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segunda-feira, junho 05, 2023

Poesia adequada à data...

Efígie do Infante Santo no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, Portugal

 

D. Fernando Infante de Portugal


Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.


Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer-grandeza são Seu nome
Dentro em mim a vibrar.


E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.

 




in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

D. Fernando, dito o Infante Santo, morreu há quinentos e oitenta anos...

 

Pormenor de um dos Painéis de São Vicente de Fora mostrando, possivelmente, o Infante D. Fernando (circa 1450-1470 - por Nuno Gonçalves, atualmente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa)
    
O Beato Fernando de Portugal, dito o Infante Santo (Santarém, 29 de setembro de 1402Fez, 5 de junho de 1443) era o oitavo filho do rei João I de Portugal e de sua mulher Filipa de Lencastre, o mais novo dos membros da Ínclita Geração a chegar à idade adulta.
   

Le bien me plaît
Brasão e lema do Infante D. Fernando
 
(...)  
 
Assim, em 1437 participa numa expedição militar ao Norte de África, comandada por um irmão mais velho, o Infante D. Henrique, mas com o voto desfavorável dos outros infantes, Pedro, Duque de Coimbra e João, Infante de Portugal e do próprio Rei D. Duarte que, vítima de estranhos pressentimentos, só muito a contragosto consentiu na partida da expedição. O Rei terá entregue ao Infante D. Henrique uma carta com algumas recomendações úteis, que foram por algum motivo ignoradas. A campanha revelou-se um desastre e, para evitar a chacina total dos portugueses, estabeleceu-se uma rendição pela qual as forças portuguesas se retiram, deixando o infante como penhor da devolução de Ceuta (conquistada pelos portugueses em 1415). No entanto, o Infante pareceu ter pressentido o seu destino, pois ao despedir-se do seu irmão D. Henrique, lhe terá dito "Rogai por mim a El-Rei, que é a última vez que nos veremos!"
A divisão na metrópole entre os apoiantes da entrega imediata de Ceuta, ou a sua manutenção, conseguindo por outras vias (diplomática ou bélica), o resgate do infante, foi coeva da morte de D. Duarte (que morreu vítima da epidemia de peste que contaminou o Reino e ao que parece, de desgosto pelo fracasso da expedição a Tânger e do cativeiro de D. Fernando), o que impediu um desfecho favorável à situação.
Fernando foi entretanto levado para Fez, sendo tratado ora com todas as honras, ora como um prisioneiro de baixa condição (sobretudo depois de uma tentativa de evasão gorada, patrocinada por Portugal). Daí escreve ao seu irmão D. Pedro, então regente do reino, um apelo, pedindo a sua libertação a troco de Ceuta. Mas a divisão verificada na Corte em torno deste problema delicado e diversas ocorrências ocorridas com os governadores da praça-forte levam a que D. Fernando assuma o seu cativeiro com resignação cristã e morra no cativeiro de Fez em 1443 - acabando assim o problema da devolução ou não de Ceuta por se resolver naturalmente. Pelo seu sacrifício em nome dos interesses nacionais, viria a ganhar o epíteto de Infante Santo.
Pesará sempre a lembrança da morte trágica de D. Fernando, e com a maioridade de El-Rei D. Afonso V, seu sobrinho, desejoso de feitos guerreiros contra o Infiel em África, sucedem-se as tentativas de conquista, viradas sempre para Tânger, a fim de o vingar - primeiro em 1458 (acabando por desistir, dada a aparente inexpugnabilidade da cidade, e voltando-se para Alcácer Ceguer), depois nas "correrias" de 1463-1464, enfim a tomada de Arzila em 1471, embora uma vez mais o objectivo fosse Tânger. De resto, após a tomada de Arzila, os mouros de Tânger, sentindo-se desprotegidos (pois eram a única praça muçulmana no meio de terra de cristãos) e abandonados pelo seu chefe (que a troco do reconhecimento, por Afonso V, do título de rei de Fez, concedia ao monarca português o domínio de todo a região a Norte de Arzila, na qual Tânger se encontrava), deixaram a cidade, facto que muito custou ao rei português, por se ver assim impossibilitado de fazer pagar cara a morte de D. Fernando, seu tio.
     
Culto
Por meio desse mesmo tratado concluído com o agora rei de Fez, os restos mortais do Infante, que se achavam naquela cidade, passaram para as mãos dos portugueses, tendo sido solenemente transferidos para o Mosteiro da Batalha, onde hoje repousam ao lado dos pais e irmãos, na Capela do Fundador.
O seu culto religioso foi aprovado em 1470 e os bolandistas o incluem no rol dos beatos portugueses.
Uma teoria recente sobre os Painéis de São Vicente de Fora defende que os mesmos têm como figura central o próprio Infante Santo, e não S. Vicente, estando o mesmo rodeado pelos seus irmãos e família nos painéis centrais. Este conhecido quadro de Nuno Gonçalves seria assim uma homenagem nacional ao infante mártir, morto no exílio por defesa do território nacional.
        

sábado, maio 20, 2023

Poema para um príncipe da Ínclita Geração, o Infante das Sete Partidas....

 


Cessação


Quando a morte vier, ou procurada
eu a tiver comigo apenas por um instante,
qual já nem for amante
a esperança conseguida à liberdade,
então do nada que a existência invade
alguma dor virá de não ter dito
que a vida eu sofria como um rito
do Sol de outras manhãs. Expatriada?


Não. Que só a morte nunca existirá.
Sonharei - sonhará,
na treva, a cantiga:
Que luz não amiga
a treva será?


Nem longe, nem perto;
nem riso decerto.
Apenas um rumor de madrugada.
 


in Coroa da Terra (1946) - Jorge de Sena

Fartar, vilanagem - Alfarrobeira foi há 574 anos...

Bandeira pessoal do Infante D. Pedro, com a divisa da Ordem do Dragão: «Désir»

    

A Batalha de Alfarrobeira foi o recontro travado entre o jovem rei D. Afonso V e o Infante D. Pedro, seu tio, em 20 de maio de 1449, junto da ribeira do lugar de Alfarrobeira, em Vialonga, perto de Alverca. No princípio do ano de 1448, aconselhado por seu tio bastardo, D. Afonso, Duque de Bragança, pelo filho do anterior, o Conde de Ourém e pelo arcebispo de Lisboa, decidiu D. Afonso V afastar do governo do reino, o seu tio, tutor e sogro, que abandonou a corte, a pretexto da administração das suas terras e se instalou na casa ducal de Coimbra.

A intriga surtiu efeito no espírito do monarca que não atendeu às tentativas de conciliação quer do próprio D. Pedro, que lhe escreveu renovando a sua obediência e defendendo-se das calúnias, quer do Infante D. Henrique e do conde de Avranches, que pretenderam evitar o drama.
O rei escreve no final deste ano ao duque de Bragança requisitando-o à corte mas acompanhado de escolta uma vez que teria de atravessar terras de Coimbra. D. Pedro, sabedor da vinda do seu inimigo, proíbe-lhe a passagem por suas terras e é considerado súbdito desleal ao rei. Logo se publicam éditos contra o Infante e os seus aliados e o rei investe, com as suas tropas, na tentativa de submetê-los, instalando-se em Santarém; por sua vez D. Pedro desce de Coimbra em direção a Lisboa e encontra as tropas reais no lugar de Alfarrobeira, em Vialonga.
Travada a batalha, as tropas do monarca saem vitoriosas e o Infante morre no combate e com ele vários fidalgos que o acompanhavam, nomeadamente o seu "braço direito", D. Álvaro Vaz de Almada, sob o grito "Meu corpo sinto que não podes mais, e tu, minh'alma já tarda; é fartar vilanagem".
Foi geral a reprovação europeia, perante a conduta de D. Afonso V, e D. Isabel de Portugal, Duquesa da Borgonha, recolhe na corte da Borgonha os sobrinhos órfãos D. Jaime, mais tarde arcebispo de Lisboa e cardeal, D. Pedro, mais tarde conde de Barcelona, D. João, futuro príncipe de Antioquia e D. Isabel.
Em resumo, Alfarrobeira representa o triunfo da corrente senhorial sobre os princípios de centralização régia que já anunciam a Idade Moderna. Contudo, convém lembrar que este embate, em parte, foi um conflito entre as duas grandes casas senhoriais da altura, Coimbra e Bragança, numa querela originada nos inícios da Regência, logo após a morte do Rei D. Duarte.
     
    
   

     Poema da Alfarrobeira

Era Maio, e havia flores vermelhas e amarelas
nos campos de Alfarrobeira.

