Bandeira atual de Ceuta
Na manhã de 21 de Agosto de 1415, o rei João I deu ordens para o desembarque das tropas e um assalto geral à cidade. No entanto, quando o rei embarcou num escaler para ser levado a terra, feriu-se numa perna. Foi então dado sinal ao Infante Henrique para que liderasse as tropas a terra.
O primeiro a desembarcar foi Rui Gonçalves, conhecido pela sua ousadia; este encontrou resistência ao desembarcar com os seus homens na atual Playa San Amaro. O infante Henrique foi o primeiro infante a desembarcar à frente de um esquadrão de homens. Seguiu-lhe o seu irmão e o príncipe-herdeiro Duarte e, à frente de cerca de 300 homens, ambos lograram expulsar os defensores muçulmanos de volta ao portão de Almedina, que foi penetrado pelos portugueses antes que fosse firmemente encerrado.
Os marroquinos lograram ainda opor alguma resistência aos portugueses entre as apertadas ruas logo além da porta da cidade, encorajados por um grande núbion ou sudanês que atirava grandes pedras. Depois de este ter sido morto por Vasco Martins de Albergaria, os muçulmanos viraram-se e fugiram, perseguidos pelo casario pelos homens chefiados pelo infante Pedro, pelo infante Henrique.
À medida que os portugueses tomavam conta da cidade, Salá ibne Salá desceu da cidadela para tentar conter o avanço dos atacantes nas ruas estreitas, a fim de permitir que os residentes pudessem ao menos fugir a tempo com as suas famílias. Vasco Fernandes de Ataíde tentou abrir outro portão à com alguns homens, mas foram rechaçados, sendo mortos 8 e Ataíde ferido mortalmente.
O infante D. Henrique deixou para trás um destacamento de homens a proteger a porta que fora aberta enquanto esperavam pelo resto do exército; chegou este pouco depois comandada pelo Rei, Príncipe Pedro e pelo Condestável Nuno Álvares Pereira. O rei João, no entanto, não participaria mais nos combates e sentou-se junto ao portão. Durante os combates urbanos, espalhou-se entre as tropas portuguesas o boato de que o príncipe Henrique havia morrido, pois não era possível localizá-lo. Ao ser informado dos rumores da morte de seu filho, o rei terá respondido que "tal é o fim que devem esperar os soldados".
Salá ibne Salá manteve a posse da cidadela de Ceuta até ao pôr-do-sol, mas não vendo forma de resistir aos portugueses, fugiu da cidade com alguns dos seus homens, levando as suas famílias e tudo o que conseguissem transportar. Só na manhã seguinte, a 22 de Agosto, é que os portugueses se deram conta de que a cidadela se encontrava abandonada. Ceuta caiu por inteiro em mãos portuguesas e os combates cessaram. A maioria dos residentes de Ceuta fugira da cidade, embora um número considerável tenha sido morto na ação e algumas mulheres, crianças e idosos incapazes de fugir ou pegar em armas tenham ainda sido encontrados nas suas residências.
Mediante ordens do rei, o conde de Avranches Álvaro Vaz de Almada ou João Vasques de Almada içou, pela primeira vez, a bandeira de Lisboa (ou de São Vicente) sobre o castelo de Ceuta. Este símbolo ainda hoje é a bandeira de Ceuta, se bem que foi-lhe acrescentado ao centro o brasão de Portugal.
D. JOÃO O PRIMEIRO
O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.
Mestre, sem o saber, do Templo
Que Portugal foi feito ser,
Que houveste a glória e deste o exemplo
De o defender.
Teu nome, eleito em sua fama,
É, na ara da nossa alma interna,
A que repele, eterna chama,
A sombra eterna.
in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa


