Monumento erguido no local do acidente
Antecedentes
Os músicos estavam juntos na turnê "The Winter Dance Party", projetada para cobrir vinte e quatro cidades do
centro-oeste dos Estados Unidos em apenas três semanas, de 23 de janeiro a 15 de fevereiro de 1959. Um dos problemas logísticos era o tempo gasto durante as viagens, pois a distância entre os locais dos concertos não foi considerado quando cada um deles foi agendado. Outro era o
autocarro usado para transportar os músicos, não preparado para enfrentar o
inverno. O seu sistema de aquecimento avariou pouco depois do início da turnê, e como consequência, o
baterista de Holly, Carl Bunch, desenvolveu um caso grave de
congelamento nos
pés, tendo de ser internado num
hospital. Enquanto ele se recuperava, Buddy Holly e Ritchie Valens revezavam-se na
bateria.
O
The Surf Ballroom em
Clear Lake,
Iowa, não estava agendado para ser a próxima parada da turnê, mas seus organizadores, esperando incluir mais datas, entraram em contato com Carroll Anderson, gerente do local, que aceitou a proposta. O show foi marcado para uma
segunda-feira,
2 de fevereiro.
Ao chegar no local, Buddy Holly, frustrado com o autocarro de viagem, disse a seus colegas de banda que, terminado o show, ele tentaria fretar um
avião para alcançar a próxima paragem da turnê, a cidade de
Moorhead, em
Minnesota. Holly também estaria incomodado por não ter mais
camisolas,
meias e
cuecas limpas. Ele precisaria lavar as suas roupas antes do próximo concerto, mas a
lavandaria local estava fechada naquele dia.
Ele conseguiu então combinar um vôo com Roger Peterson, um piloto de 21 anos que trabalhava para a Dwyer Flying Service na cidade vizinha de
Mason City. Uma taxa de 36
dólares por passageiro foi acertada para que Peterson levasse Holly e mais dois acompanhantes até
Fargo no seu
Beechcraft Bonanza, modelo B35, fabricado em 1947.
Uma das vagas foi oferecida a Dion DiMucci, vocalista do grupo
Dion and the Belmonts, mas ele decidiu que não gastaria os 36 dólares da passagem pois aquele era o mesmo valor que seus pais pagavam pelo
aluguer de um
apartamento, e sendo assim ele sentiu que não poderia justificar a extravagância de gastar aquele valor. Os dois assentos ficariam então com Waylon Jennings e Tommy Allsup, músicos que acompanhavam Holly na sua recém-iniciada carreira a solo.
J.P. Richardson, que contraíra
gripe durante a turnê, pediu a Jennings que lhe cedesse o seu lugar no avião. Jennings concordou, e quando Holly ficou sabendo do acordo, brincou: "Bom, espero que esse seu autocarro velho congele". Jennings, também em tom de brincadeira, respondeu: "E eu espero que o seu avião velho caia". Este diálogo perseguiria Jennings pelo resto de sua vida.
Ritchie Valens, que nunca viajara de avião antes, pediu pelo lugar de Tommy Allsup, que respondeu que isso seria decidido em um jogo de
cara ou coroa. Bob Hale,
radialista da KRIB-AM, estava trabalhando no concerto como
DJ naquela noite, e jogou a moeda pouco antes dos músicos partirem para o aeroporto. Valens venceu, ganhando o lugar no avião.
Acidente
O avião descolou por volta de 00.55 (hora local). Pouco depois de 01.00 da manhã, Hubert Dwyer,
piloto comercial e dono da aeronave, observando de uma plataforma do lado de fora da
torre de controle, viu a luz de cauda do avião descer gradualmente até desaparecer de vista.
Peterson havia dito a Dwyer que passaria o seu plano de vôo à torre de controle por
rádio depois da descolagem. Como ele não se comunicou com os controladores, Dwyer pediu que eles tentassem entrar em contato com a aeronave, mas não obtiveram resposta.
Às 03.30 da manhã, quando o Aeroporto Hector em
Fargo,
Dakota do Norte, informou não ter recebido qualquer sinal do Bonanza, Dwyer contactou as autoridades e declarou a aeronave como desaparecida.
Por volta das 09.15 da manhã, Dwyer descolou de outro avião de pequeno porte para seguir a rota planeada por Peterson. Pouco tempo depois, ele visualizou os destroços do Bonanza numa plantação de
milho pertencente a Albert Juhl, situada oito quilómetros a noroeste do aeroporto.
A aeronave estava num ângulo levemente descendente e inclinada para a direita quando atingiu o solo a 270 quilómetros por hora. Ela capotou e derrapou por mais 170 metros na terra congelada, antes de que a massa retorcida do avião batesse contra uma cerca de
arame farpado, nas cercanias da propriedade de Juhl. Os corpos de Holly e Valens caíram próximos do avião, Richardson foi arremessado através da cerca e ficou dentro da plantação de milho do vizinho de Juhl, Oscar Moffett, enquanto Peterson ficou preso na cabine. Carroll Anderson, o gerente do
Surf Ballroom que levara os músicos ao aeroporto da cidade vizinha e presenciara a descolagem do avião, foi o primeiro a identificar as vítimas.
Autópsias posteriores indicaram que todos os quatro morreram instantaneamente com o impacto. O relatório do médico legista detalhou os ferimentos múltiplos sofridos por Holly, demonstrando como morreu na queda:
| O corpo de Charles H. Holley estava vestido em uma jaqueta amarela de material semelhante a couro, com as costuras na parte das costas rasgadas em quase toda sua extensão. O crânio foi partido no meio da testa, com o dano estendendo-se ao cérebro. Aproximadamente metade do tecido cerebral estava ausente. Havia sangue em ambos os ouvidos, e a face mostrava diversos cortes. A consistência do tórax estava mole devido a extensivo esmagamento da estrutura óssea. Ambas as pernas apresentavam fraturas múltiplas. | |
Investigações concluíram que o acidente foi provocado por uma combinação de mau tempo e erro humano. Peterson, operando em
voo por instrumentos, ainda estava sendo testado nesta especialidade, não sendo habilitado para pilotar em condições climáticas não
visuais, que requeriam que operação da aeronave fosse feita apenas por orientação dos instrumentos. O inquérito final da Civil Aeronautics Board observou que Peterson havia sido treinado em aeronaves equipadas com
horizonte artificial, não tendo portanto experiência com o pouco comum
giroscópio indicador de
altitude Sperry F3 utilizado no Bonanza. Para piorar a situação, os dois instrumentos indicavam o eixo de uma aeronave de maneira exatamente oposta ao habitual; isso levou os investigadores a concluírem que Peterson pode ter pensado que estava subindo quando estava, de facto, descendo. Eles também descobriram que o piloto não recebeu os alertas adequados sobre as condições climáticas, o que, dado seus conhecimentos limitados, poderia tê-lo feito adiar o voo.