O homem,
de burel grosso e barba de seis dias,
arrastava os tamancos e o cansaço.
Ao lado iam seguindo os bois puxando o carro,
naquele morosíssimo compasso
que engole o tempo ruminando o espaço.

Era um velho mas tinha a voz sonora
e com ela incitava os bois em andamento,
voz cantada que os ecos prolongavam
indefinidamente.
Era um deus soberano e maltrapilho
a cuja imperiosa voz aquelas massas
de carne musculada
maciça, rude, bruta, inamovível,
obedeciam mansas e seguiam
no sulco aberto
como se um pulso alado as dirigisse,
mornas e sonolentas.

A voz era a de um deus que os mundos cria,
que do nada faz tudo,
que vence a inércia e anula a gravidade,
que levita o que pesa e o trata como leve.
Potência aliciadora alonga-se e prolonga-se
nos plainos da paisagem,
enquanto os animais prosseguem no caminho
do seu quotidiano,
pensativos e absortos.

Lá em baixo, na margem do ribeiro,
estendido sobre a erva,
jaz o infante.
Do seu coração ergue-se a haste de um virote
erecta como um junco,
e já nenhuma voz o acordará.

   
    
    
in Novos Poemas Póstumos (1990) – António Gedeão

terça-feira, abril 11, 2023

Poema para recordar um grande Rei...

   
   
D. JOÃO O PRIMEIRO

O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.
Mestre, sem o saber, do Templo
Que Portugal foi feito ser,
Que houveste a glória e deste o exemplo
De o defender.
Teu nome, eleito em sua fama,
É, na ara da nossa alma interna,
A que repele, eterna chama,
A sombra eterna.
 


in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

El-Rei D. João I nasceu há 666 anos

    
D. João I de Portugal (Lisboa, 11 de abril de 1357 – Lisboa, 14 de agosto de 1433), foi o décimo Rei de Portugal e o primeiro da Dinastia de Avis, cognominado O de Boa Memória pelo legado que deixou.
Filho ilegítimo (bastardo) de El-Rei D. Pedro I e 3.º Mestre da Ordem de Avis (com sede em Avis), foi aclamado rei na sequência da Crise de 1383-1385 que ameaçava a independência de Portugal.
Com o apoio do condestável do reino, Nuno Álvares Pereira, e aliados ingleses travou a batalha de Aljubarrota contra o Reino de Castela, que invadira o país. A vitória foi decisiva: Castela retirou-se, acabando bastantes anos mais tarde por o reconhecer oficialmente como rei.
Para selar a aliança Luso-Britânica casou com D. Filipa de Lencastre, filha de João de Gaunt, dedicando-se desde então ao desenvolvimento do reino.
Em 1415 conquistou Ceuta, praça estratégica para a navegação no norte de África, o que iniciaria a expansão portuguesa. Aí foram armados cavaleiros os seus filhos D. Duarte, D. Pedro e o Infante D. Henrique, irmãos da chamada ínclita geração.
Escrito entre esse mesmo ano de 1415 e 1433, terá escrito um "notável" livro versado em montaria, uma das artes de caçar.
    
Bandeira pessoal de D. João I com a sua divisa: Pour bien
        
(...)
   
Cronistas contemporâneos descrevem D. João I como um homem arguto, cioso em conservar o poder junto de si, mas ao mesmo tempo benevolente e de personalidade agradável. Na juventude, a educação que recebeu como Grão Mestre da Ordem de Aviz transformou-o num Rei invulgarmente culto para a época.
O seu amor ao conhecimento passou também para os filhos, designados por Luís Vaz de Camões, nos Lusíadas, por «Ínclita Geração»: o Rei D. Duarte de Portugal foi poeta e escritor, D. Pedro, Duque de Coimbra, o «Príncipe das Sete Partidas», foi um dos príncipes mais esclarecidos do seu tempo e muito viajado, e o Henrique, Duque de Viseu, o «Navegador», investiu toda a sua fortuna em investigação relacionada com navegação, náutica e cartografia, dando início à epopeia dos Descobrimentos.
A sua única filha, D. Isabel de Portugal, casou com o Duque da Borgonha e entreteve uma corte refinada e erudita nas suas terras.
No reinado de D. João I foram descobertas as ilhas de Porto Santo (1418), da Ilha da Madeira (1419) e dos Açores (1427), além de se fazerem expedições às Canárias. Teve início, igualmente, o povoamento dos arquipélagos dos Açores e da Madeira.
D. João faleceu a 14 de agosto de 1433. Jaz na Capela do Fundador, no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha.
Foi cognominado O de Boa Memória, pela lembrança positiva do seu reinado na memória dos portugueses, também podendo ser chamado de O Bom ou O Grande.
  
