Mostrar mensagens com a etiqueta Arquipélago de Gulag. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Arquipélago de Gulag. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, dezembro 11, 2024

Alexander Soljenítsin nasceu há cento e seis anos...


Alexander Issaiévich Soljenítsin (Kislovodsk, 11 de dezembro de 1918 - Moscovo, 3 de agosto de 2008) foi um romancista, dramaturgo e historiador russo cujas obras consciencializaram o mundo quanto aos gulags, sistema de campos de trabalhos forçados existente na antiga União Soviética. Recebeu, sem poder ir a cerimónia, o Nobel de Literatura de 1970. A sua postura crítica sobre o que considerava o esmagamento da liberdade individual pelo estado omnipresente e totalitário implicou a expulsão do autor do país natal e a retirada da respectiva nacionalidade, em 1974.
Alexander Soljenítsin nasceu em Kislovodsk, pequena cidade do sul da Rússia, numa região localizada entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, filho póstumo de Isaac Soljenítsin, um oficial do exército imperial, e da sua jovem viúva, Taisia Soljenítsina. O seu avô materno havia superado as suas origens humildes e adquirido uma grande propriedade na região de Kuban, no sopé da grande cadeia de montanhas do Cáucaso. Durante a Primeira Guerra Mundial, Taisia fora estudar em Moscovo, onde conhecera o seu futuro marido. (Soljenítsin relataria vividamente a história de sua família nas suas obras "Agosto de 1914" e "A Roda Vermelha".)
Em 1918 Taisia encontrou-se grávida, mas pouco depois receberia a notícia da morte do seu marido num acidente de caça. Esse facto, o confisco da propriedade do seu avô pelas novas autoridades comunistas, e a Guerra Civil Russa disputada ao redor, levaram às circunstâncias bastante modestas da infância de Aleksandr. Mais tarde ele diria que a sua mãe lutava pela mera sobrevivência, e que os elos do seu pai com o antigo regime tinham que ser mantidos em segredo. O menino exibia conspícuas tendências literárias e científicas, que a sua mãe incentivava como bem podia. Esta viria a falecer no final de 1939.
Soljenítsin estudou Matemática na Universidade Estatal de Rostov, ao mesmo tempo cursando por correspondência o Instituto de Filosofia, Literatura e História de Moscovo. Durante a Segunda Guerra Mundial participou de ações importantes como comandante de uma companhia de artilharia do Exército Soviético, obtendo a patente de capitão e sendo condecorado em duas ocasiões.
Algumas semanas antes do fim do conflito, já havendo alcançado território alemão na Prússia Oriental, foi preso por agentes da NKVD, por fazer alusões críticas a Estaline em correspondência a um amigo. Foi condenado a oito anos num campo de trabalhos forçados, a serem seguidos por exílio interno  perpétuo.
A primeira parte da pena de Soljenítsin foi cumprida em vários campos de trabalhos forçados; a "fase intermédia", como ele viria a referir-se a esta época, passou-a em uma sharashka, um instituto de pesquisas onde os cientistas e outros colaboradores eram prisioneiros. Dessas experiências surgiria o livro "O Primeiro Círculo", publicado no exterior em 1968. Em 1950 foi enviado a um "campo especial" para prisioneiros políticos em Ekibastuz, Cazaquistão onde trabalharia como pedreiro, mineiro e metalúrgico. Esta época inspiraria o livro "Um Dia na Vida de Ivan Denisovich". Neste campo retiraram-lhe um tumor, mas o seu cancro não chegou a ser diagnosticado.
A partir de março de 1953, iniciou a pena de exílio perpétuo em Kol-Terek, no sul do Cazaquistão. O seu cancro, ainda não detetado, continuou a espalhar-se, e no fim do ano, Soljenítsin encontrava-se próximo da morte. Porém, em 1954 finalmente recebeu tratamento adequado em Tashkent, Uzbequistão, e curou-se. Estes eventos formaram a base de " O Pavilhão dos Cancerosos".
Durante os seus anos de exílio, e após a sua libertação e retorno à Rússia europeia, Soljenítsin, enquanto lecionava em escolas secundárias durante o dia, passava as noites a escrever em segredo. Mais tarde, na breve autobiografia que escreveria ao receber o Nobel de Literatura, relataria que "durante todos os anos, até 1961, eu não estava apenas convencido que sequer uma linha por mim escrita jamais seria publicada durante a minha vida, mas também raramente ousava permitir que os meus íntimos lessem o que eu havia escrito por medo de que o facto se tornasse conhecido".
Publicou ainda nos Estados Unidos uma obra sobre um gigantesco tabu que é a proeminência dos judeus russos no Partido Comunista e na polícia secreta soviética, sendo apelidado de antissemita e desmoralizado no seu exílio.
Soljenítsin regressou à Rússia a 27 de maio de 1994, depois de vinte anos de exílio e morreu em Moscovo a 3 de agosto de 2008, segundo o seu filho, em consequência de uma insuficiência cardíaca aguda.
Encontra-se sepultado no Cemitério do Mosteiro de Donskoi, em Moscovo, na Rússia.
           


          

domingo, agosto 04, 2024

Raoul Wallenberg nasceu há cento e doze anos...

