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quinta-feira, setembro 30, 2021

A propósito do Duque de Gândia...

A
conversão do duque de Gândía, por José Moreno Carbonero (1884), Museu do Prado
  
  
   
   
Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
 
  
 
in Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen

São Francisco de Bórgia, Duque de Gândia, morreu há 449 anos

São Francisco de Borja por Alonso Cano, Museu de Belas Artes de Sevilha
   
Francisco de Borja e Aragão, São Francisco de Borja (Gandia, Valência, Espanha, 28 de outubro de 1510Roma, 30 de setembro de 1572) foi Duque de Gândia, bisneto do Papa Alexandre VI e bisneto do rei Fernando II de Aragão, que se fez jesuíta logo após enviuvar. Francisco de Borja foi canonizado em 1671. Exerceu o cargo de Vice-rei da Catalunha.

  
Desde pequeno era muito piedoso e desejou tornar-se monge, a sua família porém enviou-o para a corte do imperador Carlos V. Ali se destacaria acompanhando o imperador nas suas campanhas e casando-se com uma nobre portuguesa: Eleonor de Castro Melo e Menezes, com a qual teve oito filhos: Carlos, Isabel, João, Álvaro, Fernando, Afonso, Joana e Dorotéia.
Nobre e considerado "grande de Espanha", em 1539 escoltou o corpo da imperatriz Isabel de Portugal ao seu túmulo em Granada. Diz-se que, quando viu o efeito da morte sobre o corpo daquela que tinha sido uma bela imperatriz, decidiu "nunca mais servir a um senhor que me possa morrer". Ainda jovem foi nomeado vice-rei da Catalunha, província que administrou com grande eficiência. Quando o seu pai morreu, recebeu por herança o título de Duque de Gandía, retirou-se para a sua terra natal e aí levaria, com a sua família, uma vida entregue puramente à religião.
Em 1546 a sua esposa Eleanor morreu e Francisco decidiu entrar na recentemente fundada Companhia de Jesus. Ajustou as contas com os seus assuntos mundanos, renunciou aos seus títulos em favor do seu primogénito, Carlos e, imediatamente, foi-lhe oferecido o título de cardeal. Recusou, preferindo a vida de um pregador itinerante. Os seus amigos conseguiram convencê-lo a aceitar o título para aquilo que a natureza e as circunstâncias o haviam predestinado: em 1554, converteu-se no Comissário Geral dos Jesuítas na Espanha, e em 1565, em Superior Geral da Ordem
   

    
in Wikipédia

sábado, maio 01, 2021

A Imperatriz Isabel de Portugal morreu há 482 anos

Isabel de Portugal, imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico - a obra-prima de Ticiano, hoje no Museu do Prado, o quadro foi pintado sobre outro, nove anos após a morte da Imperatriz

 

D. Isabel de Portugal (Lisboa, 24 de Outubro de 1503Toledo, 1 de Maio de 1539) foi filha do rei D. Manuel I e da rainha D. Maria de Aragão e Castela. Diziam-na belíssima, como prova o retrato pintado por Ticiano. Morreu de complicações no parto, no Palácio de Fuensalida em Toledo, estando sepultada no Panteão do Escorial.
Era irmã de D. João III e do Cardeal-Rei D. Henrique, reis de Portugal. Inteligente e culta, criada no esplendor da mais rica corte europeia do seu tempo, em Lisboa, na educação da imperatriz participaram também, por influência de sua mãe, os castelhanos Beatriz Galindo, la Latina e o humanista Luís Vives. Foi longamente regente em nome de Carlos V, entre 1528 e 1533, primeiro, e de 1535 a 1538 novamente, enquanto o marido se ausentou, em guerra.
Além disso, teve muita importância em relação à educação do seu primogénito, que viria a ser Filipe II de Espanha, e I de Portugal, de língua materna portuguesa, criado e educado pelas damas lusitanas de sua mãe durante a infância.