Descendentes
Do seu casamento com Filipa de Lencastre (13591415) nasceram nove filhos. Destes, os seis que chegaram à idade adulta seriam lembrados como a Ínclita Geração:
D. João teve ainda dois filhos naturais, de Inês Pires, antes do seu casamento:
   

segunda-feira, março 06, 2023

João de Gante, pai de Filipa de Lencantre e de Henrique IV de Inglaterra, nasceu há 683 anos


João de Gante (em inglês: John of Gaunt; Gante, 6 de março de 1340 - Leicester, 3 de fevereiro de 1399), senescal de Inglaterra, foi membro da Casa de Plantageneta, o terceiro dos quatro filhos sobreviventes do rei Eduardo III da Inglaterra e de Filipa de Hainault. Ele foi chamado de "João de Gante" porque nasceu em Ghent, então traduzido em inglês como Gante. João tornou-se Duque de Lancaster em 1362, através do casamento com a sua prima Branca de Lancaster. Em 1390 tornou-se Duque da Aquitânia por doação do sobrinho, Ricardo II de Inglaterra. João de Gant foi o fundador da Casa de Lancaster, a fação encarnada da guerra das rosas.
Depois da morte de Branca, João casou em 1371 com a princesa Constança, filha do falecido rei Pedro I de Castela, o Cruel, e envolveu-se na complicada política castelhana ao declarar-se pretendente da coroa castelhana, rivalizando com Henrique de Trastâmara. No ano seguinte, a posição inglesa foi reforçada com o casamento de Edmundo de Langley, outro filho de Eduardo III, com Isabel, irmã mais nova de Constança. As suas intenções foram goradas pelos Trastâmara, mas João continuou a influenciar a política ibérica. Quando estalou a crise dinástica de 1383-1385 entre Portugal e Castela, João apoiou a fação de João, Mestre de Avis, do ponto de vista político e militar, enviando uma divisão de archeiros galeses. É da sua iniciativa que nasceu o tratado de Windsor que confere a Inglaterra e Portugal o estatuto de aliados desde 1387. Para firmar este tratado, a sua filha mais velha, Filipa, casou com El-Rei D. João I de Portugal.

sábado, março 04, 2023

O Infante de Sagres nasceu há 629 anos

Possível representação do Infante de Sagres num dos Painéis de São Vicente de Fora
     
O Infante D. Henrique de Avis, 1.º Duque de Viseu e 1.º senhor da Covilhã (Porto, 4 de março de 1394Sagres, 13 de novembro de 1460), foi um infante português e a mais importante figura do início da era das descobertas, popularmente conhecido como Infante de Sagres ou O Navegador.
Os seus restos mortais encontram-se sepultados no Mosteiro da Batalha.
   
Talent de bien faire
 
Brasão e Divisa do Infante D. Henrique
       
O Infante D. Henrique nasceu numa quarta-feira de cinzas na cidade do Porto, Portugal, no dia então considerado pouco propício ao nascimento de uma criança. Era o quinto filho de João I de Portugal, fundador da Dinastia de Avis, e de Dona Filipa de Lencastre.

Foi batizado alguns dias depois do seu nascimento, tendo sido o seu padrinho o bispo de Viseu. Os seus pais deram-lhe o nome Henrique possivelmente em honra do seu tio materno, o duque Henrique de Lencastre (futuro Henrique IV de Inglaterra).

Pouco se sabe sobre a vida do infante até aos seus catorze anos. Tanto ele como os seus irmãos (a chamada Ínclita geração) tiveram como aio um cavaleiro da Ordem de Avis.

Foi o principal impulsionador da expansão portuguesa, os chamados descobrimentos portugueses.

Em 1414, convenceu seu pai a montar a campanha para a conquista de Ceuta, na costa norte-africana junto ao estreito de Gibraltar. A cidade foi conquistada em agosto de 1415, assegurando ao reino de Portugal o controle das rotas marítimas de comércio entre o Atlântico e o Levante. Na ocasião foi armado cavaleiro e recebeu os títulos de Senhor da Covilhã e duque de Viseu.

