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domingo, janeiro 08, 2012

O pai secundário do darwinismo nasceu há 189 anos

Em fevereiro de 1858, durante uma jornada de pesquisa nas ilhas Molucas, Indonésia, Wallace escreveu um ensaio no qual praticamente definia as bases da teoria da evolução e enviou-o a Charles Darwin, com quem mantinha correspondência, pedindo ao colega uma avaliação do mérito de sua teoria, bem como o encaminhamento do manuscrito ao geólogo Charles Lyell.
Darwin, ao se dar conta de que o manuscrito de Wallace apresentava uma teoria praticamente idêntica à sua - aquela em que vinha trabalhando, com grande sigilo, ao longo de vinte anos - escreveu ao amigo Charles Lyell: "Toda a minha originalidade será esmagada". Para evitar que isso acontecesse, Lyell e o botânico Joseph Hooker - também amigo de Darwin e também influente no meio científico - propuseram que os trabalhos fossem apresentados simultaneamente à Linnean Society of London, o mais importante centro de estudos de história natural da Grã-Bretanha, o que aconteceu a 1º de julho de 1858. Em seguida, Darwin decidiu terminar e publicar rapidamente sua teoria: A Origem das Espécies foi publicada logo no ano seguinte.
Wallace foi o primeiro a propor uma "geografia" das espécies animais e, como tal, é considerado um dos precursores da ecologia e da biogeografia e, por vezes, chamado de "Pai da Biogeografia".

quinta-feira, novembro 24, 2011

A 1ª edição d'A Origem das Espécies foi publicada por Darwin há 152 anos

A Origem das Espécies (em inglês: On the Origin of Species), do naturalista britânico Charles Darwin, é um dos livros mais importantes da história da ciência, apresentando a Teoria da Evolução, base de toda biologia moderna. O nome completo da primeira edição (1859) é On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life (Sobre a Origem das Espécies por Meio da Selecção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida). Somente na sexta edição (1872), o título foi abreviado para The Origin of Species (A Origem das Espécies), como é popularmente conhecido.
Nesse livro, Darwin apresenta evidências abundantes da evolução das espécies, mostrando que a diversidade biológica é o resultado de um processo de descendência com modificação, onde os organismos vivos se adaptam gradualmente através da selecção natural e as espécies se ramificam sucessivamente a partir de formas ancestrais, como os galhos de uma grande árvore: a árvore da vida.
A primeira edição, publicada pela editora de John Murray em Londres no dia 24 de novembro de 1859 com tiragem de 1.250 exemplares, esgotou-se no mesmo dia, criando uma controvérsia que ultrapassou o âmbito académico. Um exemplar da primeira edição atinge hoje mais de 50 mil dólares em leilão.
A proposta de Darwin, que as espécies se originam por processos inteiramente naturais, contradiz a crença religiosa na criação divina tal como é apresentada na Bíblia, no livro de Génesis. As discussões que o livro desencadeou se disseminaram rapidamente entre o público, criando o primeiro debate científico internacional da história.

terça-feira, abril 19, 2011

Charles Darwin morreu há 129 anos


Charles Robert Darwin FRS (Shrewsbury, 12 de Fevereiro de 1809Downe, Kent, 19 de Abril de 1882) foi um naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da selecção natural e sexual. Esta teoria se desenvolveu no que é agora considerado o paradigma central para explicação de diversos fenómenos na Biologia. Foi laureado com a medalha Wollaston concedida pela Sociedade Geológica de Londres, em 1859.
Darwin começou a se interessar por história natural na universidade enquanto era estudante de Medicina e, depois, Teologia. A sua viagem de cinco anos a bordo do brigue HMS Beagle e escritos posteriores trouxeram-lhe reconhecimento como geólogo e fama como escritor. Suas observações da natureza levaram-no ao estudo da diversificação das espécies e, em 1838, ao desenvolvimento da teoria da Selecção Natural. Consciente de que outros antes dele tinham sido severamente punidos por sugerir ideias como aquela, ele as confiou apenas a amigos próximos e continuou a sua pesquisa tentando antecipar possíveis objecções. Contudo, a informação de que Alfred Russel Wallace tinha desenvolvido uma ideia similar forçou a publicação conjunta das suas teorias em 1858.
Em seu livro de 1859, "A Origem das Espécies" (do original, em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), ele introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio de selecção natural. Esta se tornou a explicação científica dominante para a diversidade de espécies na natureza. Ele ingressou na Royal Society e continuou a sua pesquisa, escrevendo uma série de livros sobre plantas e animais, incluindo a espécie humana, notavelmente "A descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo" (The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex, 1871) e "A Expressão da Emoção em Homens e Animais" (The Expression of the Emotions in Man and Animals, 1872).
Em reconhecimento à importância do seu trabalho, Darwin foi enterrado na Abadia de Westminster, próximo a Charles Lyell, William Herschel e Isaac Newton. Foi uma das cinco pessoas não ligadas à família real inglesa a ter um funeral de Estado no século XIX.

sábado, fevereiro 12, 2011

Darwin nasceu há 202 anos


Charles Robert Darwin FRS (Shrewsbury, 12 de Fevereiro de 1809Downe, Kent, 19 de Abril de 1882) foi um naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da selecção natural e sexual. Esta teoria se desenvolveu no que é agora considerado o paradigma central para explicação de diversos fenómenos na Biologia. Foi laureado com a medalha Wollaston concedida pela Sociedade Geológica de Londres, em 1859.
Darwin começou a se interessar por história natural na universidade enquanto era estudante de Medicina e, depois, Teologia. A sua viagem de cinco anos a bordo do brigue HMS Beagle e escritos posteriores trouxeram-lhe reconhecimento como geólogo e fama como escritor. Suas observações da natureza levaram-no ao estudo da diversificação das espécies e, em 1838, ao desenvolvimento da teoria da Selecção Natural. Consciente de que outros antes dele tinham sido severamente punidos por sugerir ideias como aquela, ele as confiou apenas a amigos próximos e continuou a sua pesquisa tentando antecipar possíveis objecções. Contudo, a informação de que Alfred Russel Wallace tinha desenvolvido uma ideia similar forçou a publicação conjunta das suas teorias em 1858.
Em seu livro de 1859, "A Origem das Espécies" (do original, em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), ele introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio de selecção natural. Esta se tornou a explicação científica dominante para a diversidade de espécies na natureza. Ele ingressou na Royal Society e continuou a sua pesquisa, escrevendo uma série de livros sobre plantas e animais, incluindo a espécie humana, notavelmente The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex (1871) e "A Expressão da Emoção em Homens e Animais" (The Expression of the Emotions in Man and Animals, 1872).
Em reconhecimento à importância do seu trabalho, Darwin foi enterrado na Abadia de Westminster, próximo de Charles Lyell, William Herschel e Isaac Newton. Foi uma das cinco pessoas não ligadas à família real inglesa a ter um funeral de Estado no século XIX.

terça-feira, maio 11, 2010

Filme sobre a vida de Darwin

Num post anterior, com uma entrevista a um bisneto de Charles Darwin, é referido um filme - Creation. Aqui vos fica o trailer deste filme, parte biográfico, parte ficção, que recomendamos aos nossos leitores:


segunda-feira, maio 10, 2010

Bisneto de Darwin dá entrevista ao Público

Entrevista
A vida privada do homem que reescreveu o Génesis
   


A caixa com a colecção de recordações de Annie


Charles Darwin era o seu tetravô, mas nunca se interessou muito por ele até há uma dúzia de anos, quando foi à procura da vida pessoal do seu antepassado e descobriu histórias extraordinárias ainda por contar. Com a ajuda de uma caixa que guardava os tesouros de uma menina chamada Annie e as cartas e os diários que sobre ela escreveram os seus pais.


