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sábado, janeiro 06, 2024

O Expresso celebra hoje cinquenta e um anos


O Expresso é um jornal português de periodicidade semanal publicado ao sábado desde 1973. O atual diretor do Expresso é João Vieira Pereira, que assumiu o cargo a 23 de março de 2019. O Expresso passou a utilizar o Acordo Ortográfico de 1990 na edição de 26 de junho de 2010.

 

O semanário Expresso foi fundado a 6 de janeiro de 1973 e inicialmente dirigido por Francisco Pinto Balsemão. Pinto Balsemão encontra-se ligado à imprensa por razões familiares - o avô, como ele chamado Francisco Pinto Balsemão, comerciante e militante republicano, foi fundador e proprietário de jornais; posteriormente, o tio e o pai foram os proprietários do Diário Popular. Pinto Balsemão foi secretário do Diretor e, posteriormente, vogal do Conselho de Administração da empresa proprietária do Diário Popular. Após a morte do pai, herdou, juntamente com o tio, a quota de 16,6% do capital dessa empresa, que passou a ter como acionistas Francisco e o tio (sendo este o acionista maioritário) e Guilherme Brás Medeiros. Depois da oferta, no verão de 1971, do Banco Borges pelo diário, o tio de Balsemão aceita vender.

Francisco Pinto Balsemão abandona então o Diário Popular e decide investir num jornal próprio, com o modelo «dos jornais ingleses de domingo de qualidade», como o The Sunday Times e The Observer. Para isso Augusto de Carvalho, o diretor de publicidade e Fernando Ulrich fazem um estágio no Reino Unido para se inteirarem do modelo jornalístico. Não sem que a correspondência trocada entre Balsemão e os diretores dos jornais ingleses fosse intercetada pela PIDE, que fotocopiou a informação e a fez chegar a Marcello Caetano. O título Expresso deixa antever uma forte influência da revista francesa L'Express.

É criada assim a empresa proprietária do jornal, uma sociedade anónima com a denominação Sojornal - Sociedade Jornalística e Editorial, SARL, com sede no segundo andar direito do número 37 da Rua Duque de Palmela, em Lisboa. O prédio tem a particularidade de se tratar de um imóvel desenhado em 1902 pelo arquiteto Ventura Terra e onde já vivera Afonso Costa.

Balsemão fica com 51% do capital inicial (6 mil contos, o equivalente a 1,6 milhões de euros, a preço atual, ajustado à inflação). A participação dos demais acionistas é limitada a um máximo de 15%. Entre os quais estão a Sociedade Nacional de Sabões, da família Rocha dos Santos, o banqueiro Manuel Boullosa, as famílias Ruella Ramos (do Diário de Lisboa) e Botelho Moniz (do Rádio Clube Português). Com posições pequenas estão o tio de Francisco Pinto Balsemão, seis amigos de Balsemão (Luiz Vasconcellos, Francisco da Costa Reis, António Patrício Gouveia, o escritor Ruben A. Leitão, Luís Corrêa de Sá, António Flores de Andrade) e a sua mulher Mercedes. Por fim, surgem ainda na lista os jovens António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa.

A primeira versão do semanário surge em formato broadsheet e com dois cadernos. O primeiro caderno de caráter mais noticioso, «com uma primeira página forte e secções bem definidas nas páginas interiores» e o segundo, chamado Revista «menos ligada ao dia a dia, convidando à reflexão e proporcionando entretenimento [...] contendo prosas maiores». O design ficou a cabo de Vítor da Silva e Luís Ribeiro, que durante anos foi o grafista-chefe do jornal.

A primeira redação era chefiada por Augusto de Carvalho. José Manuel Teixeira estava encarregue da secção nacional, Fernando Ulrich (sob o pseudónimo Vicente Marques) fazia a crónica bolsista, António Patrício Gouveia escrevia sobre economia, Álvaro Martins Lopes na secção internacional e Inácio Teigão no desporto. Faziam também parte Fernando Brederode Santos, Teodomiro Leite de Vasconcelos (Rádio Renascença), João Bosco Mota Amaral (correspondente nos Açores com o pseudónimo J. Soares Botelho), Mercedes Balsemão (esposa do diretor, que fazia as palavras-cruzadas com o pseudónimo Marcos Cruz), Juan Luis Cebrián, primeiro diretor do El País e correspondente do Expresso em Madrid. O diretor de publicidade era Jorge Galamba.