Foi também administrador da Ordem de Cristo.

Após a conquista de Ceuta, retirou-se para Lagos, onde dirigiu expedições ao Atlântico. Rodeou-se de sábios e navegadores portugueses, maiorquinos, genoveses e venezianos.

Durante a sua vida foram redescobertas as ilhas do Atlântico, já conhecidas em mapas do século XIV: os arquipélagos da Madeira e dos Açores. O povoamento e exploração das ilhas ficou a seu cargo. 

   

sexta-feira, dezembro 09, 2022

D. Pedro, infante da Ínclita Geração e Duque de Coimbra, nasceu há 630 anos

O Infante D. Pedro no Padrão dos Descobrimentos 


D. Pedro, infante de Portugal, 1º Duque de Coimbra, (Lisboa, 9 de dezembro de 1392Alfarrobeira, Vialonga, 20 de maio de 1449) foi um príncipe da dinastia de Avis, filho do rei D. João I e da rainha Filipa de Lencastre. Entre 1439 e 1448 foi regente de Portugal.
Devido às suas viagens ao estrangeiro, ficou conhecido como o Infante das Sete Partidas. Tendo recebido nelas o feudo de Treviso, com o título de Duque de Treviso, pelo imperador Segismundo da Hungria e investido cavaleiro da Ordem da Jarreteira pelo seu tio, Henrique IV de Inglaterra.
Pedro foi, desde a nascença, um dos filhos favoritos de João I, que lhe proporcionou uma educação esmerada e excecional numa era em que os grandes senhores eram pouco mais, senão mesmo, analfabetos. Muito próximo dos irmãos Duarte e João, Pedro cresceu num ambiente tranquilo e livre de intrigas. Em 1415, acompanha o pai na conquista de Ceuta e é feito cavaleiro no dia seguinte à tomada da cidade, na recém consagrada mesquita. É nesta altura que lhe é conferido o Ducado de Coimbra, tornando-se, com o irmão Henrique, nos dois primeiros duques criados em Portugal.
Em 1429, Pedro casa com a princesa Isabel de Aragão, condessa de Urgel, em determinada altura herdeira de Aragão, com quem constitui, segundo as fontes, uma união de amor. Na morte de Duarte, seu Rei e irmão mais velho, Pedro é preterido na regência de Afonso V de Portugal a favor da rainha mãe, Leonor de Aragão. A escolha do falecido rei não era, no entanto, popular e a fação opositora de Leonor em breve saiu às ruas. Um motim em Lisboa foi evitado in extremis, convocando-se uma reunião das cortes para normalizar a situação (Cortes de 1439). O resultado do encontro foi a nomeação de Pedro para a regência do pequeno Rei (dezembro de 1439), deixando a classe média de burgueses e mercadores deveras satisfeita. No entanto, dentro da aristocracia, em particular D. Afonso, conde de Barcelos (meio irmão de Pedro), preferia-se a mais maleável Leonor de Aragão e desconfiava-se do valor do Infante. Começa então uma guerra surda de influências e Afonso consegue transformar-se no tio favorito de D. Afonso V.
Em 1443, num gesto de reconciliação, Pedro torna o meio irmão Afonso no primeiro duque de Bragança e as relações entre os dois parecem regressar à normalidade. Indiferente às intrigas, Pedro continua a sua regência e o país prospera sob a sua influência. É durante este período que se concedem os primeiros subsídios à exploração do oceano Atlântico, organizada pelo Infante D. Henrique.
Finalmente, a 9 de junho de 1448, Afonso V atinge a maioridade e Pedro entrega o controlo de Portugal ao Rei, verificando-se o grau de influência do Duque de Bragança sobre Afonso. A 15 de setembro, Afonso V anula todos os éditos de Pedro, começando, contra si próprio, pelos que determinavam a concentração do poder na pessoa do rei. A única coisa que Afonso parece não aceitar é a separação da rainha Isabel, por muito a estimar. No ano seguinte, sob acusações que haveria mais tarde de descobrir falsas, Afonso V declara o infante Pedro um rebelde. A situação torna-se insustentável, e começa uma breve guerra civil, pois a 20 de maio de 1449 ocorreu a batalha de Alfarrobeira, no Forte da Casa, perto de Alverca, durante a qual o infante morreu. As condições exatas da sua morte continuam a causar debate: aparentemente Pedro morreu em combate, mas a hipótese de um assassínio disfarçado na batalha nunca foi descartada.
Com a morte de Pedro, Portugal caiu nas mãos de Afonso, 1º Duque de Bragança, com cada vez mais poder sobre o rei. No entanto, o período da sua regência nunca foi esquecido e D. Pedro foi citado muitas vezes pelo rei D. João II de Portugal (seu neto) como sendo a sua maior influência. A perseguição implacável que D. João II moveu aos Braganças foi talvez em resposta às conspirações que causaram a queda de um dos maiores príncipes da Ínclita Geração.

