Judeus rezando numa sinagoga no Yom Kippur (pintura de 1878 de Maurycy Gottlieb)
Proibições
Existem 5 proibições no Yom Kipur:
- Comer (come-se um pouco antes do pôr-do-sol ainda na véspera do dia até o nascer das estrelas do dia de Yom Kipur);
- Usar calçados de couro;
- Manter relações conjugais;
- Pôr cremes, desodorizante, etc. no corpo;
- Banhar-se por prazer.
A essência destas proibições é causar aflição ao corpo, dando, então, prioridade à
alma. Pela perspetiva judaica, o ser humano é constituído pelo
yetzer hatóv (o desejo de fazer as coisas corretamente, que é identificado com a alma) e o
yetzer hará (o desejo de seguir os próprios instintos, que corresponde ao corpo). Nosso desafio na vida é "sincronizar" nosso corpo com o
yetzer hatóv. Uma analogia é feita no
Talmud entre um cavalo (o corpo) e um cavaleiro (a alma). É sempre melhor o cavaleiro estar em cima do cavalo!
Orações
Durante as orações fala-se o
Vidui, uma confissão, e
Al Chet, uma lista de transgressões entre o homem e
Deus e o homem e seu semelhante. É interessante notar duas coisas: primeiro, as transgressões estão em ordem alfabética (em
hebraico).
Isto torna a lista bastante abrangente, além de permitir a inclusão de
qualquer transgressão que se queira na letra apropriada.
Em segundo, o Vidui e Al Chet estão no plural, o que pretende
transmitir a ideia de que o povo judeu é um povo "entrelaçado", onde
todos devem ser responsáveis pelos outros. Mesmo não cometendo uma
determinada ofensa, pretende-se transmitir uma carga de responsabilidade
por aqueles que a cometeram - especialmente se a transgressão pudesse
ter sido evitada por aqueles que não arcarão com as culpas.
Dia do Perdão
Durante um longo ano comete o homem toda sorte de erros, atropelos, voluntários, involuntários. O processo da
teshuvá
(arrependimento, retorno ao bem) não poderá realizar-se magicamente em
um dia. A tradição judia coloca ao mês de Elul, último do ano, como
prefácio para ir preparando o homem para a reflexão profunda, até o
grande caminho interior. Cedo, nas manhãs de Elul se ouve o som do
shofar.
Uma semana antes de Rosh Hashaná, também durante a madrugada, se dizem
as orações que se chamam "selichot" - perdões). O 1º de Tishrei é o
grande dia, a base para um ano novo e um novo ano de vida. Depois
seguirão nove dias até o dia do perdão. Dez dias, para aprofundar-se
dentro de si, afastar o mal, aproximar o bem. O processo chega a sua
culminância no dia 10º de Tishrei : Yom Kipur.
A expiação, Kipur, na raiz hebraica, refere-se ao "que cobre", ou seja,
o castigo que envolve o ato perverso. Tudo o que se pode anular, deter
ou parar é o castigo; mas não o ato cometido; esse ato está aí e a
única maneira de superá-la é através de uma transcendental modificação
da conduta pessoal posterior. Os atos são do homem, seguirão sendo dele,
e a consequência, sua responsabilidade. Deus pode apagar o castigo,
não o ato. O jejum - que acompanha todo o dia do perdão - por sua parte
não faz milagre. O jejum do dia não sacrifica nada a favor de Deus,
sendo que tal ideia seria eminentemente pagã. O que faz é reconcentrar o homem em seu espírito, afastá-lo, por algumas horas, da servidão do homem ao corpo e a suas necessidades.
Observa-se também que as más ações ou transgressões têm duas
polaridades: uma do homem em relação ao homem e a outra, do homem em
relação a Deus. A primeira é a da vida diária, exterior, social e inter humana.
A outra, do âmbito da alma, é o segredo da consciência. A primeira é
coisa de homens, e os homens têm de resolvê-la: "As transgressões que
vão de homem a homem, não são expiadas pelo Yom Kipur, se antes não
forem perdoadas pelo próximo ".
Daí que se costuma pedir previamente o perdão de nossos semelhantes, se eles não perdoam, Deus não poderá intervir.
Jejum
É o dia do perdão - quando Deus perdoa a todo Israel. Durante esse dia,
nada pode ser comido ou bebido, inclusive água. Não é permitido lavar a
boca, escovar os dentes ou banhar o corpo. Somente o rosto e as mãos
podem ser lavados pela manhã, antes das orações. Não se pode carregar
nada, acender fogo, fumar, nem usar eletricidade. O jejum não é
permitido para crianças menores de 9 anos, pessoas gravemente enfermas,
mulheres grávidas e aquelas que deram a luz há menos de trinta dias.
Se uma pessoa enquanto estiver jejuando passar mal, a ponto de quase
desmaiar, deve-se lhe dar comida até que se recupere. Se houver perigo
de uma epidemia, e os médicos da cidade aconselharem que é necessário
comer a fim de resistir à moléstia, exige-se que todos comam.
Existem outras proibições, além daquelas contra trabalhar, comer ou
beber. As relações conjugais são proibidas, bem como o uso de perfumes e
cremes, exceto para fins medicinais. Além disso, sapatos e outras peças
da indumentária feitas de couro não podem ser usadas no Yom Kipur,
pois não se pode usar nenhum material para o qual seja necessário matar
um animal.
Após o Yom Kipur, espera-se que haja festa e alegria, não perdendo de vista o facto de que o feriado é um dia santo de júbilo.