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segunda-feira, agosto 31, 2020

Maria Montessori nasceu há 150 anos

  
Maria Tecla Artemisia Montessori (Chiaravalle, 31 de agosto de 1870 - Noordwijk aan Zee, Países Baixos, 6 de maio de 1952) foi uma educadora, médica e pedagoga italiana. É conhecida pelo método educativo que desenvolveu e que ainda é usado hoje em escolas públicas e privadas no mundo inteiro.
Destacou a importância da liberdade, da atividade e do estímulo para o desenvolvimento físico e mental das crianças. Para ela, liberdade e disciplina se equilibrariam, não sendo possível conquistar uma sem a outra. Adaptou o princípio da auto-educação, que consiste na interferência mínima dos professores, pois a aprendizagem teria como base o espaço escolar e o material didático.
 
Vida
Montessori nasceu em 31 de agosto de 1870 em Chiaravalle, Itália. O seu pai, Alessandro Montessori, era um alto funcionário do Ministério das Finanças, trabalhando na época numa fábrica de tabaco estatal. A sua mãe, Renilde Stoppani, era bem educada para a época e provavelmente parente do geólogo italiano Antonio Stoppani.
Desde muito jovem, manifestou interesse pelas matérias científicas, principalmente matemática e biologia, resultando em conflito com os seus pais, que desejavam que ela seguisse a carreira de professora.
Indo contra as expectativas familiares, inscreveu-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Roma, escolha que a levou a ser, em 1896, uma das primeiras mulheres a formar-se em medicina na Itália.
Após sua formatura, não pode exercer como médica, pois na época não se admitia uma mulher examinando o corpo de um homem. Então iniciou um trabalho com crianças com necessidades especiais na clínica da universidade, vindo posteriormente dedicar-se a experimentar em crianças, sem comprometimento algum, os procedimentos usados na educação dos que tinham comprometimento. Observou, também, crianças que brincavam nas ruas e criou um espaço educacional para estas crianças - a Casa dei Bambini.
Responsável também pela criação do Método Montessori de aprendizagem, composto especialmente por um material de apoio em que a própria criança (ou utilizador) observa e faz as conexões corretas.
 

sexta-feira, julho 10, 2020

Carl Orff nasceu há 125 anos

   
Carl Orff (Munique, 10 de julho de 1895 - Munique, 29 de março de 1982) foi um compositor alemão, um dos mais destacados do século XX, famoso sobretudo pela sua cantata Carmina Burana.
Contudo, a sua maior contribuição situa-se na área da pedagogia musical, com o Método Orff de ensino musical, baseado na percussão e no canto. Orff criou um centro de educação musical para crianças e leigos em 1925, no qual trabalhou até ao seu falecimento.
   
     

terça-feira, janeiro 28, 2020

António Feliciano de Castilho nasceu há 220 anos

António Feliciano de Castilho, 1.º Visconde de Castilho, (Lisboa, 28 de janeiro de 1800 - Lisboa, 18 de junho de 1875) foi um escritor romântico português, polemista e pedagogista, inventor do Método Castilho de leitura. Em consequência de sarampo perdeu a visão quase completamente aos 6 anos de idade. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Viveu alguns anos em Ponta Delgada, Açores, onde exerceu uma grande influência entre a intelectualidade local. Contra ele se rebelou Antero de Quental (entre outros jovens estudantes coimbrões) na célebre polémica do Bom-Senso e Bom-Gosto, vulgarmente chamada de Questão Coimbrã, que opôs os jovens representantes do realismo e do naturalismo aos vetustos defensores do ultra-romantismo.

A infância e a cegueira
Filho de D. Domícilia Máxima de Castilho e do seu marido, Dr. José Feliciano de Castilho, médico da Real Câmara e lente de prima da Universidade de Coimbra, que depois emigraria para o Brasil, apenas regressando com D. João VI.
Foi uma criança com dificuldades de saúde, incluindo sérios sintomas de tísica, as quais culminaram aos 6 anos de idade com um ataque de sarampo que o deixou cego. Apesar de nessa altura já saber ler e escrever, a cegueira impediu-o durante toda a vida de escrever e ler, tendo de estudar ouvindo a leitura de textos e sendo obrigado a ditar toda a sua obra literária.
Aprendendo somente pelo que ouvia ou lhe diziam, Castilho conseguiu alcançar razoável erudição no latim e nas humanidades clássicas, o conhecimento superficial de algumas línguas, e o conhecimento aprofundado da língua portuguesa, que lhe permitiu distinguir-se como poeta e prosador.

A Universidade de Coimbra e as primeiras obras
Acompanhado por seu irmão Augusto Frederico de Castilho, quase da mesma idade, com ele estudou humanidades, instruiu-se no conhecimento dos poetas latinos, que foram sempre os seus estudos predilectos, e com ele se matriculou na Universidade de Coimbra, na Faculdade de Cânones, em que ambos se formaram.
Foi discípulo do padre José Fernandes, latinista de primeira ordem e poeta muito apreciável, a quem deveu os elementos necessários para adquirir o conhecimento profundo da língua latina, que sempre o distinguiu.
O seu talento poético começou a desenvolver-se, sendo ainda criança; versejava com a máxima facilidade. Tinha 16 anos quando escreveu e publicou um Epicédio na morte da Augustíssima Senhora D. Maria I, Rainha Fidelíssima. Esta obra foi acolhida com surpresa, por ser firmada por um poeta de tão tenra idade e, sobretudo, cego. Em reconhecimento, foi-lhe concedida uma pequena pensão com carácter de incitamento.
Em 1818 publicou outro poemeto, intitulado À faustíssima acclamação de S. M. o S. D. João VI ao throno. Esta composição, e aquela que publicara a propósito do falecimento da rainha, granjearam-lhe a propriedade duma escrivaninha de ofício de escrivão chanceler e promotor do Juízo da Correição da cidade de Coimbra, cujo lugar, pelo impedimento imposto pela cegueira, foi exercido por seu tio António Barreto de Castilho.
Em 1820 publicou uma Ode à morte de Gomes Freire e seus Sócios. Nesse ano também imprimiu anonimamente o elogio dramático A Liberdade, para se representar num teatro particular.
No sarau realizado na Sala dos Capelos da Universidade, em 21 e 22 de Novembro de 1820, recitou várias composições, depois insertas na Collecção de poemas publicada em Coimbra.
Em 1821 imprimiu o seu poema pseudo clássico Cartas de Echo e Narciso, dedicadas à mocidade académica.
   
Os tempos de Castanheira do Vouga
O seu irmão Augusto, seu companheiro de estudos, optou pelo sacerdócio e em outubro de 1826 foi provido na paróquia de São Mamede de Castanheira do Vouga. António Feliciano, habituado à sua companhia, decidiu ir viver com ele, fixando-se naquela localidade até 1834.
Foram oito anos durante os quais Portugal viveu tempos difíceis, com as perseguições políticas e a violência generalizada, a que se seguiram as Guerras Liberais (1828-1834).
Apesar das naturais repercussões locais, Castanheira do Vouga foi para Castilho um local de refúgio, o que lhe permitiu atravessar aqueles tempos conturbados dedicando-se ao estudo dos clássicos. Foi nessa época que traduziu as Metamorfoses e os Amores de Ovídio, e que escreveu muitos dos versos que depois se incorporaram nas Escavações poéticas e que compôs os poemetos A noite do Castello e os Ciúmes do Bardo.
  
O casamento
A publicação das Cartas de Echo e Narciso motivou ao poeta uma aventura romântica. Uma dama reclusa no convento de Vairão, D. Maria Isabel Baena Coimbra Portugal, escreveu-lhe dando-se como uma nova Eco, e perguntando se ele procederia como Narciso. Esta intriga galante resultou numa série de quadras do Amor e Melancholia, que o poeta publicou em Coimbra no ano de 1828.
Concluída a guerra civil, e como resultado da extinção das ordens religiosas em Portugal levada a cabo pelos vencedores, esta senhora abandonou o convento e veio a casar com o poeta, realizando-se o casamento em 29 de julho de 1834.
Pouco durou este consórcio, pois Maria Isabel faleceu, sem filhos, a 1 de fevereiro de 1837.
Durante esse período, Castilho esteve empenhado num projecto visando divulgar a história de Portugal, iniciando uma publicação por fascículos intitulada Quadros históricos. Para tal, a Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, que fundara o jornal literário O Panorama, publicou em 1839 oito fascículos da obra, em que colaborou Alexandre Herculano, escrevendo o último quadro.
   
Ida à Madeira e novo consórcio
No ano de 1840 acompanhou seu irmão Augusto à ilha da Madeira, onde este, afectado por tuberculose, procurava alívio para a doença. Não resultando o tratamento, Augusto faleceu na Madeira a 31 de dezembro desse ano.
Nesse mesmo ano casou com Ana Carlota Xavier Vidal, natural da ilha da Madeira.
Deste casamento, que duraria até 1871, ano em que faleceu a esposa, resultarão sete filhos, entre os quais o memorialista e continuador da obra literária paterna Júlio de Castilho e o igualmente escritor e poeta Eugénio de Castilho.

Os tempos áureos e a invenção do Methodo Portuguez
Nos primeiros dias de 1841 voltou da ilha da Madeira, e a 1 de outubro publicava-se o primeiro número da Revista Universal Lisbonense, por ele fundada e dirigida, e à qual se dedicaria em quase exclusivo até 1845.
Por esta época inicia o período mais fecundo da sua produção literária, consolidando a sua reputação como o "escritor do regime" cuja aprovação era necessária para o sucesso literário em Portugal. Esta predominância de Castilho e a criação de uma intrincada teia de elogios mútuos e de empoladas críticas favoráveis, resultantes mais de cumplicidades pessoais de que de real mérito literário, está na origem da célebre Questão Coimbrã do Bom-Senso e Bom-Gosto.
Castilho deixou a direcção da Revista Universal Lisbonense em 17 de junho de 1845, e nesse ano e no seguinte, de colaboração com seu irmão, o conselheiro José Feliciano de Castilho, deu princípio à Livraria Clássica Portuguesa, onde escreveu as biografias do padre Manuel Bernardes e de Garcia de Resende.
Em 1846 fez uma passagem pela política activa, militando no Partido Cartista e escrevendo um panfleto intitulado Chronica certa muito verdadeira da Maria da Fonte, escrevida por mim mesmo que sou seu tio, o mestre Manuel da Fonte, sapateiro do Peso da Régua, dada à luz por um cidadão demitido que tem tempo para tudo.
Preocupado com o aterrador analfabetismo da população portuguesa, por esse tempo começou a luta em que Castilho empenhou uma grande parte da sua vida. Pretendia fazer adoptar um seu método de leitura repentina, que denominou o Methodo Portuguez (depois conhecido como o Methodo Portuguez de Castilho) de aprendizagem da leitura, contra o qual se levantaram grandes polémicas.
Depois de uma luta pertinaz pela adopção do seu método, e no meio de uma generalizada descrença dos pedagogos sobre a sua eficácia, o governo nomeou-o Comissário para a Propagação do Methodo Portuguez e deu-lhe um lugar no Conselho Superior de Instrução Pública. Contudo, nunca adoptou oficialmente o método para uso generalizado nas escolas públicas, recusa que seria o eterno pesar da vida de Castilho.
   
O exílio nos Açores
Sofrendo de crónicos problemas financeiros e desgostoso por ver a frieza com que fora acolhida em Portugal o seu Método Português, em 1847 partiu para os Açores, fixando-se em Ponta Delgada, cidade onde viveu até 1850.
Recebido em Ponta Delgada como um herói, rapidamente conquistou a simpatia da aristocracia local, em particular da próspera elite dos comerciantes da laranja. Vivia-se então na ilha de São Miguel um período de prosperidade económica, assente sobre a exportação de laranjas para Inglaterra, e de procura de novas culturas industriais que permitissem manter o forte sector de exportação de produtos agroalimentares que entretanto se criara.
Instalado em São Miguel, com o apoio de alguns magnatas locais, entre os quais José do Canto, Castilho dedicou-se à escrita e ao fomento cultural.
Nesse período, escreveu em Ponta Delgada o Estudo Histórico-Poético de Camões, enriquecido de curiosas notas, fundou uma tipografia, onde se imprimiu o jornal o Agricultor Michalense, a convite da Sociedade Promotora da Agricultura da ilha, que o tinha contratado. Castilho era o redator principal, dedicando-se, para além da escrita, à realização de conferências que despertaram o amor de estudo.
Fundou a Sociedade dos Amigos das Letras e Artes, escreveu a Felicidade pela Agricultura, o Tratado de Mnemónica, o Tratado de metrificação, as Noções rudimentares para uso das escolas e traduziu os Colóquios aldeãos de Timon. "Os Colloquios aldeões de Timon: vertidos em vulgar. Ponta Delgada: Typ. Castilho, 1850" assim referenciados no catálogo da Biblioteca Nacional de Portugal, são a tradução de "Entretiens de village" (1843) do Vicomte de Cormenin (Louis Marie de Lahaye de Cormenin; 1788 - 1868), que assinava frequentemente sob o pseudónimo de Timon.
Tentou consolidar na ilha a tipografia e a gravura em madeira. Também compôs, para aplicar a poesia à música, e torná-la por isso mais atractiva, o Hymno do Trabalho, que se tornou muito popular, o Hymno dos Lavradores e o Hymno da Infância no Estudo.
Com o apoio das autarquias, por sua iniciativa criaram-se escolas gratuitas, umas de instrução primária, outras de instrução secundária e aí se ensaiou pela primeira vez a leitura repentina pelo Método Castilho.
   
Os últimos anos - a luta pelo Methodo Portuguez de Castilho
Desencantado com a sua experiência açoriana, a 22 de fevereiro de 1850 regressou a Lisboa, e dedicou-se com renovada energia à luta contra os adversários do seu método de leitura, de que se publicaram duas edições em 1850, saindo a terceira em 1853, refundida e acompanhada de vinhetas, com o título de Methodo Portuguez Castilho.
A sua actividade motivou grandes polémicas, em que por vezes Castilho actuou com grande dureza, como quando publicou a Tosquia de um Camelo, Carta a Todos os Mestres das Aldeias e das Cidades, em 1853, O Ajuste de Contas, em 1854, e Resposta aos Novíssimos Impugnadores do Methodo Portuguez, também em 1854.
Em 1853 foi nomeado Comissário Geral de Instrução Primária, tendo de imediato fomentado a abertura de cursos públicos em Lisboa, Coimbra, Leiria e Porto para instruir os professores no seu método, do qual publicou em 1854 a quarta edição.
A partir desta data, Castilho dedicou a maior parte do seu tempo à propaganda do Methodo Portuguez, embora continuasse a sua actividade como escritor e polemista.
Pretendendo alargar o uso a todo o mundo lusófono, em 1865 foi ao Brasil com o intuito de propagar o seu Methodo, donde voltou nesse mesmo ano, sendo recebido pelo imperador D. Pedro II do Brasil, a quem dedicou o seu drama Camões, e de quem foi sempre amigo, até à morte.
Quando D. Pedro V criou em 1858 as cadeiras do Curso Superior de Letras de Lisboa, ofereceu a Castilho a cadeira de literatura portuguesa, que ele não aceitou.
Em 1861 publicou uma nova edição do Amor e Melancholia, complementada com a Chave do Enigma e com uma autobiografia até 1837. Em 1862 publicou-se a tradução dos Fastos de Ovídio, em 6 volumes, seguida de notas escritas a seu convite por diferentes escritores portugueses. Em 1863 publicou-se a colecção de poesias Outono.
Em 1866 foi a Paris em companhia de seu irmão, José Feliciano de Castilho, sendo ali apresentado a Alexandre Dumas, de quem era apaixonado admirador. Nesse ano publicou em Paris a Lyrica d'Anacreonte e em 1867, também em Paris, promoveu uma edição luxuosa da tradução das Geórgicas de Virgílio. Em 1868 saíram os Ciúmes do Bardo, com a tradução em italiano feita pelo próprio autor.
Embora não soubesse alemão, Castilho empreendeu a tradução do Fausto de Johann Wolfgang von Goethe, primeira parte, sobre uma tradução francesa. Também sem conhecer o inglês, tentou a tradução de algumas obras de William Shakespeare. Surgiu uma polémica violenta, chamada a Questão faustiana. Existe um grande número de cartas de Castilho publicadas em jornais e revistas a este respeito. Ainda na área da imprensa, participou como colaborador em diversas publicações periódicas, nomeadamente no O Panorama (1837-1868), Jornal da Sociedade dos Amigos das Letras (1836) e Arquivo Pitoresco (1857-1868). Também se encontra colaboração da sua autoria, publicada postumamente, na revista Contemporânea (1915-1926).
O título de Visconde de Castilho foi-lhe concedido em duas vidas, por decreto de 25 de maio de 1870.
Faleceu em Lisboa a 18 de junho de 1875. Dada a sua fama, no seu funeral viram-se representadas todas as classes da sociedade, os ministros, os seus colegas académicos da Academia das Ciências de Lisboa, os representantes das letras e do jornalismo e os homens mais ilustres da magistratura, do professorado e das forças armadas.
Para comemorar o centenário do nascimento do notável homem de letras, colocou-se em 28 de janeiro de 1900 uma lápide no prédio de São Pedro de Alcântara onde nasceu.
 
   
OS TREZE ANOS

(Cantilena)


Já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro:
Madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Já sou mulherzinha,
já trago sombreiro,
já bailo ao Domingo
com as mais no terreiro.

Já não sou Anita,
como era primeiro;
sou a Senhora Ana,
que mora no outeiro.

Nos serões já canto,
nas feiras já feiro,
já não me dá beijos
qualquer passageiro.

Quando levo as patas,
e as deito ao ribeiro,
olho tudo à roda,
de cima do outeiro.

E só se não vejo
ninguém pelo arneiro,
me banho co’as patas
Ao pé do salgueiro.

Miro-me nas águas,
rostinho trigueiro,
que mata de amores
a muito vaqueiro.

Miro-me, olhos pretos
e um riso fagueiro,
que diz a cantiga
que são cativeiro.

Em tudo, madrinha,
já por derradeiro
me vejo mui outra
da que era primeiro.

O meu gibão largo,
de arminho e cordeiro,
já o dei à neta
do Brás cabaneiro,

dizendo-lhe: «Toma
gibão, domingueiro,
de ilhoses de prata,
de arminho e cordeiro.

A mim já me aperta,
e a ti te é laceiro;
tu brincas co’as outras
e eu danço em terreiro».

Já sou mulherzinha,
já trago sombreiro,
já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro.

Já não sou Anita,
sou a Ana do outeiro;
Madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Não quero o sargento,
que é muito guerreiro,
de barbas mui feras
e olhar sobranceiro.

O mineiro é velho,
não quero o mineiro:
Mais valem treze anos
que todo o dinheiro.

Tão-pouco me agrado
do pobre moleiro,
que vive na azenha
como um prisioneiro.

Marido pretendo
de humor galhofeiro,
que viva por festas,
que brilhe em terreiro.

Que em ele assomando
co’o tamborileiro,
logo se alvorote
o lugar inteiro.

Que todos acorram
por vê-lo primeiro,
e todas perguntem
se ainda é solteiro.

E eu sempre com ele,
romeira e romeiro,
vivendo de bodas,
bailando ao pandeiro.

Ai, vida de gostos!
Ai, céu verdadeiro!
Ai, Páscoa florida,
que dura ano inteiro!

Da parte, madrinha,
de Deus vos requeiro:
Casai-me hoje mesmo
com Pedro Gaiteiro.

quinta-feira, março 29, 2018

Carl Orff morreu há 36 anos

Carl Orff (Munique, 10 de julho de 1895 - Munique, 29 de março de 1982) foi um compositor alemão, um dos mais destacados do século XX, famoso sobretudo por sua cantata Carmina Burana.
Contudo, a sua maior contribuição se situa na área da pedagogia musical, com o Método Orff de ensino musical, baseado na percussão e no canto. Orff criou um centro de educação musical para crianças e leigos em 1925, no qual trabalhou até a data do seu falecimento.
 
 

sábado, dezembro 16, 2017

O compositor hungaro Zoltán Kodály nasceu há 135 anos

Kodály foi um dos mais destacados músicos húngaros de todos os tempos. O seu estilo musical atravessou num estádio inicial uma fase pós-romântica vienense e evoluiu para um período de mistura de folclore e complexas harmonias, num estilo partilhado com Béla Bartók. Estudou em Galánta, cidade a que dedicou as suas conhecidas Danças, e em Nagyszombat. Depois, em Budapeste, foi aluno na Academia de Música Franz Liszt, onde estudou com Hans von Koessler. Em 1906, depois de terminado o curso de letras, fez uma viagem de estudo a Berlim. Começou nesse ano a investigar sobre o folclore húngaro, tarefa essa que contaria com o apoio posterior de Bartók.
 
Biografia
Kodály compôs durante toda a sua vida. Chegou a recolher mais de 100.000 canções, peças, trechos e melodias populares húngaras, as quais aplicava nas suas composições com singular perfeição técnica. Em 1907 passa a leccionar na Academia Ferenc Liszt, onde dá aulas de composição. Dessa época são as suas produções de dois quartetos de cordas (Opus 2, 1909 e op.10, 1917 respectivamente), uma sonata para violoncelo e piano (Opus 4, 1910) uma sonata para violoncelo (Opus 8, 1915), e um duo para violino e violoncelo (Opus 7, 1914). Todos estes trabalhos são de grande originalidade de forma e conteúdo, misturas de grande interesse da mestria ocidental da tradição da composição clássica, romântica, impressionista e modernista com o profundo conhecimento e respeito pelas tradições folclóricas húngaras, eslovacas, búlgaras, albanesas e de outros países do leste europeu.
Devido à Primeira Guerra Mundial e às consequentes mudanças geopolíticas na região, e também devido a uma certa timidez pessoal, só em 1923, com a obra Psalmus Hungaricus estreado no concerto de celebração do 50º aniversário da união de Buda e Pest, Kodály atinge uma consagração definitiva e fama mundial. Pouco antes (1919) tinha sido nomeado Subdirector da Academia Húngara de Música, ao que mais tarde juntou outros títulos e nomeações, como: Membro da Academia Húngara de Ciências (1945), Presidente da Comissão de Musicologia (1951), Presidente do International Folk Music Council (1951), Doutor Honoris Causa pela Universidade de Oxford (1960), Doutor Honoris Causa pela Universidade de Berlim-Leste (1964) e pela Universidade de Toronto (1966), Membro Honorário da Academia das Artes e das Ciências dos E.U.A. (1963) e Presidente honorário da International Society for Music Education.
Enquanto pedagogo, o seu nome é associado método Kodály, que revolucionou o sistema de aprendizagem musical até então em vigor, e que é na actualidade muito aplicado em escolas de música. No entanto, não foi o autor isolado dos princípios directores do método: a sua filosofia da educação serviu de inspiração aos seus discípulos que colectivamente compilaram e desenvolveram o método ao longo dos anos.
Permaneceu em Budapeste durante a Segunda Guerra Mundial, algo que os húngaros sempre viram como sinal de amor patriótico. Faleceu como herói nacional, respeitado na Hungria e internacionalmente.
 
 

terça-feira, novembro 24, 2015

O escritor António Gedeão e o mestre Rómulo de Carvalho nasceram há 109 anos

(imagem daqui)

Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (Lisboa, 24 de novembro de 1906 - Lisboa, 19 de fevereiro de 1997) foi um professor e poeta português.

