Damião de Góis - desenho de Dürer, Galeria Albertina, Viena
Damião de Góis (Alenquer, 2 de fevereiro de 1502 - Alenquer, 30 de janeiro de 1574) foi um historiador e humanista português, relevante personalidade do renascimento em Portugal. De mente enciclopédica, foi um dos espíritos mais críticos da sua época, verdadeiro traço de união entre Portugal e a Europa culta do século XVI.
Biografia
De família nobre, Damião de Góis era filho do almoxarife Rui Dias de Góis, valido do Duque de Aveiro, e da sua quarta esposa, Isabel Gomes de Limi, descendente de Nicolau de Limi, fidalgo flamengo que se estabeleceu em Portugal.
Devido à morte do seu pai, a formação de Damião de Góis foi feita na corte de D. Manuel I, a qual integrou aos nove anos, como moço de câmara, e onde passou 10 anos contactando com figuras como Cataldo Sículo. Em 1523 foi colocado por D. João III como secretário da Feitoria Portuguesa de Antuérpia - também, em atenção à sua ascendência flamenga.
Efetuou várias missões diplomáticas e comerciais na Europa entre 1528
e 1531. Em 1533 abandonou o serviço oficial do governo português e
dedicou-se exclusivamente aos seus propósitos de humanista. Em viagens
pela Europa do Norte, contactou com eminentes humanistas e reformadores,
conhecendo pessoalmente Lutero, Melanchthon e tornando-se amigo íntimo do humanista holandês Erasmo de Roterdão, com quem conviveu em Basileia em 1534 e que o guiou nos seus estudos, assim como nos seus escritos.
Estudou em Pádua entre 1534 e 1538 onde foi contemporâneo dos humanistas italianos Pietro Bembo e Lazzaro Buonamico. Pouco tempo depois fixou-se em Lovaina por um período de seis anos. Damião de Góis foi feito prisioneiro durante a invasão francesa da Flandres
mas foi libertado pela intervenção de D. João III, que o trouxe para
Portugal. Versátil e culto, tornou-se escritor, músico, compositor,
colecionador de arte e mecenas. Entre as obras por si colecionadas é
frequentemente atribuído o tríptico de As Tentações de Santo Antão, do pintor holandês Hieronymus Bosch.
Publicou diversas obras humanistas e historiográficas, que lhe
valeram a perseguição por alguns elementos do clero português. Quando
regressou definitivamente a Portugal, em 1545, foram-lhe movidos dois
processos no Tribunal do Santo Ofício. Arquivados os mesmos, em 1548 foi
nomeado guarda-mor dos Arquivos Reais da Torre do Tombo, e dez anos mais tarde foi escolhido pelo cardeal D. Henrique para escrever a crónica oficial do rei D. Manuel I, que foi completada em 1567.
No entanto, apesar do rigor historiográfico, este seu trabalho
desagradou a algumas famílias nobres, e em 1571 Damião de Góis caiu nas
garras do Santo Ofício (Inquisição). Sem a proteção do cardeal-regente, foi preso, sujeito a processo e depois, em 1572, foi transferido para o Mosteiro da Batalha.
Abandonado pela sua família, apareceu morto, com suspeitas de
assassinato, na sua casa de Alenquer, em 30 de janeiro de 1574, sendo
enterrado na igreja de Santa Maria da Várzea, da mesma vila, que mandara restaurar em 1560.
Em 1940, devido a ruína, a capela, que incluía o túmulo de Damião de Góis
e da sua mulher, Joana van Hargen, foi trasladada para a atual igreja de
São Pedro, de Alenquer, onde se encontra hoje e está classificado como Monumento Nacional
desde 1910. Nas paredes laterais foi inserida a pedra com as armas de
Damião de Góis, dadas ao escritor pelo imperador Carlos V, e as de Joana
van Hargen e o curioso epitáfio tumular de Damião de Góis, escrito pelo
próprio em 1560, cerca de quinze anos antes da morte, com o busto e o
texto em latim: "Ao maior e óptimo Deus. Damião de Goes, cavaleiro
lusitano fui em tempos; corri toda a Europa em negócios públicos; sofri
vários trabalhos de Marte; as musas, os príncipes e os varões doutos
amaram-me com razão; descanso neste túmulo em Alenquer, aonde nasci, até
que aquele dia acorde estas cinzas."
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