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quinta-feira, abril 21, 2022

Notícia sobre um novo museu dedicado ao terramoto em Lisboa de 1755

Quake: fomos conhecer o incrível novo museu imersivo do terramoto em Lisboa

O Quake tem vários cenários realistas
   
É inaugurado oficialmente esta semana. Tem um simulador de sismos, cenários realistas e explica o que fazer em caso de uma nova catástrofe. 
 
Esta quarta-feira, 20 de abril, é oficialmente inaugurado o novo Quake, um museu imersivo em Lisboa que conta a história do trágico terramoto de 1755 e se foca nos sismos enquanto fenómenos da natureza. A NiT já visitou o espaço, que tem estado em soft-opening e a receber os primeiros visitantes nos últimos dias. 

O projeto nasceu há sete anos a partir de uma ideia conjunta do casal formado por Ricardo Clemente e Maria Marques, os sócios-fundadores. “Temos uma característica em comum que é a paixão por Lisboa. E coincidiu com uma época em que queria fazer uma mudança na minha vida profissional e Lisboa estava a fervilhar com o turismo, estávamos a receber imensos turistas e achámos que era a altura de fazer algo por Lisboa, de a valorizar, dar a conhecer a história. Andámos à volta de vários temas, como os Descobrimentos, e chegámos ao terramoto. É um tema com uma elasticidade bastante grande, que fala na questão histórica, científica, cultural e tem uma vertente que é o entretenimento. Queríamos passar estes conhecimentos de uma forma bastante divertida”, explica à NiT Maria Marques.

É precisamente isso que acontece no Quake, cujo edifício de 1800 metros quadrados foi construído de raiz em Belém, junto do Museu Nacional dos Coches e perto da ponte pedonal que permite chegar ao terraço do MAAT. A experiência dura cerca de uma hora e meia, com novas sessões de dez em dez minutos, e tem uma componente narrativa.

Os visitantes começam numa sala de um especialista estudioso, o fictício professor Luís, que vai servir de fio condutor ao longo do museu. É através da sua voz que vamos descobrindo como tudo aconteceu: desde o terramoto propriamente dito à forma como transformou a sociedade da época, passando por todas as descobertas científicas feitas a partir da catástrofe, além da forma como a cidade foi reconstruída.

“O visitante tem a oportunidade de poder ter esta experiência de uma forma bastante imersiva, com recurso a tecnologia. Pode participar na experiência — não é um museu formal em que a pessoa vai contemplar uma peça. E vai mexer com as emoções. Porque acreditamos que o conhecimento se transmite com emoção”, acrescenta Maria Marques.

Através de complexos jogos de luzes e projeções, muitas salas do Quake vão parecer vivas, no sentido em que haverá constante animação e movimento. Pelo meio vai haver máquinas que emanam calor, odores específicos ou vento, para tornar a experiência mais realista. Há etapas que têm como objetivo explicar aos visitantes como se forma, afinal, um sismo — e há exemplos concretos de terramotos mais recentes, mas também se explicam como funcionam as construções anti sísmicas dos edifícios.

A fase da experiência mais imersiva e diferenciadora é, sem dúvida, quando entramos numa máquina do tempo que nos leva até 1 de novembro de 1755, o dia que mudou Lisboa para sempre. Os visitantes recuam no tempo e percorrem cenários realistas da época, à medida que recebem informação sobre como funcionava a sociedade da altura.

O sismo propriamente dito pode ser sentido numa igreja, durante a missa. Como os portugueses saberão, o terramoto aconteceu no Dia de Todos os Santos, quando decorriam inúmeras missas com velas por toda a cidade. Mais do que o sismo em si, os incêndios provocados pela catástrofe natural foram devastadores. E, claro, houve também o tsunami. Os lisboetas terão pensado que tinha chegado o Dia do Juízo Final. O simulador na igreja é um dos pontos altos da viagem.

“Foi um grande desafio porque durante sete anos tivemos de nos rodear de pessoas que tivessem estes conhecimentos. Queríamos passá-los de uma forma bastante rigorosa, daí nos termos rodeado de cientistas”, diz ainda Maria Marques. Os professores sismólogos Luís Matias e Susana Custódio, da Faculdade de Ciências de Lisboa, e o historiador André Canhoto Costa, foram os principais nomes envolvidos no projeto.