Numa vida anterior, Randal Keynes trabalhava para o governo britânico. O seu tio-avô era o economista John Maynard Keynes, que revolucionou o pensamento económico moderno, e o seu avô, Edgar Adrian, tinha ganho o Prémio Nobel da Medicina em 1932. A ciência não o interessava: já havia muitos cientistas na família (o pai e o outro avô também) e não queria passar a vida a ser comparado com eles. Mas o mais famoso de todos era Charles Darwin, o seu tetravô - e, quando Randal Keynes tinha uns 50 anos, o seu encontro com Darwin mudou-lhe a vida. Fez-se escritor e começou a dedicar-se activamente às campanhas de conservação das Galápagos e de classificação da casa de Darwin como património mundial.

Hoje, aos 61 anos, Keynes talvez seja quem conhece Darwin mais de perto, como pessoa e como homem de família, porque teve acesso à sua intimidade através de objectos e documentos únicos, conservados pela sua família ao longo de gerações. A sua procura já deu origem a um livro em 2001 sobre a relação de Darwin com Annie, a sua filha mais velha, morta aos dez anos - que por sua vez inspirou, em 2009, o filme Creation, realizado por Jon Amiel.

Na semana passada, Randal Keynes esteve em Lisboa para a inauguração, no Museu Nacional de História Natural, da exposição Darwin Now,organizada pelo British Council. Pouco antes, falou com o P2 do seu ilustre antepassado. Ficámos com a sensação de que, para além de um cientista excepcional, Darwin era um ser humano excepcional, que teríamos gostado muito de conhecer.

A figura de Charles Darwin foi uma referência constante na sua família, uma figura mítica sempre a pairar por cima das vossas cabeças?

Ele esteve sempre presente na nossa família. Mas eu não me interessei muito por ele - aliás, ninguém me obrigou a fazê-lo. Todos nós imaginávamos, suponho, que tinha sido uma pessoa maravilhosa, mas durante a minha infância nunca se comentou muito em casa os aspectos controversos do seu pensamento.

Percebi pela primeira vez que tinha um antepassado famoso quando uns rapazes fizeram troça de mim na escola - disseram-me que eu descendia de um macaco. Perguntei ao meu irmão por que é que se riam de mim e ele explicou-me.

Qual foi a primeira coisa que soube acerca dele?

As primeiras coisas que soube dele soube-as através da minha avó, neta de Darwin. Fui passar umas férias com ela e ela falou-me das férias que passara em pequena numa certa casa no campo, um sítio maravilhoso onde faziam jogos no jardim. Também me falou da avó, a senhora Darwin.

A minha avó não chegou a conhecer Darwin porque ele já tinha morrido nessa altura, mas foi graças a ela que aprendi a amar a casa onde ele viveu. Só mais tarde é que percebi que essa casa era muito especial, porque o avô dela tinha sido uma pessoa muito famosa e que era o trabalho que tinha lá desenvolvido que fazia dessa casa um sítio tão importante.

Por que é que começou a estudar a vida de Darwin? Pensa que os biógrafos ignoraram algum aspecto importante?

Não, de maneira nenhuma. Até aos meus 50 anos sempre pensei que a história já tinha sido toda contada. Nessa altura, eu estava muito interessado nos edifícios históricos e foi então que a Historical Building Organization, no Reino Unido, tomou conta de Down House [a casa de Darwin, nos arredores de Londres], que tinha permanecido aberta ao público durante muitos anos, mas que estava bastante degradada, com o telhado a precisar de obras, etc.

Uma das coisas que eles queriam era encontrar alguém que pudesse contar aos visitantes como Darwin tinha lá vivido com a sua família. Alguém da família de Darwin que gostasse de casas antigas e também de contar essa história.

A ideia pareceu-me interessante e comecei a reunir informação sobre a casa e a vida de Darwin na casa e sobre o que ele tinha feito. E, à medida que ia vendo como Darwin tinha vivido naquela casa, no seio da sua família, junto da mulher e rodeado dos filhos, descobri que havia lá uma história extraordinária que ainda estava quase toda por contar.

No fundo, toda a gente pensava que Darwin acordava de manhã, saía de casa, trabalhava noutro sítio e ao fim do dia regressava a casa, mantendo assim a sua ciência separada da sua vida quotidiana - como acontece com a maioria das pessoas. Mas o que eu descobri foi que ele tinha feito tudo em casa. E que, ao olhar para a sua vida em família, em sua casa, estava a olhar ao mesmo tempo para a maneira como ele fazia ciência. E descobri que havia certos aspectos da sua ciência que não tinham sido reconhecidos como tais, porque ninguém tinha percebido esta situação muito especial. Achei isto interessante e procurei saber mais.

Darwin era um génio - provavelmente um dos maiores pensadores de todos os tempos. Mas como era ele como ser humano? Era afectuoso ou distante, sociável ou solitário, preocupado com os outros ou egoísta?

Na nossa família a ideia que foi transmitida ao longo das gerações - e que bate certo com tudo o que li nas suas cartas à mulher, aos filhos, a outras pessoas, nas cartas que ele recebeu e também com as reminiscências de todos sobre a vida familiar - era que Darwin estava profundamente ligado à mulher e aos filhos. Amava a sua família e a sua vida em família e não ligava muito às pessoas de fora e ao que elas podiam pensar dele.

A sua primeira lealdade era para com a mulher e os filhos. A segunda, quase em pé de igualdade com a primeira mas não completamente, era para com a ciência. Queria que as suas ideias fossem avaliadas, queria falar delas, mas não estava necessariamente empenhado em que fossem verdade. Queria apenas que valesse a pena discuti-las e que esse diálogo as fizesse progredir.

