sábado, outubro 15, 2011

Tejo que levas as águas


Tejo que levas as águas
(Manuel da Fonseca/Adriano Correia de Oliveira)

Tejo que levas as águas 

correndo de par em par 

lava a cidade de mágoas 

leva as mágoas para o mar 




Lava-a de crimes espantos 

de roubos, fomes, terrores, 

lava a cidade de quantos 

do ódio fingem amores 




Leva nas águas as grades 

de aço e silêncio forjadas 

deixa soltar-se a verdade 

das bocas amordaçadas 




Lava bancos e empresas 

dos comedores de dinheiro 

que dos salários de tristeza 

arrecadam lucro inteiro 




Lava palácios vivendas 

casebres bairros da lata 

leva negócios e rendas 

que a uns farta e a outros mata 




Tejo que levas as águas 

correndo de par em par 

lava a cidade de mágoas 

leva as mágoas para o mar 




Lava avenidas de vícios 

vielas de amores venais 

lava albergues e hospícios 

cadeias e hospitais 




Afoga empenhos favores 

vãs glórias, ocas palmas 

leva o poder dos senhores 

que compram corpos e almas 




Leva nas águas as grades 
... 




Das camas de amor comprado 

desata abraços de lodo 

rostos corpos destroçados 

lava-os com sal e iodo


Tejo que levas as águas 

correndo de par em par 

lava a cidade de mágoas 

leva as mágoas para o mar. 



Sem comentários: