Filha de Augusto Jorge de Medin Suggia (Lisboa, 11 de março de 1851 - Porto, 29 de março de 1932) e de sua mulher Elisa Augusta Xavier (Lisboa, 26 de novembro de 1850 - Porto, 29 de outubro de 1932).
O pai foi violoncelista no Real Teatro de São Carlos e aluno no Conservatório de Música de Lisboa. Já casado recebeu o convite para dar aulas nas escolas da Santa Casa da Misericórdia de Matosinhos. O casal foi viver para o Porto onde nasceram as duas filhas: Virgínia e 3 anos mais tarde Guilhermina. Passados cerca de 2 anos tiveram que deixar a casa da Rua Ferreira Borges, que foi demolida e foram morar para a Casa de Manhufe/Casa do Leão (ainda de pé), em Matosinhos. O pai estuda muito e Guilhermina com 2 anos já pedia para o ir ouvir e para ele tocar determinadas músicas. Neste ambiente familiar Guilhermina aos 5 anos pede-lhe para a ensinar a tocar violoncelo. O pai andava felicíssimo com as raras qualidades que ia descobrindo na filha. A sua primeira aparição pública verificou-se quando tinha sete anos de idade, em Matosinhos.
Guilhermina ao violoncelo e a sua irmã Virgínia (3 anos mais velha) ao piano, eram convidadas para atuar no seio cultural portuense. Com apenas 13 anos, Guilhermina era violoncelista principal da Orquestra do Orpheon do Porto, tocando também com o quarteto de cordas Bernardo Moreira de Sá. No verão de 1898 o já famoso violoncelista Catalão Pau Casals, abrilhantava as noites no Casino de Espinho. Moreira de Sá recomenda a Augusto Suggia que vá com a filha escutar Casals. Assim foi e, no final da atuação vão conversar com o violoncelista. Augusto fala-lhe da filha e Casals sugere que ela toque para a ouvir. Passa-lhe o seu violoncelo. Ficou de tal modo agradavelmente surpreendido que se propõe dar-lhe aulas durante esse verão, ali em Espinho. E uma vez por semana, Augusto e Guilhermina vão de comboio até Espinho.
Em 27 de março de 1901 as duas irmãs atuaram no Palácio das Necessidades em Lisboa, para a Família Real. Com 15 anos apenas, Guilhermina respondeu a uma interpelação da rainha Dona Amélia sobre qual seria o sonho da sua vida, dizendo que gostaria de aperfeiçoar os seus conhecimentos musicais no estrangeiro. Uns meses depois o Governo do Reino concedeu-lhe uma bolsa para estudar no local da sua eleição, o que possibilitou a ida, acompanhada pelo pai, para o Leipzig, Alemanha, onde iria ter aulas particulares com Julius Klengel, violoncelista da famosa Gewandhaus Orquestra dirigida por Arthur Nikisch, em novembro de 1901. A vida de pai e filha em Leipzig era extremamente difícil pois a bolsa cobria os custos com as aulas e a estadia de Guilhermina mas não de seu pai nem das despesas acessórias que iam sendo necessárias.
Família de poucos recursos, rapidamente a situação financeira se foi degradando, com a irmã mais velha, pianista até então já conhecida, a sacrificar a sua carreira futura para sustentar irmã e pais, dando aulas particulares de piano a um grupo de alunos. Com 20 anos, Virgínia providenciava o sustento da família sendo a única que trazia proventos e que financiava todo aquele investimento na irmã. Apesar da agudização da situação financeira, o regresso de Guilhermina foi adiado sucessivamente até à sua apresentação histórica no concerto comemorativo do aniversário da orquestra Gewandhaus em Novembro de 1902. Tinha apenas 17 anos. Nunca um intérprete tão jovem havia atuado com a orquestra, muito menos como solista e menos ainda do sexo feminino. O êxito foi total e, face aos pedidos do público, o maestro pediu-lhe que repetisse o concerto na íntegra. Começava aqui o seu sucesso internacional.
Em março de 1903 regressa à sua terra natal conquistando o público portuense num concerto em que atuou acompanhada pela sua irmã Virgínia.