Foi um químico, professor de físico-química do ensino secundário no Liceu Pedro Nunes e no Liceu Camões, pedagogo, investigador de História da ciência em Portugal, divulgador da ciência, e poeta sob o pseudónimo de António Gedeão. Pedra Filosofal e Lágrima de Preta são dois dos seus mais célebres poemas. Encontra-se colaboração da sua autoria na rubrica Panorama Científico do semanário Mundo Literário (1946-1948).
A data do seu nascimento foi adoptada em Portugal, em 1996, como Dia Nacional da Cultura Científica.
Teve dois filhos, Frederico de Carvalho, também formado em Ciências, e Cristina Carvalho, escritora (esta última do seu segundo matrimónio, com a escritora Natália Nunes).
Jaz no Jazigo dos Escritores Portugueses, no Talhão dos Artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, junto doutros vultos notáveis das letras portuguesas como José Cardoso Pires ou Fernando Namora.

Poema do alegre desespero

Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,

ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.

Compreende-se.

E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,

e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio.

Compreende-se.

Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.

Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.

E o nosso sofrimento para que serviu afinal?

sexta-feira, julho 10, 2015

Carl Orff nasceu há 120 anos

Carl Orff (Munique, 10 de julho de 1895 - Munique, 29 de março de 1982) foi um compositor alemão, um dos mais destacados do século XX, famoso sobretudo pela sua cantata Carmina Burana.
Contudo, a sua maior contribuição situa-se na área da pedagogia musical, com o Método Orff de ensino musical, baseado na percussão e no canto. Orff criou um centro de educação musical para crianças e leigos em 1925, no qual trabalhou até ao seu falecimento.


quarta-feira, janeiro 28, 2015

António Feliciano de Castilho nasceu há 215 anos

António Feliciano de Castilho, 1.º Visconde de Castilho, (Lisboa, 28 de janeiro de 1800 - Lisboa, 18 de junho de 1875) foi um escritor romântico português, polemista e pedagogista, inventor do Método Castilho de leitura. Em consequência de sarampo perdeu a visão quase completamente aos 6 anos de idade. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Viveu alguns anos em Ponta Delgada, Açores, onde exerceu uma grande influência entre a intelectualidade local. Contra ele se rebelou Antero de Quental (entre outros jovens estudantes coimbrões) na célebre polémica do Bom-Senso e Bom-Gosto, vulgarmente chamada de Questão Coimbrã, que opôs os jovens representantes do realismo e do naturalismo aos vetustos defensores do ultra-romantismo.

A infância e a cegueira
Filho de D. Domícilia Máxima de Castilho e do seu marido, Dr. José Feliciano de Castilho, médico da Real Câmara e lente de prima da Universidade de Coimbra, que depois emigraria para o Brasil, apenas regressando com D. João VI.
Foi uma criança com dificuldades de saúde, incluindo sérios sintomas de tísica, as quais culminaram aos 6 anos de idade com um ataque de sarampo que o deixou cego. Apesar de nessa altura já saber ler e escrever, a cegueira impediu-o durante toda a vida de escrever e ler, tendo de estudar ouvindo a leitura de textos e sendo obrigado a ditar toda a sua obra literária.
Aprendendo somente pelo que ouvia ou lhe diziam, Castilho conseguiu alcançar razoável erudição no latim e nas humanidades clássicas, o conhecimento superficial de algumas línguas, e o conhecimento aprofundado da língua portuguesa, que lhe permitiu distinguir-se como poeta e prosador.

A Universidade de Coimbra e as primeiras obras
Acompanhado por seu irmão Augusto Frederico de Castilho, quase da mesma idade, com ele estudou humanidades, instruiu-se no conhecimento dos poetas latinos, que foram sempre os seus estudos predilectos, e com ele se matriculou na Universidade de Coimbra, na Faculdade de Cânones, em que ambos se formaram.
Foi discípulo do padre José Fernandes, latinista de primeira ordem e poeta muito apreciável, a quem deveu os elementos necessários para adquirir o conhecimento profundo da língua latina, que sempre o distinguiu.
O seu talento poético começou a desenvolver-se, sendo ainda criança; versejava com a máxima facilidade. Tinha 16 anos quando escreveu e publicou um Epicédio na morte da Augustíssima Senhora D. Maria I, Rainha Fidelíssima. Esta obra foi acolhida com surpresa, por ser firmada por um poeta de tão tenra idade e, sobretudo, cego. Em reconhecimento, foi-lhe concedida uma pequena pensão com carácter de incitamento.
Em 1818 publicou outro poemeto, intitulado À faustíssima acclamação de S. M. o S. D. João VI ao throno. Esta composição, e aquela que publicara a propósito do falecimento da rainha, granjearam-lhe a propriedade duma escrivaninha de ofício de escrivão chanceler e promotor do Juízo da Correição da cidade de Coimbra, cujo lugar, pelo impedimento imposto pela cegueira, foi exercido por seu tio António Barreto de Castilho.
Em 1820 publicou uma Ode à morte de Gomes Freire e seus Sócios. Nesse ano também imprimiu anonimamente o elogio dramático A Liberdade, para se representar num teatro particular.
No sarau realizado na Sala dos Capelos da Universidade, em 21 e 22 de Novembro de 1820, recitou várias composições, depois insertas na Collecção de poemas publicada em Coimbra.
Em 1821 imprimiu o seu poema pseudo clássico Cartas de Echo e Narciso, dedicadas à mocidade académica.

Os tempos de Castanheira do Vouga
O seu irmão Augusto, seu companheiro de estudos, optou pelo sacerdócio e em outubro de 1826 foi provido na paróquia de São Mamede de Castanheira do Vouga. António Feliciano, habituado à sua companhia, decidiu ir viver com ele, fixando-se naquela localidade até 1834.
Foram oito anos durante os quais Portugal viveu tempos difíceis, com as perseguições políticas e a violência generalizada, a que se seguiram as Guerras Liberais (1828-1834).
Apesar das naturais repercussões locais, Castanheira do Vouga foi para Castilho um local de refúgio, o que lhe permitiu atravessar aqueles tempos conturbados dedicando-se ao estudo dos clássicos. Foi nessa época que traduziu as Metamorfoses e os Amores de Ovídio, e que escreveu muitos dos versos que depois se incorporaram nas Escavações poéticas e que compôs os poemetos A noite do Castello e os Ciúmes do Bardo.
  