Casamento
O casamento fora negociado por seu pai, D. Manuel I, que morrendo antes de o concluir o deixou recomendado em testamento ao seu sucessor no codicilo de 11.12.1521. Assim, a 6.10.1525 firmou-se em Torres Novas o contrato. A noiva levou por dote a exorbitante quantia de 900 mil cruzados portugueses, ou dobras castelhanas. Carlos V, seu noivo e seu primo direito, era então ainda apenas Carlos I, rei de Aragão e Castela, duque da Borgonha e vários outros feudos: só quatro anos depois será eleito imperador do Sacro Império, tornando-se hierarquicamente o mais alto soberano da Cristandade, com jurisdição sobre a Alemanha e vários reinos e senhorios da Espanha, Itália, França e Flandres, estendendo ao mundo a sua influência política e o poder das suas armas; porém, como todos os soberanos da Renascença, foi várias vezes obrigado a recorrer a grandes famílias de banqueiros, como os Fugger, não só para financiar a sua acessão à coroa imperial, como também os seus projectos político-militares. Por isso mesmo Carlos havia prometido, anteriormente, a Henrique VIII casar-se com sua filha, Maria, de quem igualmente era primo direito, em 1522 (quando esta tinha apenas seis anos) - mas preferiu aceitar a consorte lusitana, cuja aliança e cujo dote imediato eram bem mais significativos na Europa do tempo, e lhe traziam a liquidez necessária para a compra do trono imperial.
Assim, a princesa casou-se em Almeirim por procuração, em 1 de novembro de 1525, com o seu primo Carlos, representado pelo embaixador Carlos Popeto; e partiu em janeiro de 1526 rumo a Elvas com grande e rica comitiva, dai prosseguindo a viagem em liteira até a fronteira do Caia. Aí, montada em linda égua branca esplendorosamente ajaezada, e com luzido e fidalgo acompanhamento, foi ao encontro da embaixada castelhana que a vinha buscar, encabeçada pelos duques de Calábria e de Béjar e pelo arcebispo de Toledo. Passada a fronteira, seguiu para Sevilha aonde se encontrava o marido, ali se repetindo solenemente as bodas imperiais nos paços chamados de Reales Alcázares, em Março de 1526. Foi um casamento feliz, pois os noivos se apaixonaram apenas se conheceram, e se isolaram do mundo prolongando uma lua-de-mel que não parecia querer acabar, e apenas terminaria quatorze anos depois, de facto, pela morte da imperatriz.
Deslumbrado com a sua beleza, Carlos V deu-lhe ao casar por nova divisa as três graças, tendo a primeira delas a rosa, símbolo da formosura; a segunda o ramo de murta, símbolo do amor; e a terceira, a coroa de carvalho, símbolo da fecundidade, além do mote: Has habet et superat.
Na corte castelhana em Toledo, a imperatriz D. Isabel preferiu viver sem se ocupar com política, quase sempre no seu oratório ou convivendo com as numerosas damas portuguesas que a haviam acompanhado até Castela, vigiando as amas dos seus numerosos filhos. Ao morrer de parto, catorze anos depois de casada, Carlos V tanto se comoveu com a sua perda que no convento de S. Justo, onde se recolheu durante o luto pesado da viuvez, passava horas a contemplar o seu retrato mais emblemático, pintado por Ticiano.
 
Brasão da Imperatriz Isabel de Portugal
 
A morte a lenda
Tendo a imperatriz falecido em Toledo, e estando nessa época o soberano em Granada, encarregou este o futuro S. Francisco de Borja, um dos muitos apaixonados platónicos da bela imperatriz, de a conduzir até si a fim de a sepultar. Chegados lá, ao abrirem cerimonialmente o caixão de D. Isabel, a fim de verificarem a identidade do régio cadáver, a sua decomposição ia já avançada, destruindo a formosura da mais bela mulher daquele tempo, segundo rezavam os literatos de então. Segundo a lenda, perante a hedionda visão do seu cadáver descomposto o ainda Duque de Gândia, casado com a portuguesa D. Leonor de Castro, uma das suas damas, e que tanto e tão longamente amara a linda imperatriz à distância, jurou nunca mais servir a senhor humano algum, virando-se unicamente para o serviço divino; e ao enviuvar de D. Leonor, alguns anos depois, optará pela vida religiosa ingressando na Companhia de Jesus. O novo padre Francisco de Borja foi o terceiro Geral da Companhia, sendo depois canonizado como São Francisco de Borja. No entanto, sabemos agora que a famosa frase depois atribuída ao duque, e que deu o mote ao célebre poema de Sophia de Mello Breyner intitulado "Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal", sobre a sua alegada decisão de nunca mais servir a senhor mortal algum, foi sim pronunciada por São João de Ávila na oração fúnebre da imperatriz que proferiu durante as suas exéquias. É ainda no entanto possível que S. João de Ávila tenha utilizado nas exéquias imperiais a frase do humilde S. Francisco de Borja, ao ser obrigado a contemplar decomposta a mulher que amara, e que a tradição oral o soubesse, ao atribuir a autoria desta a ele e não a S. João de Ávila.
  