Para além da sua lealdade à ciência e da sua ligação à família, era tímido e modesto em relação a si próprio e ficava incomodado quando alguém insinuava que era fantástico. Ele não achava. E era tímido com as pessoas: evitava a sociedade londrina, não gostava de ir a jantares nem de ter de fazer discursos. Estava disposto a pôr por escrito as ideias mais chocantes do século - ninguém o pode acusar de cobardia no que respeita às coisas importantes -, mas ser obrigado a pôr-se de pé e falar em público, isso não.

Em todas as fotografias, Darwin tem sempre um ar bastante desagradável e distante. Mas isso é exactamente o oposto de como ele era quando se sentia à vontade com as pessoas. Adorava conversar, adorava ouvir anedotas, ficava sempre satisfeito com uma conversa divertida e era muito amigável e simpático em privado.

Anne (a quem todos chamavam Annie), a filha mais velha de Darwin, morreu quando tinha dez anos. Morreu de quê?

Muito provavelmente de um certo tipo de tuberculose infantil. Não sabemos ao certo, mas todos os sinais que se conhecem da sua doença apontam para isso. Esteve doente durante seis meses. A tuberculose era a sida daquela altura na Grã-Bretanha e em muitos outros países. Atingia os jovens, as crianças, e era uma doença tão aterrorizadora e tão letal que as pessoas se recusavam a falar dela. Se ninguém quis dizer que Annie tinha sem dúvida tuberculose, foi porque isso teria equivalido a uma sentença de morte.

Na introdução do seu livro Annie"s Box: Darwin, His Daughter and Human Evolution (publicado em 2001 e já traduzido para oito línguas, não incluindo o português), escreve que foi por acaso que deu com a caixa onde Annie guardava as coisas que escrevia.

Sim, queria saber mais coisas sobre a vida de Darwin em família e sabia que em casa dos meus pais havia uma cómoda que o meu pai tinha herdado da mãe dele (a neta de Darwin), que por sua vez tinha recebido o conteúdo das gavetas da sua tia Henrietta, a segunda filha de Darwin. Eu sabia que ia encontrar lá fotografias, cartas, livros, recordações de todo o tipo. Portanto, a primeira coisa que fiz foi ir a casa dos meus pais ver o que lá estava. E no fundo de uma das gavetas, encontrei uma pequena caixa, uma escrivaninha. Abri-a e deparei-me com a carga afectiva extraordinária de uma colecção de recordações de Annie. A caixa tinha sido extremamente importante para ela. Tinha sido conservada, a seguir à sua morte, pela sua mãe, Emma, e encontrada pela irmã de Annie só após a morte de Emma. Quando Henrietta a viu, reconheceu a caixa que Annie tinha aos dez anos (ela própria tinha 8) e que nunca mais tinha tornado a ver. A caixa também continha notas de Darwin sobre a doença da filha, uma madeixa do seu cabelo, um mapa do cemitério onde Annie estava sepultada com uma única anotação: "A campa de Annie Darwin."

O facto de encontrar a caixa, de a abrir e de perceber o que era... [visivelmente emocionado]. Devo dizer que o meu coração deu um pulo. E então, comecei a ler coisas sobre ela e, tal como tinha acontecido com Down House, descobri que essa história era muito mais do que a história da perda de uma filha para um pai que a amava profundamente.

Demorei algum tempo em percebê-lo, andei a ler coisas sobre Annie durante vários meses antes de vislumbrar o interesse real da história.

O que leu nessa altura era material que já estava publicado?

Algumas coisas estavam publicadas, mas a maior parte era inédita. Tive a sorte de ter acesso a cartas, a diversos diários. Tinha os caderninhos onde Emma Darwin descrevia o seu dia-a-dia. Também estavam inicialmente na cómoda dos meus pais, mas tinham entretanto sido emprestados para um projecto de investigação, para ajudar a datar as cartas de Darwin.

Nos cadernos de Emma há uma entrada datada do dia em que Annie nasceu: procurei a data e lá estava. E do dia em que Annie morreu. Mas há também pequenas listas de compras - todo o tipo de pequenos pormenores da vida quotidiana. Tive esses cadernos ao pé de mim durante toda a escrita do meu livro. E consegui escrevê-lo com uma sensação de grande proximidade em relação aos pais dessa criança. Foi um incrível privilégio sentir isso.

Documentou a vida de Darwin sobretudo a partir de inéditos, de material que existia na sua família?

Uma grande parte do material já estava publicado. A vida privada de Darwin é provavelmente uma das mais bem documentadas de sempre de uma figura famosa. A maior parte da sua correspondência encontra-se hoje disponível on-line e completamente anotada. Baseei-me muito nesse material. Mas tinha ao mesmo tempo ao meu alcance uma série de coisas, como os diários de Emma Darwin, ou um livrinho feito por Annie, onde ela costumava colar coisas e que era muito especial para ela. E, claro, tinha os escritos de Darwin.

Como era a vida de Darwin em Down House?

Ele era um doente crónico. Sofria de indigestão, tosse, etc. A sua mulher, Emma, cuidava muito dele. E tinha de gerir muito bem as coisas quando tinham visitas com quem ele gostava muito de conversar, porque nessas alturas ficava muito entusiasmado. Emma tinha de lhe lembrar que ficaria doente o resto do dia se não parasse. Ele era como um inválido.

Começou a ter este tipo de problemas pouco depois de casar. Teve alturas boas e alturas más ao longo da vida. Esteve várias vezes para morrer.

Ninguém sabe de que sofria?

Não. Escreveram-se livros inteiros sobre o assunto, mas ninguém sabe ao certo.

Mas parece paradoxal, posto que Darwin tinha feito coisas que muitos seriam incapazes de fazer, como a viagem no Beagle, que durou vários anos.

Pois, na sua juventude tinha sido extremamente enérgico; mas depois qualquer coisa lhe aconteceu - poderá ter sido mental ou talvez tenha apanhado alguma doença. E, a partir daí, ficou incapacitado para o resto da vida.

Seja como for, Darwin fazia muitas coisas ao longo do dia. Não dedicava mais do que três ou quatro horas à ciência. O resto do tempo descansava, passeava no jardim ou nos arredores, fazia experiências no jardim. Tinha de facto uma vida muito agradável.

Quando era novo, Darwin acreditava na interpretação literal da Bíblia - era um criacionista. Quando é que isso mudou?

Foi um processo gradual. Os geólogos já tinham percebido, dez a 20 anos antes de ele se tornar um cientista, que a história da Terra era muitíssimo mais longa do que o que o Livro do Génesis sugeria - e que, portanto, esse livro não podia ser aceite como facto. Muitas pessoas muito respeitáveis já tinham desistido por isso dessa parte do Antigo Testamento. E Darwin concordava com eles.