“Foram sete anos de investigação para que não houvesse qualquer falha de informação. Há também uma vertente muito importante que fizemos sempre questão de ter presente, que é a da preparação. Todos nós que vivemos em Lisboa vivemos com o pensamento de que Portugal pode vir a sofrer um terramoto. Não sabemos quando, mas vai acontecer. E de alguma forma o Quake tem um propósito de dar preparação a quem nos visita, sairmos daqui um bocadinho mais conscientes sobre o que podemos fazer individualmente com pequenos pormenores: como ter um plano familiar, um kit de sobrevivência em casa… Quando compramos uma casa, ter atenção à questão da construção. Pequenas características que nos deixam mais conscientes para este tema e para mitigar alguns danos que possam vir a acontecer se houver uma catástrofe desta dimensão.”

Ricardo Clemente acrescenta à NiT que em Portugal existe “uma lacuna na consciencialização” sobre este tema. “E temos um dos acontecimentos mais importantes na história moderna que ajudou a criar o pensamento científico sobre as questões sísmicas e tudo o que se desenvolveu a partir daí. O 1 de novembro de 1755 foi uma data marcante em termos mundiais para o estudo destes fenómenos. A sociedade portuguesa está muito pouco consciente disso. Somos realmente uma zona que tem o seu risco sísmico. Apesar de termos uma frequência baixa, isso faz com que haja um risco maior, porque a nossa consciência enquanto povo é que achamos que isto só acontece aos outros.”

O objetivo é atrair turistas de passagem por Lisboa, mas também o público português e, em particular, os miúdos com mais de seis anos. “Sabemos que as crianças hoje em dia estão muito mais atentas a estes temas, há simulacros nas escolas, mas queremos complementar toda essa informação com a visita ao Quake. Queremos que os mais pequenos saiam daqui e que de alguma forma possam alertar os pais em casa para pequenas coisas”, diz Maria Marques.

Os bilhetes estão à venda online, no mesmo site em que é possível descobrir mais informações úteis. Neste momento podem ser adquiridos com descontos, uma vez que o Quake está em regime de soft-opening. Se comprar online, os bilhetes para adultos começam nos 21€. Também há pacotes especiais para grupos.

“Estamos muito satisfeitos e hoje o Quake é algo que me honra como habitante de Lisboa e português. Muito em breve acho que nos poderemos orgulhar de que o Quake terá uma expressão global, porque acredito que seja uma experiência que, pela sua qualidade e pelo tema que trata, vai ter uma expansão global sem sombra de dúvida”, conclui Ricardo Clemente.

 

in NiT 

 

sexta-feira, novembro 01, 2019

O Sismo de 1755, que destruiu a cidade de Lisboa, foi há 264 anos

Gravura em cobre de 1755 mostrando Lisboa em chamas e o tsunami varrendo o porto
  
O Sismo de 1755, também conhecido por Terramoto de 1755, ocorreu no dia 1 de novembro de 1755, resultando na destruição quase completa da cidade de Lisboa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve. O sismo foi seguido de um maremoto - que se crê tenha atingido a altura de 20 metros - e de múltiplos incêndios, tendo feito certamente mais de 10 mil mortos (há quem aponte muitos mais). Foi um dos sismos mais mortíferos da história, marcando o que alguns historiadores chamam a pré-história da Europa Moderna. Os geólogos modernos estimam que o sismo de 1755 atingiu a magnitude 9,0 na escala de Richter.
O terramoto de Lisboa teve um enorme impacto político e sócio-económico na sociedade portuguesa do século XVIII, dando origem aos primeiros estudos científicos do efeito de um sismo numa área alargada, marcando assim o nascimento da moderna sismologia. O acontecimento foi largamente discutido pelos filósofos iluministas, como Voltaire, inspirando desenvolvimentos significativos no domínio da teodiceia e da filosofia do sublime.
  

quinta-feira, novembro 01, 2018

O Sismo de 1755, que destruiu a cidade de Lisboa, foi há 263 anos

Gravura em cobre de 1755 mostrando Lisboa em chamas e o tsunami varrendo o porto
  
O Sismo de 1755, também conhecido por Terramoto de 1755, ocorreu no dia 1 de novembro de 1755, resultando na destruição quase completa da cidade de Lisboa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve. O sismo foi seguido de um maremoto - que se crê tenha atingido a altura de 20 metros - e de múltiplos incêndios, tendo feito certamente mais de 10 mil mortos (há quem aponte muitos mais). Foi um dos sismos mais mortíferos da história, marcando o que alguns historiadores chamam a pré-história da Europa Moderna. Os geólogos modernos estimam que o sismo de 1755 atingiu a magnitude 9,0 na escala de Richter.
O terramoto de Lisboa teve um enorme impacto político e sócio-económico na sociedade portuguesa do século XVIII, dando origem aos primeiros estudos científicos do efeito de um sismo numa área alargada, marcando assim o nascimento da moderna sismologia. O acontecimento foi largamente discutido pelos filósofos iluministas, como Voltaire, inspirando desenvolvimentos significativos no domínio da teodiceia e da filosofia do sublime.
  