 
Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
 

in Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, setembro 30, 2020

São Francisco de Bórgia e Aragão, quarto Duque de Gândia, morreu há 448 anos

 

São Francisco de Borja por Alonso Cano, Museu de Belas Artes de Sevilha

Francisco de Borja e Aragão, São Francisco de Borja (Gandia, Valência, Espanha, 28 de outubro de 1510Roma, 30 de setembro de 1572) foi Duque de Gândia, bisneto do Papa Alexandre VI e bisneto do rei Fernando II de Aragão, que se fez jesuíta logo após enviuvar. Francisco de Borja foi canonizado em 1671. Exerceu o cargo de Vice-rei da Catalunha.

  
Desde pequeno era muito piedoso e desejou tornar-se monge, a sua família porém enviou-o para a corte do imperador Carlos V. Ali se destacaria acompanhando o imperador nas suas campanhas e casando-se com uma nobre portuguesa: Eleonor de Castro Melo e Menezes, com a qual teve oito filhos: Carlos, Isabel, João, Álvaro, Fernando, Afonso, Joana e Dorotéia.
Nobre e considerado "grande de Espanha", em 1539 escoltou o corpo da imperatriz Isabel de Portugal ao seu túmulo em Granada. Diz-se que, quando viu o efeito da morte sobre o corpo daquela que tinha sido uma bela imperatriz, decidiu "nunca mais servir a um senhor que me possa morrer". Ainda jovem foi nomeado vice-rei da Catalunha, província que administrou com grande eficiência. Quando o seu pai morreu, recebeu por herança o título de Duque de Gandía, retirou-se para a sua terra natal e aí levaria, com a sua família, uma vida entregue puramente à religião.
Em 1546 a sua esposa Eleanor morreu e Francisco decidiu entrar na recentemente fundada Companhia de Jesus. Ajustou as contas com os seus assuntos mundanos, renunciou aos seus títulos em favor do seu primogénito, Carlos e, imediatamente, foi-lhe oferecido o título de cardeal. Recusou, preferindo a vida de um pregador itinerante. Os seus amigos conseguiram convencê-lo a aceitar o título para aquilo que a natureza e as circunstâncias o haviam predestinado: em 1554, converteu-se no Comissário Geral dos Jesuítas na Espanha, e em 1565, em Superior Geral da Ordem
 

  
in Wikipédia

   
 

