António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha (
Lisboa,
18 de março de
1792 - Lisboa,
26 de abril de
1860), 7.º
conde e 1.º
marquês de Vila Flor e ainda 1.º
duque da Terceira,
foi um importante general e homem de Estado português do tempo do
liberalismo, sendo uma das mais importantes figuras do tempo, tanto no
plano político, como, e talvez sobretudo, no plano militar. De herói das
guerras liberais tornou-se no líder incontestado dos
cartistas, a facção mais conservadora do liberalismo português, embrião do futuro
Partido Regenerador.
Pertencente à mais genuína alta nobreza portuguesa, teve múltiplos
cargos e honrarias na corte, entre as quais, moço fidalgo da rainha D.
Maria I, gentil-homem da câmara de el-rei D.
João VI, copeiro-mor e estribeiro-mor. Exerceu as funções de marechal de campo, comandante-em-chefe do
Exército Português,
conselheiro de Estado,
par do Reino, tendo por quatro vezes (
1836,
1851,
1842-
1846 e
1859-
1860) exercido o cargo de
Presidente do Conselho de Ministros. Foi o 10.º
capitão-general dos
Açores, ali presidindo à
Regência de Angra durante a fase inicial das
guerras liberais.
(...)
Quando os miguelistas atacaram no dia
24 de março de
1833, foram repelidos pelas tropas comandadas pelo duque da Terceira no
combate das Antas.
Mas, apesar disso, o cerco não fora levantado e era necessário
transportar a guerra para outro ponto, sob pena do impasse levar à
desmoralização e à derrota dos liberais. Depois de várias hesitações e
contra a vontade do general Solignac, que se demitiu ao ser contrariado,
propôs-se uma expedição ao Algarve, sendo escolhido para seu comandante
o duque da Terceira.
Sem perder tempo, as forças comandadas pelo duque da Terceira marcharam sobre
Olhão e tomaram logo em seguida
São Bartolomeu de Messines, enquanto Charles Napier procedia a novo desembarque e se assenhoreava de
Tavira.
Enquanto o duque da Terceira, em terra, se assenhoreava do Algarve, a esquadra de
Charles Napier dava combate à esquadra miguelista que saíra de Lisboa, no que ficou conhecido pela
batalha do Cabo de São Vicente, derrotando-a e pondo termo efectivo à capacidade naval dos miguelistas.
Planeava então o duque da Terceira, que tinha por chefe de estado-maior
José Jorge Loureiro, marchar sobre
Beja,
onde as forças liberais se tinham levantado contra o miguelismo, numa
insurreição que era necessário acalentar. Contudo, a notícia da vitória
naval do Cabo de São Vicente fez com que ele fosse a toda a pressa a
Lagos
conferenciar com o almirante Charles Napier. Resolveram então que as
forças do duque da Terceira marchariam de imediato sobre Lisboa ao longo
do litoral alentejano, aproveitando a superioridade naval conseguida e o
facto das forças miguelistas estarem a convergir sobre Beja, deixando
aberto o caminho para a capital.
O duque da Terceira não quis, como primeiro tencionara, ir alentar a
insurreição militar de Beja, porque entendeu que o principal fim da sua
missão era tomar Lisboa. O general
Francisco de Paula Vieira da Silva Tovar, 1.º
barão e 1.º
visconde de Molelos,
comandante das forças miguelistas que tinham por missão principal
cobrir aquela cidade pelo sul, não percebeu esta alteração e decidiu
subjugar a insurreição constitucional de Beja, ponto para onde esperava
que as forças liberais em operação no Algarve convergissem. Este erro
custar-lhe-ia caro, sendo depois, face ao descalabro de Lisboa, acusado
de pusilânime e mesmo de traição.
Molelos não soube seguir de perto e espiar com atenção os movimentos
do inimigo, ou não o quis fazer, marchando para Beja. Enquanto isso
acontecia, a
13 de julho, o duque da Terceira saía de
São Bartolomeu de Messines para
São Marcos da Serra,
entrando no Alentejo no dia seguinte. A partir daí encetou uma marcha
rápida para norte, chegando a 15 de julho a Gravão, onde descansou no
dia 16 para esperar a artilharia. A 17 estava em
Messejana, a 18 nos Bairros, atravessando o
Sado no dia 19, indo nesse dia pernoitar a
Vale de Ferreira.
Continuando a marcha para norte, no dia
20 de julho tomava de surpresa
Alcácer do Sal, e ia, no dia 21, acampar diante de
Setúbal, que tomou no dia
22 de Julho, numa operação conjunta com as forças navais de Charles Napier. Marchou logo em seguida sobre
Azeitão e
Cacilhas, encontrando nesse mesmo dia, na
Cova da Piedade, a cavalaria miguelista e alguma infantaria do exército de reserva comandado pelo general
Joaquim Teles Jordão.
Aquelas tropas, comprimidas entre o rio e as forças liberais, foram
completamente batidas, caindo prisioneiras nesse dia quase toda a
cavalaria e infantaria que entrara no combate. No dia seguinte, morto o
general Teles Jordão, o resto das tropas que ocupavam
Almada renderam-se sem disparar um tiro.
Nessa noite, tomados de súbito pânico,
Nuno Caetano Álvares Pereira de Melo, o 6.º
duque de Cadaval,
que encabeçava o ministério miguelista, e os restantes ministros
decidiram abandonar Lisboa sem opor resistência. Num dos episódios mais
estranhos de toda a guerra, o duque de Cadaval, comandante do exército
miguelista em Lisboa, organizou uma grande parada militar que se dirigiu
para norte, sem ter sequer entrado em combate.
As forças do duque da
Terceira entraram na cidade a 24 de julho,
sendo entusiasticamente recebidas como libertadores. Dois dias depois,
chegava Charles Napier com a esquadra que vinha bloquear o Tejo,
operação feita desnecessária pela reviravolta entretanto ocorrida.
Apenas quatro dias mais tarde, a
28 de julho de
1833,
chegava a Lisboa o ex-imperador D. Pedro, que deixara o governo do
Porto entregue ao general Saldanha e tratava agora de pôr a capital em
estado de defesa contra o provável regresso das forças miguelistas.
Saldanha, consciente da necessidade de concentrar as operações em
Lisboa, atacava as linhas miguelistas, obrigando as desmoralizadas
tropas que o marechal
Louis Auguste Victor de Ghaisne de Bourmont, o
conde de Bourmont,
então comandante-em-chefe das forças miguelistas, deixara na sua frente
a levantar o cerco e partia também para sul, em direcção a Lisboa.