No dia 21 de dezembro de 1972, no hotel Ritz, realiza-se a sessão de lançamento do novo semanário. A campanha de publicidade fica a cargo da agência Ciesa, onde pontifica o criativo Artur Portela Filho. No entanto, a campanha para a televisão é proibida.

Com o Expresso surgem também outras inovações para a época em Portugal. O estatuto editorial, um Conselho de Redação, eleito pelos jornalistas, e o Conselho Editorial, para o qual são convidados Mário Murteira, Ruben A., Vasco Vieira de Almeida, João Morais Leitão, Sedas Nunes e Magalhães Mota.

Por fim, o primeiro número sai para a rua, no dia 6 de janeiro de 1973. A tiragem ultrapassa os 60 mil exemplares, impressos na rotativa do Diário de Lisboa, em que cada um contava com 24 páginas e dois cadernos, ao preço de 5$00 (2,5 Cêntimos a preço atual). A manchete é uma sondagem encomendada: «63 por cento dos portugueses nunca votaram».

 

sexta-feira, janeiro 06, 2023

O Expresso faz hoje cinquenta anos!


O Expresso é um jornal português de periodicidade semanal publicado ao sábado desde 1973. O atual diretor do Expresso é João Vieira Pereira, que assumiu o cargo a 23 de março de 2019. O Expresso passou a utilizar o Acordo Ortográfico de 1990 na edição de 26 de junho de 2010.

 

O semanário Expresso foi fundado a 6 de janeiro de 1973 e inicialmente dirigido por Francisco Pinto Balsemão. Pinto Balsemão encontra-se ligado à imprensa por razões familiares — o avô, como ele chamado Francisco Pinto Balsemão, comerciante e militante republicano, foi fundador e proprietário de jornais; posteriormente, o tio e o pai foram os proprietários do Diário Popular. Pinto Balsemão foi secretário do Diretor e, posteriormente, vogal do Conselho de Administração da empresa proprietária do Diário Popular. Após a morte do pai, herdou, juntamente com o tio, a quota de 16,6% do capital dessa empresa, que passou a ter como acionistas Francisco e o tio (sendo este o acionista maioritário) e Guilherme Brás Medeiros. Depois da oferta, no verão de 1971, do Banco Borges pelo diário, o tio de Balsemão aceita vender.

Francisco Pinto Balsemão abandona então o Diário Popular e decide investir num jornal próprio, com o modelo «dos jornais ingleses de domingo de qualidade», como o The Sunday Times e The Observer. Para isso Augusto de Carvalho, o diretor de publicidade e Fernando Ulrich fazem um estágio no Reino Unido para se inteirarem do modelo jornalístico. Não sem que a correspondência trocada entre Balsemão e os diretores dos jornais ingleses fosse intercetada pela PIDE, que fotocopiou a informação e a fez chegar a Marcello Caetano. O título Expresso deixa antever uma forte influência da revista francesa L'Express.

É criada assim a empresa proprietária do jornal, uma sociedade anónima com a denominação Sojornal - Sociedade Jornalística e Editorial, SARL, com sede no segundo andar direito do número 37 da Rua Duque de Palmela, em Lisboa. O prédio tem a particularidade de se tratar de um imóvel desenhado em 1902 pelo arquiteto Ventura Terra e onde já vivera Afonso Costa.

Balsemão fica com 51% do capital inicial (6 mil contos, o equivalente a 1,6 milhões de euros, a preço atual, ajustado à inflação). A participação dos demais acionistas é limitada a um máximo de 15%. Entre os quais estão a Sociedade Nacional de Sabões, da família Rocha dos Santos, o banqueiro Manuel Boullosa, as famílias Ruella Ramos (do Diário de Lisboa) e Botelho Moniz (do Rádio Clube Português). Com posições pequenas estão o tio de Francisco Pinto Balsemão, seis amigos de Balsemão (Luiz Vasconcellos, Francisco da Costa Reis, António Patrício Gouveia, o escritor Ruben A. Leitão, Luís Corrêa de Sá, António Flores de Andrade) e a sua mulher Mercedes. Por fim, surgem ainda na lista os jovens António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa.

A primeira versão do semanário surge em formato broadsheet e com dois cadernos. O primeiro caderno de caráter mais noticioso, «com uma primeira página forte e secções bem definidas nas páginas interiores» e o segundo, chamado Revista «menos ligada ao dia a dia, convidando à reflexão e proporcionando entretenimento [...] contendo prosas maiores». O design ficou a cabo de Vítor da Silva e Luís Ribeiro, que durante anos foi o grafista-chefe do jornal.