A
conversão do duque de Gândía, por José Moreno Carbonero (1884), Museu do Prado
 
Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
  
 
in Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, setembro 30, 2019

Francisco de Bórgia e Aragão, o quarto Duque de Gândia, morreu há 447 anos

São Francisco de Borja por Alonso Cano, Museu de Belas Artes de Sevilha

Francisco de Borja e Aragão (São Francisco de Borja) (Gandia, Valência, Espanha, 28 de outubro de 1510Roma, 30 de setembro de 1572) foi Duque de Gândia, bisneto do Papa Alexandre VI e bisneto do rei Fernando II de Aragão, que se fez jesuíta logo após enviuvar. Francisco de Borja foi canonizado em 1671. Exerceu o cargo de Vice-rei da Catalunha.
Desde pequeno era muito piedoso e desejou tornar-se monge, a sua família porém enviou-o para a corte do imperador Carlos V. Ali se destacaria acompanhando o imperador nas suas campanhas e casando-se com uma nobre portuguesa: Eleonor de Castro Melo e Menezes, com a qual teve oito filhos: Carlos, Isabel, João, Álvaro, Fernando, Afonso, Joana e Dorotéia.
Nobre e considerado "grande de Espanha", em 1539 escoltou o corpo da imperatriz Isabel de Portugal ao seu túmulo em Granada. Diz-se que, quando viu o efeito da morte sobre o corpo daquela que tinha sido uma bela imperatriz, decidiu "nunca mais servir a um senhor que me possa morrer". Ainda jovem foi nomeado vice-rei da Catalunha, província que administrou com grande eficiência. Quando o seu pai morreu, recebeu por herança o título de Duque de Gandía, retirou-se para a sua terra natal e aí levaria, com a sua família, uma vida entregada puramente à religião.
Em 1546 a sua esposa Eleanor morreu e Francisco decidiu entrar na recentemente fundada Companhia de Jesus. Ajustou as contas com os seus assuntos mundanos, renunciou aos seus títulos em favor do seu primogénito, Carlos e, imediatamente, foi-lhe oferecido o título de cardeal. Recusou, preferindo a vida de um pregador itinerante. Os seus amigos conseguiram convencê-lo a aceitar o título para aquilo que a natureza e as circunstâncias o haviam predestinado: em 1554, converteu-se no Comissário Geral dos Jesuítas na Espanha, e em 1565, em Superior Geral da Ordem.

  
in Wikipédia

Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
  
 
in Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, setembro 30, 2017

O Duque de Gândia morreu há 445 anos

São Francisco de Borja por Alonso Cano, Museu de Belas Artes de Sevilha

Francisco de Borja e Aragão (São Francisco de Borja) (Gandia, Valência, Espanha, 28 de outubro de 1510Roma, 30 de setembro de 1572) foi Duque de Gândia, bisneto do Papa Alexandre VI e bisneto do rei Fernando II de Aragão, que se fez jesuíta logo após enviuvar. Francisco de Borja foi canonizado em 1671. Exerceu o cargo de Vice-rei da Catalunha.
Desde pequeno era muito piedoso e desejou tornar-se monge, sua família porém o enviou à corte do imperador Carlos V. Ali se destacaria acompanhando o imperador em suas campanhas e casando-se com uma nobre portuguesa: Eleonor de Castro Melo e Menezes, com a qual teve oito filhos: Carlos, Isabel, João, Álvaro, Fernando, Afonso, Joana e Dorotéia.
Nobre e considerado "grande de Espanha", em 1539 escoltou o corpo da imperatriz Isabel de Portugal ao seu túmulo em Granada. Diz-se que, quando viu o efeito da morte sobre o corpo daquela que tinha sido uma bela imperatriz decidiu "nunca mais servir a um senhor que me possa morrer". Ainda jovem foi nomeado vice-rei da Catalunha, província que administrou com grande eficiência. Quando seu pai morreu, recebeu por herança o título de Duque de Gandía, retirou-se para a sua terra natal e aí levaria, com sua família, uma vida entregada puramente à religião.
Em 1546 a sua esposa Eleanor morreu e Francisco decidiu entrar na recentemente fundada Companhia de Jesus. Ajustou as contas com os seus assuntos mundanos, renunciou aos seus títulos em favor do seu primogénito, Carlos e, imediatamente, foi-lhe oferecido o título de cardeal. Recusou, preferindo a vida de um pregador itinerante. Os seus amigos conseguiram convencê-lo a aceitar o título para aquilo que a natureza e as circunstâncias o haviam predestinado: em 1554, converteu-se no Comissário Geral dos Jesuítas na Espanha, e em 1565, em Superior Geral de toda a Ordem.


Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

in Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, maio 01, 2012

A Imperatriz Isabel de Portugal morreu há 473 anos

Brasão da Imperatriz Isabel de Portugal

D. Isabel de Portugal (Lisboa, 24 de Outubro de 1503Toledo, 1 de Maio de 1539) foi filha do rei D. Manuel I e da rainha D. Maria de Aragão e Castela. Diziam-na belíssima, como prova o retrato pintado por Ticiano. Morreu de complicações no parto, no Palácio de Fuensalida em Toledo, estando sepultada no Panteão do Escorial.
Era irmã de D. João III e do Cardeal-Rei D. Henrique, reis de Portugal. Inteligente e culta, criada no esplendor da mais rica corte europeia do seu tempo, em Lisboa, na educação da imperatriz participaram também, por influência de sua mãe, os castelhanos Beatriz Galindo, la Latina e o humanista Luís Vives. Foi longamente regente em nome de Carlos V, entre 1528 e 1533, primeiro, e de 1535 a 1538 novamente, enquanto o marido se ausentou, em guerra.
Além disso, teve muita importância em relação à educação do seu primogénito, que viria a ser Filipe II de Espanha, e I de Portugal, de língua materna portuguesa, criado e educado pelas damas lusitanas de sua mãe durante a infância.

