segunda-feira, janeiro 15, 2024

Porque um Poeta não morre enquanto é lido e recordado...


 

 

Caminheiro

     
Sinto é um medo, um medo insuperável
Defronte das alturas misteriosas.
E dizer que me agradam andorinhas
No céu e do campanário o alto voo!
Caminheiro de outrora, cá me iludo
Pensando ouvir à borda do abismo
A pedra a ceder, a bola de neve,
O relógio batendo eternidade.
Se assim fosse! Mas não sou o peregrino
Que vem dos fólios antigos desbotados,
E o que em mim real canta é esta angústia:
Certo – desce uma avalancha das montanhas!
E toda a minha alma está nos sinos,
Só que a música não salva dos abismos!

  


Osip Mandelstam

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