A primeira redação era chefiada por Augusto de Carvalho. José Manuel Teixeira estava encarregue da secção nacional, Fernando Ulrich (sob o pseudónimo Vicente Marques) fazia a crónica bolsista, António Patrício Gouveia escrevia sobre economia, Álvaro Martins Lopes na secção internacional e Inácio Teigão no desporto. Faziam também parte Fernando Brederode Santos, Teodomiro Leite de Vasconcelos (Rádio Renascença), João Bosco Mota Amaral (correspondente nos Açores com o pseudónimo J. Soares Botelho), Mercedes Balsemão (esposa do diretor, que fazia as palavras-cruzadas com o pseudónimo Marcos Cruz), Juan Luis Cebrián, primeiro diretor do El País e correspondente do Expresso em Madrid. O diretor de publicidade era Jorge Galamba.

No dia 21 de dezembro de 1972, no hotel Ritz, realiza-se a sessão de lançamento do novo semanário. A campanha de publicidade fica a cargo da agência Ciesa, onde pontifica o criativo Artur Portela Filho. No entanto, a campanha para a televisão é proibida.

Com o Expresso surgem também outras inovações para a época em Portugal. O estatuto editorial, um Conselho de Redação, eleito pelos jornalistas, e o Conselho Editorial, para o qual são convidados Mário Murteira, Ruben A., Vasco Vieira de Almeida, João Morais Leitão, Sedas Nunes e Magalhães Mota.

Por fim, o primeiro número sai para a rua no dia 6 de janeiro de 1973. A tiragem ultrapassa os 60 mil exemplares, impressos na rotativa do Diário de Lisboa, em que cada um contava com 24 páginas e dois cadernos, ao preço de 5$00 (2,5 Cêntimos a preço atual). A manchete é uma sondagem encomendada: «63 por cento dos portugueses nunca votaram».

 

in Wikipédia

domingo, fevereiro 27, 2011

Uma capa de jornal muito sugestiva

O Expresso, no seu número 2.000, tem um manancial de informação que merecia uma leitura séria:

Wikileaks 1: "Negócios da Defesa arrasados - Ministério move-se pelo desejo de ter brinquedos caros" (a síndrome Magalhães, e-escolas, TGV e Parque Escolar no seu melhor)

Wikileaks 2: "O plano dos EAU para dominar a FLAD - Chegou o momento de decapitar Rui Machede" (a Maria de Lurdes Rodrigues sempre há-de servir para alguma coisa, se conseguir aprender a papaguear inglês técnico)
“Na situação actual é muito complicado ir para eleições" - o Ricardo Salgado, presidente do BES, prefere que o Sócrates fique por lá até ter tudo sobre controlo - e quem diz que são precisas eleições...?!?
"Bruxelas multa Portugal em 121 milhões de euros" - já não temos Agricultura e ainda temos de pagar multas por causa dela?
"300 mil portugueses têm duplo emprego" - habituem-se, se querem viver.
"Sócrates com Merkel" - afinal o programa Perdoa-me não acabou (o que acabou foi o dinheiro, como rapidamente o nosso pseudo-engenheiro vai descobrir rapidamente)

"Fugitivo do verylight passeou um ano por Lisboa" - afinal era só um assassino de uma claque neonazi - e aos polícias não lhes pagam para dar cabo da vida.

É de referir que se esqueceram no jornal de uma cacha - que o socialista presidente da Câmara de Mangualde descobriu a solução para crise: uma praia de água salgada, com uma tela a fingir que se numa praia tropical, para fazer esquecer a porcaria de vida que levamos.

quinta-feira, julho 15, 2010

O país envergonhado

A nossa diplomacia é uma vergonha

O socratismo aplicado à diplomacia é uma embaraço para o país. Portugal tem apoiado as ditaduras mais sinistras, e anda a fazer demasiadas tangentes às posições anti-Israel.


I. A diplomacia de Portugal perdeu qualquer preocupação com os critérios de direitos humanos e de democracia. Neste sentido, a diplomacia socrática não é só um embaraço para os portugueses. É também um embaraço para a UE. O embaixador de Israel apontou o dedo para esse facto, e agora vai ter direito a uma reprimenda de Luís Amado . Bravo, dr. Amado. Que coragem. 