   
Raoul Wallenberg (Lidingö, 4 de agosto de 1912 - Moscovo, 17 de julho de 1947) foi um arquiteto sueco, empresário e diplomata. Tornou-se famoso por conta de seus esforços bem sucedidos para resgatar dezenas de milhares de judeus da Hungria ocupada pelos nazis durante o Holocausto.
Em 17 de janeiro de 1945, durante o cerco de Budapeste pelo Exército Vermelho, Wallenberg foi detido pelas autoridades soviéticas, sob suspeita de espionagem e, posteriormente, desapareceu. Mais tarde, foi relatado que morreu em 17 de julho de 1947, enquanto estava preso na prisão de Lubyanka, em Moscovo, Rússia. Os motivos por trás da prisão de Wallenberg pelo governo soviético, juntamente com as circunstâncias de sua morte, permanecem misteriosas.
Devido a suas ações corajosas em nome dos judeus húngaros, Raoul Wallenberg tem sido objeto de numerosas honrarias humanitárias nas décadas seguintes a sua morte presumida. Em 1981, o deputado Tom Lantos, ele próprio salvo por Wallenberg, elaborou uma lei tornando Wallenberg cidadão honorário dos Estados Unidos. Ele também é cidadão honorário do Canadá, Hungria e Israel. Também em Israel, Raoul Wallenberg é considerado como um dos "Justos entre as Nações", citado e homenageado no Yad Vashem, o Memorial do Holocausto.

Memorial Raoul Wallenberg, Rua Wallenberg, Tel-Aviv, Israel
   
Raoul Wallenberg nasceu em Kappsta, um distrito da cidade de Lidingö, nas proximidades de Estocolmo, onde seus avós maternos, o professor Per Johan e sua esposa Sophie, tinham uma casa de verão. O seu avô paterno, Gustaf Wallenberg, era diplomata e trabalhou em Tóquio, Constantinopla e Sofia. Os seus pais eram Raoul Oscar Wallenberg (1888 – 1912), oficial da Marinha Sueca, e Maria "Maj" Sofia (18911979), casados em 1911. Raoul Oscar morreu de cancro quando o seu filho contava apenas três meses de idade. Em 1918, a sua mãe casou novamente e teve mais dois filhos.
Em 1931, Wallenberg foi estudar arquitetura na Universidade de Michigan, nos EUA. Na faculdade, ele aprendeu inglês, alemão e francês.
De volta à Suécia, o seu diploma americano de arquiteto não foi validado pelas autoridades locais. No entanto, o seu avô conseguiu-lhe um emprego na Cidade do Cabo, África do Sul, no escritório de uma empresa sueca de venda de materiais de construção. Entre 1935 e 1936, Wallenberg trabalhou numa filial do Banco Holandês em Haifa, na então Palestina Britânica, onde travou contacto com a grande comunidade judaica local. De volta à Suécia em 1936, obteve um cargo em Estocolmo, com a ajuda de seu tio e padrinho, Jacob Wallenberg, numa empresa de exportação e importação de propriedade da Kálmán Lauer, um judeu húngaro.
A partir de 1938, o Reino da Hungria, sob a regência de Miklós Horthy, mergulhou numa onda de antissemitismo. Foram adotadas medidas inspiradas nas leis recentemente promulgadas na Alemanha nazi. As novas leis húngaras restringiam o acesso dos judeus a inúmeras profissões. Na tentativa de driblar as leis anti-judaicas, Kalman Lauer nomeou Wallenberg como seu “sócio” e representante. Com isso, ele passou a viajar para a Hungria para fazer negócios em nome de Lauer e de zelar pelos membros da grande família de Lauer que permaneceram em Budapeste. Ele rapidamente aprendeu a falar húngaro e também se tornou conhecedor dos métodos da burocracia alemã da época, por ter de fazer negócios com empresas nazis. Tal conhecimento seria fundamental mais tarde, quando se aproveitou das brechas legais nazis para salvar judeus.
Estando em contacto bastante estreito com os alemães em plena Guerra, Wallenberg pode testemunhar a campanha de perseguições e extermínio contra os judeus, empreendida pelo regime nazi. Tais factos chocaram o empresário, que a partir de 9 de julho de 1944, foi nomeado primeiro-secretário da delegação sueca em Budapeste. Agora feito diplomata, Wallenberg aproveitou da imunidade, de seu poder e de seus contactos para expedir passaportes especiais (“schutzpass”) para cidadãos judeus. Estes eram qualificados como cidadãos suecos, à espera de repatriamento. Embora tais documentos não fossem legalmente válidos, eles pareciam impressionar os oficiais nazis que ocupavam a Hungria, que acabavam dando passagem aos seus portadores.
Além disso, Wallenberg alugou casas para os refugiados judeus em nome da embaixada sueca, colocando nas suas entradas falsas identificações, tais como "Biblioteca da Suécia" ou "Instituto de Pesquisas Suecas". Protegidas pelo status diplomático, tais casas não podiam ser invadidas pelos nazis e os judeus encontravam nelas refúgio.
Wallenberg habilmente negociou com oficiais nazis, como Adolf Eichmann e o comandante das forças armadas alemãs na Hungria, general Gerhard Schmidhuber. A dois dias da chegada do Exército Vermelho em Budapeste, ele conseguiu cancelar uma leva de judeus que seriam deportados para campos de concentração e extermínio da Alemanha, usando um bilhete assinado por um amigo fascista húngaro, Pal Szalay, que os ameaçou de processo por crimes de guerra.
Estima-se em cem mil o número de judeus que teriam sido salvos da morte por conta das ações de Raoul Wallenberg.
A chegada dos soviéticos à Hungria determinou o fim das perseguições aos judeus. Mas foi o início do fim de Raoul Wallenberg. Em 17 de janeiro de 1945, quando a guerra ainda se desenrolava, Wallenberg e seu motorista particular foram presos pelas autoridades comunistas, acusados de serem "espiões da OSS", a agência de espionagem britânica. De Budapeste, Wallenberg foi deportado para Moscovo, onde foi encarcerado na prisão de Lubyanka. Posteriormente foi transferido para a prisão de Lefortovo, também em Moscovo, onde permaneceria até à sua suposta morte, dois anos depois.
As condições das cadeias soviéticas eram tão terríveis quanto as vigentes nos campos de concentração nazis. Torturas, privações extremas, terrorismo psicológico e execuções sumárias faziam parte dos "métodos" comunistas. Incomunicável, Wallemberg teria morrido em Lefortovo no dia 17 de julho de 1947. Pelo menos foi isso o que as autoridades russas afirmaram em 6 de fevereiro de 1957, após uma intensa campanha internacional por notícias de seu paradeiro. Mesmo após tal notícia, prosseguiram as investigações em busca de seu paradeiro. Em 1981, sobreviventes dos gulags afirmaram terem conhecido um prisioneiro estrangeiro com as mesmas características físicas de Raoul Wallemberg, ainda vivo muitos anos depois da data da sua suposta morte.
Contudo em 1991, Vyacheslav Nikonov foi encarregado pelo governo da Rússia de investigar o destino de Wallenberg. Ele concluiu que Wallenberg morreu em 1947, executado, como prisioneiro, na prisão de Lubyanka.