quarta-feira, novembro 01, 2017

Há 262 anos um sismo arrasou Lisboa

O Sismo de 1755, também conhecido por Terramoto de 1755, ocorreu no dia 1 de novembro de 1755, resultando na destruição quase completa da cidade de Lisboa, especialmente na zona da Baixa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve e Setúbal. O sismo foi seguido de um maremoto - que se crê tenha atingido a altura de 20 metros - e de múltiplos incêndios, tendo feito certamente mais de 10 mil mortos (há quem aponte muitos mais). Foi um dos sismos mais mortíferos da história, marcando o que alguns historiadores chamam a pré-história da Europa Moderna. Os sismólogos estimam que o sismo de 1755 atingiu magnitudes entre 8,7 a 9 na escala de Richter.
O terramoto de Lisboa teve um enorme impacto político e socioeconómico na sociedade portuguesa do século XVIII, dando origem aos primeiros estudos científicos do efeito de um sismo numa área alargada, marcando assim o nascimento da sismologia moderna. O acontecimento foi largamente discutido pelos filósofos iluministas, como Voltaire, inspirando desenvolvimentos significativos no domínio da teodiceia e da filosofia do sublime.

O terramoto fez-se sentir na manhã de 1 de novembro de 1755 às 09.30 ou 09.40 da manhã, dia que coincide com o feriado do Dia de Todos-os-Santos. A data contribuiu para um alto número de fatalidades, visto que ruas e igrejas estavam cheias de fiéis.
O epicentro não é conhecido com precisão, havendo diversos sismólogos que propõem locais distanciados de centenas de quilómetros. No entanto, todos convergem para um epicentro no mar, entre 150 a 500 quilómetros a sudoeste de Lisboa. Devido a um forte sismo, ocorrido em 1969 no Banco de Gorringe, este local tem sido apontado como tendo forte probabilidade de aí se ter situado o epicentro em 1755. A magnitude pode ter atingido o valor 9 na escala de Richter.
Relatos da época afirmam que os abalos foram sentidos, consoante o local, durante entre seis minutos a duas horas e meia, causando fissuras enormes de que ainda hoje há vestígios em Lisboa. O padre Manuel Portal é a mais rica e completa fonte sobre os efeitos do terramoto, tendo descrito, detalhadamente e na primeira pessoa, o decurso do terramoto e a vida lisboeta nos meses que se seguiram. A intensidade do terramoto em Lisboa e no cabo de São Vicente estima-se entre X-XI na escala de Mercalli. Com os vários desmoronamentos os sobreviventes procuraram refúgio na zona portuária e assistiram ao recuo das águas, revelando o fundo do mar cheio de destroços de navios e cargas perdidas. Poucas dezenas de minutos depois, um tsunami, que atualmente se supõe ter atingido pelo menos seis metros de altura, havendo relatos de ondas com mais de 10 metros, fez submergir o porto e o centro da cidade, tendo as águas penetrado cerca de 250 m. Nas áreas que não foram afetadas pelo tsunami, o fogo logo alastrou-se, e os incêndios duraram pelo menos cinco dias. Todos tinham fugido e não havia quem o apagasse.
Acerca do nível de destruição do terramoto, sem menção ao tsunami, e focando os incêndios, no Novo atlas para uso da mocidade portuguesa (1782), o tradutor corrige em nota o autor francês dizendo:
O Autor, mal informado do que aconteceu a esta capital no referido Terramoto, asseverou que ela ficara inteiramente arrasada, quando é certo que em mais de duas partes ficou em pé, e que somente o incêndio, que lhe sobreveio, abrasou, e consumiu os edifícios, tesouros, móveis, riquezas, preciosidades, alfaias, etc. ficando unicamente as paredes. Porém, de tudo o mais raro, que se perdeu, foi a grande Livraria de Sua Majestade - rara pelos manuscritos e originais da Antiguidade que conservava - perda sem dúvida lamentável para os sábios.

