Biografia
Nasceu em 1894, no dia de
Santa Escolástica, na Rua da Assembleia, entre a Rua do Tira Chapéu e a Rua da Ajuda, no
Centro Histórico de Salvador, tendo como pais Joaquim e Maria da Glória. Descendente de escravos
africanos, ainda criança foi escolhida para ser
Iyálorixá do terreiro
Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê, fundado em
1849 pela sua bisavó,
Maria Júlia da Conceição Nazaré, cujos pais eram originários de
Agbeokuta, sudoeste da
Nigéria.
Foi apelidada
Menininha, talvez por seu aspecto franzino.
“Não sei quem pôs em mim o nome de Menininha… Minha infância não tem muito o que contar… Agora, dançava o candomblé com todos desde os seis anos”.
Foi iniciada no culto dos orixás de
Keto aos 8 anos de idade por sua tia-avó e madrinha de
batismo, Pulchéria Maria da Conceição (
Mãe Pulchéria), chamada
Kekerê - em referência à sua posição hierárquica,
Iyá kekerê (Mãe pequena). Menininha seria a sua sucessora na função de Iyalorixá do Gantois. Com a morte repentina de Mãe Pulchéria, em
1918,
o processo de sucessão foi acelerado. Por um curto período, enquanto a
jovem se preparava para assumir o cargo, a sua mãe biológica,
Maria da Glória Nazareth, permaneceu à frente do Gantois.
Foi a quarta
Iyálorixá do
Terreiro do Gantois e a mais famosa de todas as
Iyálorixá brasileiras. Sucessora da sua mãe,
Maria da Glória Nazareth, foi sucedida por sua filha,
Mãe Cleusa Millet.
"Minha
avó, minha tia e os chefes da casa diziam que eu tinha que servir. Eu
não podia dizer que não, mas tinha um medo horroroso da missão (...):
passar a vida inteira ouvindo relatos de aflições e ter que ficar
calada, guardar tudo para mim, procurar a meditação dos encantados para
acabar com o sofrimento."
O terreiro, que inicialmente funcionava na
Barroquinha, na zona central de Salvador, foi posteriormente, transferido para o bairro da Federação onde hoje é o
Ilê Axé Iyá Nassô Oká, na
Avenida Vasco da Gama, do qual Maria Júlia da Conceição Nazaré, sua avó também fazia parte. Com o falecimento da iyalorixá da Casa Branca
Iyá Nassô, sucedeu Iyá
Marcelina da Silva Oba Tossi. Após a morte desta, Maria Júlia da Conceição e Maria Júlia Figueiredo, disputaram a chefia do candomblé, cabendo à
Maria Júlia Figueiredo que era a substituta legal (
Iyakekerê)
tomar a posse como Mãe do Terreiro. Maria Júlia da Conceição
afastou-se com as demais discidentes e fundaram outra Ilé Axé, o
Terreiro do Gantois, instalando-se em terreno arrendado aos Gantois - família de
traficantes de escravos e proprietários de terras de origem
belga - pelo cônjuge de Maria Júlia, o negro
alforriado
Francisco Nazareth de Eta. Situado num lugar alto e cercado por um
bosque, o local de difícil acesso era bem conveniente numa época em que o
candomblé era perseguido pelas forças da ordem. Geralmente, os rituais terminavam subitamente com a chegada da
polícia.
A partir da
década de 30,
a perseguição ao candomblé vai arrefecendo, mas uma Lei de Jogos e
Costumes, condicionava a realização de rituais à autorização policial,
além de limitar o horário de término dos cultos às 22 horas. Mãe
Menininha foi uma das principais articuladoras do término das restrições
e proibições.
"Isso é uma tradição ancestral, doutor", ponderava a iyalorixá diante do chefe da Delegacia de Jogos e Costumes.
"Venha dar uma olhadinha o senhor também."
Mãe Menininha abriu as portas do Gantois aos brancos e
católicos
- uma abertura que, em muitos terreiros, ainda é vista com certa
estranheza. Mas, finalmente, a Lei de Jogos e Costumes foi extinta em
meados dos
anos 70.
"Como um bispo progressista na Igreja Católica, Menininha modernizou o candomblé sem permitir que ele se transformasse num espetáculo para turistas", analisa o professor
Cid Teixeira, da
Universidade Federal da Bahia.
