Google Doodle de 21.06.2013 - início do verão
Poema da sombra mínima
De um mesmo corpo o Sol projecta sombras
de diferentes tamanhos e contornos.
Quando atinge o seu zénite, o mais alto,
aquele seu mais alto que é possível,
quase não tenho sombra,
quase a busco,
quase não a descubro de acanhada.
Glória ao Sol na alturas!
Ó alegria da sombra mínima!
Eu canto, eu rio, eu sonho, eu estendo os braços,
eu com os dedos afago.
Falam-me as pedras, sorriem-me as paredes
e à beira dos meus passos se desenham
os novelos de luz, os véus, as plumas,
aqueles rolos breves e translúcidos
com que sobem ao céu, nas telas quinhentistas,
os bem-aventurados.
Ó alegria da sombra mínima!
Já não me cansa o que lá vai no tempo.
Já não me cansa o que há-de vir depois.
A sombra existe sempre
mas quando o Sol me banha do seu alto,
ó alegria das alegrias!,
eu canto, eu rio, eu sonho,eu estendo os braços,
eu com os dedos afago.
in Novos Poemas Póstumos (1990) - António Gedeão
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