Localização potencial do epicentro do terramoto de 1755 e tempos de chegada do tsunami, em horas após o sismo

Lisboa não foi a única cidade portuguesa afectada pela catástrofe. Todo o sul de Portugal, sobretudo o Algarve, foi atingido e a destruição foi generalizada. Além da destruição causada pelo sismo, o tsunami que se seguiu destruiu no Algarve fortalezas costeiras e habitações, registando-se ondas com até 30 metros de altura. As ondas de choque do sismo foram sentidas por toda a Europa e norte da África. As cidades marroquinas de Fez e Meknès sofreram danos e perdas de vida consideráveis. Os maremotos originados pela movimentação tectónica varreram locais desde do norte de África (como Safim e Agadir) até ao norte da Europa, nomeadamente até à Finlândia (através de seichas) e através do Atlântico, afectando os Açores e a Madeira e locais tão longínquos como Antígua, Martinica e Barbados. Diversos locais em torno do golfo de Cádis foram inundados: o nível das águas subiu repentinamente em Gibraltar e as ondas chegaram até Sevilha através do rio Guadalquivir, Cádis, Huelva e Ceuta.
De uma população de 300 mil habitantes em Lisboa, crê-se que 90 mil morreram, 900 das quais vitimadas directamente pelo tsunami. Outros 10 mil foram vitimados em Marrocos. Cerca de 85% das construções de Lisboa foram destruídas, incluindo palácios famosos e bibliotecas, conventos e igrejas, hospitais e todas as estruturas. Várias construções que sofreram poucos danos pelo terramoto foram destruídas pelo fogo que se seguiu ao abalo sísmico, causado por lareiras de cozinha, velas e mais tarde por saqueadores em pilhagens dos destroços.
Na obra História Universal dos Terramotos, de Joaquim José Moreira de Mendonça (1758), que apresenta o primeiro balanço sistemático dos efeitos, refere-se que as águas alagaram o bairro de S. Paulo e que esse "espanto das águas" difundiu o perigo de que vinha o mar cobrindo tudo:
Havia muita gente buscado as margens do Tejo, por se livrarem dos edifícios, cheios de horror da vista das suas ruínas. Eis que de repente entra o mar pela barra com uma furiosa inundação de águas, que não fizeram igual estrago em Lisboa que em outras partes, pela distância que há de mais de duas léguas desta Cidade à foz do rio. Contudo, passando os seus antigos limites se lançou por cima de muitos edifícios e alagou o bairro de S. Paulo. Cresceu em todos os que haviam procurado as praias o espanto das águas, e o novo perigo se difundiu por toda a Cidade, e seus subúrbios, com uma voz vaga, que dizia que vinha o mar cobrindo tudo.
A recém-construída Casa da Ópera, inaugurada apenas seis meses antes, foi totalmente consumida pelo fogo. O Palácio Real, que se situava na margem do Tejo, onde hoje existe o Terreiro do Paço, foi destruído pelos abalos sísmicos e pelo tsunami. Dentro, na biblioteca, perderam-se 70 mil volumes e centenas de obras de arte, incluindo pinturas de Ticiano, Rubens e Correggio. O precioso Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica e outros documentos antigos também foram perdidos. O terramoto causou ainda danos, ou chegou a destruir completamente, as maiores igrejas de Lisboa, especialmente a Sé de Lisboa, e as Basílicas de São Paulo, Santa Catarina, São Vicente de Fora e a da Misericórdia. As ruínas do Convento do Carmo ainda hoje podem ser visitadas no centro da cidade. O túmulo de Nuno Álvares Pereira, nesse convento, perdeu-se também. O Hospital Real de Todos os Santos foi consumido pelos fogos e centenas de pacientes morreram queimados. Registos históricos das viagens de Vasco da Gama e Cristóvão Colombo foram perdidos, e incontáveis construções foram arrasadas (incluindo muitos exemplares da arquitectura do período Manuelino em Portugal).

