sexta-feira, julho 07, 2023

Guerra Junqueiro morreu há um século...


Abílio Manuel Guerra Junqueiro (Freixo de Espada à Cinta, 17 de setembro de 1850 - Lisboa, 7 de julho de 1923) foi bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra, alto funcionário administrativo, político, deputado, jornalista, escritor e poeta. Foi o poeta mais popular da sua época e o mais típico representante da chamada "Escola Nova". Poeta panfletário, a sua poesia ajudou criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República. Foi entre 1911 e 1914 o embaixador de Portugal na Suíça (o título era "ministro de Portugal na Suíça"). Guerra Junqueiro formou-se em direito na Universidade de Coimbra.   

   
Cronologia

  • 1850: Nasce no lugar de Ligares, Freixo de Espada à Cinta;
  • 1864: «Duas páginas dos quatorze anos»;
  • 1866: Frequenta o curso de Teologia na Universidade de Coimbra;
  • 1867: «Vozes Sem Eco»;
  • 1868: «Baptismo de Amor». Matricula-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra;
  • 1873: «Espanha Livre». Colaboração de Guerra Junqueiro em «A Folha» de João Penha. É bacharel em Direito;
  • 1874: «A Morte de D. João»;
  • 1875: Primeiro número de «A Lanterna Mágica» em que colabora;
  • 1878: É nomeado Secretário Geral do Governo Civil em Angra do Heroísmo;
  • 1879: «A Musa em Férias» e «O Melro». Adere ao Partido Progressista. É transferido de Angra do Heroísmo para Viana do Castelo e eleito para a Câmara dos Deputados;
  • 1880: Casa a 10 de fevereiro com Filomena Augusta da Silva Neves. A 11 de novembro nasce a filha Maria Isabel;
  • 1881: Nasce a filha Júlia. Interditada por demência, vem a ser internada no Porto;
  • 1885: «A Velhice do Padre Eterno». Criação do movimento «Vida Nova» do qual Guerra Junqueiro é simpatizante;
  • 1887: Segunda viagem de Guerra Junqueiro a Paris;
  • 1888: Constitui-se o grupo «Vencidos da Vida». «A Legítima»;
  • 1889: Falece a sua esposa, Filomena Augusta Neves, facto que lamentará até ao fim dos seus dias.
  • 1890: «Finis Patriae». Guerra Junqueiro é eleito deputado pelo círculo de Quelimane;
  • 1895: Vende a maior parte das coleções artísticas que acumulara;
  • 1896: «A Pátria». Parte para Paris;
  • 1902: «Oração ao Pão»;
  • 1903: Reside em Vila do Conde;
  • 1904: «Oração à Luz»;
  • 1905: Visita a Academia Politécnica do Porto e instala-se nesta cidade;
  • 1908: É candidato do Partido Republicano pelo Porto;
  • 1910: É nomeado Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário da República Portuguesa junto da Confederação Suíça, em Berna;
  • 1911: Homenagem a Guerra Junqueiro no Porto;
  • 1914: Exonera-se das funções de Ministro Plenipotenciário;
  • 1920: «Prosas Dispersas»;
  • 1923: Morre a 7 de julho em Lisboa.
  • 1966: O seu corpo é solenemente trasladado para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, numa cerimónia ocorrida para homenagear também outras ilustres figuras portuguesas entre os dias 1 e 5 de dezembro. Antes disso, encontrava-se no Mosteiro dos Jerónimos.
 



A Moleirinha

Pela estrada plana, toque, toque, toque,
Guia o jumentinho uma velhinha errante.
Como vão ligeiros, ambos a reboque,
Antes que anoiteça, toque, toque, toque,
A velhinha atrás, o jumentito adiante!...

Toque, toque, a velha vai para o moinho,
Tem oitenta anos, bem bonito rol!...
E contudo alegre como um passarinho,
Toque, toque, e fresca como o branco linho,
De manhã nas relvas a corar ao sol.

Vai sem cabeçada, em liberdade franca,
O jerico ruço duma linda cor;
Nunca foi ferrado, nunca usou retranca,
Tange-o, toque, toque, a moleirinha branca
Com o galho verde duma giesta em flor.

Vendo esta velhita, encarquilhada e benta,
Toque, toque, toque, que recordação!
Minha avó ceguinha se me representa...
Tinha eu seis anos, tinha ela oitenta,
Quem me fez o berço fez-lhe o seu caixão!...

Toque, toque, toque, lindo burriquito,
Para as minhas filhas quem mo dera a mim!
Nada mais gracioso, nada mais bonito!
Quando a virgem pura foi para o Egipto,
Com certeza ia num burrico assim.

Toque, toque, é tarde, moleirinha santa!
Nascem as estrelas, vivas, em cardume...
Toque, toque, toque, e quando o galo canta,
Logo a moleirinha, toque, se levanta,
P’ra vestir os netos, p’ra acender o lume...

Toque, toque, toque, como se espaneja,
Lindo o jumentinho pela estrada chã!
Tão ingénuo e humilde, dá-me, salvo seja,
Dá-me até vontade de o levar à igreja,
Baptizar-lhe a alma, p’ra a fazer cristã!

Toque, toque, toque, e a moleirinha antiga,
Toda, toda branca, vai numa frescata...
Foi enfarinhada, sorridente amiga,
Pela mó da azenha com farinha triga,
Pelos anjos loiros com luar de prata!...