Mas também começou a questionar a Revelação de Cristo no Novo Testamento - os milagres, etc. Emma, por seu lado, era uma cristã devota - não no sentido de ter certezas sobre a fé, mas simplesmente porque para ela a fé era fundamental. Ela também tinha dúvidas em relação à fé, tal como Darwin, mas acreditava que a fé era a coisa mais importante. Para Darwin, o mais importante era a ciência, os valores da ciência, as verdades científicas, que eram as melhores e as mais claras formas da verdade.

Isso distanciava-os. Isso era doloroso para eles, o facto de saberem que não podiam estar juntos nesse plano. Emma tentou ajudar Darwin a ter fé e ele sabia quão importante isso teria sido para ela, mas não foi capaz.

Estreou-se recentemente um filme fantástico, baseado no meu livro [Creation, de 2009], com Paul Bettany e Jennifer Connelly - e acho que o que é excelente nele é que uma grande parte da história gira em torno da dor gerada por esse problema entre essas duas pessoas, que se amavam profundamente.

A morte de Annie também alterou o pensamento de Darwin em relação à religião?

É uma questão muito difícil. Há quem afirme que a morte de Annie foi o factor que o levou a deixar finalmente de acreditar. Mas não é possível afirmarmos tal coisa. Não sabemos ao certo e os documentos não apontam claramente para isso. O que é claro, pelo contrário, é que Darwin tinha começado a ter sérias dúvidas e preocupações em relação à fé alguns tempos antes da morte de Annie - e que, pouco depois da morte da filha, deixou de ir à igreja com a família. Acompanhava a mulher e os filhos até lá todos os domingos, eles entravam e ele ficava à porta.

Penso que Darwin terá perdido a fé por razões de ordem mais geral e não como reacção de raiva perante a morte da filha, que é uma visão simplista. Há muitas pessoas que perderam os filhos e que consideraram isso um castigo divino. São necessárias mais razões para decidir que Deus não pode existir.

Dito isto, percebi, ao escrever o livro, que o amor de Darwin por Annie, a morte de Annie, a perda de Annie, o luto de Darwin por ela, a aceitação dessa perda, tudo isso lhe permitiu perceber coisas sobre as emoções e os afectos humanos, sobre o desenvolvimento natural do sentido moral humano, que o ajudaram a escrever o seu segundo grande livro, A Origem do Homem e a Selecção Sexual [editado em Portugal pela Relógio d"Água]. A morte de Annie fê-lo perceber a força dos afectos e até que ponto eles vão para além da razão. E também como são essenciais para a natureza humana as ligações afectivas entre cônjuges, entre pais e filhos.

Foi por isso que dei ao meu livro o título Annie"s Box: Darwin, his Daughter and Human Evolution. Se Darwin conseguiu perceber essa parte da evolução natural da natureza humana, foi em parte com base na sua experiência directa com a sua filha.

Seja como for, deixou de acreditar em Deus.

Sim, mas ele diria mais tarde que não era ateu, que só podia dizer que era agnóstico. Não tinha a certeza e não conseguia decidir. Teria gostado de acreditar em Deus, mas não conseguia convencer-se da sua existência.

Darwin acreditava no eugenismo, como o seu primo Francis Galton, pioneiro dessas ideias?

As ideias de Darwin forneceram a Galton as bases para a sua teoria do eugenismo. Mas se lhe tivessem pedido a sua opinião, Darwin teria dito imediatamente, tal como escreveu aliás, que os seres humanos nunca serão capazes de decidir o que fazer para realmente melhorar a espécie humana. Claro que é possível melhorar uma espécie. Mas para Darwin os humanos não têm a visão de conjunto que a natureza tem para o fazer. O critério de sucesso adoptado pela natureza é o de sobreviver para se reproduzir e, se adoptarmos esse critério, obtemos a selecção das espécies que existem hoje. Os humanos, por seu lado, apenas conseguem fazer coisas absurdas, tal como alterar um elemento do aspecto de uma espécie ou uma característica de um animal, como o peso, por exemplo. Darwin, que abordou brevemente esta questão, pensava que a selecção artificial feita pelos humanos é bastante ridícula.

Porquê? Porque produz aberrações?

Porque as criaturas assim geradas não conseguem viver. No âmbito das suas pesquisas, ele tinha feito criação de pombos ornamentais. E constatou que o pombo que os criadores de pombos mais admiravam não conseguia alimentar as suas crias, porque tinha o bico demasiado curto. Durante as primeiras semanas de vida, as crias tinham de ser alimentadas... por um ser humano, o que teria sido impraticável em condições naturais.

Por outro lado, Darwin achava inaceitável excluir as pessoas que não eram vigorosas nem bem sucedidas - uma questão que aborda no seu segundo livro.

Nós olhamos pelas pessoas de constituição frágil, pelos fracos, pelos doentes, os deficientes, etc. Mas se a sobrevivência dos mais aptos fosse necessária, não deveríamos pelo contrário deixar essas pessoas morrer, impedi-las de se reproduzirem? Darwin responde que isso violaria um princípio da moral humana que deve prevalecer acima de tudo, porque é extremamente importante para nós. Essa era a sua resposta ao eugenismo.

O que acha que Darwin diria, se voltasse hoje e visse os avanços que têm sido feitos nas áreas da genética e da biologia molecular?

Tenho a certeza que ficaria extremamente entusiasmado! Se ele tivesse sabido o que Gregor Mendel [seu contemporâneo, considerado o pai das leis da genética] tinha demonstrado sobre a hereditariedade genética, teria dito imediatamente que aí estava a resposta ao principal problema que as pessoas colocavam à sua teoria da evolução. E com o que a biologia molecular nos revelou a seguir sobre o ADN e a ancestralidade profunda... [ri-se] Tudo isso teria sido realmente fantástico para ele.

Se Darwin não tivesse existido, teríamos descoberto a sua teoria através da leitura do genoma. O que Darwin tem de extraordinário é que ele descobriu e percebeu o que se passava antes da descoberta do livro da vida do ADN. Descobriu-o sem sequer perceber como funcionavam as leis da hereditariedade. Acho que, no seu íntimo, sabia distinguir uma boa explicação científica de uma má e usou essa intuição para decidir que certas coisas faziam parte da explicação.

Está a escrever outro livro?

Estou a trabalhar num livro sobre o jardim de Darwin. É sobre a ciência que ele fazia no seu jardim e no campo à volta da sua casa.Retrato de Charles Darwin em Down House, nos arredores de Londres (em baixo, a sala de estar). Foi nesta casa que o naturalista viveu e trabalhou durante 40 anos.

in Público - ler notícia

quinta-feira, janeiro 28, 2010

A vida de Charles Darwin em filme...!

Já estreou nos Estados Unidos o muito aguardado filme "Criação" sobre a vida de Charles Darwin.



From director Jon Amiel (The Singing Detective, Entrapment) and writer John Collee (Master and Commander: The Far Side of the World) comes CREATION. A psychological, heart-wrenching love story starring Paul Bettany (A Beautiful Mind, Master and Commander: The Far Side of the World) as Charles Darwin, the film is based on “Annie’s Box,” a biography penned by Darwin’s great-great-grandson Randal Keynes using personal letters and diaries of the Darwin family. We take a unique and inside look at Darwin, his family and his love for his deeply religious wife, played by Jennifer Connelly (A Beautiful Mind, Requiem for a Dream), as, torn between faith and science, Darwin struggles to finish his legendary book “On the Origin of Species,” which goes on to become the foundation for evolutionary biology. The film co-stars Toby Jones (Frost/Nixon, Infamous) and Jeremy Northam (Gosford Park, Amistad), and was produced by Jeremy Thomas (The Last Emperor, Sexy Beast) at Recorded Picture Company with BBC Films and Ocean Pictures.

terça-feira, novembro 24, 2009

Tertúlia SCT - III

DARWIN CANTADO NA RUA




Philadelphia street performer Brett Keyser brings evolution to the people

O livro A Origem das Espécies foi publicado há 150 anos




A Origem das Espécies, do naturalista britânico Charles Darwin, é um dos livros mais importantes da história da ciência, apresentando a Teoria da Evolução, base de toda biologia moderna. O nome completo da primeira edição (1859) é On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life (Sobre a Origem das Espécies por Meio da Selecção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida). Somente na sexta edição (1872), o título foi abreviado para The Origin of Species (A Origem das Espécies), como é popularmente conhecido.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Palestras em Lisboa

O NUCLIO - Núcleo Interactivo de Astronomia, em parceria com o Planetário Calouste de Gulbenkian e o Instituto Geográfico do Exército (IGeoE), promove um ciclo de palestras sobre temas que vão de encontro à celebração em 2009 do "Ano Internacional da Astronomia" e dos 150 anos da publicação da "Origem das Espécies" por Darwin. Estas palestras inserem-se no programa de Verão da Ciência Viva.

As sessões têm início às 21.30 horas e decorrem nos auditórios do IGeoE e do Planetário Calouste Gulbenkian. Indicações sobre a localização e como chegar aos locais podem ser encontradas nas seguintes páginas da Internet: IGeoE e Planetário.

Aqui ficam as duas últimas palestras, que se realizam hoje e amanhã:


11 de Setembro(IGeoE)

"Viagem - oportunidade"

Paulo Gama Mota

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, Dep. Antropologia

Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade de Coimbra

O Beagle ia fazer uma viagem importante para definir distâncias geográficas e para completar e pormenorizar a cartografia da costa da América do Sul. Era importante para os ingleses. Queriam ainda confirmar uns quantos pontos e resolver alguma incerteza de registos com valores diferentes. A cartografia era o elemento essencial da viagem.

Darwin participa como naturalista para fazer companhia ao comandante e para se aproveitar a viagem para recolher exemplares de fauna e flora de locais inexplorados.

E de repente temos uma revolução científica.



12 de Setembro (Planetário)

" Vida no universo: uma inevitabilidade cósmica?"


Francisco Carrapiço


Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, Departamento de Biologia Vegetal, Centro de Biologia Ambiental


Estamos sós no universo? A busca insistente duma resposta para esta pergunta tem inquietado o homem desde os primórdios da humanidade. Ao contemplar o firmamento numa noite sem nuvens, o homem inevitavelmente sentiu que estava perante algo que o transcendia e que obrigatoriamente tinha uma componente divina. O nosso conhecimento e mentalidade evoluíram, mas o fascínio pelo desconhecido continua bem vivo quando continuamos a olhar para o céu numa noite estrelada. Onde anteriormente víamos deuses e deusas, hoje vemos galáxias, estrelas e planetas, mas continuamos sem uma resposta coerente para a ancestral questão da existência ou não de vida no universo. Será, de facto, a Terra o único corpo celeste a conter organismos vivos no universo? A visão antropocêntrica da vida no cosmos tem sido expressa em numerosos ritos sociais e religiosos que estabelecem a ligação estreita entre o Homem e o seu eventual criador divino. Todos os livros sagrados das principais religiões que existiram e existem, defenderam ou defendem esse primado. O homem e a mulher, bem como todos os outros organismos vivos do nosso planeta seriam os únicos seres que habitariam o cosmos. Mas será de facto assim? A resposta pode ser encontrada através da investigação efectuada e em curso no domínio da Astrobiologia. Estes estudos deverão ser considerados como elementos reguladores da nossa própria dimensão no universo, com as inevitáveis consequências na maneira como o Homem se posiciona no complexo sistema cosmológico de que faz parte e naturalmente na relação que estabelece com o nosso planeta.

domingo, julho 05, 2009

Ciência na Rua 09 - Evento Científico-Cultural nas ruas de Estremoz


Artes e Ciências unidas em Estremoz, em torno do tema "Evolução"

11 e 12 de Julho de 2009

Passados 200 anos do nascimento de Darwin e 150 anos de Darwin ter escrito "A origem das espécies", matemáticos, químicos, físicos, geólogos e biólogos juntam-se a 9 companhias artísticas, nacionais e estrangeiras, criando e interpretando, à sua maneira, algumas das etapas mais significativas da Evolução da Vida no Nosso Planeta.

(clicar para aumentar)

A Teoria da Evolução, sem dúvida, faz já parte do nosso imaginário. No entanto, muitos de nós desconhecemos alguns dos princípios básicos que lhe estão associados.

O Centro Ciência Viva de Estremoz em colaboração com a Câmara Municipal de Estremoz, propõem-se reviver algumas das principais etapas da evolução da Vida no nosso Planeta. A ideia base da Ciência na Rua 2009 consiste na recriação, durante duas noites consecutivas, de 7 grandes etapas evolutivas que serão levadas a efeito em 7 locais públicos da cidade de Estremoz. Nestas recriações, o teatro, a música e a dança serão formas de expressão privilegiadas.

Associado a cada momento haverá um "quiosque da ciência" onde experiências, ao dispor do visitante, permitem que este se aperceba da explicação científica do fenómeno.



sábado, março 14, 2009

Evolução em 3 tempos


Informação recebida da SetePés sobre exposição e conferências darwinianas:

No âmbito da exposição DARWIN200, patente no CMIA - Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental de Viana do Castelo - de 2 de Março a 18 de Abril, é lançado o Ciclo de Conferências EVOLUÇÃO EM 3 TEMPOS.

3 conferências, 3 tempos para a redescoberta dos mecanismo de evolução.