Casamento
O casamento fora negociado por seu pai, D. Manuel I, que morrendo antes de o concluir o deixou recomendado em testamento ao seu sucessor no codicilo de 11.12.1521. Assim, a 6.10.1525 firmou-se em Torres Novas o contrato. A noiva levou por dote a exorbitante quantia de 900 mil cruzados portugueses, ou dobras castelhanas. Carlos V, seu noivo e seu primo direito, era então ainda apenas Carlos I, rei de Aragão e Castela, duque da Borgonha e vários outros feudos: só quatro anos depois será eleito imperador do Sacro Império, tornando-se hierarquicamente o mais alto soberano da Cristandade, com jurisdição sobre a Alemanha e vários reinos e senhorios da Espanha, Itália, França e Flandres, estendendo ao mundo a sua influência política e o poder das suas armas; porém, como todos os soberanos da Renascença, foi várias vezes obrigado a recorrer a grandes famílias de banqueiros, como os Fugger, não só para financiar a sua acessão à coroa imperial, como também os seus projectos político-militares. Por isso mesmo Carlos havia prometido, anteriormente, a Henrique VIII casar-se com sua filha, Maria, de quem igualmente era primo direito, em 1522 (quando esta tinha apenas seis anos) - mas preferiu aceitar a consorte lusitana, cuja aliança e cujo dote imediato eram bem mais significativos na Europa do tempo, e lhe traziam a liquidez necessária para a compra do trono imperial.
Assim, a princesa casou-se em Almeirim por procuração, em 1 de novembro de 1525, com o seu primo Carlos, representado pelo embaixador Carlos Popeto; e partiu em janeiro de 1526 rumo a Elvas com grande e rica comitiva, dai prosseguindo a viagem em liteira até a fronteira do Caia. Aí, montada em linda égua branca esplendorosamente ajaezada, e com luzido e fidalgo acompanhamento, foi ao encontro da embaixada castelhana que a vinha buscar, encabeçada pelos duques de Calábria e de Béjar e pelo arcebispo de Toledo. Passada a fronteira, seguiu para Sevilha aonde se encontrava o marido, ali se repetindo solenemente as bodas imperiais nos paços chamados de Reales Alcázares, em Março de 1526. Foi um casamento feliz, pois os noivos se apaixonaram apenas se conheceram, e se isolaram do mundo prolongando uma lua-de-mel que não parecia querer acabar, e apenas terminaria quatorze anos depois, de facto, pela morte da imperatriz.
Deslumbrado com a sua beleza, Carlos V deu-lhe ao casar por nova divisa as três graças, tendo a primeira delas a rosa, símbolo da formosura; a segunda o ramo de murta, símbolo do amor; e a terceira, a coroa de carvalho, símbolo da fecundidade, além do mote: Has habet et superat.
Na corte castelhana em Toledo, a imperatriz D. Isabel preferiu viver sem se ocupar com política, quase sempre no seu oratório ou convivendo com as numerosas damas portuguesas que a haviam acompanhado até Castela, vigiando as amas dos seus numerosos filhos. Ao morrer de parto, catorze anos depois de casada, Carlos V tanto se comoveu com a sua perda que no convento de S. Justo, onde se recolheu durante o luto pesado da viuvez, passava horas a contemplar o seu retrato mais emblemático, pintado por Ticiano.
Isabel de Portugal, imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico. A obra-prima de Ticiano, hoje no Museu do Prado, o quadro foi pintado sobre outro, nove anos após a morte da Imperatriz