sábado, agosto 03, 2024

Alexander Soljenítsin morreu há 16 anos...

      
Alexander Issaiévich Soljenítsin (Kislovodsk, 11 de dezembro de 1918 - Moscovo, 3 de agosto de 2008) foi um romancista, dramaturgo e historiador russo cujas obras consciencializaram o mundo quanto aos gulags, sistema de campos de trabalhos forçados existente na antiga União Soviética. Recebeu, sem poder ir a cerimónia, o Nobel de Literatura de 1970. A sua postura crítica sobre o que considerava o esmagamento da liberdade individual pelo estado omnipresente e totalitário implicou a expulsão do autor do país natal e a retirada da respetiva nacionalidade, em 1974.
Alexander Soljenítsin nasceu em Kislovodsk, pequena cidade do sul da Rússia, numa região localizada entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, filho póstumo de Isaac Soljenítsin, um oficial do exército imperial, e da sua jovem viúva, Taisia Soljenítsina. O seu avô materno havia superado as suas origens humildes e adquirido uma grande propriedade na região de Kuban, no sopé da grande cadeia de montanhas do Cáucaso. Durante a Primeira Guerra Mundial, Taisia fora estudar em Moscovo, onde conhecera o seu futuro marido. Soljenítsin relataria vividamente a história de sua família nas suas obras "Agosto de 1914" e "A Roda Vermelha".
Em 1918 Taisia encontrou-se grávida, mas pouco depois receberia a notícia da morte do seu marido num acidente de caça. Esse facto, o confisco da propriedade do seu avô pelas novas autoridades comunistas, e a Guerra Civil Russa disputada ao redor, levaram às circunstâncias bastante modestas da infância de Aleksandr. Mais tarde ele diria que a sua mãe lutava pela mera sobrevivência, e que os elos do seu pai com o antigo regime tinham que ser mantidos em segredo. O menino exibia conspícuas tendências literárias e científicas, que a sua mãe incentivava como bem podia. Esta viria a falecer no final de 1939.
Soljenítsin estudou Matemática na Universidade Estatal de Rostov, ao mesmo tempo cursando por correspondência o Instituto de Filosofia, Literatura e História de Moscovo. Durante a Segunda Guerra Mundial participou de ações importantes como comandante de uma companhia de artilharia do Exército Soviético, obtendo a patente de capitão e sendo condecorado em duas ocasiões.
Algumas semanas antes do fim do conflito, já havendo alcançado território alemão na Prússia Oriental, foi preso por agentes da NKVD, por fazer alusões críticas a Estaline em correspondência enviada a um amigo. Foi condenado a oito anos num campo de trabalhos forçados, a serem seguidos por exílio interno  perpétuo.
A primeira parte da pena de Soljenítsin foi cumprida em vários campos de trabalhos forçados; a "fase intermédia", como ele viria a referir-se a esta época, passou-a em uma sharashka, um instituto de pesquisas onde os cientistas e outros colaboradores eram prisioneiros. Dessas experiências surgiria o livro "O Primeiro Círculo", publicado no exterior em 1968. Em 1950 foi enviado a um "campo especial" para prisioneiros políticos em Ekibastuz, Cazaquistão onde trabalharia como pedreiro, mineiro e metalúrgico. Esta época inspiraria o livro "Um Dia na Vida de Ivan Denisovich". Neste campo retiraram-lhe um tumor, mas o seu cancro não chegou a ser diagnosticado.
A partir de março de 1953, iniciou a pena de exílio perpétuo em Kol-Terek, no sul do Cazaquistão. O seu cancro, ainda não detetado, continuou a espalhar-se, e no fim do ano, Soljenítsin encontrava-se próximo da morte. Porém, em 1954, finalmente recebeu tratamento adequado em Tashkent, Uzbequistão, e curou-se. Estes eventos formaram a base de " O Pavilhão dos Cancerosos".
Durante os seus anos de exílio, e após a sua libertação e retorno à Rússia europeia, Soljenítsin, enquanto lecionava em escolas secundárias durante o dia, passava as noites a escrever em segredo. Mais tarde, na breve autobiografia que escreveria ao receber o Nobel de Literatura, relataria que "durante todos os anos, até 1961, eu não estava apenas convencido que sequer uma linha por mim escrita jamais seria publicada durante a minha vida, mas também raramente ousava permitir que os meus íntimos lessem o que eu havia escrito, por medo de que o facto se tornasse conhecido".
Publicou ainda nos EUA uma obra sobre um gigantesco tabu que é a proeminência dos judeus russos no Partido Comunista e na polícia secreta soviética, sendo apelidado de antissemita e desmoralizado no seu exílio.
Soljenítsin regressou à Rússia a 27 de maio de 1994, depois de vinte anos de exílio e morreu em Moscovo a 3 de agosto de 2008, segundo o seu filho, em consequência de uma insuficiência cardíaca aguda.
Encontra-se sepultado no Cemitério do Mosteiro de Donskoi, em Moscovo, na Rússia.
       