O casamento
A publicação das Cartas de Echo e Narciso motivou ao poeta uma aventura romântica. Uma dama reclusa no convento de Vairão, D. Maria Isabel Baena Coimbra Portugal, escreveu-lhe dando-se como uma nova Eco, e perguntando se ele procederia como Narciso. Esta intriga galante resultou numa série de quadras do Amor e Melancholia, que o poeta publicou em Coimbra no ano de 1828.
Concluída a guerra civil, e como resultado da extinção das ordens religiosas em Portugal levada a cabo pelos vencedores, esta senhora abandonou o convento e veio a casar com o poeta, realizando-se o casamento em 29 de julho de 1834.
Pouco durou este consórcio, pois Maria Isabel faleceu, sem filhos, a 1 de fevereiro de 1837.
Durante esse período, Castilho esteve empenhado num projecto visando divulgar a história de Portugal, iniciando uma publicação por fascículos intitulada Quadros históricos. Para tal, a Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, que fundara o jornal literário O Panorama, publicou em 1839 oito fascículos da obra, em que colaborou Alexandre Herculano, escrevendo o último quadro.

Ida à Madeira e novo consórcio
No ano de 1840 acompanhou seu irmão Augusto à ilha da Madeira, onde este, afectado por tuberculose, procurava alívio para a doença. Não resultando o tratamento, Augusto faleceu na Madeira a 31 de dezembro desse ano.
Nesse mesmo ano casou com Ana Carlota Xavier Vidal, natural da ilha da Madeira.
Deste casamento, que duraria até 1871, ano em que faleceu a esposa, resultarão sete filhos, entre os quais o memorialista e continuador da obra literária paterna Júlio de Castilho e o igualmente escritor e poeta Eugénio de Castilho.

Os tempos áureos e a invenção do Methodo Portuguez
Nos primeiros dias de 1841 voltou da ilha da Madeira, e a 1 de outubro publicava-se o primeiro número da Revista Universal Lisbonense, por ele fundada e dirigida, e à qual se dedicaria em quase exclusivo até 1845.
Por esta época inicia o período mais fecundo da sua produção literária, consolidando a sua reputação como o "escritor do regime" cuja aprovação era necessária para o sucesso literário em Portugal. Esta predominância de Castilho e a criação de uma intrincada teia de elogios mútuos e de empoladas críticas favoráveis, resultantes mais de cumplicidades pessoais de que de real mérito literário, está na origem da célebre Questão Coimbrã do Bom-Senso e Bom-Gosto.
Castilho deixou a direcção da Revista Universal Lisbonense em 17 de junho de 1845, e nesse ano e no seguinte, de colaboração com seu irmão, o conselheiro José Feliciano de Castilho, deu princípio à Livraria Clássica Portuguesa, onde escreveu as biografias do padre Manuel Bernardes e de Garcia de Resende.
Em 1846 fez uma passagem pela política activa, militando no Partido Cartista e escrevendo um panfleto intitulado Chronica certa muito verdadeira da Maria da Fonte, escrevida por mim mesmo que sou seu tio, o mestre Manuel da Fonte, sapateiro do Peso da Régua, dada à luz por um cidadão demitido que tem tempo para tudo.
Preocupado com o aterrador analfabetismo da população portuguesa, por esse tempo começou a luta em que Castilho empenhou uma grande parte da sua vida. Pretendia fazer adoptar um seu método de leitura repentina, que denominou o Methodo Portuguez (depois conhecido como o Methodo Portuguez de Castilho) de aprendizagem da leitura, contra o qual se levantaram grandes polémicas.
Depois de uma luta pertinaz pela adopção do seu método, e no meio de uma generalizada descrença dos pedagogos sobre a sua eficácia, o governo nomeou-o Comissário para a Propagação do Methodo Portuguez e deu-lhe um lugar no Conselho Superior de Instrução Pública. Contudo, nunca adoptou oficialmente o método para uso generalizado nas escolas públicas, recusa que seria o eterno pesar da vida de Castilho.

O exílio nos Açores
Sofrendo de crónicos problemas financeiros e desgostoso por ver a frieza com que fora acolhida em Portugal o seu Método Português, em 1847 partiu para os Açores, fixando-se em Ponta Delgada, cidade onde viveu até 1850.
Recebido em Ponta Delgada como um herói, rapidamente conquistou a simpatia da aristocracia local, em particular da próspera elite dos comerciantes da laranja. Vivia-se então na ilha de São Miguel um período de prosperidade económica, assente sobre a exportação de laranjas para Inglaterra, e de procura de novas culturas industriais que permitissem manter o forte sector de exportação de produtos agroalimentares que entretanto se criara.
Instalado em São Miguel, com o apoio de alguns magnatas locais, entre os quais José do Canto, Castilho dedicou-se à escrita e ao fomento cultural.
Nesse período, escreveu em Ponta Delgada o Estudo Histórico-Poético de Camões, enriquecido de curiosas notas, fundou uma tipografia, onde se imprimiu o jornal o Agricultor Michalense, a convite da Sociedade Promotora da Agricultura da ilha, que o tinha contratado. Castilho era o redator principal, dedicando-se, para além da escrita, à realização de conferências que despertaram o amor de estudo.
Fundou a Sociedade dos Amigos das Letras e Artes, escreveu a Felicidade pela Agricultura, o Tratado de Mnemónica, o Tratado de metrificação, as Noções rudimentares para uso das escolas e traduziu os Colóquios aldeãos de Timon. "Os Colloquios aldeões de Timon: vertidos em vulgar. Ponta Delgada: Typ. Castilho, 1850" assim referenciados no catálogo da Biblioteca Nacional de Portugal, são a tradução de "Entretiens de village" (1843) do Vicomte de Cormenin (Louis Marie de Lahaye de Cormenin; 1788 - 1868), que assinava frequentemente sob o pseudónimo de Timon.
Tentou consolidar na ilha a tipografia e a gravura em madeira. Também compôs, para aplicar a poesia à música, e torná-la por isso mais atractiva, o Hymno do Trabalho, que se tornou muito popular, o Hymno dos Lavradores e o Hymno da Infância no Estudo.
Com o apoio das autarquias, por sua iniciativa criaram-se escolas gratuitas, umas de instrução primária, outras de instrução secundária e aí se ensaiou pela primeira vez a leitura repentina pelo Método Castilho.

