Foi um dos grandes
guitarristas e é um símbolo ímpar da cultura portuguesa. É um dos principais responsáveis pela divulgação e popularidade da
guitarra portuguesa e grande
compositor. Carlos Paredes é um guitarrista que para além das
influências dos seus antepassados - pai, avô, e tio, tendo sido o pai,
Artur Paredes, o grande mestre da guitarra de Coimbra - mantém um estilo
coimbrão, a sua
guitarra é de Coimbra, e própria
afinação era do
Fado de Coimbra. A sua vida em Lisboa marcou-o e inspirou-lhe muitos dos seus temas e composições. Ficou conhecido como
O mestre da guitarra portuguesa ou
O homem dos mil dedos.
Biografia
Filho do famoso compositor e guitarrista, mestre Artur Paredes, neto e bisneto de guitarristas,
Gonçalo Paredes e
António Paredes, começou a estudar
guitarra portuguesa (de Coimbra, cuja afinação é diferente) aos quatro anos com o seu pai, embora a mãe preferisse que o filho se dedicasse ao piano; frequenta o Liceu Passos Manuel, começando também a ter aulas de violino na
Academia de Amadores de Música. Na sua última entrevista, recorda: "Em pequeno, a minha mãe,
coitadita, arranjou-me duas professoras de
violino e
piano. Eram senhoras muito cultas, a quem devo a cultura musical que tenho".
Em 1934, a família muda-se para Lisboa, o pai era funcionário do BNU e vem transferido para a capital. Abandona a aprendizagem do
violino para se dedicar, sob a orientação do pai, completamente à
guitarra. Carlos Paredes fala com
saudades desses tempos: "Neste anos, creio que inventei muita coisa. Criei uma forma de tocar muito própria que é diferente da do meu pai e do meu avô".
Carlos Paredes inicia em 1949 uma colaboração regular num programa de Artur Paredes na
Emissora Nacional e termina os estudos secundários num colégio particular. Não chega a concluir o curso liceal e inscreve-se nas aulas de canto da Juventude Musical Portuguesa, tornando-se, em 1949, funcionário administrativo do
Hospital de São José.
Em 1958, é preso pela
PIDE por fazer oposição a
Salazar, é acusado de pertencer ao
Partido Comunista Português, do qual era de facto militante, sendo libertado no final de 1959 e expulso da função pública, na sequência de julgamento. Durante este tempo andava de um lado para o outro da cela fingindo tocar música, o que levou os companheiros de prisão a pensar que estaria louco - de facto, o que ele estava a fazer, era compor músicas, na sua cabeça. Quando voltou para o local onde trabalhava no Hospital, uma das ex-colegas, Rosa Semião, recorda-se da
mágoa do guitarrista devido à denúncia de que foi alvo: «Para ele foi uma traição, ter sido denunciado por um colega de trabalho do hospital. E contudo, mais tarde, ao cruzar-se com um dos homens que o denunciou, não deixou de o cumprimentar, revelando uma enorme capacidade de perdoar!»
Em 1962, é convidado pelo realizador
Paulo Rocha, para compor a
banda sonora do filme
Os Verdes Anos: «Muitos jovens vinham de outras terras para tentarem a sorte em Lisboa. Isso tinha para mim um grande interesse humano e serviu de inspiração a muitas das minhas músicas. Eram jovens completamente marginalizados, empregadas domésticas, de lojas - Eram precisamente essas pessoas com que eu simpatizava profundamente, pela sua simplicidade». Recebeu um reconhecimento especial por “Os Verdes anos”.
Quando os presos políticos foram libertados depois do
25 de Abril de
1974, eram vistos como heróis. No entanto, Carlos Paredes sempre recusou esse estatuto, dado pelo povo. Sobre o tempo que foi preso nunca gostou muito de comentar. Dizia «que havia pessoas, que sofreram mais do que eu!». Ele é reintegrado no quadro do Hospital de São José e percorre o país, actuando em sessões culturais, musicais e políticas em simultâneo, mantendo sempre uma vida simples, e por incrível que possa parecer, a sua profissão de arquivista de radiografias. Várias compilações de gravações de Carlos Paredes são editadas, estando desde 2003 a sua obra completa reunida numa caixa de oito
CDs.
A sua
paixão pela guitarra era tanta que, conta que, certa vez, a sua guitarra se perdeu numa viagem de avião e ele confessou a um amigo que
«pensou em se suicidar».
Uma doença do sistema nervoso central, (
mielopatia), impediu-o de tocar durante os últimos 11 anos da sua vida. Morreu a
23 de julho de
2004 na Fundação Lar Nossa Senhora da Saúde em Lisboa, sendo decretado
Luto Nacional.