A morte a lenda
Tendo a imperatriz falecido em Toledo, e estando nessa época o soberano em Granada, encarregou este o futuro S. Francisco de Borja, um dos muitos apaixonados platónicos da bela imperatriz, de a conduzir até si a fim de a sepultar. Chegados lá, ao abrirem cerimonialmente o caixão de D. Isabel, a fim de verificarem a identidade do régio cadáver, a sua decomposição ia já avançada, destruindo a formosura da mais bela mulher daquele tempo, segundo rezavam os literatos de então. Segundo a lenda, perante a hedionda visão do seu cadáver descomposto o ainda Duque de Gândia, casado com a portuguesa D. Leonor de Castro, uma das suas damas, e que tanto e tão longamente amara a linda imperatriz à distância, jurou nunca mais servir a senhor humano algum, virando-se unicamente para o serviço divino; e ao enviuvar de D. Leonor, alguns anos depois, optará pela vida religiosa ingressando na Companhia de Jesus. O novo padre Francisco de Borja foi o terceiro Geral da Companhia, sendo depois canonizado como São Francisco de Borja. No entanto, sabemos agora que a famosa frase depois atribuída ao duque, e que deu o mote ao célebre poema de Sophia de Mello Breyner intitulado "Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal", sobre a sua alegada decisão de nunca mais servir a senhor mortal algum, foi sim pronunciada por São João de Ávila na oração fúnebre da imperatriz que proferiu durante as suas exéquias. É ainda no entanto possível que S. João de Ávila tenha utilizado nas exéquias imperiais a frase do humilde S. Francisco de Borja ao ser obrigado a contemplar decomposta a mulher que amara, e que a tradição oral o soubesse, ao atribuir a autoria desta a ele e não a S. João de Ávila.


Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

in Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, outubro 28, 2011

O Duque de Gândia morreu há 439 anos

São Francisco de Borja por Alonso Cano, Museu de Belas Artes de Sevilha

Francisco de Borja e Aragão (São Francisco de Borja) (Gandia, Valência, Espanha, 28 de outubro de 1510Roma, 1 de outubro de 1572) foi Duque de Gândia, bisneto do Papa Alexandre VI e bisneto do rei Fernando II de Aragão, e fez-se jesuíta logo após enviuvar. Francisco de Borja foi canonizado em 1671. Seu onomástico é celebrado em 3 de outubro. Exerceu o cargo de Vice-rei da Catalunha.

Desde pequeno era muito piedoso e desejou tornar-se monge, sua família porém o enviou à corte do imperador Carlos V. Ali se destacaria acompanhando o imperador em suas campanhas e casando-se com uma nobre portuguesa: Eleonor de Castro Melo e Menezes, com a qual teve oito filhos: Carlos, Isabel, João, Álvaro, Fernando, Afonso, Joana e Dorotéia.
Nobre e considerado "grande de Espanha", em 1539 escoltou o corpo da imperatriz Isabel de Portugal ao seu túmulo em Granada. Diz-se que, quando viu o efeito da morte sobre o corpo daquela que tinha sido uma bela imperatriz decidiu "nunca mais servir a um senhor que me possa morrer". Ainda jovem foi nomeado vice-rei da Catalunha, província que administrou com grande eficiência. Quando seu pai morreu, recebeu por herança o título de Duque de Gandía, então se retirou para a sua terra natal e aí levaria, com sua família, uma vida entregada puramente à religião.
Em 1546 sua esposa Eleanor morreu e Francisco decidiu entrar na recentemente fundada Companhia de Jesus. Ajustou as contas com os seus assuntos mundanos, renunciou aos seus títulos em favor de seu primogénito, Carlos e, imediatamente, foi-lhe oferecido o título de cardeal. Recusou, preferindo a vida de um pregador itinerante. Seus amigos conseguiram convencê-lo a aceitar o título para aquilo que a natureza e as circunstâncias o haviam predestinado: em 1554, converteu-se no Comissário Geral dos Jesuítas na Espanha, e em 1565, em Superior Geral de toda a Ordem.


Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

in Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, outubro 24, 2011

A Imperatriz Isabel de Portugal nasceu há 508 anos

Brasão da Imperatriz Isabel de Portugal


D. Isabel de Portugal (Lisboa, 24 de Outubro de 1503Toledo, 1 de Maio de 1539) foi filha do rei D. Manuel I e da rainha D. Maria de Aragão e Castela. Diziam-na belíssima, como prova o retrato pintado por Ticiano. Morreu de complicações no parto, no Palácio de Fuensalida em Toledo, estando sepultada no Panteão do Escorial.
Era irmã de D. João III e do Cardeal-Rei D. Henrique, reis de Portugal. Inteligente e culta, criada no esplendor da mais rica corte europeia do seu tempo, em Lisboa, na educação da imperatriz participaram também, por influência de sua mãe, os castelhanos Beatriz Galindo, la Latina e o humanista Luís Vives. Foi longamente regente em nome de Carlos V, entre 1528 e 1533, primeiro, e de 1535 a 1538 novamente, enquanto o marido se ausentou, em guerra.
Além disso, teve muita importância em relação à educação do seu primogénito, que viria a ser Filipe II de Espanha, e I de Portugal, de língua materna portuguesa, criado e educado pelas damas lusitanas de sua mãe durante a infância.

Casamento
O casamento fora negociado por seu pai, D. Manuel I, que morrendo antes de o concluir o deixou recomendado em testamento ao seu sucessor no codicilo de 11.12.1521. Assim, a 6.10.1525 firmou-se em Torres Novas o contrato. A noiva levou por dote a exorbitante quantia de 900 mil cruzados portugueses, ou dobras castelhanas. Carlos V, seu noivo e seu primo direito, era então ainda apenas Carlos I, rei de Aragão e Castela, duque da Borgonha e vários outros feudos: só quatro anos depois será eleito imperador do Sacro Império, tornando-se hierarquicamente o mais alto soberano da Cristandade, com jurisdição sobre a Alemanha e vários reinos e senhorios da Espanha, Itália, França e Flandres, estendendo ao mundo a sua influência política e o poder das suas armas; porém, como todos os soberanos da Renascença, foi várias vezes obrigado a recorrer a grandes famílias de banqueiros, como os Fugger, não só para financiar a sua acessão à coroa imperial, como também os seus projectos político-militares. Por isso mesmo Carlos havia prometido, anteriormente, a Henrique VIII casar-se com sua filha, Maria, de quem igualmente era primo direito, em 1522 (quando esta tinha apenas seis anos) - mas preferiu aceitar a consorte lusitana, cuja aliança e cujo dote imediato eram bem mais significativos na Europa do tempo, e lhe traziam a liquidez necessária para a compra do trono imperial.
Assim, a princesa casou-se em Almeirim por procuração, em 1 de novembro de 1525, com o seu primo Carlos, representado pelo embaixador Carlos Popeto; e partiu em janeiro de 1526 rumo a Elvas com grande e rica comitiva, dai prosseguindo a viagem em liteira até a fronteira do Caia. Aí, montada em linda égua branca esplendorosamente ajaezada, e com luzido e fidalgo acompanhamento, foi ao encontro da embaixada castelhana que a vinha buscar, encabeçada pelos duques de Calábria e de Béjar e pelo arcebispo de Toledo. Passada a fronteira, seguiu para Sevilha aonde se encontrava o marido, ali se repetindo solenemente as bodas imperiais nos paços chamados de Reales Alcázares, em Março de 1526. Foi um casamento feliz, pois os noivos se apaixonaram apenas se conheceram, e se isolaram do mundo prolongando uma lua-de-mel que não parecia querer acabar, e apenas terminaria quatorze anos depois, de facto, pela morte da imperatriz.
Deslumbrado com a sua beleza, Carlos V deu-lhe ao casar por nova divisa as três graças, tendo a primeira delas a rosa, símbolo da formosura; a segunda o ramo de murta, símbolo do amor; e a terceira, a coroa de carvalho, símbolo da fecundidade, além do mote: Has habet et superat.
Na corte castelhana em Toledo, a imperatriz D. Isabel preferiu viver sem se ocupar com política, quase sempre no seu oratório ou convivendo com as numerosas damas portuguesas que a haviam acompanhado até Castela, vigiando as amas dos seus numerosos filhos. Ao morrer de parto, catorze anos depois de casada, Carlos V tanto se comoveu com a sua perda que no convento de S. Justo, onde se recolheu durante o luto pesado da viuvez, passava horas a contemplar o seu retrato mais emblemático, pintado por Ticiano.
Isabel de Portugal, imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico. A obra-prima de Ticiano, hoje no Museu do Prado, o quadro foi pintado sobre outro, nove anos após a morte da Imperatriz