Do seu casamento com D. Isabel de Aragão, condessa de Urgel, filha de Jaime II de Urgel e da infanta Isabel de Aragão e Fortiá, teve os seguintes filhos:

Bandeira pessoal do Infante D. Pedro com a divisa: «Désir»

 
D. Pedro no Painel dos Cavaleiros, no políptico de S. Vicente

   

D. Pedro, Regente de Portugal

Claro em pensar, e claro no sentir,
É claro no querer;
Indiferente ao que há em conseguir
Que seja só obter;
Dúplice dono, sem me dividir,
De dever e de ser —

Não me podia a Sorte dar guarida
Por eu não ser dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
Calmo sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo mais é com Deus!

   

in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

domingo, novembro 13, 2022

Porque é dia de recordar um Infante...

 

O INFANTE

 

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.

Deus quis que a terra fosse toda uma,

Que o mar unisse, já não separasse.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.

 

E a orla branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo.

 

Quem te sagrou criou-te português.

Do mar e nós em ti nos deu sinal.

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Senhor, falta cumprir-se Portugal!



in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

 

segunda-feira, outubro 31, 2022

El-Rei D. Duarte I nasceu há 631 anos

Estátua de D. Duarte em Viseu
     
D. Duarte I de Portugal (Viseu, 31 de outubro de 1391Tomar, 9 de setembro de 1438) foi o décimo-primeiro Rei de Portugal. Cognominado o Eloquente pelo seu interesse pela cultura e pelas obras que escreveu, era filho de D. João I de Portugal e D. Filipa de Lencastre e desde cedo foi preparado para reinar, como primogénito da ínclita geração. Em 1433 sucedeu a seu pai. Num curto reinado de cinco anos deu continuidade à política exploração marítima e de conquistas em África. O seu irmão Henrique estabeleceu-se em Sagres, de onde dirigiu as primeiras navegações e, em 1434, Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador. Numa campanha mal sucedida a Tânger o seu irmão D. Fernando foi capturado e morreu em cativeiro. D. Duarte interessou-se pela cultura e escreveu várias obras, como o Leal Conselheiro e o Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela. Preparava uma revisão da legislação portuguesa quando morreu, vitimado pela peste.
    
   

quinta-feira, setembro 29, 2022

Poema para um triste Infante...


   

D. Fernando Infante de Portugal

Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer-grandeza são Seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.

 

in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

O Beato Fernando de Portugal, dito o Infante Santo, nasceu há 620 anos

Pormenor de um dos Painéis de São Vicente de Fora mostrando, possivelmente, o Infante D. Fernando (circa 1450-1470 - por Nuno Gonçalves, atualmente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa)
      
O Beato Fernando de Portugal, dito o Infante Santo (Santarém, 29 de setembro de 1402Fez, 5 de junho de 1443) era o oitavo filho do rei João I de Portugal e de sua mulher Filipa de Lencastre, o mais novo dos membros da Ínclita Geração a chegar à idade adulta.
   
Le bien me plaît
Brasão e lema do Infante D. Fernando
   
(...)
   
