sexta-feira, novembro 02, 2018

Pasolini foi assassinado há 43 anos

Pier Paolo Pasolini (Bolonha, 5 de março de 1922 - Óstia, 2 de novembro de 1975) foi um cineasta e escritor italiano.
Biografia
Era filho de Carlo Alberto Pasolini, militar de carreira, e de Susanna Colussi, professora primária, natural de Casarsa della Delizia (Friul), no norte da Itália.Teve um irmão, Guidalberto Pasolini (1925 - 1945) que faleceu numa emboscada, lutando na Segunda Guerra Mundial. Em 1926 o pai de Pasolini foi preso por dívidas de jogo e a sua mãe mudou-se para casa da sua família, em Casarsa della Delizia, na região de Friuli.
  
Vida pessoal
Em 1939 Pasolini licenciou-se em Literatura pela Universidade de Bologna. Era homossexual assumido e um artista solitário. Antes de ficar famoso como cineasta tinha sido professor, poeta e novelista. Entre seus livros mais conhecidos estão Meninos da Vida, Uma Vida Violenta e Petróleo (livro). De porte atlético e estatura média, Pasolini usava óculos com lentes muito grossas.
  
A adesão ao Partido Comunista Italiano
Em 26 de janeiro de 1947 Pasolini escreveu uma declaração polémica para a primeira página do jornal Libertà: "Em nossa opinião, pensamos que, actualmente, só o comunismo é capaz de fornecer uma nova cultura." A controvérsia foi parcialmente devido ao facto de ele ainda não ser um membro do Partido Comunista Italiano PCI. Após a sua adesão aos PCI, participou de várias manifestações e, em maio de 1949, participou do Congresso da Paz em Paris. Observando-se as lutas dos trabalhadores e camponeses, e vendo os confrontos dos manifestantes com a polícia italiana, ele começou a criar seu primeiro romance. No entanto, em outubro do mesmo ano, Pasolini foi acusado de corrupção de menores e atos obscenos em lugares públicos. Como resultado, foi expulso pela secção de Udine do Partido Comunista e perdeu o emprego de professor que tinha obtido no ano anterior em Valvasone. Ficou em uma situação difícil e, em janeiro de 1950, Pasolini mudou-se para Roma, para viver com a sua mãe.
  
Cinema
Realizou estudos para filmes sobre a Índia, a Palestina e sobre a Trilogia de Orestes, de Ésquilo, que pretendia filmar na África (Apontamento para uma Oréstia Africana). Os seus filmes são muito conhecidos por criticarem a estrutura do governo italiano (na época fortemente ligado à igreja católica), que promovia a alienação e hábitos conservadores na sociedade. Além disso, seu cinema foi marcado por uma constante ligação com o arcaísmo prevalecente no homem moderno. Prova disso é a obra Teorema, em que um indivíduo entra na vida de uma família e a desestrutura por inteiro (cada membro da família representa uma instituição da sociedade). Dirigiu os filmes da Trilogia da Vida com conteúdo erótico e político: Il Decameron, I Raconti di Canterbury e Il fiore delle mille e una notte. Pasolini, num determinado momento da sua vida, renegou esses filmes, afirmando a indústria cultural se tinha apropriado deles e que os classificava como pornográficos.
Essa trilogia foi filmada na Etiópia, Índia, Irão, Nepal e Iémen. Os filmes eram dobrados em italiano. Pelo conteúdo, pretensamente classificado como erótico, foi proibido nos Estados Unidos e só foi exibido na década de 80 (no Brasil só foi exibido após a abertura política). Em Accattone, em 1961, Pasolini pôs em prática a sua visão sobre a classe do proletariado na sociedade italiana da época. Gostava de trabalhar com atores amadores e do povo.
  
Morte
Foi brutalmente assassinado em novembro de 1975. Tinha o rosto desfigurado e várias lesões no corpo. Foi encontrado no hidro-aeródromo de Ostia. Os motivos do seu assassinato continuam gerando polémica até hoje, sendo associados a crime político ou um mero latrocínio. Um processo judicial concluiu que o cineasta foi assassinado por um prostituto, que teria o intuito de assaltá-lo. Tal versão, porém, não é sustentável. Existem estudos, filmes e programas de TV que põem por terra a versão aceite pela justiça italiana. No ano de 2005, Pino Pelosi declarou não ter sido ele o assassino de Pasolini, depois de ter cumprido a pena como assassino confesso.
   
 

Requiem para Pier Paolo Pasolini
  
Eu pouco sei de ti mas este crime
torna a morte ainda mais insuportável.
Era novembro, devia fazer frio, mas tu
á nem o ar sentias, o próprio sexo
que sempre fora fonte agora apunhalado.
Um poeta, mesmo solar como tu, na terra
é pouca coisa: uma navalha, o rumor
de abril podem matá-lo - amanhece,
os primeiros autocarros já passaram,
as fábricas abrem os portões, os jornais
anunciam greves, repressão, dois mortos na
primeira página,
o sangue apodrece ou brilhará
ao sol, se o sol vier, no meio das ervas.
O assassino, esse seguirá dia após dia
a insultar o amargo coração da vida;
no tribunal insinuará que respondera apenas
a uma agressão (moral) com outra agressão,
como se alguém ignorasse, excepto claro
os meritíssimos juízes, que as putas desta espécie
confundem moral com o próprio cu.
O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores
como móbil de um crime que os fascistas,
e não só os de Salò, não se importariam
de assinar.
Seja qual for a razão, e muitas há
que o Capital a Igreja e a Polícia
de mãos dadas estão sempre prontos a justificar,
Pier Paolo Pasolini está morto.
A farsa, a nojenta farsa, essa continua.


Eugénio de Andrade

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