 
III. Agora, o MNE português resolveu fazer uma espécie de aliança tácita com o Irão. Ontem, Luís Amado recebeu o chefe da diplomacia do Irão, Manoutchehr Mottaki. Este senhor é um dos políticos iranianos mais radicais. Este senhor diz, entre outras coisas, que os negociadores iranianos foram demasiado brandos nas negociações com a UE sobre a questão nuclear. Ou seja, Portugal, ao receber este senhor, está a trair os esforços da UE, e está legitimar a facção mais radical dentro do Irão. 

IV. Tudo isto serve para quê? Por que razão andamos a dormir com as piores ditaduras do mundo? Será que andamos a recolher apoios para ter um lugar rotativo no Conselho de Segurança da ONU? Andamos a fazer tudo isto só para termos um lugar temporário no Conselho de Segurança? Andamos a vender a alminha só para termos dois aninhos de vanglória no topo do mundo?



in Expresso - post de Henrique Raposo, Blog A Tempo e a Desmodo

domingo, julho 04, 2010

Guilherme Valente continua a desmistificar o eduquês


Texto de Guilherme Valente saído no "Expresso" de hoje:

1. Ensina-se, supostamente, a «aprender a aprender». Mas não se ensinam os conhecimentos que os alunos precisam de aprender. Ensina-se, supostamente, a «aprender a aprender» matemática. Mas o que é preciso mesmo é aprender matemática.

O «aprender a aprender» tornou-se moda por soar bem e prometer o «milagre» de se poder aprender tudo sem ter de se aprender nada.

O eduquês substitui o que importa ensinar pelas técnicas e métodos que supostamente permitiriam aprender tudo sem esforço.

Dois exemplos reveladores do logro:

Se eu pretender recrutar um tradutor de inglês, não indagarei se os candidatos sabem «aprender a aprender», mas se sabem, pelo menos, inglês e português.

Se a Carris precisar de um motorista, não perguntará aos candidatos se sabem «aprender a aprender», mas se têm carta de condução e experiência de conduzir.

2. As «competências» são outro logro, que engana o incauto porque a expressão tem um significado próprio que o senso comum instantaneamente apreende e valoriza. Mas o que é um indivíduo competente? Alguém que adquiriu e domina conhecimentos e técnicas e é capaz de os aplicar no exercício eficaz de uma função. Haverá alguém competente, seja no que for, sem conhecimentos?

O que será uma competência em Filosofia Medieval? Só pode ser o conhecimento do pensamento dos filósofos da época e do contexto em que foi elaborado. O que exige tê-los estudado, dominar o latim, grego, história, etc. E ser competente em física quântica? E a cozinhar uma boa caldeirada?

Também o candidato a um curso universitário de Física deverá ter adquirido os conhecimentos que permitem responder à exigência de aprofundamento e especialização que pressupõe. Não chegará que saiba «aprender a aprender», pede-se-lhe que já tenha aprendido muito.

3. Importante não é o modo como se ensina e aprende, mas o que efectivamente se ensina, aprende e exercita. E é só o aprender muito que potencia a capacidade para aprender mais e diferente.

O método é um «caminho». As técnicas e meios de ensino devem ser adoptados e mesmo construídos em função das matérias e dos alunos. A pedagogia é uma disciplina respeitável, mas auxiliar, não é o objectivo do ensino.

4. Ora, como a pedagogia parece ser o único conhecimento que os «especialistas» da educação supostamente dominam, valorizam-no até ao rídiculo, garantindo, assim, o poder e o emprego.

É esse o programa dominante na maioria dos cursos de formação de professores, que lançam no ensino vagas de docentes, grande parte sem poderem ensinar nada, por saberem muito pouco do que deveriam ensinar.

Mas como o Ministério da Educação é controlado pelos mesmos que os «formaram», fica tudo em casa, isto é, a escola e a «avaliação» não podem deixar de ser o que, com raras excepções, são.

Se o leitor quiser saber até que ponto o rei vai nú, peça a um desses novos docentes, ou a um dos pobres bons professores a quem é imposta a cartilha, um exemplo de uma «competência». Aposto que será: a «leitura de um horário de comboio»…

Refeito do choque, pergunte, a seguir, como se avalia a competência em História, Física, Electricidade…

4. O «aprender a aprender» e as «competências» são um pico da pedagogice, logros que servem ao eduquês e aos «especialistas» para que não se ensine, não se aprenda, nada possa ser avaliado.