Programa:

14 de Março, 15h, Quando os domesticadores foram domesticados: 10 mil anos de história em comum entre o Homem e os animais domésticos. Albano Beja-Pereira, CIBIO - Univ. do Porto

21 de Março, 15h. Darwin e Evolução. Jorge Paiva

28 de Março, 15h, Darwin na ciência e na cultura: os primeiros 50 anos em Portugal. Ana Leonor Pereira, CEIS20 - Univ. de Coimbra

A acompanhar a Exposição DARWIN200 foi editado, em exclusivo para o CMIA, um catálogo com textos e ilustrações científicas de autores portugueses.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Notícia no Público sobre Darwin - II

A exposição da Gulbenkian

Micos, escorregas e os olhos azuis de Charles Gulbenkian
12.02.2009 - 07h30 Nicolau Ferreira

A exposição segue a vida de Darwin

Num dos momentos mais injustos da sua vida, Charles Darwin foi retratado numa caricatura pitoresca como um homem-macaco cheio de barbas brancas. Mas na recta final da exposição A Evolução de Darwin que é hoje, às 19.00 horas, inaugurada na Gulbenkian, em Lisboa, nem nos lembramos do sentimento de raiva com que grande parte da sociedade do final do século XIX recebeu a "notícia" de Darwin de que o chimpanzé e o homem tinham tido um antepassado comum.

É o "I think" escrito por Darwin no primeiro caderno em que começa a descrever a teoria da evolução que continua a vibrar depois de sairmos da exposição: o seu pensamento arrojado, ao mesmo tempo humilde, mas com uma solidez que ainda hoje nos permite redescobrir o significado da vida à luz da evolução.

Na última sala da exposição com a árvore da evolução humana, vemos a nossa história integrada na história de um planeta. Os fósseis de crânios dispostos numa longa cronologia com milhões de anos desembocam em nós, Homo sapiens, e confrontam-se (e confrontam-nos) com um painel enorme que mostra a evolução da Terra. Dois séculos depois do seu nascimento, a consciência de sermos um pormenor na evolução da vida terrestre é um dos maiores legados deixados por Darwin, e conforta-nos sairmos da exposição com os olhos já velhos do cientista a proteger-nos as costas.

A origem da exposição

Há 200 anos, a 12 de Fevereiro de 1809, quando Charles Darwin nasceu em Inglaterra, já se discutia a origem das espécies. Por isso, quando o jovem Darwin de 18 anos nos aparece na exposição como se estivesse vivo – cabelo loiro, pele branca, patilhas até às queixadas, mala a tiracolo onde uma ave está presa e com os seus olhos azuis a olharem intensamente para um escaravelho que passeia pela sua mão esquerda –, já o espectador está embrenhado no contexto em que a imutabilidade das espécies criadas por Deus começa a ser posta em causa. Ficaram para trás Lineu, que em 1735 agrupou o mundo natural em três reinos atribuindo essa organização a um plano de Deus, e Jean-Baptiste de Lamarck, que no início do século XIX formulou a primeira teoria sobre a evolução.

A exposição da Gulbenkian inspirou-se na que o Museu de História Natural de Nova Iorque fez em 2006, intitulada Darwin, tendo mesmo a fundação comprado dois módulos dessa exposição e utilizado parte do conhecimento científico produzido pelos norte-americanos. Mas a versão portuguesa não se limita a uma biografia do Darwin, porque mostra o contexto histórico onde as ideias apareceram e faz uma ponte para o que se conhece hoje.

O Jardim Zoológico de Lisboa ajudou a trazer para a exposição a natureza observada por Darwin durante a sua famosa viagem de barco. E isto não é uma metáfora, há animais vivos nas salas de exposição da Gulbenkian, tal como havia em Nova Iorque. "Trouxemos a natureza para a Gulbenkian. Acho que era isto que Darwin queria que fizéssemos", disse ao P2 José Feijó, comissário da exposição, professor na Faculdade Ciências da Universidade de Lisboa e chefe de um grupo de investigação em desenvolvimento de plantas no Instituto Gulbenkian de Ciência.

Quando visitámos a exposição, os animais do zoo ainda não tinham chegado à Gulbenkian, mas Feijó prometeu que veríamos micos-dourados, uma boa constritora, piranhas, papagaios, uma família de suricatas, iguanas e tartarugas. "Uma das coisas que atraíam mais as pessoas na exposição americana eram os animais vivos", contou Feijó. E não é só por show-off, disse o comissário, mas porque "Darwin foi um amante e um observador da natureza" e queremos dizer, neste espaço museológico, que "a natureza é a obra de arte". Da exposição americana vêm réplicas de emas, de tartarugas do arquipélago das Galápagos ou o fóssil de um Gliptodonte (uma versão gigante do tatu moderno) – tudo exemplos do que Darwin teve oportunidade de observar durante a sua expedição pelo mundo fora.

Diário original

O navio Beagle saiu do porto de Plymouth em Inglaterra a 27 de Dezembro de 1831 e foi o lar de Darwin durante uma viagem de cinco anos. Na exposição, a viagem começa com o primeiro diário de bordo do naturalista. É mesmo o diário original e Feijó disse que foi uma sorte enorme ter conseguido o empréstimo neste ano de todas as comemorações – além do bicentenário do nascimento faz 150 anos que o livro A Origem das Espécies (edição D. Quixote) foi publicado pela primeira vez. Para Portugal, o interesse do primeiro diário é duplo, porque Darwin tinha chegado à ilha de Santiago, em Cabo Verde, o primeiro local visitado pelo cientista na sua viagem e que na altura era território português. "Ninguém deve ter reparado que era o primeiro diário do Darwin, nem que era o original", brincou José Feijó, sublinhando a importância de a exposição mostrar o documento manuscrito.

Um mapa enorme apresenta o percurso do Beagle, cujo objectivo principal durante a viagem era cartografar a costa. Mas foi em terra que Darwin fez a maioria das observações essenciais para desenvolver a Teoria da Evolução e Selecção Natural e onde capturou milhares de espécies de plantas e animais que ia enviando para Inglaterra, produzindo uma grande colecção.

O Beagle voltou a Inglaterra em 1836. Darwin ficou por Londres durante um ano, onde se casou. No caderno B, iniciado em 1837, começou a desenvolver a teoria da transmutação, que marcou o início de uma nova fase que durou 20 anos e culminou na publicação em 1859 do livro em que formulou a teoria da evolução e com a qual revolucionou o pensamento científico do século XIX. Afinal, as espécies descendem uma das outras, a variabilidade que uma população apresenta e a selecção do meio ambiente permitem às populações evoluírem, tornando-as mais adaptadas. Noutros casos, não conseguem manter-se adaptadas e desaparecem. É aqui que aparece o "I think", "eu acho" ou "eu penso que", escrito pelo naturalista por cima da primeira árvore evolutiva desenhada no caderno B. Posteriormente, Darwin vai dizer que falar sobre a teoria da evolução "era como se estivesse a confessar um crime", mas 200 anos mais tarde, no escritório de Darwin da Gulbenkian, entre laboratórios de orquídeas e insectos, a grande ideia do naturalista parece a coisa mais natural do mundo.

