segunda-feira, novembro 07, 2022

Poesia adequada à data...

Cecília Meireles em Lisboa
- desenho de seu primeiro marido, Fernando Correia Dias
    
  
A Velhice Pede Desculpas

Tão velho estou como árvore no inverno,
vulcão sufocado, pássaro sonolento.
Tão velho estou, de pálpebras baixas,
acostumado apenas ao som das músicas,
à forma das letras.

Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético
dos provisórios dias do mundo:
Mas há um sol eterno, eterno e brando
e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.

Desculpai-me esta face, que se fez resignada:
já não é a minha, mas a do tempo,
com seus muitos episódios.

Desculpai-me não ser bem eu:
mas um fantasma de tudo.
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo,
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.

Desculpai-me viver ainda:
que os destroços, mesmo os da maior glória,
são na verdade só destroços, destroços.

 

in Poemas (1958) - Cecília Meireles

2 comentários:

Manuel M Pinto disse...

Albert CAMUS, escritor francês, nasceu em 07-11-1913.

Fernando Martins disse...

Publicámos, posteriormente, um post sobre Camus - obrigado pela sugestão.