A morte a lenda
Tendo a imperatriz falecido em Toledo, e estando nessa época o soberano em Granada, encarregou este o futuro S. Francisco de Borja, um dos muitos apaixonados platónicos da bela imperatriz, de a conduzir até si a fim de a sepultar. Chegados lá, ao abrirem cerimonialmente o caixão de D. Isabel, a fim de verificarem a identidade do régio cadáver, a sua decomposição ia já avançada, destruindo a formosura da mais bela mulher daquele tempo, segundo rezavam os literatos de então. Segundo a lenda, perante a hedionda visão do seu cadáver descomposto o ainda Duque de Gândia, casado com a portuguesa D. Leonor de Castro, uma das suas damas, e que tanto e tão longamente amara a linda imperatriz à distância, jurou nunca mais servir a senhor humano algum, virando-se unicamente para o serviço divino; e ao enviuvar de D. Leonor, alguns anos depois, optará pela vida religiosa ingressando na Companhia de Jesus. O novo padre Francisco de Borja foi o terceiro Geral da Companhia, sendo depois canonizado como São Francisco de Borja. No entanto, sabemos agora que a famosa frase depois atribuída ao duque, e que deu o mote ao célebre poema de Sophia de Mello Breyner intitulado "Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal", sobre a sua alegada decisão de nunca mais servir a senhor mortal algum, foi sim pronunciada por São João de Ávila na oração fúnebre da imperatriz que proferiu durante as suas exéquias. É ainda no entanto possível que S. João de Ávila tenha utilizado nas exéquias imperiais a frase do humilde S. Francisco de Borja ao ser obrigado a contemplar decomposta a mulher que amara, e que a tradição oral o soubesse, ao atribuir a autoria desta a ele e não a S. João de Ávila.


Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

in Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, outubro 01, 2011

O Duque de Gândia nasceu há 501 anos

São Francisco de Borja por Alonso Cano, Museu de Belas Artes de Sevilha

Francisco de Borja e Aragão (São Francisco de Borja) (Gandia, Valência, Espanha, 28 de outubro de 1510Roma, 1 de outubro de 1572) foi Duque de Gândia, bisneto do Papa Alexandre VI e bisneto do rei Fernando II de Aragão, e fez-se jesuíta logo após enviuvar. Francisco de Borja foi canonizado em 1671. Seu onomástico é celebrado em 3 de outubro. Exerceu o cargo de Vice-rei da Catalunha.

Desde pequeno era muito piedoso e desejou tornar-se monge, sua família porém o enviou à corte do imperador Carlos V. Ali se destacaria acompanhando o imperador em suas campanhas e casando-se com uma nobre portuguesa: Eleonor de Castro Melo e Menezes, com a qual teve oito filhos: Carlos, Isabel, João, Álvaro, Fernando, Afonso, Joana e Dorotéia.
Nobre e considerado "grande de Espanha", em 1539 escoltou o corpo da imperatriz Isabel de Portugal à sua tumba em Granada. Se diz que, quando viu o efeito da morte sobre o corpo daquela que tinha sido uma bela imperatriz decidiu "nunca mais servir a um senhor que me possa morrer". Ainda jovem foi nomeado vice-rei da Catalunha, província que administrou com grande eficiência. Quando seu pai morreu, recebeu por herança o título de Duque de Gandía, então se retirou para a sua terra natal e aí levaria, com sua família, uma vida entregada puramente à religião.
Em 1546 sua esposa Eleanor morreu e Francisco decidiu entrar na recentemente fundada Companhia de Jesus. Ajustou as contas com os seus assuntos mundanos, renunciou aos seus títulos em favor de seu primogénito, Carlos e, imediatamente, se lhe foi oferecido o título de cardeal. Recusou, preferindo a vida de um pregador itinerante. Seus amigos conseguiram convencê-lo a aceitar o título para aquilo que a natureza e as circunstâncias o haviam predestinado: em 1554, converteu-se no Comissário Geral dos Jesuítas na Espanha, e em 1565, em Superior Geral de toda a Ordem.

Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

in Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen