terça-feira, junho 15, 2010

Mais um ano...

Sim, hoje faço anos - um rol deles que, qualquer dia, deixo de comemorar... E, embora seja eu quem devia receber as prendas, aqui fica uma para a minha mãe, que é quem mais mérito tem no feito, e para os meus leitores:


Nasci para ser ignorante...

Nasci para ser ignorante
mas os parentes teimaram
(e dali não arrancaram)
em fazer de mim estudante.

Que remédio? Obedeci.
Há já três lustros que estudo.
Aprender, aprendi tudo,
mas tudo desaprendi.

Perdi o nome às Estrelas,
aos nossos rios e aos de fora.
Confundo fauna com flora.
Atrapalham-me as parcelas.

Mas passo dias inteiros
a ver um rio passar.
Com aves e ondas do Mar
tenho amores verdadeiros.

Rebrilha sempre uma Estrela
por sobre o meu parapeito;
pois não sou eu que me deito
sem ter falado com ela.

Conheço mais de mil flores.
Elas conhecem-me a mim.
Só não sei como em latim
as crismaram os doutores.

No entanto sou promovido,
mal haja lugar aberto,
a mestre: julgam-me esperto,
inteligente e sabido.

O pior é se um director
espreita p'la fechadura:
lá se vai licenciatura
se ouve as lições do doutor.

Lá se vai o ordenado
de tuta-e-meia por mês.
Lá fico eu de uma vez
um Poeta desempregado.

Se me não lograr o fado
porém, com tais directores,
e de rios, aves e flores
somente for vigiado,

enquanto as aulas correrem
não sentirei calafrios,
que flores, aves e rios
ignorante é que me querem.


Sebastião da Gama

2 comentários:

MEDRA PROL disse...

Assim sendo, meu caro poeta e Dr. muitos parabéns a si e à sr.ª sua mãe que o trouxe a este Mundo imundo.
Que conte muitos mais e com muita saúde física e psicológica.
Bem haja

Carlos Faria disse...

Pois então muitos parabéns e apesar de se sentir que nasceu para ignorante, na blogosfera mostra muita sapiência.
Muitas geoprendinhas ... desde que não sejam terramotos e outras catástrofes do mundo geopedrado.