São, afinal, manifestação da desvalorização relativista do conhecimento e do professor, da aversão rousseauniana aos «saberes letrados», supostamente origem da desigualdade e da desarmonia social. Tornar todos iguais, é o projecto inconfessável do eduquês. Mesmo que para isso seja preciso condenar todos à ignorância, à boçalidade e à miséria.

Todos?

Guilherme Valente

terça-feira, abril 27, 2010

Quando as pessoas começam a perceber o que se passa na Escola Pública é uma chatice...


O PS matou os professores

Acabar com o chumbo por faltas é mais um capítulo do facilitismo que destrói o futuro dos mais pobres. "Não tens de aprender. E nem sequer tens de ir às aulas", eis a herança do PS no ensino.


I. Já não há palavras para descrever a podridão politicamente correcta que é o Ministério da Educação, e, por arrastamento, a escola pública. Os professores já estavam proibidos de chumbar alunos mesmo quando estes ignoram as matérias básicas. Agora, ficámos a saber que os professores deixam de ter a possibilidade de chumbar um aluno por faltas. É uma alegria, a escola pública. "Não tens de aprender, e nem sequer tens de ir às aulas", eis a herança que o facilitismo do PS deixa no ensino.

II. O socratismo destruiu a figura do professor. Fica a impressão de que o professor passou a ser um mero babysitter dos monstrinhos que os pais deixam na escola. O professor não tem a autoridade pedagógica para instruir, e também não tem autoridade moral para educar. O professor não pode instruir os alunos, porque o facilitismo impede rigor e exigência. Todos têm de passar, porque o Ministério quer boas estatísticas. Resultado: milhares de pessoas chegam à faculdade sem saber escrever em condições. Depois, o professor não tem autoridade moral sobre os alunos. A falta de educação campeia pelas escolas. O fim do chumbo por faltas é só mais um prego no caixão da autoridade moral do professor. Nem por acaso, o i, há dias, trazia este desabafo de uma professora: "A partir do momento que, por exemplo, uma suspensão de um aluno não conta como falta para acumular e para reprovar de ano, que efeito é que uma sanção destas pode ter?".

sexta-feira, abril 02, 2010

Porque hoje é Sexta-Feira Santa - II

socrates

A propósito de um falso desmentido de Sócrates

O director do Expresso responde ao primeiro-ministro, que em entrevista ao "Jornal de Notícias" o acusou de não ter falado verdade aos deputados.


1. Na comissão de ética do Parlamento, em resposta a uma pergunta do deputado do PS João Serrano sobre se alguma vez o primeiro-ministro me pressionara, respondi sim. Que me pedira para não publicar uma notícia sobre a sua licenciatura na Universidade Independente. No sábado passado, numa entrevista ao "Jornal de Notícias", o primeiro-ministro referiu-se a esse facto nos seguintes termos: "Esse depoimento é falso. Essa conversa não ocorreu como foi descrita. O depoimento diz tudo sobre pessoas que são capazes de dar a sua versão sobre uma conversa privada e que o fazem de forma cobarde, quando não está a outra presente, para o desmentir".

Quero deixar bem claro que fui educado de forma a não mentir. Menos ainda numa Comissão Parlamentar. Fui educado por pessoas que tinham e têm da democracia e da liberdade um alto conceito, algumas delas pagando um preço elevado por isso. Estudei no Colégio Moderno e os valores que me transmitiram foram os mesmos que os da minha família: sou um homem livre e vou continuar a sê-lo.

2. O telefonema que refiro foi na noite de 29 para 30 de Março de 2007 (de quinta para sexta-feira, antes da saída da notícia). Foi feito para mim, depois de um assessor de Sócrates ter também telefonado, com modos mais suaves. O assessor era José Almeida Ribeiro, hoje secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro, mas dessa conversa nada tenho a dizer - foi cordial e correcta, naturalmente expressando o ponto de vista do chefe do Governo.

Seguiu-se o telefonema do primeiro-ministro - e, de facto, foi bem pior do que eu contei na Comissão de Ética: além de me ter pedido para eu não publicar o texto em causa, o telefonema decorreu no meio de berros exaltados por parte do chefe do Governo. Podem pensar que me foi indiferente - não foi. Ninguém fica indiferente quando o dever o obriga a fazer algo que deixa outro ser humano tão exasperado, tão fora de si, tão desagradavelmente mal-educado.
Infelizmente - por uma estrita consciência deontológica e pelo sentido de dever - não tive outra alternativa senão publicar essa notícia, recolhida por duas jornalistas e que estava devida e rigorosamente sustentada.

