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sexta-feira, novembro 10, 2023

Saudades do tempo em que o Mário Viegas celebrava aniversários...


 

 

Portugal

 

Portugal

Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos

Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse

combater os infiéis ao norte de África

só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais

e nunca mais voltasse

Quase chego a pensar que é tudo uma mentira

que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney

e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente

Portugal

Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional

(que os meus egrégios avós me perdoem)

Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo

Anda na consulta externa do Júlio de Matos

Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar

àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas
Portugal

Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império

mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado

Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse

das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal

Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes

Estou loucamente apaixonado por ti

Pergunto a mim mesmo
Como me pude eu apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu

mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal

e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada de ressentimentos

O meu irmão esteve na guerra tenho amigos que emigraram nada de ressentimentos

Um dia bebi vinagre nada de ressentimentos

Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga

ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional

Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que Camões lá deixou
Portugal

Sabes de que cor são os meus olhos?

São castanhos como os da minha mãe
Portugal

gostava de te beijar muito apaixonadamente

na boca


 

sábado, abril 01, 2023

Mário Viegas partiu há vinte e sete anos...

(imagem daqui)
          
António Mário Lopes Pereira Viegas (Santarém, 10 de novembro de 1948 - Lisboa, 1 de abril de 1996) foi um actor, encenador e declamador português.
Reconhecido como um dos melhores actores da sua geração, despertou para o teatro ainda aluno da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Daí passou para a Escola de Teatro do Conservatório Nacional, tendo a sua estreia profissional no Teatro Experimental de Cascais.
Foi fundador de três companhias teatrais (a última das quais a Companhia Teatral do Chiado) e actuou em Moçambique, Macau, Brasil, Países Baixos e Espanha. Notabilizou-se como encenador, tendo dirigido obras de autores clássicos como Samuel Beckett, Eduardo De Filippo, Anton Tchekov, August Strindberg, Luigi Pirandello ou Peter Shaffer. Pela sua actividade foi distinguido, diversas vezes, pela Casa da Imprensa, pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro e pela Secretaria de Estado da Cultura, que lhe atribuiu o Prémio Garrett (1987). No estrangeiro foi premiado no Festival de Teatro de Sitges (1979), com a peça D. João VI de Hélder Costa, e no Festival Europeu de Cinema Humorístico da Corunha (1978), com filme O Rei das Berlengas de Artur Semedo. O seu último êxito teatral foi a peça Europa Não! Portugal Nunca (1995).

A sua carreira no cinema começou com o filme O Funeral do Patrão (1975, Eduardo Geada). No cinema participou em mais de quinze películas, entre elas O Rei das Berlengas de Artur Semedo (1978), Azul, Azul de José de Sá Caetano (1986), Repórter X de José Nascimento (1987), A Divina Comédia de Manoel de Oliveira (1991), Rosa Negra de Margarida Gil (1992), Sostiene Pereira de Roberto Faenza (1996), onde contracenou com Marcello Mastroianni. Teve uma colaboração regular com José Fonseca e Costa - Kilas, o Mau da Fita (1981), Sem Sombra de Pecado (1983), A Mulher do Próximo (1988) e Os Cornos de Cronos (1991).
Deu-se a conhecer pelos seus recitais de poesia, gravando uma discografia de catorze títulos, com poemas de Fernando Pessoa, Luís de Camões, Cesário Verde, Camilo Pessanha, Jorge de Sena, Ruy Belo, Eugénio de Andrade, Bertolt Brecht, Pablo Neruda, entre outros. Divulgou nomes como Pedro Oom ou Mário-Henrique Leiria. Na televisão contribuiu igualmente para a divulgação da poesia portuguesa, particularmente com duas séries dos programas Palavras Ditas (1984) e Palavras Vivas (1991). Foi colunista do Diário Económico, onde escreveu sobre teatro e humor. Publicou uma autobiografia, intitulada Auto-Photo Biografia (1995).
Em 1995 candidatou-se a deputado, como independente nas listas da União Democrática Popular, e à Presidência da República Portuguesa (também apoiado pela UDP), adotando o slogan O sonho ao poder, e buscando apoio no meio universitário lisboeta.
Recebeu a Medalha de Mérito do Município de Santarém (1993) e o título de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique (1994), das mãos de Mário Soares. O seu túmulo está no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Em 2001 o Museu Nacional do Teatro dedicou-lhe a exposição Um Rapaz Chamado Mário Viegas.