(imagem daqui)
José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, (Vila do Conde, 17 de setembro de 1901 - Vila do Conde, 22 de dezembro de 1969) foi um escritor português que viveu grande parte da sua vida na cidade de Portalegre
(de 1928 a 1967). Foi possivelmente o único escritor em língua
portuguesa a dominar com igual mestria todos os géneros literários: poeta, dramaturgo, romancista, novelista, contista, ensaísta, cronista, jornalista, crítico, autor de diário, memorialista, epistológrafo e historiador da literatura, para além de editor e diretor da influente revista literária Presença, desenhador, pintor, e grande colecionador de arte sacra e popular. Foi irmão do poeta, pintor e engenheiro Júlio Maria dos Reis Pereira (que como artista plástico se assinava Júlio e como poeta Saul Dias).
Biografia
Foi em Vila do Conde que José Régio nasceu no seio de uma família da
burguesia provincial, filho de ourives, e aí viveu até acabar o quinto
ano do liceu. Ainda jovem publicou na sua terra-natal os primeiros
poemas nos jornais O Democrático e República. Depois de uma breve e infeliz passagem por um internato do Porto (que serviu de matéria romanesca para Uma gota de sangue), aos dezoito anos foi para Coimbra, onde se licenciou em Filologia Românica (1925) com a tese As Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa. Esta tese na época não teve muito sucesso, uma vez que valorizava poetas quase desconhecidos na altura, como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro; mas, em 1941, foi publicada com o título Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa.
Em 1927, com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões, fundou a revista Presença, que veio a ser publicada, irregularmente, durante treze anos. Esta revista veio a marcar o segundo modernismo português, que teve como principal impulsionador e ideólogo José Régio. Este também escreveu em jornais como Seara Nova, Ler, O Comércio do Porto e o Diário de Notícias. Ainda na área da imprensa, colaborou em diversas publicações periódicas, nomeadamente nas revistas Contemporânea (1915-1926), Altura (1945), Principio (1930) e Sudoeste (1935). Foi neste mesmo ano que José Régio começou a leccionar Português e Francês num liceu no Porto, até 1928, e a partir desse ano em Portalegre,
onde esteve quase quarenta anos. Durante esse tempo, reuniu uma
extensa e preciosa colecção de antiguidades e de arte sacra alentejanas,
que vendeu à Câmara Municipal de Portalegre, com a condição de esta
comprar também o prédio da pensão onde vivera e de a transformar em
casa-museu. Em 1966,
Régio reformou-se e voltou para a sua casa natal, em Vila do Conde,
continuando a escrever. Fumador inveterado, veio a morrer em 1969, vítima de ataque cardíaco. Nunca se casou, mas não era celibatário, como demonstra o seu poema Soneto de Amor.
Como escritor, José Régio é considerado um dos grandes criadores da
moderna literatura portuguesa. Reflectiu em toda a sua obra problemas
relativos ao conflito entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade.
Usando sempre um tom psicologista e misticista, analisando a
problemática da solidão e das relações humanas ao mesmo tempo que levava
a cabo uma dolorosa auto-análise, alicerçou a sua poderosa arte
poética na tríplice vertente do autobiografismo, do individualismo e do
psicologismo. Seguindo os gostos do irmão, Júlio/Saul Dias, expressou
também o seu talento para as artes plásticas ilustrando os seus livros.
Régio teve durante a sua vida uma participação activa na vida pública,
mantendo-se fiel aos seus ideais socialistas, apesar do regime
conservador de então, mas sem condescender igualmente com a arte
panfletária. Recebeu em 1966 o Prémio Diário de Notícias e em 1970 o Prémio Nacional da Poesia. Hoje em dia as suas casas em Vila do Conde e em Portalegre são casas-museu.
in Wikipédia
Sabedoria
Desde que tudo me cansa,
Comecei eu a viver.
Comecei a viver sem esperança...
E venha a morte quando
Deus quiser.
Dantes, ou muito ou pouco,
Sempre esperara:
Às vezes, tanto, que o meu sonho louco
Voava das estrelas à mais rara;
Outras, tão pouco,
Que ninguém mais com tal se conformara.
Hoje, é que nada espero.
Para quê, esperar?
Sei que já nada é meu senão se o não tiver;
Se quero, é só enquanto apenas quero;
Só de longe, e secreto, é que inda posso amar. . .
E venha a morte quando Deus quiser.
Mas, com isto, que têm as estrelas?
Continuam brilhando, altas e belas.
in Poemas de Deus e do Diabo - José Régio
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