Ruínas do Convento do Carmo

sábado, novembro 01, 2014

O Sismo de 1755 destruiu Lisboa e outras cidades há 259 anos

O Sismo de 1755, também conhecido por Terramoto de 1755, ocorreu no dia 1 de novembro de 1755, resultando na destruição quase completa da cidade de Lisboa, especialmente na Zona da Baixa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve e Setúbal. O sismo foi seguido de um maremoto - que se crê tenha atingido a altura de 20 metros - e de múltiplos incêndios, tendo feito certamente mais de 10 mil mortos (há quem aponte muitos mais). Foi um dos sismos mais mortíferos da história, marcando o que alguns historiadores chamam a pré-história da Europa Moderna. Os sismólogos estimam que o sismo de 1755 atingiu magnitudes entre 7,5 e 9,5 na escala de Richter.
O terramoto de Lisboa teve um enorme impacto político e socioeconómico na sociedade portuguesa do século XVIII, dando origem aos primeiros estudos científicos do efeito de um sismo numa área alargada, marcando assim o nascimento da sismologia moderna. O acontecimento foi largamente discutido pelos filósofos iluministas, como Voltaire, inspirando desenvolvimentos significativos em vários domínios.

quinta-feira, novembro 01, 2012

O Terramoto de 1755 destruiu Lisboa há 257 anos

Localização potencial do epicentro do terramoto de 1755 e tempos de chegada do tsunami, em horas após o sismo

O sismo de 1755, também conhecido por Terramoto de 1755, ocorreu no dia 1 de novembro de 1755, resultando na destruição quase completa da cidade de Lisboa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve. O sismo foi seguido de um tsunami - que se crê tenha atingido a altura de 20 metros - e de múltiplos incêndios, tendo feito certamente mais de 10 mil mortos (há quem aponte muitos mais). Foi um dos sismos mais mortíferos da História, marcando o que alguns historiadores chamam a pré-história da Europa Moderna. Os geólogos modernos estimam que o sismo de 1755 atingiu a magnitude 9 na escala de Richter.

O terramoto fez-se sentir na manhã de 1 de novembro de 1755 às 09.30 ou 09.40 horas da manhã, dia que coincide com o feriado do Dia de Todos-os-Santos.
O epicentro não é conhecido com precisão, havendo diversos sismólogos que propõem locais distanciados de centenas de quilómetros. No entanto, todos convergem para um epicentro no mar, entre 150 a 500 quilómetros a sudoeste de Lisboa. Devido a um forte sismo, ocorrido em 1969 no Banco de Gorringe, este local tem sido apontado como tendo forte probabilidade de aí se ter situado o epicentro em 1755. A magnitude pode ter atingido 9 na escala Richter.
Relatos da época afirmam que os abalos foram sentidos, consoante o local, durante entre seis minutos a duas horas e meia, causando fissuras enormes de que ainda hoje há vestígios em Lisboa. O padre Manuel Portal é a mais rica e completa fonte sobre os efeitos do terramoto, tendo descrito, detalhadamente e na primeira pessoa, o decurso do terramoto e a vida lisboeta nos meses que se seguiram. A intensidade do terramoto em Lisboa e no cabo de São Vicente estima-se entre X-XI na escala de Mercalli. Com os vários desmoronamentos os sobreviventes procuraram refúgio na zona portuária e assistiram ao recuo das águas, revelando o fundo do mar cheio de destroços de navios e cargas perdidas. Poucas dezenas de minutos depois, um tsunami, que atualmente se supõe ter atingido pelo menos seis metros de altura, havendo relatos de ondas com mais de 10 metros, fez submergir o porto e o centro da cidade, tendo as águas penetrado até 250 metros. Nas áreas que não foram afetadas pelo tsunami, o fogo logo se alastrou, e os incêndios duraram pelo menos cinco dias. Todos tinham fugido e não havia quem o apagasse.

