Guilhermina Augusta Xavier de Medin Suggia (Porto, São Nicolau, 27 de junho de 1885 - Porto, 30 de julho de 1950) foi uma violoncelista portuguesa.
Era filha de Augusto Jorge de Medin Suggia (Lisboa, 11 de março de 1851 - 29 de março de 1932), de ascendência italiana e espanhola, e de sua mulher Elisa Augusta Xavier (Lisboa, 26 de novembro de 1850 - 29 de outubro de 1932).
O pai foi violoncelista no Real Teatro de São Carlos e professor no Conservatório de Música de Lisboa.
No seio deste ambiente familiar Guilhermina terá começado a estudar
música aos 5 anos, tendo o seu pai como primeiro professor. A sua
primeira aparição pública verificou-se quando tinha sete anos de idade,
em Matosinhos.
Guilhermina ao violoncelo e a sua irmã Virgínia (3 anos mais velha) ao
piano, eram convidadas para actuar no seio cultural portuense. Com
apenas 13 anos, Guilhermina era violoncelista principal da Orquestra da
Cidade do Porto, tocando também com o quarteto de cordas Bernardo
Moreira de Sá. Em 1898, o pai consegue que ela tenha umas aulas com o
famoso violoncelista catalão Pablo Casals, que nesse Verão actuava no casino de Espinho.
Durante várias semanas Guilhermina e seu pai fazem os 16 quilómetros
de comboio que separam a cidade do Porto da de Espinho, transportando o
violoncelo e as partituras.
Em março de 1901 as duas irmãs atuaram no Palácio Real de Lisboa. Com 15 anos apenas, Guilhermina respondeu a uma interpelação da Rainha Dona Amélia sobre qual seria o sonho da sua vida, dizendo que gostaria de aperfeiçoar os seus conhecimentos musicais no estrangeiro.
Uns meses depois a coroa portuguesa concedeu-lhe uma bolsa para estudar no local da sua eleição, o que possibilitou a ida, acompanhada pelo pai, para o conservatório de Leipzig, Alemanha, onde iria aprender com Julius Klengel, violoncelista da famosa Gewandhaus Orquestra dirigida por Arthur Nikisch,
em novembro de 1901. A vida de pai e filha em Leipzig era extremamente
difícil pois a bolsa cobria os custos com as aulas e a estadia de
Guilhermina mas não de seu pai nem das despesas acessórias que iam sendo
necessárias.
Família de poucos recursos, rapidamente a situação financeira se foi degradando, com a irmã mais velha, pianista
até então já conhecida, a sacrificar a sua carreira futura para
sustentar irmã e pais, dando aulas particulares de piano a um grupo de
alunos. Com 20 anos, Virgínia providenciava o sustento da família sendo a
única que trazia proventos e que financiava todo aquele investimento
na irmã. Apesar da agudização da situação financeira, o regresso de
Guilhermina foi adiado sucessivamente até à sua apresentação histórica
no concerto comemorativo do aniversário da Orquestra Gewandhaus em 26 de fevereiro de 1903. Tinha apenas 17 anos. Nunca um intérprete tão jovem havia actuado com a orquestra, muito menos como solista e menos ainda do sexo feminino. O êxito foi total e, face aos pedidos do público, o maestro pediu-lhe que repetisse toda a actuação. Começava aqui o seu sucesso internacional.
Em março de 1903 regressa à sua terra natal, conquistando o público portuense num concerto em que actuou acompanhada pela sua irmã Virgínia.
A vida de Guilhermina transforma-se completamente e a partir dessa altura é acolhida nas salas de concerto pela Europa fora, na Suíça, Haia, Bremen, Amesterdão, Paris, Mogúncia, Bayreuth, Praga, Viena, Berlim, Rússia, Roménia onde o sucesso foi tão grande que o público lhe chamava “Paganina!” (referindo-se ao eterno Paganini).
Em 1906
Suggia está em Paris e toca para Casals, que havia conhecido oito anos
antes em Espinho, e com quem se tinha reencontrado em Leipzig, durante
as visitas do catalão ao professor Julius Klengel. Nesse mesmo ano
começa a partilhar com ele a mesma casa, a Villa Molitor, sendo famosos os convívios do casal com pintores, músicos, filósofos e escritores. O romance com Pau Casals, músico famoso, encheu as páginas dos jornais. O compositor húngaro Emánuel Moór dedicou-lhes o "Concerto para dois violoncelos".
Todavia em 1913
o casal separa-se de uma forma abrupta, possivelmente por motivos
passionais. Guilhermina muda-se para Londres no ano seguinte e Casals
casa-se com uma cantora norte-americana.
Guilhermina vai viver para Londres tornando-se este o centro da sua actividade musical.
Durante a sua estadia em Londres tocou com a Royal Philharmonic Society, a State Simphony Orchestra, a BBC Symphony Orchestra, a London Symphony Orchestra. Os seus recitais no Royal Albert Hall ou no Wigmore Hall motivam as melhores críticas da imprensa da época.