         

domingo, fevereiro 25, 2024

Nikita Khrushchev desmascarou finalmente os crimes de Estaline há 68 anos

 
O XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) teve lugar entre 14 e 26 de fevereiro de 1956. Na ocasião, o secretário do Partido, Nikita Khrushchov, com o seu célebre discurso secreto, denunciou as violências, os expurgos e as limitações à liberdade impostas pelo regime de Estaline, seu predecessor.
Durante a sessão a portas fechadas, no penúltimo dia do congresso, Khrushchov criticou asperamente a política estalinista, denunciando o culto de personalidade e uma série de crimes cometidos por ele e seus colaboradores. Estaline não procurava persuadir com explicações mas impunha suas ideias e exigia uma submissão absoluta, qualquer um que discordasse era demitido de qualquer função diretiva, e em seguida liquidado moralmente e fisicamente.
 

...Estaline descartou o método leninista de convencer e educar, ele abandonou o método de luta ideológica para que a violência, repressões em massa e terror...

...É claro que Estaline mostrou em toda uma série de casos a sua intolerância, a sua brutalidade e o seu abuso de poder. Em vez de provar a sua correção política e mobilizar as massas, muitas vezes ele escolheu o caminho da repressão e aniquilação física, não só contra os inimigos reais, mas também contra as pessoas que não tinham cometido qualquer crime contra o partido e o governo soviético. Aqui vemos nenhuma sabedoria, mas apenas uma demonstração da força brutal que outrora tão alarmou Lenine.

  

  
O discurso chocou os delegados presentes, que depois de anos de propaganda estavam convencidos da grandeza de Estaline. Após um longo debate, o discurso veio a tornar-se público no mês seguinte mas o relatório completo, no qual se baseou, só foi publicado em 1989. Logo após o congresso quase todos os Gulag foram fechados e, somente em Moscovo, regressaram 200.000 presos políticos. Anastas Mikoyan, vice-primeiro ministro, criou comissões para reabilitar os presos acusados ou mortos injustamente.
    

quarta-feira, fevereiro 14, 2024

Os crimes de Estaline começaram a ser finalmente denunciados há 68 anos


O XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) teve lugar entre 14 e 26 de fevereiro de 1956. Na ocasião, o secretário do Partido, Nikita Khrushchov, com o seu célebre discurso secreto, denunciou as violências, as purgas e as limitações à liberdade impostas pelo regime de Estaline, o seu predecessor.
Durante a sessão a portas fechadas, no último dia do congresso, Khrushchov criticou asperamente a política estalinista, denunciando o culto de personalidade e uma série de crimes cometidos por ele e os seus colaboradores.
O discurso chocou os delegados presentes, que depois de anos de propaganda, estavam convencidos da grandeza de Estaline. Após um longo debate, o discurso veio a tornar-se público no mês seguinte mas o relatório completo, no qual se baseou, só foi publicado em 1989

quinta-feira, dezembro 28, 2023

O livro Arquipélago de Gulag foi publicado há cinquenta anos...

  
Arquipélago de Gulag é provavelmente a mais forte e a certamente a mais influente obra sobre como funcionavam os gulags (campos de concentração e de trabalho forçado na antiga União Soviética) nos tempos de Estaline
  
  
Escrito por Alexander Soljenítsin, o livro de cerca de 600 páginas e é uma narrativa sobre factos que foram presenciados pelo autor, prisioneiro durante onze anos, em Kolima, num dos campos do arquipélago, e por duzentas e trinta e sete pessoas, que confiaram as suas cartas e relatos ao autor.
  
  
Escrito entre 1958 a 1967, a obra foi publicada no ocidente (em Paris) no ano de 1973 (a 28 de dezembro) e circulou clandestinamente na União Soviética, numa versão minúscula, escondida, até à sua publicação oficial, no ano de 1989.
"GULag" é um acrónimo em russo para o termo: "Direção Principal (ou Administração) dos Campos de Trabalho Corretivo" ("Glavnoye Upravleniye Ispravitelno-trudovykh Lagerey"), um nome burocrático para este sistema de campos de concentração.
O título original em russo do livro era "Arkhipelag GULag". A palavra arquipélago relaciona-se ao sistema de campos de trabalho forçado espalhados por toda a União Soviética como uma vasta corrente de ilhas, conhecidas apenas por quem fosse destinado a visitá-las.
     

segunda-feira, dezembro 11, 2023

Alexander Soljenítsin nasceu há cento e cinco anos...