Lisboa não foi a única cidade portuguesa afectada pela catástrofe. Todo o sul de Portugal, sobretudo o Algarve, foi atingido e a destruição foi generalizada. Além da destruição causada pelo sismo, o tsunami que se seguiu destruiu no Algarve fortalezas costeiras e habitações, registando-se ondas com até 30 metros de altura. As ondas de choque do sismo foram sentidas por toda a Europa e norte da África. As cidades marroquinas de Fez e Meknès sofreram danos e perdas de vida consideráveis. Os maremotos originados pela movimentação tectónica varreram locais desde do norte de África (como Safim e Agadir) até ao norte da Europa, nomeadamente até à Finlândia (através de seichas) e através do Atlântico, afectando os Açores e a Madeira e locais tão longínquos como Antígua, Martinica e Barbados. Diversos locais em torno do golfo de Cádis foram inundados: o nível das águas subiu repentinamente em Gibraltar e as ondas chegaram até Sevilha através do rio Guadalquivir, Cádis, Huelva e Ceuta.
De uma população de 275 mil habitantes em Lisboa, crê-se que 90 mil morreram, 900 das quais vitimadas directamente pelo tsunami. Outros 10 mil foram vitimados em Marrocos. Cerca de 85% das construções de Lisboa foram destruídas, incluindo palácios famosos e bibliotecas, conventos e igrejas, hospitais e todas as estruturas. Várias construções que sofreram poucos danos pelo terramoto foram destruídas pelo fogo que se seguiu ao abalo sísmico, causado por lareiras de cozinha, velas e mais tarde por saqueadores em pilhagens dos destroços.
A recém-construída Casa da Ópera, aberta apenas seis meses antes, foi totalmente consumida pelo fogo. O Palácio Real, que se situava na margem do Tejo, onde hoje existe o Terreiro do Paço, foi destruído pelos abalos sísmicos e pelo tsunami. Dentro, na biblioteca, perderam-se 70 mil volumes e centenas de obras de arte, incluindo pinturas de Ticiano, Rubens e Correggio. O precioso Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica e outros documentos antigos também foram perdidos. O terramoto destruiu ainda as maiores igrejas de Lisboa, especialmente a Catedral de Santa Maria, e as Basílicas de São Paulo, Santa Catarina, São Vicente de Fora e a da Misericórdia. As ruínas do Convento do Carmo ainda hoje podem ser visitadas no centro da cidade. O túmulo de Nuno Álvares Pereira, nesse convento, perdeu-se também. O Hospital Real de Todos os Santos foi consumido pelos fogos e centenas de pacientes morreram queimados. Registos históricos das viagens de Vasco da Gama e Cristóvão Colombo foram perdidos, e incontáveis construções foram arrasadas (incluindo muitos exemplares da arquitectura do período Manuelino em Portugal).

(...)

O terramoto de Lisboa abalou muito mais que a cidade e os seus edifícios. Lisboa era a capital de um país católico, com grande tradição de edificação de conventos e igrejas e empenhado na evangelização das suas colónias. O facto do terramoto ocorrer em dia santo e destruir várias igrejas importantes levantou muitas questões religiosas por toda a Europa. Para a mentalidade religiosa do século XVIII, foi uma manifestação da ira divina de difícil explicação.
Na política, o terramoto foi também devastador. O ministro do Rei Dom José I, o Marquês de Pombal era favorito do rei, mas não do agrado da alta nobreza, que competia pelo poder e favores do monarca. Depois de 1 de novembro, a eficácia da resposta do Marquês do Pombal (cujo título lhe é atribuído em 1770) garante-lhe um maior poder e influência perante o rei, que também aproveita para reforçar o seu poder e consolidar o Absolutismo.

(...)

Gaiola pombalina, modelo da estrutura anti-sísmica desenvolvida na reconstrução da Baixa Pombalina

O nascimento da sismologia
A competência do ministro não se limitou à acção de reconstrução da cidade. O Marquês do Pombal ordenou um inquérito, enviado a todas as paróquias do país para apurar a ocorrência e efeitos do sismo. O questionário incluía as seguintes questões:
  • Quanto tempo durou o sismo?
  • Quantas réplicas se sentiram?
  • Que tipo de danos causou o sismo?
  • Os animais tiveram comportamento estranho?
  • Que aconteceu nos poços?
As respostas estão ainda arquivadas na Torre do Tombo. Através das respostas do inquérito foi possível aos cientistas da actualidade recolherem dados fiáveis e reconstituírem o fenómeno numa perspectiva científica. O inquérito do Marquês do Pombal foi a primeira iniciativa de descrição objectiva no campo da sismologia, razão pela qual é considerado um precursor da ciência da sismologia.
As causas geológicas do terramoto e da atividade sísmica na região de Lisboa são ainda causa de debate científico, existindo indícios geológicos da ocorrência de grandes abalos sísmicos com uma periodicidade de aproximadamente 300 anos. Lisboa encontra-se junto de uma falha tectónica, mas a grande maioria dos sismos tão intensos como o terramoto de 1755 só acontece nas zonas de fronteira entre placas. Alguns geólogos portugueses avançaram a ideia de que o terramoto estaria relacionado com uma possível zona de subducção do oceano Atlântico, entre as placas tectónicas euro-asiática e africana.