Assim, em 1437 participa numa expedição militar ao Norte de África, comandada por um irmão mais velho, o Infante D. Henrique, mas com o voto desfavorável dos outros infantes, Pedro, Duque de Coimbra e João, Infante de Portugal e do próprio Rei D. Duarte que, vítima de estranhos pressentimentos, só muito a contragosto consentiu na partida da expedição. O Rei terá entregue ao Infante D. Henrique uma carta com algumas recomendações úteis, que foram por algum motivo ignoradas. A campanha revelou-se um desastre e, para evitar a chacina total dos portugueses, estabeleceu-se uma rendição pela qual as forças portuguesas se retiram, deixando o infante como penhor da devolução de Ceuta (conquistada pelos portugueses em 1415). No entanto, o Infante pareceu ter pressentido o seu destino, pois ao despedir-se do seu irmão D. Henrique, lhe terá dito "Rogai por mim a El-Rei, que é a última vez que nos veremos!"
A divisão na metrópole entre os apoiantes da entrega imediata de Ceuta, ou a sua manutenção, conseguindo por outras vias (diplomática ou bélica), o resgate do infante, foi coeva da morte de D. Duarte (que morreu vítima da epidemia de peste que contaminou o Reino e ao que parece, de desgosto pelo fracasso da expedição a Tânger e do cativeiro de D. Fernando), o que impediu um desfecho favorável à situação.
Fernando foi entretanto levado para Fez, sendo tratado ora com todas as honras, ora como um prisioneiro de baixa condição (sobretudo depois de uma tentativa de evasão gorada, patrocinada por Portugal). Daí escreve ao seu irmão D. Pedro, então regente do reino, um apelo, pedindo a sua libertação a troco de Ceuta. Mas a divisão verificada na Corte em torno deste problema delicado e diversas ocorrências ocorridas com os governadores da praça-forte levam a que D. Fernando assuma o seu cativeiro com resignação cristã e morra no cativeiro de Fez em 1443 - acabando assim o problema da devolução ou não de Ceuta por se resolver naturalmente. Pelo seu sacrifício em nome dos interesses nacionais, viria a ganhar o epíteto de Infante Santo.
Pesará sempre a lembrança da morte trágica de D. Fernando, e com a maioridade de El-Rei D. Afonso V, seu sobrinho, desejoso de feitos guerreiros contra o Infiel em África, sucedem-se as tentativas de conquista, viradas sempre para Tânger, a fim de o vingar - primeiro em 1458 (acabando por desistir, dada a aparente inexpugnabilidade da cidade, e voltando-se para Alcácer Ceguer), depois nas "correrias" de 1463-1464, enfim a tomada de Arzila em 1471, embora uma vez mais o objetivo fosse Tânger. De resto, após a tomada de Arzila, os mouros de Tânger, sentindo-se desprotegidos (pois eram a única praça muçulmana no meio de terra de cristãos) e abandonados pelo seu chefe (que a troco do reconhecimento, por Afonso V, do título de rei de Fez, concedia ao monarca português o domínio de todo a região a Norte de Arzila, na qual Tânger se encontrava), deixaram a cidade, facto que muito custou ao rei português, por se ver assim impossibilitado de fazer pagar cara a morte de D. Fernando, seu tio.
        
Culto
Por meio desse mesmo tratado concluído com o agora rei de Fez, os restos mortais do Infante, que se achavam naquela cidade, passaram para as mãos dos portugueses, tendo sido solenemente transferidos para o Mosteiro da Batalha, onde hoje repousam ao lado dos pais e irmãos, na Capela do Fundador.
O seu culto religioso foi aprovado em 1470 e os bolandistas o incluem no rol dos beatos portugueses.
Uma teoria recente sobre os Painéis de São Vicente de Fora defende que os mesmos têm como figura central o próprio Infante Santo, e não S. Vicente, estando o mesmo rodeado pelos seus irmãos e família nos painéis centrais. Este conhecido quadro de Nuno Gonçalves seria assim uma homenagem nacional ao Infante mártir, morto no exílio por defesa do território nacional.
          

segunda-feira, agosto 22, 2022

Ceuta foi conquistada há 607 anos

Bandeira atual de Ceuta
   
A Conquista de Ceuta, cidade islâmica no Norte de África, por tropas portuguesas sob o comando de El-Rei D. João I de Portugal, deu-se a 22 de agosto de 1415.
  

 

Painel de azulejos de Jorge Colaço (1864 - 1942) na Estação de São Bento, no Porto
   
D. JOÃO O PRIMEIRO

  



O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.

Mestre, sem o saber, do Templo
Que Portugal foi feito ser,
Que houveste a glória e deste o exemplo
De o defender.