Alexander Issaiévich Soljenítsin (Kislovodsk, 11 de dezembro de 1918 - Moscovo, 3 de agosto de 2008) foi um romancista, dramaturgo e historiador russo cujas obras consciencializaram o mundo quanto aos gulags, sistema de campos de trabalhos forçados existente na antiga União Soviética. Recebeu, sem poder ir a cerimónia, o Nobel de Literatura de 1970. A sua postura crítica sobre o que considerava o esmagamento da liberdade individual pelo estado omnipresente e totalitário implicou a expulsão do autor do país natal e a retirada da respectiva nacionalidade, em 1974.
Alexander Soljenítsin nasceu em Kislovodsk, pequena cidade do sul da Rússia, numa região localizada entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, filho póstumo de Isaac Soljenítsin, um oficial do exército imperial, e da sua jovem viúva, Taisia Soljenítsina. O seu avô materno havia superado as suas origens humildes e adquirido uma grande propriedade na região de Kuban, no sopé da grande cadeia de montanhas do Cáucaso. Durante a Primeira Guerra Mundial, Taisia fora estudar em Moscovo, onde conhecera o seu futuro marido. (Soljenítsin relataria vividamente a história de sua família nas suas obras "Agosto de 1914" e "A Roda Vermelha".)
Em 1918 Taisia encontrou-se grávida, mas pouco depois receberia a notícia da morte do seu marido num acidente de caça. Esse facto, o confisco da propriedade do seu avô pelas novas autoridades comunistas, e a Guerra Civil Russa disputada ao redor, levaram às circunstâncias bastante modestas da infância de Aleksandr. Mais tarde ele diria que a sua mãe lutava pela mera sobrevivência, e que os elos do seu pai com o antigo regime tinham que ser mantidos em segredo. O menino exibia conspícuas tendências literárias e científicas, que a sua mãe incentivava como bem podia. Esta viria a falecer no final de 1939.
Soljenítsin estudou Matemática na Universidade Estatal de Rostov, ao mesmo tempo cursando por correspondência o Instituto de Filosofia, Literatura e História de Moscovo. Durante a Segunda Guerra Mundial participou de ações importantes como comandante de uma companhia de artilharia do Exército Soviético, obtendo a patente de capitão e sendo condecorado em duas ocasiões.
Algumas semanas antes do fim do conflito, já havendo alcançado território alemão na Prússia Oriental, foi preso por agentes da NKVD, por fazer alusões críticas a Estaline em correspondência a um amigo. Foi condenado a oito anos num campo de trabalhos forçados, a serem seguidos por exílio interno  perpétuo.
A primeira parte da pena de Soljenítsin foi cumprida em vários campos de trabalhos forçados; a "fase intermédia", como ele viria a referir-se a esta época, passou-a em uma sharashka, um instituto de pesquisas onde os cientistas e outros colaboradores eram prisioneiros. Dessas experiências surgiria o livro "O Primeiro Círculo", publicado no exterior em 1968. Em 1950 foi enviado a um "campo especial" para prisioneiros políticos em Ekibastuz, Cazaquistão onde trabalharia como pedreiro, mineiro e metalúrgico. Esta época inspiraria o livro "Um Dia na Vida de Ivan Denisovich". Neste campo retiraram-lhe um tumor, mas o seu cancro não chegou a ser diagnosticado.
A partir de março de 1953, iniciou a pena de exílio perpétuo em Kol-Terek, no sul do Cazaquistão. O seu cancro, ainda não detetado, continuou a espalhar-se, e no fim do ano, Soljenítsin encontrava-se próximo da morte. Porém, em 1954 finalmente recebeu tratamento adequado em Tashkent, Uzbequistão, e curou-se. Estes eventos formaram a base de " O Pavilhão dos Cancerosos".
Durante os seus anos de exílio, e após a sua libertação e retorno à Rússia europeia, Soljenítsin, enquanto lecionava em escolas secundárias durante o dia, passava as noites a escrever em segredo. Mais tarde, na breve autobiografia que escreveria ao receber o Nobel de Literatura, relataria que "durante todos os anos, até 1961, eu não estava apenas convencido que sequer uma linha por mim escrita jamais seria publicada durante a minha vida, mas também raramente ousava permitir que os meus íntimos lessem o que eu havia escrito por medo de que o facto se tornasse conhecido".
Publicou ainda nos Estados Unidos uma obra sobre um gigantesco tabu que é a proeminência dos judeus russos no Partido Comunista e na polícia secreta soviética, sendo apelidado de antissemita e desmoralizado no seu exílio.
Soljenítsin regressou à Rússia a 27 de maio de 1994, depois de vinte anos de exílio e morreu em Moscovo a 3 de agosto de 2008, segundo o seu filho, em consequência de uma insuficiência cardíaca aguda.
Encontra-se sepultado no Cemitério do Mosteiro de Donskoi, em Moscovo, na Rússia.
           


          

sexta-feira, agosto 04, 2023

Raoul Wallenberg nasceu há cento e onze anos...

   
Raoul Wallenberg (Lidingö, 4 de agosto de 1912 - Moscovo, 17 de julho de 1947) foi um arquiteto sueco, empresário e diplomata. Tornou-se famoso por conta de seus esforços bem sucedidos para resgatar dezenas de milhares de judeus da Hungria ocupada pelos nazis durante o Holocausto.
Em 17 de janeiro de 1945, durante o cerco de Budapeste pelo Exército Vermelho, Wallenberg foi detido pelas autoridades soviéticas, sob suspeita de espionagem e, posteriormente, desapareceu. Mais tarde, foi relatado que morreu em 17 de julho de 1947, enquanto estava preso na prisão de Lubyanka, em Moscovo, Rússia. Os motivos por trás da prisão de Wallenberg pelo governo soviético, juntamente com as circunstâncias de sua morte, permanecem misteriosas.
Devido a suas ações corajosas em nome dos judeus húngaros, Raoul Wallenberg tem sido objeto de numerosas honrarias humanitárias nas décadas seguintes a sua morte presumida. Em 1981, o deputado Tom Lantos, ele próprio salvo por Wallenberg, elaborou uma lei tornando Wallenberg cidadão honorário dos Estados Unidos. Ele também é cidadão honorário do Canadá, Hungria e Israel. Também em Israel, Raoul Wallenberg é considerado como um dos "Justos entre as Nações", citado e homenageado no Yad Vashem, o Memorial do Holocausto.

Memorial Raoul Wallenberg, Rua Wallenberg, Tel-Aviv, Israel
   
Raoul Wallenberg nasceu em Kappsta, um distrito da cidade de Lidingö, nas proximidades de Estocolmo, onde seus avós maternos, o professor Per Johan e sua esposa Sophie, tinham uma casa de verão. O seu avô paterno, Gustaf Wallenberg, era diplomata e trabalhou em Tóquio, Constantinopla e Sofia. Os seus pais eram Raoul Oscar Wallenberg (1888 – 1912), oficial da Marinha Sueca, e Maria "Maj" Sofia (18911979), casados em 1911. Raoul Oscar morreu de cancro quando o seu filho contava apenas três meses de idade. Em 1918, sua mãe casou novamente e teve mais dois filhos.
Em 1931, Wallenberg foi estudar arquitetura na Universidade de Michigan, nos EUA. Na faculdade, ele aprendeu Inglês, Alemão e Francês.
De volta à Suécia, o seu diploma americano de arquiteto não foi validado pelas autoridades locais. No entanto, o seu avô conseguiu-lhe um emprego na Cidade do Cabo, África do Sul, no escritório de uma empresa sueca de venda de materiais de construção. Entre 1935 e 1936, Wallenberg trabalhou numa filial do Banco Holandês em Haifa, na então Palestina Britânica, onde travou contacto com a grande comunidade judaica local. De volta à Suécia em 1936, obteve um cargo em Estocolmo, com a ajuda de seu tio e padrinho, Jacob Wallenberg, numa empresa de exportação e importação de propriedade da Kálmán Lauer, um judeu húngaro.
A partir de 1938, o Reino da Hungria, sob a regência de Miklós Horthy, mergulhou numa onda de antissemitismo. Foram adotadas medidas inspiradas nas leis recentemente promulgadas na Alemanha Nazista. As novas leis húngaras restringiam o acesso dos judeus a inúmeras profissões. Na tentativa de driblar as leis anti-judaicas, Kalman Lauer nomeou Wallenberg como seu “sócio” e representante. Com isso, ele passou a viajar para a Hungria para fazer negócios em nome de Lauer e de zelar pelos membros da grande família de Lauer que permaneceram em Budapeste. Ele rapidamente aprendeu a falar húngaro e também se tornou conhecedor dos métodos da burocracia alemã da época, por ter de fazer negócios com empresas nazis. Tal conhecimento seria fundamental mais tarde, quando se aproveitou das brechas legais nazis para salvar judeus.
Estando em contacto bastante estreito com os alemães em plena Guerra, Wallenberg pode testemunhar a campanha de perseguições e extermínio contra os judeus, empreendida pelo regime nazi. Tais factos chocaram o empresário, que a partir de 9 de julho de 1944, foi nomeado primeiro-secretário da delegação sueca em Budapeste. Agora feito diplomata, Wallenberg aproveitou da imunidade, de seu poder e de seus contactos para expedir passaportes especiais (“schutzpass”) para cidadãos judeus. Estes eram qualificados como cidadãos suecos, à espera de repatriamento. Embora tais documentos não fossem legalmente válidos, eles pareciam impressionar os oficiais nazis que ocupavam a Hungria, que acabavam dando passagem aos seus portadores.
Além disso, Wallenberg alugou casas para os refugiados judeus em nome da embaixada sueca, colocando nas suas entradas falsas identificações, tais como "Biblioteca da Suécia" ou "Instituto de Pesquisas Suecas". Protegidas pelo status diplomático, tais casas não podiam ser invadidas pelos nazis e os judeus encontravam nelas refúgio.
Wallenberg habilmente negociou com oficiais nazis, como Adolf Eichmann e o comandante das forças armadas alemãs na Hungria, general Gerhard Schmidhuber. A dois dias da chegada do Exército Vermelho em Budapeste, ele conseguiu cancelar uma leva de judeus que seriam deportados para campos de concentração e extermínio da Alemanha, usando um bilhete assinado por um amigo fascista húngaro, Pal Szalay, que os ameaçou de processo por crimes de guerra.
Estima-se em cem mil o número de judeus que teriam sido salvos da morte por conta das ações de Raoul Wallenberg.
A chegada dos soviéticos à Hungria determinou o fim das perseguições aos judeus. Mas foi o início do fim de Raoul Wallenberg. Em 17 de janeiro de 1945, quando a guerra ainda se desenrolava, Wallenberg e seu motorista particular foram presos pelas autoridades comunistas, acusados de serem "espiões da OSS", a agência de espionagem britânica. De Budapeste, Wallenberg foi deportado para Moscovo, onde foi encarcerado na prisão de Lubyanka. Posteriormente foi transferido para a prisão de Lefortovo, também em Moscovo, onde permaneceria até à sua suposta morte, dois anos depois.
As condições das cadeias soviéticas eram tão terríveis quanto as vigentes nos campos de concentração nazis. Torturas, privações extremas, terrorismo psicológico e execuções sumárias faziam parte dos "métodos" comunistas. Incomunicável, Wallemberg teria morrido em Lefortovo no dia 17 de julho de 1947. Pelo menos foi isso o que as autoridades russas afirmaram em 6 de fevereiro de 1957, após uma intensa campanha internacional por notícias de seu paradeiro. Mesmo após tal notícia, prosseguiram as investigações em busca de seu paradeiro. Em 1981, sobreviventes dos gulags afirmaram terem conhecido um prisioneiro estrangeiro com as mesmas características físicas de Raoul Wallemberg, ainda vivo muitos anos depois da data da sua suposta morte.
Contudo em 1991, Vyacheslav Nikonov foi encarregado pelo governo da Rússia de investigar o destino de Wallenberg. Ele concluiu que Wallenberg morreu em 1947, executado como prisioneiro na prisão de Lubyanka.

