segunda-feira, novembro 03, 2014

Há 151 anos o poeta Gonçalves Dias morreu, afogado e esquecido, num naufrágio que o trazia para o seu país

Antônio Gonçalves Dias (Caxias, 10 de agosto de 1823 - Guimarães, 3 de novembro de 1864) foi um poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro. Um grande expoente do romantismo brasileiro e da tradição literária conhecida como "indianismo", ele é famoso por ter escrito o poema "Canção do Exílio" - sem dúvida, um dos poemas mais conhecidos da literatura brasileira -, o curto poema épico I-Juca-Pirama e de muitos outros poemas nacionalistas e patrióticos que viria a dar-lhe o título de poeta nacional do Brasil. Ele também foi um ávido pesquisador das línguas indígenas brasileiras e do folclore.
Ele é o patrono da cadeira 15 da Academia Brasileira de Letras.

(...)

Voltou à Europa em 1862 para um tratamento de saúde. Não obtendo resultados, regressou ao Brasil em 1864 no navio Ville de Boulogne, que naufragou na costa brasileira; salvaram-se todos, exceto o poeta, que foi esquecido, agonizando no seu leito, e se afogou. O acidente ocorreu nos Baixos de Atins, perto de Tutóia, no Maranhão.
A sua obra enquadra-se no Romantismo, pois, a semelhança do que fizeram os seus correlegionários europeus, procurou formar um sentimento nacionalista ao incorporar assuntos, povos e paisagens brasileiras na literatura nacional. Ao lado de José de Alencar, desenvolveu o indianismo. Pela sua importância na história da literatura brasileira, podemos dizer que Gonçalves Dias incorporou uma ideia de Brasil à literatura nacional.


Meu Anjo, Escuta

Le mal dont j'ai souffert s'est enfui comme un rêve,
Je n'en puis comparer le lontain souvenir
Qu'à ces brouillards légers que l'aurore soulève
Et qu'avec la rosée on voit s'évanouir.
.............................................MUSSET


Meu anjo, escuta: quando junto à noite
Perpassa a brisa pelo rosto teu,
Como suspiro que um menino exala;
Na voz da brisa quem murmura e fala
Brando queixume, que tão triste cala
No peito teu?
Sou eu, sou eu, sou eu!

Quando tu sentes lutuosa imagem
D'aflito pranto com sombrio véu,
Rasgado o peito por acerbas dores;
Quem murcha as flores
Do brando sonho? — Quem te pinta amores
Dum puro céu?
Sou eu, sou eu, sou eu!

Se alguém te acorda do celeste arroubo,
Na amenidade do silêncio teu,
Quando tua alma noutros mundos erra,
Se alguém descerra
Ao lado teu
Fraco suspiro que no peito encerra;
Sou eu, sou eu, sou eu!

Se alguém se aflige de te ver chorosa,
Se alguém se alegra co'um sorriso teu,
Se alguém suspira de te ver formosa
O mar e a terra a enamorar e o céu;
Se alguém definha
Por amor teu,
Sou eu, sou eu, sou eu!


in Últimos Cantos (1851) - Gonçalves Dias

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