Os últimos anos - a luta pelo Methodo Portuguez de Castilho
Desencantado com a sua experiência açoriana, a 22 de fevereiro de 1850 regressou a Lisboa, e dedicou-se com renovada energia à luta contra os adversários do seu método de leitura, de que se publicaram duas edições em 1850, saindo a terceira em 1853, refundida e acompanhada de vinhetas, com o título de Methodo Portuguez Castilho.
A sua actividade motivou grandes polémicas, em que por vezes Castilho actuou com grande dureza, como quando publicou a Tosquia de um Camelo, Carta a Todos os Mestres das Aldeias e das Cidades, em 1853, O Ajuste de Contas, em 1854, e Resposta aos Novíssimos Impugnadores do Methodo Portuguez, também em 1854.
Em 1853 foi nomeado Comissário Geral de Instrução Primária, tendo de imediato fomentado a abertura de cursos públicos em Lisboa, Coimbra, Leiria e Porto para instruir os professores no seu método, do qual publicou em 1854 a quarta edição.
A partir desta data, Castilho dedicou a maior parte do seu tempo à propaganda do Methodo Portuguez, embora continuasse a sua actividade como escritor e polemista.
Pretendendo alargar o uso a todo o mundo lusófono, em 1865 foi ao Brasil com o intuito de propagar o seu Methodo, donde voltou nesse mesmo ano, sendo recebido pelo imperador D. Pedro II do Brasil, a quem dedicou o seu drama Camões, e de quem foi sempre amigo, até à morte.
Quando D. Pedro V criou em 1858 as cadeiras do Curso Superior de Letras de Lisboa, ofereceu a Castilho a cadeira de literatura portuguesa, que ele não aceitou.
Em 1861 publicou uma nova edição do Amor e Melancholia, complementada com a Chave do Enigma e com uma autobiografia até 1837. Em 1862 publicou-se a tradução dos Fastos de Ovídio, em 6 volumes, seguida de notas escritas a seu convite por diferentes escritores portugueses. Em 1863 publicou-se a colecção de poesias Outono.
Em 1866 foi a Paris em companhia de seu irmão, José Feliciano de Castilho, sendo ali apresentado a Alexandre Dumas, de quem era apaixonado admirador. Nesse ano publicou em Paris a Lyrica d'Anacreonte e em 1867, também em Paris, promoveu uma edição luxuosa da tradução das Geórgicas de Virgílio. Em 1868 saíram os Ciúmes do Bardo, com a tradução em italiano feita pelo próprio autor.
Embora não soubesse alemão, Castilho empreendeu a tradução do Fausto de Johann Wolfgang von Goethe, primeira parte, sobre uma tradução francesa. Também sem conhecer o inglês, tentou a tradução de algumas obras de William Shakespeare. Surgiu uma polémica violenta, chamada a Questão faustiana. Existe um grande número de cartas de Castilho publicadas em jornais e revistas a este respeito. Ainda na área da imprensa, participou como colaborador em diversas publicações periódicas, nomeadamente no O Panorama (1837-1868), Jornal da Sociedade dos Amigos das Letras (1836) e Arquivo Pitoresco (1857-1868). Também se encontra colaboração da sua autoria, publicada postumamente, na revista Contemporânea (1915-1926).
O título de Visconde de Castilho foi-lhe concedido em duas vidas, por decreto de 25 de maio de 1870.
Faleceu em Lisboa a 18 de junho de 1875. Dada a sua fama, no seu funeral viram-se representadas todas as classes da sociedade, os ministros, os seus colegas académicos da Academia das Ciências de Lisboa, os representantes das letras e do jornalismo e os homens mais ilustres da magistratura, do professorado e das forças armadas.
Para comemorar o centenário do nascimento do notável homem de letras, colocou-se em 28 de janeiro de 1900 uma lápide no prédio de São Pedro de Alcântara onde nasceu.


Cântico da Noite

Sumiu-se o sol esplêndido
Nas vagas rumorosas!
Em trevas o crepúsculo
Foi desfolhando as rosas!
Pela ampla terra alargar-se
Calada solidão!
Parece o mundo um túmulo
Sob estrelado manto!
Alabastrina lâmpada,
Lá sobe a lua! Entanto
Gemidos d’aves lúgubres
Soando a espaços vão!
Hora dos melancólicos,
Saudosos devaneios!
Hora que aos gostos íntimos
Abres os castos seios!
Infunde em nossos ânimos
Inspiração da fé!
De noite, se um revérbero
De Deus nos alumia,
Destila-se de lágrimas
A prece, a profecia!
A alma elevada em êxtase
Terrena já não é!
Antes que o sono tácito
Olhos nos cerre, e os sonhos
Nos tomem no seu vórtice,
Já rindo, e já medonhos,
Hora dos céus, conserva-me
No extinto e no porvir.
Onde os que amei? sumiram-se.
Onde o que eu fui? deixou-me.
Deles, só vãs memórias;
De mim, só resta um nome:
No abismo do pretérito
Desfez-se choro e rui
Desfez-se! e quantas lágrimas
Brotaram de alegrias! Desfez-se!
e quantos júbilos
Nasceram de agonias!
Teu curso, ó Providência,
Quem no previu jamais?
Que horas dest’hora tácita
Me irão desabrochando?
Quantos nos fêz cadáveres
Num leito o sono brando!
Vir-me-ão co’a aurora próxima
As saudações, os ais?
Se o penso, tremo, aterro-me;
Porém, se ao Pai Supremo
Remonto o meu espírito,
Exulto; já não tremo,
A alma lhe dou; reclino-me
No sono sem pavor. Chama-me?
Ascendo à pátria; Poupa-me?
Aspiro a ela.
Servir-te! ou ver-te e amarmo-nos!
Que sorte, ó Deus, tão bela!
Vem, cerra as minhas pálpebras,
Virgem do casto amor!