As entradas em palco eram descritas como imponentes e a interpretação
como revelando um domínio absoluto do instrumento e a compreensão total
da obra tocada. As críticas da altura referem que os aplausos são
estrondosos, ressoando nas salas com assistências enfeitiçadas. Suggia
é, acima de tudo, aclamada.
Apesar de se manter ligada à capital inglesa, adquire em 1924 habitação no Porto, cidade onde se vem a casar, a 27 de agosto de 1927, com o médico José Casimiro Carteado Mena (10 de fevereiro de 1876 - 20 de março de 1949), de quem não teve descendência. Nos anos 30 regressa de vez à sua terra natal reforçando os laços musicais com compositores e intérpretes portugueses, tocando no Porto, em Lisboa, Aveiro, Viana do Castelo, Braga e pela mão de António Madeira, em Viseu.
No final dos anos 40 promove com Maria Adelaide de Freitas Gonçalves, directora do Conservatório de Música do Porto,
a criação da Orquestra Sinfónica do Conservatório, integrando alunos
finalistas dessa escola, tendo Guilhermina sido solista no concerto de
apresentação da Orquestra, a 21 de junho de 1948, no Teatro Rivoli.
Em 1949, Guilhermina, com sinais da doença fatal que a afectava, cria o Trio do Porto, constituído por ela, pelo violinista Henri Mouton e pelo violetista François Broos.
Em 31 de maio de 1950 toca pela última vez em público, num recital no Teatro Aveirense, para os sócios do Círculo de Cultura Musical de Aveiro, acompanhada ao piano por Maria Adelaide de Freitas Gonçalves.
Em junho foi sujeita a uma cirurgia numa clínica em Londres mas foi detectado um cancro inoperável. Na altura é acarinhada pelos amigos e fica especialmente sensibilizada pelo bilhete e flores que recebe da Rainha de Inglaterra. Aceitando o seu destino, regressou ao Porto onde veio a falecer em casa na noite de 30 de julho de 1950.
Guilhermina Suggia tinha vários violoncelos. Entre eles destacam-se os famosos Stradivarius (Cremona, 1717) e Montagna (Cremona, 1700 - dúvidas no 3º algarismo mas supõe-se ser um zero). Por desejo testamentário foram ambos vendidos e com o fruto da sua venda foram instituídos prémios anuais aos melhores alunos de violoncelo da Royal Academy of Music de Londres, do Arts Council da Grã-Bretanha e do Conservatório de Música do Porto.
Em 1923 o Governo de Portugal agraciou-a com a insígnia de oficial da Ordem de Santiago da Espada, uma honra raras vezes concedida a senhoras, e em 1937 foi promovida a comendador da mesma Ordem. Em 1938 foi-lhe concedida a Medalha de Ouro da cidade do Porto.
Guilhermina revolucionou o instrumento em técnica, posição e sonoridade.
Abriu
as portas profissionais do violoncelo às mulheres, até então quase
fechadas. De facto, o considerável gasto de energia exigido para
manejar a envergadura do violoncelo, acrescido do facto de as boas
maneiras da época obrigarem a colocar o instrumento de um ou outro lado
do corpo obrigando a uma significativa contorção do dorso, tornavam o
instrumento ainda mais inacessível às executantes femininas.(Note-se que
ainda em 1930
o violoncelo era tido como um instrumento indecoroso para as mulheres,
sendo então proibida a contratação de violoncelistas mulheres pela
própria orquestra da BBC).
Para Suggia, o violoncelo é o
mais extraordinário de todos os instrumentos, considerando-o ela o
único que tem a possibilidade de suster um baixo por um longo período e
a possibilidade de cantar uma melodia praticamente em qualquer
registo. Porém, para que se revele a substância musical do violoncelo, é
preciso que a técnica não seja estudada apenas como destreza, mas que
tenda sempre para a música. "A técnica é necessária como veículo de
expressão e quanto mais perfeita a técnica, mais livre fica a mente
para interpretar as ideias que animaram o compositor". Guilhermina
Suggia, "The Violoncello" in Music and Letters, nº 2, vol. I, Londres, Abril de 1920, 106.
Em 1923 o pintor galês
Augustus John haveria de deixar na tela para a posteridade um pouco da
fibra e da atitude interpretativa de Guilhermina Suggia durante as
suas actuações. Conforme o próprio relatou, durante as sessões no seu
atelier, Suggia tocava Bach. É divino o momento que capta o pintor.
Coloca-lhe, por isso, um fantástico vestido vermelho.
Suggia tocava todos os importantes concertos da época para violoncelo e orquestra – os concertos de Haydn, Elgar, Saint-Saëns, Schumann, Eugen d'Albert, Dvořák.
(imagem daqui)
in Wikipédia
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