quinta-feira, dezembro 01, 2011

A poetisa Fernanda Botelho nasceu há 85 anos

(imagem daqui)

Maria Fernanda de Faria e Castro Botelho (Porto, 1 de Dezembro de 1926 - Lisboa, 11 de Dezembro de 2007) foi uma escritora portuguesa.
Era parente afastada do escritor Camilo Castelo Branco. Estudou Filologia Clássica nas Universidades de Coimbra e Lisboa, viria a fixar-se em Lisboa para ocupar a direção do departamento belga de turismo entre 1973 e 1983.
Foi co-fundadora da revista Távola Redonda, tendo ainda colaborado ainda em outras publicações periódicas, nomeadamente a Europa e a Graal.

Obras
  • Coordenadas Líricas (1951)
  • O Enigma das Sete Alíneas (1956)
  • O Ângulo Raso (1957)
  • Calendário Privado (1958)
  • A Gata e a Fábula (1960)
  • Xerazade e os outros (1964)
  • Terra sem Música (1969)
  • Lourenço É Nome de Jogral (1971)
  • Esta Noite Sonhei com Brughel (1987)
  • Festa em Casa de Flores (1990)

Crítica
Sobre o estilo o escritor Urbano Tavares Rodrigues disse que «que é de um rigor, de uma originalidade tais que a troca de uma simples palavra na maioria das suas frases apagaria intenções. esse estilo acutilante, irónico, pessoalíssimo, todo ele nervo e criação, bastaria para impor decisivamente Fernanda Botelho».
O poeta Jorge de Sena afirmou: que a sua escrita era "[...] árida, sarcástica, anti-lirica [...] vivendo a sua lucidez na desagregação e pela desagregação de uma desassombrada e cínica visão que usa insolitamente as palavras e os símbolos."

Prémios
1961 - Prémio Castelo Branco, graças à obra A Gata e a Fábula.


Amnésia

Posso pedir, em vão, a luz de mil estrelas:
apenas obtenho este desenho pardo
que a lâmpada de vinte e cinco velas
estende no meu quarto.

Posso pedir, em vão, a melodia, a cor
e uma satisfação imediata e firme:
(a lúbrica face do despertador
é quem me prende e oprime).

E peço, em vão, uma palavra exata,
uma fórmula sonora que resuma
este desespero de não esperar nada,
esta esperança real em coisa alguma.

E nada consigo, por muito que peça!
E tamanha ambição de nada vale!
Que eu fui deusa e tive uma amnésia,
esqueci quem era e acordei mortal.

Fernanda Botelho

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