quinta-feira, agosto 03, 2023

Alexander Soljenítsin morreu há quinze anos...

      
Alexander Issaiévich Soljenítsin (Kislovodsk, 11 de dezembro de 1918 - Moscovo, 3 de agosto de 2008) foi um romancista, dramaturgo e historiador russo cujas obras consciencializaram o mundo quanto aos gulags, sistema de campos de trabalhos forçados existente na antiga União Soviética. Recebeu, sem poder ir a cerimónia, o Nobel de Literatura de 1970. A sua postura crítica sobre o que considerava o esmagamento da liberdade individual pelo estado omnipresente e totalitário implicou a expulsão do autor do país natal e a retirada da respetiva nacionalidade, em 1974.
Alexander Soljenítsin nasceu em Kislovodsk, pequena cidade do sul da Rússia, numa região localizada entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, filho póstumo de Isaac Soljenítsin, um oficial do exército imperial, e da sua jovem viúva, Taisia Soljenítsina. O seu avô materno havia superado as suas origens humildes e adquirido uma grande propriedade na região de Kuban, no sopé da grande cadeia de montanhas do Cáucaso. Durante a Primeira Guerra Mundial, Taisia fora estudar em Moscovo, onde conhecera o seu futuro marido. Soljenítsin relataria vividamente a história de sua família nas suas obras "Agosto de 1914" e "A Roda Vermelha".
Em 1918 Taisia encontrou-se grávida, mas pouco depois receberia a notícia da morte do seu marido num acidente de caça. Esse facto, o confisco da propriedade do seu avô pelas novas autoridades comunistas, e a Guerra Civil Russa disputada ao redor, levaram às circunstâncias bastante modestas da infância de Aleksandr. Mais tarde ele diria que a sua mãe lutava pela mera sobrevivência, e que os elos do seu pai com o antigo regime tinham que ser mantidos em segredo. O menino exibia conspícuas tendências literárias e científicas, que a sua mãe incentivava como bem podia. Esta viria a falecer no final de 1939.
Soljenítsin estudou Matemática na Universidade Estatal de Rostov, ao mesmo tempo cursando por correspondência o Instituto de Filosofia, Literatura e História de Moscovo. Durante a Segunda Guerra Mundial participou de ações importantes como comandante de uma companhia de artilharia do Exército Soviético, obtendo a patente de capitão e sendo condecorado em duas ocasiões.
Algumas semanas antes do fim do conflito, já havendo alcançado território alemão na Prússia Oriental, foi preso por agentes da NKVD, por fazer alusões críticas a Estaline em correspondência enviada a um amigo. Foi condenado a oito anos num campo de trabalhos forçados, a serem seguidos por exílio interno  perpétuo.
A primeira parte da pena de Soljenítsin foi cumprida em vários campos de trabalhos forçados; a "fase intermédia", como ele viria a referir-se a esta época, passou-a em uma sharashka, um instituto de pesquisas onde os cientistas e outros colaboradores eram prisioneiros. Dessas experiências surgiria o livro "O Primeiro Círculo", publicado no exterior em 1968. Em 1950 foi enviado a um "campo especial" para prisioneiros políticos em Ekibastuz, Cazaquistão onde trabalharia como pedreiro, mineiro e metalúrgico. Esta época inspiraria o livro "Um Dia na Vida de Ivan Denisovich". Neste campo retiraram-lhe um tumor, mas o seu cancro não chegou a ser diagnosticado.
A partir de março de 1953, iniciou a pena de exílio perpétuo em Kol-Terek, no sul do Cazaquistão. O seu cancro, ainda não detetado, continuou a espalhar-se, e no fim do ano, Soljenítsin encontrava-se próximo da morte. Porém, em 1954, finalmente recebeu tratamento adequado em Tashkent, Uzbequistão, e curou-se. Estes eventos formaram a base de " O Pavilhão dos Cancerosos".
Durante os seus anos de exílio, e após a sua libertação e retorno à Rússia europeia, Soljenítsin, enquanto lecionava em escolas secundárias durante o dia, passava as noites a escrever em segredo. Mais tarde, na breve autobiografia que escreveria ao receber o Nobel de Literatura, relataria que "durante todos os anos, até 1961, eu não estava apenas convencido que sequer uma linha por mim escrita jamais seria publicada durante a minha vida, mas também raramente ousava permitir que os meus íntimos lessem o que eu havia escrito, por medo de que o facto se tornasse conhecido".
Publicou ainda nos EUA uma obra sobre um gigantesco tabu que é a proeminência dos judeus russos no Partido Comunista e na polícia secreta soviética, sendo apelidado de antissemita e desmoralizado no seu exílio.
Soljenítsin regressou à Rússia a 27 de maio de 1994, depois de vinte anos de exílio e morreu em Moscovo a 3 de agosto de 2008, segundo o seu filho, em consequência de uma insuficiência cardíaca aguda.
Encontra-se sepultado no Cemitério do Mosteiro de Donskoi, em Moscovo, na Rússia.
       