Teu nome, eleito em sua fama,
É, na ara da nossa alma interna,
A que repele, eterna chama,
A sombra eterna.


  
in Mensagem - Fernando Pessoa

domingo, agosto 14, 2022

Aljubarrota foi há 637 anos

    
A Batalha de Aljubarrota decorreu no final da tarde de 14 de agosto de 1385 entre tropas portuguesas com aliados ingleses, comandadas por D. João I de Portugal e o seu condestável D. Nuno Álvares Pereira, e o exército castelhano e seus aliados liderados por D. João I de Castela. A batalha deu-se no campo de São Jorge, nas imediações da vila de Aljubarrota, entre os concelhos de Porto de Mós e Alcobaça, no centro de Portugal.
O resultado foi uma derrota definitiva dos castelhanos, o fim da crise de 1383-1385 e a consolidação de D. João I, Mestre de Avis, como Rei de Portugal, o primeiro da Dinastia de Avis. A aliança Luso-Britânica saiu reforçada desta batalha e seria selada um ano depois, com a assinatura do Tratado de Windsor e o casamento do rei D. João I com D. Filipa de Lencastre. Como agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota, D. João I mandou edificar o Mosteiro da Batalha. A paz com Castela só viria a estabelecer-se em 1411 com o Tratado de Ayllón, ratificado em 1423.
   
A Batalha de Aljubarrota foi uma das raras grandes batalhas campais da Idade Média entre dois exércitos régios e um dos acontecimentos mais decisivos da história de Portugal. Inovou a tática militar, permitindo que homens de armas apeados fossem capazes de vencer uma poderosa cavalaria. No campo diplomático, permitiu a aliança entre Portugal e a Inglaterra, que perdura até hoje. No aspeto político, resolveu a disputa que dividia o Reino de Portugal do Reino de Castela e Leão, permitindo a afirmação de Portugal como Reino Independente, abrindo caminho sob a Dinastia de Avis para uma das épocas mais marcantes da história de Portugal, a época dos Descobrimentos.
   
(...)
  
Na manhã de 15 de agosto, a catástrofe sofrida pelos castelhanos ficou bem à vista: os cadáveres eram tantos que chegaram para barrar o curso dos ribeiros que flanqueavam a colina. Para além de soldados de infantaria, morreram também muitos nobres fidalgos castelhanos, o que causou luto em Castela até 1387. A cavalaria francesa sofreu em Aljubarrota outra pesada derrota contra as táticas de infantaria, depois de Crécy e Poitiers. A batalha de Azincourt, já no século XV, mostra que Aljubarrota não foi a última vez em que isso aconteceu.
Com esta vitória, D. João I tornou-se no Rei incontestado de Portugal, o primeiro da Dinastia de Avis.
Para celebrar a vitória e agradecer o auxílio divino que acreditava ter recebido, D. João I mandou erigir o Mosteiro de Santa Maria da Vitória e fundar a vila da Batalha. Assim como, passados sete anos da batalha, o nosso condestável D. Nuno Álvares Pereira mandou construir a Ermida de São Jorge, em Calvaria de Cima, onde precisamente está o campo de militar de São Jorge e ele havia depositado o seu estandarte nesse dia. Hoje nesse mesmo último local, há também um moderno centro de interpretação que explica o desenrolar dos acontecimentos, seus antecedentes e suas consequências.
   

O Mestre de Avis morreu há 589 anos

     
D. João I de Portugal (Lisboa, 11 de abril de 1357 – Lisboa, 14 de agosto de 1433), foi o décimo Rei de Portugal e o primeiro da Dinastia de Avis, cognominado O de Boa Memória pelo legado que deixou.
Filho ilegítimo (bastardo) do rei D. Pedro I e 3.º Mestre da Ordem de Avis (com sede em Avis), foi aclamado rei na sequência da Crise de 1383-1385, que ameaçava a independência de Portugal.
Com o apoio do condestável do reino, Nuno Álvares Pereira, e aliados ingleses travou a batalha de Aljubarrota contra o Reino de Castela, que invadira o país. A vitória foi decisiva: Castela retirou-se, acabando bastantes anos mais tarde por o reconhecer oficialmente como rei.
Para selar a aliança Luso-Britânica casou com D. Filipa de Lencastre, filha de João de Gaunt, dedicando-se desde então ao desenvolvimento do reino.
Em 1415 conquistou Ceuta, praça estratégica para a navegação no norte de África, o que iniciaria a expansão portuguesa. Aí foram armados cavaleiros os seus filhos D. Duarte, D. Pedro e o Infante D. Henrique, irmãos da chamada ínclita geração.
       
Bandeira pessoal de D. João I com a sua divisa: «Pour bien»