Toque, toque, como o burriquito avança!
Que prazer d’outrora para os olhos meus!
Minha avó contou-me quando fui criança,
Que era assim tal qual a jumentinha mansa
Que adorou nas palhas o menino Deus...

Toque, toque, é noite... ouvem-se ao longe os sinos,
Moleirinha branca, branca de luar!...
Toque, toque, e os astros abrem diamantinos,
Como estremunhados querubins divinos,
Os olhitos meigos para a ver passar...

Toque, toque, e vendo sideral tesoiro,
Entre os milhões d’astros o luar sem véu,
O burrico pensa: Quanto milho loiro!
Quem será que mói estas farinhas d’oiro
Com a mó de jaspe que anda além no Céu!

 

Guerra Junqueiro

3 comentários:

Manuel M Pinto disse...

Médico, escritor e ensaísta, Mário Sacramento nasceu a 7 de julho de 1920 em Ílhavo.
Destacou-se como importante figura da resistência ao salazarismo, desenvolvendo desde jovem forte intervenção política. Foi membro do MUD Juvenil e militante do Partido Comunista. Foi secretário-geral da comissão promotora do Primeiro Congresso Republicano em 1957 e da organização do Segundo Congresso Republicano, embora tenha falecido antes da sua realização em 1969. Fortemente perseguido pela PIDE, foi preso cinco vezes, a primeira das quais em 1938, ainda estudante, e a última em 1962.
Interessou-se desde muito cedo pela escrita e colaborou em jornais, revistas e páginas literárias, como Diálogo, Seara Nova, O Diabo, Sol Nascente, Vértice, Comércio do Porto e Diário de Lisboa, onde publicou extensa obra de crítica e ensaio.
Escreveu análise literária sobre algumas das mais importantes figuras da literatura portuguesa, designadamente Retrato de Eça de Queirós (1944); Fernando Pessoa, Poeta da Hora Absurda (1959); Fernando Namora (1967). Em 1970 publicou Frátria, Diálogo com os Católicos (ou talvez não), que reúne o debate que travou com Mário Rocha. Uma boa parte da sua obra de ensaio literário foi reunida e publicada em três volumes, Ensaios de Domingo I (1959), II e III (1974 e 1990 – póstumas).
A sua obra "Há uma Estética Neo-Realista?" (1968) constitui um marco na teorização do neorrealismo, sendo um dos seus textos mais lidos e discutidos.
Faleceu no dia 27 de março de 1969, aos 48 anos de idade.
Fonte:
https://www.museudoneorealismo.pt/agenda/evento/nascia-mario-sacramento

Manuel M Pinto disse...

José Leite de Vasconcelos Cardoso Pereira de Melo (Ucanha, 7 de julho de 1858 — Lisboa, 17 de maio de 1941), foi um linguista, filólogo, arqueólogo e etnógrafo português.
"Fundador e primeiro diretor do atual Museu Nacional de Arqueologia, ao tempo designado por Museu Etnográfico Português, constitui um dos principais vultos da Cultura Portuguesa dos séculos XIX e XX. A importância e diversidade da sua obra encontram-se bem patentes nos diversos volumes e sessões de homenagem que lhe foram dedicados, em vida e de depois da sua morte, em 1941, com 82 anos de idade – uma obra que abrange praticamente todos os campos em que poderia ser abordado o estudo do “Homem Português”, tanto do passado como do presente e especialmente na sua vertente popular: Filologia e Linguística, Literatura, Etnografia, Numismática, Arqueologia, etc.
Nas suas numerosas deslocações pelo País (alguns dos títulos dos seus livros dão bem conta desta situação: ”De Terra em Terra” (compilação de artigos já publicados e, referentes a excursões arqueológicas e etnográficas que realizou pelo país), «Mês de Sonho» (visita ao arquipélago dos Açores, no ano de 1924) ou “De Campolide a Melrose”) e no estrangeiro (em 1909, por exemplo, participava no famoso Congresso do Cairo, de que foi presidente da 1.ª Secção (Arqueologia Prehistórica) e, de onde trouxe algumas das antiguidades egípcias que ainda hoje se conservam na respectiva exposição, no Museu), Leite de Vasconcelos teceu uma sólida teia de contactos, granjeando a admiração e simpatia de centenas, ou até milhares, de pessoas, desde os mais humildes camponeses da Ilha do Corvo, até aos mais conceituados vultos da inteligentzia europeia. Muitos deles tornaram-se também seus correspondentes, dando origem ao maior epistolário de autor português jamais conhecido, publicado em 1999 pelo Museu Nacional de Arqueologia: uma colecção de 24800 espécimes epistolares, provenientes de 3803 correspondentes.
(...)
Com a sua aposentação do cargo de Diretor do Museu, em 1929, Leite de Vasconcelos pôde ainda lançar, finalmente, as bases do seu último grande projeto: a “Etnografia Portuguesa”, cuja publicação em dez volumes abarca aspetos intimamente ligados ao Povo Português, desde a ocupação do território e a vida material, até às superstições, e à religiosidade, num ambicioso projeto em que o objetivo continuava a ser, como desde o início, o Todo do Homem Português."
Fonte:
https://www.museunacionalarqueologia.gov.pt/?p=301

Fernando Martins disse...

Obrigado pelas sugestões - saíram há pouco duas publicações sobre Leite de Vasconcelos e Mário Sacramento...