O escritor e ensaísta
John Maxwell Coetzee disse sobre ele: "Ele, mais do que ninguém, renovou a linguagem de ficção e, assim, abriu o caminho para uma geração notável de romancistas hispano-americanos".
Vida
Jorge Luis Borges nasceu em uma família de classe média com boa educação. A mãe de Borges, Leonor Acevedo Suárez, veio de uma tradicional família
uruguaia. Seu livro de 1929
Cuaderno San Martín incluiu um poema, "Isidoro Acevedo", em homenagem a seu avô materno, Isidoro de Acevedo Laprida, um soldado do exército de
Buenos Aires que era contra o ditador
Juan Manuel de Rosas. Um descendente do advogado e político argentino
Francisco Narciso de Laprida, Acevedo lutou nas batalhas de
Cepeda em 1859,
Pavón em 1861 e
Los Corrales em 1880. Isidoro de Acevedo Laprida morreu de congestão pulmonar na casa onde seu neto Jorge Luis Borges nasceu.
Segundo um estudo de Antonio Andrade, Jorge Luis Borges tem
ascendência portuguesa: o bisavô de Borges, Francisco, teria nascido em Portugal em
1770 e vivido na localidade de
Torre de Moncorvo, situada no
Norte de Portugal, antes de emigrar para a
Argentina, onde teria casado com Cármen Lafinur.
Aos sete anos de idade, Borges já teria revelado ao pai que seria escritor. Aos nove, escreve seu primeiro conto, "La visera fatal", inspirado em um episódio de
Dom Quixote. Em 1914, muda-se, com os pais, para a Europa, morando inicialmente em Genebra, na Suíça, onde conclui seus estudos, e depois na Espanha. Em 1921, retorna a Buenos Aires, onde participa ativamente da efervescente vida cultural da cidade. Em 1923, publica seu primeiro livro de poemas, "Fervor de Buenos Aires". Iniciava-se, assim, uma das mais brilhantes carreiras literárias do século XX. Borges morreu em Genebra por um
câncer de fígado e um
enfisema, onde está sepultado, por opção pessoal.
Borges foi um ávido leitor de
enciclopédias. Em uma memorável palestra sobre
O Livro em
1978, Borges comenta a felicidade em ganhar a enciclopédia alemã
Enzyklopadie Brockhaus, edição de
1966. Lamenta não poder ver as letras góticas nem os mapas e ilustrações, entretanto sente uma relação amistosa com os livros. Sua preferida era a IX edição da
Britânica, como disse em uma das inúmeras entrevistas que deu.
Obra
Sua obra se destaca por abordar temáticas como
filosofia (e seus desdobramentos matemáticos),
metafísica,
mitologia e
teologia, em narrativas fantásticas onde figuram os "delírios do racional" (Bioy Casares), expressos em labirintos lógicos e jogos de espelhos. Ao mesmo tempo, Borges também abordou a cultura dos
Pampas argentinos, em contos como
O morto, "Homem da esquina rosada" e "O sul". Lida com campanhas militares históricas, como a guerra argentina contra os índios durante a presidência, entre outros, do escritor
Domingo Faustino Sarmiento; trata-as, porém, como pano de fundo para criações fictícias, como em
História do Guerreiro e da Cativa. E rende homenagem à literatura pregressa de seu país em contos em que se apropria do mitológico
Martín Fierro: Biografia de Tadeo Isidoro Cruz (
1829-
1874) e "O fim".
Entre seus contos mais conhecidos e comentados podemos citar
A Biblioteca de Babel,
O Jardim de Veredas que se Bifurcam, "
Pierre Menard, autor do Quixote" (para muitos a pedra angular de sua literatura) e
Funes, o Memorioso, todos do livro
Ficções (
1944) - além de "O Zahir", "A escrita do Deus" e
O Aleph (que dá seu nome ao livro de que consta, publicado em
1949). A partir da década de 50, afetado pela progressiva
cegueira, Borges passou a se dedicar a poesia, produzindo obras notáveis como "A cifra" (1981), "Atlas" (um esboço de geografia fantástica,
1984) e "Os conjurados" (
1985), sua última obra. Também produziu prosa ("Outras inquisições", ensaios,
1952; "O livro de areia", contos,
1975), notando-se o claro influxo da cegueira.
A UN POETA MENOR DE LA ANTOLOGÍA
¿Dónde está la memoria de los días
que fueron tuyos en la tierra, y tejieron
dicha y dolor y fueron para ti el universo?
El río numerable de los años
los ha perdido; eres una palabra en un índice.
Dieron a otros gloria interminable los dioses,
inscripciones y exergos y monumentos y puntuales historiadores;
de ti sólo sabemos, oscuro amigo,
que oíste al ruiseñor, una tarde.
Entre los asfódelos de la sombra, tu vana sombra
pensará que los dioses han sido avaros.
Pero los días son una red de triviales miserias,
¿y habrá suerte mejor que la ceniza
de que está hecho el olvido?
Sobre otros arrojaron los dioses
la inexorable luz de la gloria, que mira las entrañas y enumera las grietas,
de la gloria, que acaba por ajar la rosa que venera;
contigo fueron más piadosos, hermano.
En el éxtasis de un atardecer que no será una noche,
oyes la voz del ruiseñor de Teócrito.