nos encontramos a desenvolver, para além de permitir o esclarecimento de algumas dúvidas relacionadas com esta área das Ciências Forenses.

Para a participação nesta iniciativa agradecemos que nos contacte através do endereço de correio electrónico cfpms2009@gmail.com ou recorrendo ao nosso formulário de contacto.

in Blog Ciências Forenses - post de 26.02.2010