Biografia
Após ter terminado o ensino básico, Manuel da Fonseca prosseguiu os seus estudos em
Lisboa. Estudou no Colégio Vasco da Gama,
Liceu Camões, Escola Lusitânia e
Escola de Belas-Artes.
Apesar de não ter sobressaído na área das Belas-Artes, deixou alguns
registos do seu traço, sobretudo nos retratos que fazia de alguns dos
seus companheiros de tertúlias lisboetas como é o caso do de
José Cardoso Pires.
Durante os períodos de interregno escolar, aproveitava para regressar
ao seu Alentejo de origem. Daí que o espaço de eleição dos seus
primeiros textos seja o Alentejo. Só mais tarde e a partir de
Um Anjo no Trapézio é que o espaço das suas obras passa a ser a cidade de Lisboa.
Membro do
Partido Comunista Português (PCP), Manuel da Fonseca fez parte do grupo do
Novo Cancioneiro e é considerado por muitos como um dos melhores escritores do
neo-realismo
português. Nas suas obras, carregadas de intervenção social e
política, relata como poucos a vida dura do Alentejo e dos alentejanos.
Tragédia
Foi para a escola e aprendeu a ler
e as quatro operações, de cor e salteado.
Era um menino triste:
nunca brincou no largo.
Depois, foi para a loja e pôs a uso
aquilo que aprendeu
— vagaroso e sério,
sem um engano,
sem um sorriso.
Depois, o pai morreu
como estava previsto.
E o Senhor António
(tão novinho e já era «o Senhor António»!...)
ficou dono da loja e chefe da família...
Envelheceu, casou, teve meninos,
tudo como quem soma ou faz multiplicação!...
E quando o mais velhinho
já sabia contar, ler, escrever,
o Senhor António deu balanço à vida:
tinha setenta anos, um nome respeitado...
— que mais podia querer?
Por isso,
num meio-dia de Verão,
sentiu-se mal.
Decentemente abriu os braços
e disse: — Vou morrer.
E morreu!, morreu de congestão...
in Planície (1941) - Manuel da Fonseca