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quinta-feira, junho 07, 2012
Paul Gauguin nasceu há 164 anos
Auto-retrato com halo, 1889
Eugène-Henri-Paul Gauguin (Paris, 7 de junho de 1848 - Ilhas Marquesas, 8 de maio de 1903) foi um pintor francês do pós-impressionismo.
Apesar de nascido em Paris, Gauguin viveu os primeiros sete anos de sua vida em Lima, no Peru, para onde seus pais se mudaram após a chegada de Napoleão III ao poder. Seu pai pretendia trabalhar em um jornal da capital peruana e foi o idealizador da viagem. Porém, durante a longa e terrível viagem de navio acabou por ter complicações de saúde e faleceu. Assim, o futuro pintor desembarcou em Lima apenas com sua mãe e irmã.
Quando voltou para seu país natal, em 1855, Gauguin estudou em Orléans e, aos 17 anos, ingressou na marinha mercante e correu o mundo. Trabalhou em seguida numa corretora de valores parisiense e, em 1873, casou-se com a dinamarquesa Mette Sophie Gad, com quem teve cinco filhos.
Aos 35 anos, após a quebra da Bolsa de Paris, tomou a decisão mais importante de sua vida: dedicar-se totalmente à pintura. Começou assim uma vida de viagens e boémia, que resultou numa produção artística singular e determinante das vanguardas do século XX. Ao contrário de muitos pintores, não se incorporou ao movimento impressionista da época. Expôs pela primeira vez em 1876. Mas não seria uma vida fácil, tendo atravessado dificuldades económicas, problemas conjugais, privações e doenças.
Foi então para Copenhagen, onde acabou ocorrendo o rompimento de seu casamento.
Sua obra, longe de poder ser enquadrada em algum movimento, foi tão singular como as de Van Gogh ou Paul Cézanne. Apesar disso, teve seguidores e pode ser considerado o fundador do grupo Les Nabis, que, mais do que um conceito artístico, representava uma forma de pensar a pintura como filosofia de vida.
Suas primeiras obras tentavam captar a simplicidade da vida no campo, algo que ele consegue com a aplicação arbitrária das cores, em oposição a qualquer naturalismo, como demonstra o seu famoso Cristo Amarelo. As cores se estendem planas e puras sobre a superfície, quase decorativamente.
O pintor parte para o Taiti em busca de novos temas e para se libertar dos condicionamentos da Europa. Suas telas surgem carregadas da iconografia exótica do lugar, e não faltam cenas que mostram um erotismo natural, fruto, segundo conhecidos do pintor, de sua paixão pelas nativas. A cor adquire mais preponderância representada pelos vermelhos intensos, amarelos, verdes e violetas.
Morou durante algum tempo em Pont-Aven, na Bretanha, onde sua arte amadureceu. Posteriormente, morou no sul da França, onde conviveu com Vincent Van Gogh. Numa viagem à Martinica, em 1887, Gauguin passou a renegar o impressionismo e a empreender o "retorno ao princípio", ou seja, à arte primitivista.
Tinha como objetivo voltar ao Taiti, porém não dispunha de recursos financeiros. Com o auxílio de amigos, também artistas, organizou um grande leilão de suas obras.
Colocou à venda cerca de 40 peças. A maioria foi comprada pelos próprios amigos de Gauguin, como por exemplo Theo Van Gogh, irmão de Vincent van Gogh, que trabalhava para a Casa Goupil (importante estabelecimento que trabalhava com obras de arte).
Mesmo conseguindo menos de 3 mil francos, em meados de 1891 regressou ao Taiti, onde pintou cerca de uma centena de quadros sobre tipos indígenas, como "Vahiné no te tiare" ("A moça com a flor") e "Mulheres de Taiti", além de executar inúmeras esculturas e escrever um livro, Noa noa.
Quando voltou a Paris, realizou uma exposição individual na galeria de Durand-Ruel, voltou ao Taiti, mas fixou-se definitivamente na ilha Dominique. Nessa fase, criou algumas de suas obras mais importantes, como "De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?", uma tela enorme que sintetiza toda a sua pintura, realizada antes de uma frustrada tentativa de suicídio utilizando arsénio.
Em setembro de 1901, transferiu-se para a ilha Hiva Oa, uma das Ilhas Marquesas, onde veio a falecer de sífilis.
O Cristo Amarelo, 1889
in Wikipédia
Nota:queria dedicar esta pintura à minha mana velha (que gosta imenso deste pintor e desta pintura) e aos portugueses em geral, hoje tiveram direito, pelo última vez (pelo menos durante cinco anos...) ao feriado do Corpo de Deus...
Postado por Fernando Martins às 23:05 0 bocas
Marcadores: Corpo de Deus, feriado, França, Gauguin, O Cristo Amarelo, pintura, pós-impressionismo, Taiti
terça-feira, junho 07, 2011
Recordar Gauguin
Gauguin
PAUL GAUGUIN: O CRISTO AMARELO (1889)
E sabíamos todos que a hora
era chegada e tudo em volta
escurecia,
e que, em Pont-Aven,
era chegado o tempo da colheita
e os campos estavam todos amarelos.
E aconteceu que as mulheres da Bretanha
ajoelharam,
e vinha eu no caminho
e vi a luz,
e os meus olhos cegaram para que visse
a roda do martírio
e o escárnio.
E aconteceu que as cores se saturaram,
e a paleta recebeu,
vindas do céu,
as cores
– e eu enchi a tela de perguntas,
e, pelo esplendor,
atirei-me ao chão
e em mim senti um som sombrio.
E vi , então, que as mulheres
choravam
e que os homens
não se compadeciam
de quem sofria,
e tudo tinha um brilho
esplêndido,
um brilho sobrenatural,
à minha volta.
E aconteceu que se ouviu cantar
o galo,
e que toda a terra se abriu para aquele brilho,
e os camponeses vieram,
e choraram.
E vi que preparavam varas novas,
e que as varas eram só espinhos,
e que o homem caía,
caía mesmo em frente aos nossos olhos,
que nada mais fazíamos do que o ver caído.
E eu tomei a tela e preparei-a,
e sangrava o homem
abundantemente,
e eu perguntei ‘quem somos?’
e nada se ouviu.
E chegou o crepúsculo
e, em volta, era só amarelo o que se via,
e o rosto do homem inundava-se de lágrimas e de sangue,
e arquejava-Lhe o dorso,
e puseram-Lhe aos ombros o madeiro.
E as mulheres da Bretanha
irromperam em choro,
e a multidão
adensou-se no lugar,
e suplicou o pão,
e os peixes,
e seguiram-No.
E vi as minhas cores queimadas pelo fogo,
e que os meus pincéis vibravam,
e misturei ao óleo terebentina,
enquanto o homem subia pelo monte
onde reinava o silêncio
e a abominação.
E perguntei:
‘quem somos, de onde vimos?’,
e em volta levantou-se um grande incêndio,
e as labaredas tomaram o lugar,
e era tudo amarelo nesse sítio.
E houve uma mulher que trouxe
água,
e com a água trouxe um pano branco,
e limpou-Lhe o rosto,
e o Seu rosto estava iluminado.
E eram amarelos os Seus cabelos,
e amarela era a Sua barba,
e a cruz, nos ombros,
era amarela,
como um topázio.
E, então, caiu o homem
pela segunda vez,
e as mulheres da Bretanha
arrancaram os cabelos,
e olharam em redor
para que chegasse algum socorro,
de onde quer que fosse.
E os campos em volta permaneciam amarelos,
e eu prendi aos dedos o pincel
porque toda a terra tremia
e o coração
saltava-me do peito,
e a cabeça doía-me
e pesava-me.
E o homem seguiu, arrebatado
pela dor,
e um outro homem veio em Seu auxílio,
e eram grandes as feridas,
e deitavam muito sangue.
E as mulheres da Bretanha
seguiram com Ele,
e vacilavam-Lhe os passos,
e o Seu corpo
era todo amarelo,
a boca,
as mãos,
os pés.
E assim se acercou do cume da montanha,
com as mulheres da Bretanha sempre atrás,
e havia soldados
e outros condenados,
que o viram cair pela terceira vez.
E Ele levantou-se,
e a multidão exultou nesse momento,
e eu, com o pincel, fiz o esboço
daquele quadro de grande sofrimento.
E uma das mulheres chamou-Lhe ‘filho’,
e outra ‘amado’,
e a elas se juntou outra mulher
que Lhe chamou ‘irmão’,
e, nos seus vestidos,
caíram lágrimas de sangue e de estupor.
Do meu pincel só o amarelo
permitia
estender-se na tela,
e tudo era amarelo,
os campos em volta,
o rosto de quem estava,
e a cruz.
E cravaram-Lhe as mãos e os pés
àquela cruz,
e tudo em volta foi um só silêncio,
e parecia que a terra dimanava
um odor amarelo,
que só as mulheres da Bretanha compreendiam.
E um soldado
veio com a esponja
embebida em vinagre,
e prendeu-a a um ramo,
e deu-Lhe de beber, porque a sede
o martirizava.
E eu executava a minha obra,
e tudo era amarelo à minha volta,
as árvores,
as colinas,
as casas que se viam do ponto onde estava.
E o tempo passou,
e olhei o homem,
e olhar a Sua face pacificou-me,
porque o homem sorria
por ver a multidão
a partilhar o pão
e os peixes
que Ele lhes entregava.
E a terra tremeu,
e vi tudo amarelo à minha volta,
e as mulheres da Bretanha olhavam-No
a sorrir,
enquanto eu perguntava:
‘quem somos, de onde vimos, para onde vamos’?
E na linha do horizonte vi os anjos,
e as asas dos anjos
cintilavam,
e cintilava, também, esta pintura
onde, em silêncio, pus
as mulheres da Bretanha,
e o Cristo amarelo
com o meu rosto.
in Doze Cantos do Mundo, Sintra, Edição CM Sintra, 2009
in blog AMADEU BAPTISTA
Postado por Pedro Luna às 09:00 0 bocas
Marcadores: Amadeu Baptista, Gauguin, O Cristo Amarelo, pintura, poesia
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