António Feliciano de Castilho

domingo, janeiro 11, 2015

O poeta e pedagogo João de Deus morreu há 119 anos

João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de Messines, 8 de março de 1830 - Lisboa, 11 de janeiro de 1896), mais conhecido por João de Deus, foi um eminente poeta lírico e pedagogo, considerado à época o primeiro do seu tempo, e o proponente de um método de ensino da leitura, assente numa Cartilha Maternal por ele escrita, que teve grande aceitação popular, sendo ainda utilizado. Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto, sendo ainda em vida objecto das mais variadas homenagens. Foi considerado o poeta do amor e encontra-se sepultado no Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa.


ESTRELA

Estrela que me nasceste
quando a vista mal te alcança
nessa abóbada celeste,
onde a nossa alma descansa
a sua última esperança...
Estrela que me nasceste
quando a vista mal te alcança!

Antes nascesses mais cedo,
estrela da madrugada,
e não já noite cerrada...
Que até no céu mete medo
ver essa estrela isolada...
Antes nascesses mais cedo.
estrela da madrugada!

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Sebastião da Gama morreu há 62 anos

(imagem daqui)

Sebastião Artur Cardoso da Gama (Vila Nogueira de Azeitão, 10 de abril de 1924 - Lisboa, 7 de fevereiro de 1952) foi um poeta e professor português,
Sebastião da Gama licenciou-se em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1947.
Foi professor em Lisboa, na Escola Industrial e Comercial Veiga Beirão, em Setúbal, na Escola Industrial e Comercial (atual Escola Secundária Sebastião da Gama) e, em Estremoz, na Escola Industrial e Comercial local.
Colaborou nas revistas Árvore e Távola Redonda.
A sua obra encontra-se ligada à Serra da Arrábida, onde vivia e que tomou por motivo poético de primeiro plano (desde logo no seu livro de estreia, Serra-Mãe, de 1945), e à sua tragédia pessoal, motivada pela doença que o vitimou precocemente, a tuberculose.
Uma carta sua, enviada em agosto de 1947, para várias personalidades, a pedir a defesa da Serra da Arrábida, constituiu a motivação para a criação da LPN, Liga para a Protecção da Natureza, em 1948, a primeira associação ecologista portuguesa.
O seu Diário, editado postumamente, em 1958, é um interessantíssimo testemunho da sua experiência como docente e uma valiosa reflexão sobre o ensino.
As Juntas de Freguesia de São Lourenço e de São Simão, instituíram, com o seu nome, um Prémio Nacional de Poesia. No dia 1 de junho de 1999, foi inaugurado em Vila Nogueira de Azeitão, o Museu Sebastião da Gama, destinado a preservar a memória e a obra do Poeta da Arrábida, como era também conhecido.
Faleceu vitima de tuberculose renal, de que sofria desde adolescente.


Elegia para uma gaivota

Morreu no mar a gaivota mais esbelta,
a que morava mais alto e trespassava
de claridade as nuvens mais escuras com os olhos.

Flutuam quietas, sobre as águas, suas asas.
Água salgada, benta de tantas mortes angustiosas,
aspergiu-a.
E três pás de ar pesado para sempre as viagens lhe vedaram.

Eis que deixou de ser sonho apenas sonhado. 
-:É finalmente sonho puro,
sonho que sonha finalmente, asa que dorme voos.

Cantos de pescadores, embalai-a! Versos dos poetas, embalai-a!
Brisas, peixes, marés, rumor das velas, embalai-a!

Há na manhã um gosto vago e doce de elegia,
tão misteriosamente, tão insistentemente,
sua presença morta em tudo se anuncia.

Ela vai, sereninha e muito branca.
E a sua morte simples e suavíssima
é a ordem-do-dia na praia e no mar alto.


in Campo Aberto (1950) - Sebastião da Gama

terça-feira, janeiro 28, 2014

O poeta e pedagogo António Feliciano de Castilho nasceu há 214 anos

António Feliciano de Castilho, primeiro visconde de Castilho, (Lisboa, 28 de janeiro de 1800 - Lisboa, 18 de junho de 1875) foi um escritor romântico português, polemista e pedagogo, inventor do Método Castilho de leitura. Em consequência de sarampo perdeu a visão quase completamente aos 6 anos de idade. Licenciou-se em direito na Universidade de Coimbra. Viveu alguns anos em Ponta Delgada, Açores, onde exerceu uma grande influência entre a intelectualidade local. Contra ele se rebelou Antero de Quental (entre outros jovens estudantes coimbrões) na célebre polémica do Bom-Senso e Bom-Gosto, vulgarmente chamada de Questão Coimbrã, que opôs os jovens representantes do realismo e do naturalismo aos vetustos defensores do ultra-romantismo.


Ao Usurpador

Avante! calca o povo lusitano.
Pune-o da culpa de te crer sincero.
Sê benigno c'os maus, c'os bons severo:
E o trono assenta no terror, no engano.

Nem sequer vestígio já tens sequer de humano:
Em poucos dias excedeste a Nero.
Filho algoz, vil Caim, perjuro, fero,
Parabéns, triunfaste, ímpio tirano!

O hino da fúrias, seu Hossana, é este:
E se sabe o prazer no abismo eterno,
Monstro dos monstros, que prazer lhe deste!

Mas há, mas vela um árbitro superno;
Se ao som dos ais da Pátria adormeceste,
Ao som do raio acordarás no Averno.


in Escavações Poetícas (1844) - António Feliciano de Castilho

sexta-feira, março 29, 2013

Carl Orff morreu há 31 anos

Carl Orff (Munique, 10 de julho de 1895 - Munique, 29 de março de 1982) foi um compositor alemão, um dos mais destacados do século XX, famoso sobretudo por sua cantata Carmina Burana.
Contudo, a sua maior contribuição se situa na área da pedagogia musical, com o Método Orff de ensino musical, baseado na percussão e no canto. Orff criou um centro de educação musical para crianças e leigos em 1925, no qual trabalhou até a data do seu falecimento.