Nunca deixou de assistir à
missa e até convenceu os
bispos da Bahia a permitir a entrada nas igrejas de mulheres, inclusive ela, vestidas com as roupas tradicionais do candomblé.
Aos 29 anos, Menininha casou-se com o advogado
Álvaro MacDowell de Oliveira, descendente de
escoceses. Com ele teve duas filhas,
Cleusa e
Carmem.
“Meu
marido, quando me conheceu, sabia que eu era do candomblé… A gente
viveu em paz porque ele passou a gostar de Candomblé. Mas, quando fui
feita Iyalorixá, passamos a morar separados. No meu terreiro, eu e
minhas filhas. Marido não. Elas nasceram aqui mesmo”.
Em uma entrevista à revista
IstoÉ, mãe Carmem conta que ela adorava assistir
telenovelas, sendo que uma de suas preferidas teria sido
Selva de Pedra. Era colecionadora de peças de
porcelana,
louça e de
cristais, que guardava muito zelo. Não bebia
Coca-Cola, pois certa vez lhe disseram que a bebida servia para desentupir os
ralos de
pias, e ela temia que a ingestão da bebida fizesse efeito análogo em si.
Mãe Menininha do Gantois faleceu em Salvador, em 1986, de causas naturais, aos 92 anos de idade.
Mãe Menininha, aos 8 anos de idade
Homenagens
O terreiro está localizado na
Rua Mãe Menininha do Gantois (antiga rua da Boa Vista, que mudou de nome em
1986), no Alto do Gantois, bairro da
Federação, em
Salvador.
Após a sua morte, os seus filhos deixaram o seu quarto intacto, com
seus objetos de uso pessoal e ritualísticos. O aposento foi
transformado no
Memorial Mãe Menininha e é uma das grandes atrações do Gantois.
— Ederaldo Gentil e Anísio Félix. "In-Lê-In-Lá", 1976
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In-Lê-In-Lá Lá Lá Ê, In-Lê-In-lá, Oilá
In-Lê-In-Lá Lá Lá Ê, In-Lê-In-lá
Os candomblés estão batendo, foguetes explodem no ar
Em louvor a Menininha, senhora, mãe e rainha do Gantois
Pelo seu aniversário de cinquentenário de Ialorixá
Pelo seu aniversário de cinquentenário de Ialorixá
Pelo seu aniversário de cinquentenário de Ialorixá
Ôôô, ÔôÔôôÔô, salve mamãe Oxum, salve meu pai Xangô
Ôôô, ÔôÔôôÔô, salve mamãe Oxum, salve meu pai Xangô
Cinquentenário de batalhas, cinquentenário de fé
Desde quando recebeu os poderes de Maria dos Prazeres Nazaré
Sua vidência se alastrou, iaô iaô iaô ô
Sua vidência se alastrou, iaô iaô iaô ô
Sacerdotisa de uma raça, rainha de uma nação,
na luta e defesa dos descrentes, ela sempre estendeu suas mãos
Hoje os candomblés estão batendo a seu nome venerar
Ia-mi-mojubá, salve o seu axé, seu candomblé do Alto do Gantois
Ia-mi-mojubá, salve o seu axé, seu candomblé do Alto do Gantois
In-Lê-In-Lá Lá Lá Ê, In-Lê-In-lá, Oilá
In-Lê-In-Lá Lá Lá Ê, In-Lê-In-lá
A beleza do mundo, hein Tá no Gantois
E a mãe da doçura, hein
Tá no Gantois...
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Já raiou o dia
A passarela vai se transformar
Num cenário de magia
Lembrando a velha Bahia
E o famoso Gantois
Arerê, arerá
Candomblé vem da Bahia
Onde baixam os orixás
Oh, meu pai Ogum na sua fé
Saravá Nanã e Oxumaré
Xangô, Oxossi
Oxalá e Yemanjá
Filha de Oxum
Pra nos ajudar
Vem nos dar axé
Com os erês dos orixás
Refrão
Oh, minha mãe
Menininha
Vem ver, como toda cidade
Canta em seu louvor com a Mocidade
A agremiação ficou em terceiro lugar e Mãe Menininha, apesar da idade,
esteve presente e ajudou com o "pedido" de licença para realização do
enredo, junto aos Orixás.