O primeiro-ministro falou, na mesma noite, com outro membro da direcção do Expresso sobre este assunto e fê-lo também de forma desagradável, pouco cordata, não só não compreendendo o nosso dever e a nossa missão como recusando-se a:
a) Fazer qualquer desmentido ou comentário à notícia que tínhamos;
b) Escrever exactamente o que nos estava a dizer (sem os insultos), de forma a publicarmos o seu ponto de vista;
c) Esclarecer o que quer que fosse sobre o assunto (recordo que só o fez na RTP, muito depois de o caso ter começado).

Quero ainda deixar claro que, nos tempos subsequentes, e até à Comissão Parlamentar de Ética, nunca referi este facto. Fi-lo na Comissão porque um deputado, como se pode ver na gravação disponível na Assembleia da República, me perguntou directamente se tinha sido pressionado por Sócrates. Verifico também - e acho grave - que o primeiro-ministro entende ser um acto de cobardia envolvê-lo numa resposta a um deputado, numa Comissão de Ética. Lamento que o chefe do Governo não tenha percebido que eu não estava num grupo de amigos, nem num debate televisivo, mas na sede da democracia portuguesa onde ao lado da estátua da eloquência - que Sócrates tem em abundância - está a da Justiça - que ele não entende.

3. Mas quanto a cobardia, gostava ainda de acrescentar uma coisa: só uma vez tinha referido esta pressão - foi ao próprio José Sócrates, por carta.
Essa carta veio a propósito de uma acusação que o primeiro-ministro me fez, numa entrevista à "Visão", a 15 de Outubro de 2009. Cito Sócrates: "Vou-lhe contar um episódio com o Expresso. Numa entrevista, em 2005, o director do jornal perguntou-me: 'Então, o pior já passou?'. E eu respondi: 'O pior é sempre o que está para vir...'. Título do Expresso: 'O pior está para vir'. São episódios como este... Não gosto que coloquem as minhas palavras nas mãos de editores que estão ávidos de uma frase bombástica, embora não correspondendo àquilo que eu disse".
Ainda que tudo isto fosse verdade, se este é o melhor exemplo de mau jornalismo que Sócrates tem, dê-se por feliz; eu tenho bem piores. Mas é mentira... O título que saiu (em 4 de Março de 2006 e não 2005, como Sócrates por lapso diz) pode ser consultado em qualquer arquivo e foi "O mais difícil está por fazer". Aliás, toda a entrevista, antes de publicada, foi revista pelo primeiro-ministro, tendo as suas objecções sido tomadas em conta - possibilidade, aliás prevista no nosso Código de Conduta..

Foi por isso que, numa carta que lhe enviei no mesmo dia em que aquela acusação me foi feita - e da qual tenho o protocolo de entrega -, lhe dei conta da confusão que fizera e da injustiça que cometera ao acusar-me de algo que não fiz. Nessa mesma carta, de 15 de Outubro de 2009 - muito antes, repito, de haver qualquer Comissão de Ética ou de inquérito, tinha Sócrates acabado de ganhar as eleições -, escrevi ainda: "Nunca me queixei do facto de me teres pressionado para retirar a notícia da licenciatura". O primeiro-ministro nunca teve a iniciativa, nem a hombridade, de repor a verdade das suas declarações à "Visão", nem a educação de me responder, apesar de nos conhecermos há muitos anos, muito embora não fôssemos amigos chegados (como jornalista acompanhei o PS durante anos, o que justifica o tratamento por tu). Sócrates não pode, pois, queixar-se de cobardia da minha parte. Nem eu lhe devolverei o insulto.

4. Nada disto abala as minhas convicções de homem livre. Sei bem o que José Sócrates pretende: dramatizar, extremar e colocar-me a mim e ao Expresso na linha de fogo dos inimigos do Governo e do PS. Mas, do mesmo modo que o Expresso nunca se colocou contra ou ao lado de governos, sem nunca abdicar do seu direito de crítica (mesmo quando o seu patrão era o primeiro-ministro), assim eu me mantenho no meu caminho, com bons amigos em todos os quadrantes, incluindo no Governo e no PS, alguns meus familiares.

Nem Sócrates é o país, nem Sócrates é o PS. Quem, como eu, já passou por 17 governos e 10 primeiros-ministros, sem qualquer desmentido ao seu trabalho, passará também de cabeça erguida por este.

Henrique Monteiro - Artigo publicado na edição do Expresso de 27.03.2010

sábado, setembro 13, 2008

Dia do Diploma