A vida de Guilhermina transforma-se completamente e a partir dessa altura é acolhida nas salas de concerto pela Europa fora, na Suíça, Haia, Bremen, Amesterdão, Paris, Mogúncia, Bayreuth, Praga, Viena, Berlim, Rússia, Roménia onde o sucesso foi tão grande que o público lhe chamava “Paganina!” (referindo-se ao eterno Paganini).
Em 1906 Suggia está em Paris e toca para Casals, que havia conhecido oito anos antes em Espinho, e com quem se tinha reencontrado em Leipzig, durante as visitas do catalão ao professor Julius Klengel. Nesse mesmo ano começa a partilhar com ele a mesma casa, a Villa Molitor, sendo famosos os convívios do casal com pintores, músicos, filósofos e escritores. O romance com Pau Casals, músico famoso, encheu as páginas dos jornais. O compositor húngaro Emánuel Moór dedicou-lhes o "Concerto para dois violoncelos".
Todavia em 1913 o casal separa-se de uma forma abrupta, possivelmente por motivos passionais. Guilhermina muda-se para Londres no ano seguinte e Casals casa-se com uma cantora norte-americana.
Guilhermina vai viver para Londres tornando-se este o centro da sua atividade musical.
Durante a sua estadia em Londres tocou com a Royal Philharmonic Society, a State Simphony Orchestra, a BBC Symphony Orchestra, a London Symphony Orchestra. Os seus recitais no Royal Albert Hall ou no Wigmore Hall motivam as melhores críticas da imprensa da época.
As entradas em palco eram descritas como imponentes e a interpretação como revelando um domínio absoluto do instrumento e a compreensão total da obra tocada. As críticas da altura referem que os aplausos são estrondosos, ressoando nas salas com assistências enfeitiçadas. Suggia é, acima de tudo, aclamada.
Apesar de se manter ligada à capital inglesa, adquire, em 1924, uma casa no Porto, na Rua da Alegria, 894, a fim de conciliar os pais, ao mesmo tempo que declara como sua morada oficial essa casa. A 27 de agosto de 1927 casa com o médico José Casimiro Carteado Mena (10 de fevereiro de 1876 - 20 de março de 1949), de quem não teve descendência e vão morar para o nº 665 da mesma Rua da Alegria. Nos anos 30 regressa de vez à sua terra natal reforçando os laços musicais com compositores e intérpretes portugueses, tocando no Porto, em Lisboa, Aveiro, Viana do Castelo, Braga e pela mão de António Madeira em Viseu.
No final dos anos 40 promove com Maria Adelaide de Freitas Gonçalves, diretora do Conservatório de Música do Porto, a criação da Orquestra Sinfónica do Conservatório, integrando alunos finalistas dessa escola, tendo Guilhermina sido solista no concerto de apresentação da Orquestra, a 21 de junho de 1948, no Teatro Rivoli.
Em 1949, Guilhermina, com sinais da doença fatal que a afetava, cria o Trio do Porto, constituído por ela, pelo violinista Henri Mouton e pelo violetista François Broos.
Em 31 de maio de 1950 toca pela última vez em público, num recital no Teatro Aveirense, para os sócios do Círculo de Cultura Musical de Aveiro, acompanhada ao piano por Maria Adelaide de Freitas Gonçalves.
Em Junho foi sujeita a uma cirurgia numa clínica em Londres. Na altura é acarinhada pelos amigos e fica especialmente sensibilizada pelo bilhete e flores que recebe do Rei de Inglaterra. Aceitando o seu destino, regressou ao Porto onde veio a falecer em casa na noite de 30 de julho de 1950, vitimada por cancro.
Guilhermina Suggia tinha vários violoncelos. Entre eles destacam-se os famosos Stradivarius (Cremona, 1717) e Montagnana (Cremona, 1700 - dúvidas no 3º algarismo mas supõe-se ser um zero). Por desejo testamentário foram ambos vendidos e com o fruto da sua venda foram instituídos prémios anuais aos melhores alunos de violoncelo da Royal Academy of Music de Londres e do Conservatório de Música do Porto.
A 5 de outubro de 1937 foi agraciada com o grau de Comendadora da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, uma honra raras vezes concedida a senhoras, e a 2 de fevereiro de 1944 com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Cristo. Em 1938 foi-lhe concedida a Medalha de Ouro da cidade do Porto.
Obra