"Darwin ao descrever o mecanismo da selecção natural e ao descrever a origem das espécies, pela sua sequência narrativa, da forma como é escrita, fez com que desde cientistas até homens do povo que leram o livro achassem que isto é uma explicação tão pungente que provavelmente é assim", afirmou o comissário. Em 1871, 11 anos antes de morrer, Darwin ainda teve tempo de lançar mais uma bomba com o seu livro The Descent of Man, onde aplica a teoria da evolução à história do Homem.

Três toneladas de ADN

O naturalista inglês fica para trás à medida que atravessamos a ponte para o século XX, para a hereditariedade, para a síntese da teoria evolutiva e para a dupla hélice de ADN. A descoberta do código genético e a biologia molecular "só tem validado tudo o que já se pensava sobre a evolução", assegurou José Feijó.

No meio da penúltima sala da exposição está uma molécula de ADN gigante que sobe até ao tecto e pesa três toneladas. O visitante pode trepar escada acima e descer num escorrega de ARN. "A exposição americana era kid unfriendly, não tinha praticamente pontos interactivos. Tivemos a preocupação que não houvesse nenhum módulo sem um ponto interactivo", explicou José Feijó. Quem sai do escorrega ainda vai a tempo de escrever uma carta a Darwin, como o próprio comissário o fez.

No final, há um vídeo com David Attenborough sobre Darwin. "O objectivo da exposição é contar a história da biologia. Darwin é utilizado como charneira que nos leva à ciência do século XXI", referiu Feijó.

A exposição foi montada para se instalar definitivamente no Museu de História Natural, mas posteriormente, por uma questão de fundos, foi a Câmara de Oeiras que a comprou. Durante os próximos dois anos A Evolução de Darwin vai andar em "digressão" e só volta em 2011.

Na Gulbenkian, pode revisitar-se a vida de Darwin até 24 de Maio.

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Notícia no Público sobre Darwin

Livro defende que horror à escravatura foi o motor da investigação de Darwin
A longa viagem de Darwin para provar que os humanos são todos da mesma espécie
12.02.2009 - 07h30 Clara Barata


A evolução do Homem na exposição da Gulbenkian

Foi já no fim da sua viagem marítima de cinco anos à volta do mundo, no navio da Real Marinha Britânica HMS Beagle, que Charles Darwin ouviu um grito que não deixou de ouvir toda a vida. Foi na zona de Pernambuco, no Brasil. "Ouvi os gemidos mais inspiradores de pena, e só posso suspeitar que algum pobre escravo estivesse a ser torturado", relata no seu Journal, o diário de viagem a bordo do Beagle.

Se Darwin não viu o que se passou dessa vez, tinha já visto muitos exemplos da forma como os escravos eram tratados no Brasil. "Perto do Rio de Janeiro vivi frente a uma velha senhora que tinha um instrumento para esmagar os dedos das suas escravas. E fiquei numa casa onde um jovem mulato era insultado, espancado e perseguido todos os dias e todas as horas. Era o suficiente para quebrar o espírito até do animal mais baixo", escreveu no mesmo livro. "Agradeço a Deus por nunca mais ter de visitar um país esclavagista", concluía.

Darwin, antiesclavagista? Não é essa a história que costumamos ouvir contar sobre o homem que desenvolveu a teoria da evolução das espécies através da selecção natural. Mas esse é o foco de um novo livro lançado no Reino Unido, poucos dias antes de se comemorar, hoje, o nascimento de Charles Darwin – 12 de Fevereiro de 1809, o mesmo dia em que nasceu Abraham Lincoln, o Presidente dos Estados Unidos ligado à luta pela abolição da escravatura.

Darwin's Sacred Cause – Race, Slavery and the Quest of Human Origins (em tradução literal, A Causa Sagrada de Darwin – Raça, Escravatura e a Busca das Origens Humanas) foi escrito por Adrian Desmond e James Moore, também autores de uma biografia de Charles Darwin. Desta vez analisam o meio cultural e familiar do homem que se tornou um herói da ciência.

A escola americana

Quando Darwin publicou o livro que o transformou num ícone da ciência moderna – Sobre a Origem das Espécies através da Selecção Natural (tradução literal da obra publicada em Portugal pela D. Quixote com o título A Origem das Espécies) –, propondo um mecanismo natural como o motor da evolução, em 1858, discutia-se se os seres humanos seriam apenas uma espécie única, em todo o mundo, ou se negros, asiáticos e demais tipos humanos eram espécies separadas. A visão de um mundo em que cada espécie foi criada autonomamente, no local onde se encontra hoje, estava a vingar nos Estados Unidos – e favorecia a política esclavagista, que em breve viria a desencadear a Guerra Civil Americana (1861-1865).

Se negros e brancos fossem de facto espécies separadas, e não apenas diferentes raças, poder-se-ia justificar a visão do mundo dos supremacistas brancos, como os proprietários de plantações no Sul dos Estados Unidos. O homem branco era visto como o pináculo da criação. E os negros como criaturas inferiores, naturalmente destinados a servirem o homem branco. A ciência em que se baseavam estas ideias partia de coisas como o estudo de crânios – para analisar as suas mossas, que revelariam a dimensão dos vários órgãos do cérebro, como o da justiça ou da consciência – e o tamanho dos cérebros.

Havia algumas gradações nesta escola antropológica americana. Samuel Morton, que era apenas uma década mais velho que Darwin e tinha passado pela Universidade de Edimburgo, tal como o autor da teoria da evolução, era o expoente da abordagem positivista: não deixava que Deus entrasse nos seus estudos de crânios, cuja capacidade mediu, enchendo-os primeiro com sementes de mostarda e depois com bolinhas de chumbo. Mas introduziu uma série de desvios estatísticos que distorcia as suas obras monumentais, como Crania Americana, relatava o historiador da ciência e biólogo Stephen Jay Gould no livro A Falsa Medida do Homem (Quasi Edições).

Outros, como o suíço Louis Agassiz, radicado nos Estados Unidos e professor na Universidade de Harvard, introduziam uma dimensão mística no estudo das raças e espécies. Agassiz, que aliás muito irritava Darwin, garantem Desmond e Moore – um dos capítulos do livro chama-se Oh for shame Agassiz, pegando num comentário escrevinhado por Darwin –, acreditava que a vida na Terra tinha sido recriada muitas vezes, depois de cataclismos cíclicos. Mas não tolerava a ideia de que as espécies se fossem transformando, evoluindo e espalhando pelo mundo. "Embora tivesse havido uma sucessão de tipos 'mais elevados', dos peixes aos humanos, explicava-os como a revelação dos pensamentos de Deus – não havia ligações materiais ou evolutivas entre um fóssil e outro, relacionavam-se apenas através da Mente Divina, que criava miraculosamente cada nova espécie", escrevem Desmond e Moore.

