Brasão e lema do Infante D. Fernando
(...)
Assim, em
1437 participa numa expedição militar ao
Norte de África, comandada por um irmão mais velho, o
Infante D. Henrique, mas com o voto desfavorável dos outros infantes,
Pedro, Duque de Coimbra e
João, Infante de Portugal e do próprio Rei
D. Duarte
que, vítima de estranhos pressentimentos, só muito a contragosto
consentiu na partida da expedição. O Rei terá entregue ao Infante D.
Henrique uma carta com algumas recomendações úteis, que foram por algum
motivo ignoradas. A campanha revelou-se um desastre e, para evitar a
chacina total dos portugueses, estabeleceu-se uma rendição pela qual as
forças portuguesas se retiram, deixando o infante como penhor da
devolução de
Ceuta (
conquistada pelos portugueses em
1415). No entanto, o Infante pareceu ter pressentido o seu destino, pois ao despedir-se do seu irmão D. Henrique, lhe terá dito
"Rogai por mim a El-Rei, que é a última vez que nos veremos!"
A divisão na metrópole entre os apoiantes da entrega imediata de
Ceuta, ou a sua manutenção, conseguindo por outras vias (diplomática ou
bélica), o resgate do infante, foi coeva da morte de
D. Duarte
(que morreu vítima da epidemia de peste que contaminou o Reino e ao que
parece, de desgosto pelo fracasso da expedição a Tânger e do cativeiro
de D. Fernando), o que impediu um desfecho favorável à situação.
Fernando foi entretanto levado para
Fez,
sendo tratado ora com todas as honras, ora como um prisioneiro de baixa
condição (sobretudo depois de uma tentativa de evasão gorada,
patrocinada por Portugal). Daí escreve ao seu irmão D. Pedro, então
regente do reino, um apelo, pedindo a sua libertação a troco de Ceuta.
Mas a divisão verificada na Corte em torno deste problema delicado e
diversas ocorrências ocorridas com os governadores da praça-forte levam a
que D. Fernando assuma o seu cativeiro com resignação cristã e morra no
cativeiro de
Fez em
1443 - acabando assim o problema da devolução ou não de Ceuta por se
resolver naturalmente. Pelo seu sacrifício em nome dos interesses
nacionais, viria a ganhar o epíteto de
Infante Santo.
Pesará sempre a lembrança da morte trágica de D. Fernando, e com a maioridade de El-Rei D.
Afonso V, seu sobrinho, desejoso de feitos guerreiros contra o Infiel em
África, sucedem-se as tentativas de conquista, viradas sempre para
Tânger, a fim de o vingar - primeiro em
1458 (acabando por desistir, dada a aparente inexpugnabilidade da cidade, e voltando-se para
Alcácer Ceguer), depois nas "correrias" de
1463-
1464, enfim a tomada de
Arzila em
1471, embora uma vez mais o objetivo fosse Tânger. De resto, após a
tomada de Arzila, os mouros de
Tânger,
sentindo-se desprotegidos (pois eram a única praça muçulmana no meio de
terra de cristãos) e abandonados pelo seu chefe (que a troco do
reconhecimento, por Afonso V, do título de
rei de Fez,
concedia ao monarca português o domínio de todo a região a Norte de
Arzila, na qual Tânger se encontrava), deixaram a cidade, facto que
muito custou ao rei português, por se ver assim impossibilitado de fazer
pagar cara a morte de D. Fernando, seu tio.
Culto
Por meio desse mesmo tratado concluído com o agora rei de Fez, os
restos mortais do Infante, que se achavam naquela cidade, passaram para
as mãos dos portugueses, tendo sido solenemente transferidos para o
Mosteiro da Batalha, onde hoje repousam ao lado dos pais e irmãos, na
Capela do Fundador.
O seu culto religioso foi aprovado em
1470 e os
bolandistas incluem-no no rol dos beatos portugueses.
Uma teoria recente sobre os
Painéis de São Vicente de Fora defende que os mesmos têm como figura central o próprio Infante Santo, e não
S. Vicente, estando o mesmo rodeado pelos seus irmãos e família nos painéis centrais. Este conhecido quadro de
Nuno Gonçalves seria assim uma homenagem nacional ao Infante mártir, morto no exílio por defesa do território nacional.