         

sábado, fevereiro 25, 2023

Nikita Khrushchev denunciou os crimes de Estaline há 67 anos

 
O XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) teve lugar entre 14 e 26 de fevereiro de 1956. Na ocasião, o secretário do Partido, Nikita Khrushchov, com o seu célebre discurso secreto, denunciou as violências, os expurgos e as limitações à liberdade impostas pelo regime de Estaline, seu predecessor.
Durante a sessão a portas fechadas, no penúltimo dia do congresso, Khrushchov criticou asperamente a política estalinista, denunciando o culto de personalidade e uma série de crimes cometidos por ele e seus colaboradores. Estaline não procurava persuadir com explicações mas impunha suas ideias e exigia uma submissão absoluta, qualquer um que discordasse era demitido de qualquer função diretiva, e em seguida liquidado moralmente e fisicamente.
 

...Estaline descartou o método leninista de convencer e educar, ele abandonou o método de luta ideológica para que a violência, repressões em massa e terror...

...É claro que Estaline mostrou em toda uma série de casos a sua intolerância, a sua brutalidade e o seu abuso de poder. Em vez de provar a sua correção política e mobilizar as massas, muitas vezes ele escolheu o caminho da repressão e aniquilação física, não só contra os inimigos reais, mas também contra as pessoas que não tinham cometido qualquer crime contra o partido e o governo soviético. Aqui vemos nenhuma sabedoria, mas apenas uma demonstração da força brutal que outrora tão alarmou Lenine.

  

  
O discurso chocou os delegados presentes, que depois de anos de propaganda estavam convencidos da grandeza de Estaline. Após um longo debate, o discurso veio a tornar-se público no mês seguinte mas o relatório completo, no qual se baseou, só foi publicado em 1989. Logo após o congresso quase todos os Gulag foram fechados. Somente em Moscovo regressaram 200.000 presos políticos. Anastas Mikoyan, vice-primeiro ministro, criou comissões para reabilitar os presos acusados ou mortos injustamente.
    

terça-feira, fevereiro 14, 2023

Os crimes de Estaline começaram a ser denunciados há 67 anos


O XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) teve lugar entre 14 e 26 de fevereiro de 1956. Na ocasião, o secretário do Partido, Nikita Khrushchov, com seu célebre discurso secreto, denunciou as violências, as purgas e as limitações à liberdade impostas pelo regime de Estaline, seu predecessor.
Durante a sessão a portas fechadas, no último dia do congresso, Khrushchov criticou asperamente a política estalinista, denunciando o culto de personalidade e uma série de crimes cometidos por ele e os seus colaboradores.
O discurso chocou os delegados presentes, que depois de anos de propaganda, estavam convencidos da grandeza de Estaline. Após um longo debate, o discurso veio a tornar-se público no mês seguinte mas o relatório completo, no qual se baseou, só foi publicado em 1989

quarta-feira, dezembro 28, 2022

O Arquipélago de Gulag foi publicado há 49 anos - que nunca mais voltem a existir...

  
Arquipélago de Gulag é provavelmente a mais forte e a certamente a mais influente obra sobre como funcionavam os gulags (campos de concentração e de trabalho forçado na antiga União Soviética) nos tempos de Estaline
  
  
Escrito por Alexander Soljenítsin, o livro de cerca de 600 páginas e é uma narrativa sobre factos que foram presenciados pelo autor, prisioneiro durante onze anos, em Kolima, num dos campos do arquipélago, e por duzentas e trinta e sete pessoas, que confiaram as suas cartas e relatos ao autor.
  
  
Escrito entre 1958 a 1967, a obra foi publicada no ocidente (em Paris) no ano de 1973 (a 28 de dezembro) e circulou clandestinamente na União Soviética, numa versão minúscula, escondida, até à sua publicação oficial, no ano de 1989.
"GULag" é um acrónimo em russo para o termo: "Direção Principal (ou Administração) dos Campos de Trabalho Corretivo" ("Glavnoye Upravleniye Ispravitelno-trudovykh Lagerey"), um nome burocrático para este sistema de campos de concentração.
O título original em russo do livro era "Arkhipelag GULag". A palavra arquipélago relaciona-se ao sistema de campos de trabalho forçado espalhados por toda a União Soviética como uma vasta corrente de ilhas, conhecidas apenas por quem fosse destinado a visitá-las.