Homens e irmãos

Darwin, entre o seu regresso da viagem do Beagle, em 1836 (tinha apenas 22 anos quando ela começou), e o casamento com a prima Emma Wedgwood, em 1839, encheu muitos caderninhos de notas sobre a sua convicção cada vez maior de que as espécies "se transmutavam" – mudavam, ao longo dos tempos, transformando-se noutras, espalhando-se pelo mundo. Em apontamentos telegráficos reflectia sobre os possíveis mecanismos para explicar que as espécies não eram fixas, imutáveis.

Esta ideia da "transmutação" das espécies já andava a germinar na cultura europeia há décadas, embora sem que ninguém tivesse proposto um mecanismo convincente. Mas não era propriamente senso comum, e Darwin manteve-se calado, reflectindo, fazendo experiências – construindo a sua reputação, e sofrendo com o fervilhar de ideias que tinha dentro de si. Porque ele, que acreditava na unidade da espécie humana, apesar de todas as suas variações, tinha uma ideia herética: acreditava na unidade de todas as espécies, que foram evoluindo e transformando-se a partir de um antepassado comum.

Esta crença na unidade da espécie humana era sustentada pela sua vivência familiar, entre as famílias Darwin e Wedgwood, que se casaram várias vezes entre si. Ambas eram activistas na luta pela abolição do comércio de escravos, primeiro, e depois pela abolição da escravatura. Os Wedgwood, fabricantes de louça, criaram um medalhão que se tornou o símbolo dessa luta – um negro de joelhos e com correntes, com a inscrição "Não serei eu um homem e vosso irmão".

Na sua viagem de cinco anos no Beagle, Darwin contactou muitas vezes com escravos, negros e mulatos. Destes últimos duvidava-se que pudessem até ter filhos, como as mulas, que resultam do cruzamento de espécies diferentes, de cavalos e burros. Mas a ele não lhe faziam confusão nenhuma. "Nunca vi ninguém tão inteligente como os negros, especialmente as crianças negras ou mulatas", escreveu depois de chegar à Praia, em Cabo Verde, a primeira paragem da viagem do Beagle, iniciada a 27 Dezembro de 1831.

E também viu muitos índios sul-americanos, representantes das tribos de aparência primitiva com que os europeus da época se confrontaram, muitas vezes em encontros inéditos – foi o momento em que os exploradores europeus começaram a chegar mesmo a todos os cantos da Terra.

Pombos e sementes

O caminho pelo qual chegou à prova de que as espécies podem de facto espalhar-se pelo mundo e mudar, ao longo dessa viagem, acabou por incluir pombos e sementes postas a marinar em água salgada.

Para estas experiências, durante a década de 1850, conseguiu mobilizar a sua enorme rede de correspondentes em todo o mundo, e também o apoio da estrutura consular e comercial do Império Britânico – aquele onde o Sol nunca se chegava a pôr, de tal forma era grande. Mandavam-lhe sementes e peles de ossos de pombo, de variedades locais, para ele estudar. E foi a irritação que as ideias de Agassiz lhe despertavam que o levou a lançar-se nesta aventura, defendem Desmond e Moore.

O que lhe interessava era mostrar que as espécies se modificam – e podem ser modificadas pela acção do homem, que pode simplesmente gostar de pombos com a cauda mais larga ou o bico mais curto, sem que crie espécies novas. E provar que as espécies animais e vegetais podiam viajar pelo mundo, adaptando-se localmente. Para tal, demonstrou que a água salgada não matava as sementes, como toda a gente admitia (sem provas experimentais), e que portanto podiam fazer longas viagens por mar e germinar numa nova terra.

Com estas experiências, Darwin demonstrou os mecanismos da transmutação das espécies – a evolução através da selecção natural. E também de um outro factor, o da selecção sexual: as fêmeas preferem certas características nos machos, que podem não ter valor evolutivo, mas são passadas à geração seguinte. O mesmo mecanismo pode explicar que existam homens negros e brancos, se cada cor preferir ter como parceiro sexual alguém com a mesma tonalidade de pele.

Da origem e dispersão das espécies Darwin colheu uma farpa que apontou ao coração do racismo, que ganhava expressão durante a década de 1850, nos Estados Unidos mas não só. Só que, em 1858, Darwin tinha pressa de publicar – por causa da carta que recebeu de Alfred Russel Wallace, um jovem naturalista que estava na Indonésia e que lhe enviou as suas reflexões sobre a origem e transformação das espécies que tanto se assemelhavam à sua própria teoria, desenvolvida ao longo de duas décadas. Por isso, acabou por deixar a evolução humana de fora de A Origem das Espécies.

Entendia-se que nessa obra ele colocava a humanidade em pé de igualdade com os outros animais. Mas Darwin sentia que precisava de mais provas, de ser verdadeiramente esmagador, para falar sobre a evolução humana, num momento em que a campanha dos que viam os negros como uma espécie separada era tão forte, e em que a ameaça de guerra nos EUA estava a agigantar-se.

Cartas e outros escritos mostram que Darwin tinha esperança que Charles Lyell, o seu mentor científico, o ajudasse, falando da evolução humana no livro que estava a preparar sobre o tema. Mas Lyell tinha dificuldade em aceitar que o homem branco fosse retirado do pináculo da evolução e até algumas simpatias pelos plantadores do Sul dos EUA (embora não propriamente pela escravatura), e não conseguia dar esse passo.

Só anos mais tarde, em 1871, já depois de ter terminado a guerra nos EUA, Darwin ganhou coragem para publicar o livro em que fala mesmo sobre a evolução humana – A Ascendência do Homem, e Selecção relativamente ao Sexo (não disponível em edição portuguesa). Nele expõe então a sua teoria da selecção sexual, para explicar as diferenças que criam as raças.

in Público - ler notícia

Um bolo para Darwin


Alunos do 1º ano da escola Vasco Martins Rebolo, da Amadora, cantam os parabéns a Charles Darwin. A iniciativa, promovida pelo Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, quis marcar o bicentenário do nascimento do naturalista com uma prenda muito especial: um bolo inglês segundo a receita de Emma Darwin, sua mulher...

Fotografia: Daniel Rocha

in Público on-line - sem link

O aniversário de Darwin no Blog "Ciência ao Natural"

Parabéns, pá!



Soltas, no meio da miríade de acções comemorativas:




Imagens - daqui, daqui


E não falhem a música de Darwin!


in Blog Ciência Ao Natural - post de Luís Azevedo Rodrigues

Soneto de Antero alusivo à data

O naturalista Charles Darwin

Evolução


Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paul, glauco pascigo...

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.

Antero de Quental