O papel político do rei Juan Carlos I
A morte de Franco converteu oficialmente, dois dias depois, a 22 de novembro de 1975, em
Chefe de Estado
a D. Juan Carlos de Bourbon, proclamado como Rei em virtude da Lei da
Sucessão na Chefia do Estado. Até então o príncipe mantivera-se num
discreto segundo plano seguindo as pautas pontuadas por Franco. Mas o
desaparecimento do geral ia permitir a D. Juan Carlos facilitar, como
Rei da Espanha, a implantação de um sistema político democrático no país. Este projeto contava com amplos apoios dentro e fora da
Espanha: os países ocidentais, um setor importante do
capitalismo espanhol e internacional, a grande maioria da oposição ao franquismo e uma parte crescente do próprio regime franquista.
Porém, a transição teve de superar as resistências do regime, num quadro de tensões causadas por grupos radicais da
extrema esquerda e grupos franquistas da
extrema direita. Estes últimos contavam com um apoio considerável dentro do
exército. Estes grupos ameaçavam com deteriorar a situação política, iniciando um processo de involução.
A realização desse projeto exigia que a oposição controlasse os seus
partidários para evitar qualquer provocação e que o exército não caísse
na tentação de intervir no processo político para salvar as estruturas
franquistas. Nesta dupla direção moveu-se a atuação política de Dom
Juan Carlos e dos seus colaboradores.
Frente da nova etapa histórica, havia três posturas claramente diferençadas:
- Os partidários do regime franquista (conhecidos como ultras ou o bunker),
defensores do mantimento da legalidade franquista, ou no máximo, a sua
atualização. Apesar do seu escasso apoio social, dominavam o exército e um órgão fundamental dentro da organização do Estado, o Conselho do Reino.
- A oposição democrática, organizada primeiro em duas associações de partidos políticos, a Junta Democrática de Espanha e a Plataforma de Convergência Democrática, que acabaram fundindo-se na associação Coordenação Democrática, conhecida como Platajunta. Esta defendia a rutura legal com o regime franquista para passar diretamente a um Estado democrático.
- Torcuato Fernández Miranda, ex presidente interino do governo em 1973, professor de Direito Político de Juan Carlos I, partidário de reformar as Leis Fundamentais do Movimento
mediante as suas próprias disposições para chegar assim à democracia,
evitando vazios legais. Em palavras do próprio Fernández Miranda,
tratava-se de ir "da lei à lei através da lei".
D. Juan Carlos iniciou o seu reinado sem sair da legalidade franquista. Assim, jurou fidelidade aos princípios do
Movimiento, tomou posse da coroa ante as
Cortes franquistas e respeitou a
Lei Orgânica do Estado de 1966 para a nomeação do seu primeiro
Chefe de Governo. Contudo, já no seu discurso ante as Cortes, se mostrou aberto a uma transformação do sistema político espanhol.