Súplica de Inês de Castro - Columbano Bordalo Pinheiro
Romance com D. Pedro
Em
24 de agosto de
1339 teve lugar, na sé de Lisboa, o casamento do Infante
Pedro I de Portugal, herdeiro do
trono português, com D.
Constança Manuel, filha de D.
João Manuel de Castela,
príncipe de Vilhena e Escalona,
duque de
Peñafiel, tutor de
Afonso XI de Castela, «
poderoso e esforçado magnate de Castela», e neto do rei
Fernando III de Castela. Todavia seria por uma das
aias
de Constança, D. Inês de Castro, que D. Pedro viria a apaixonar-se.
Este romance notório começou a ser comentado e mal aceite tanto pela
corte como pelo
povo.
Sob o pretexto da
moralidade,
D. Afonso IV não aprovava esta relação, não só por motivos de
diplomacia
com João Manuel de Castela, mas também devido à amizade estreita de D.
Pedro com os irmãos de D. Inês - D. Fernando de Castro e D. Álvaro Pirez
de Castro. Assim, em
1344 o rei mandou exilar D. Inês no
castelo de
Alburquerque,
na fronteira castelhana, onde tinha sido criada por sua tia D. Teresa
mulher de um meio irmão de D. Afonso IV. No entanto, a distância não
teria apagado o amor entre D. Pedro e D. Inês os quais, segundo a
lenda, correspondiam-se com frequência.
Em Outubro do ano seguinte D.
Constança morreu ao dar à luz o futuro rei D.
Fernando I de Portugal.
Viúvo, D. Pedro, contra a vontade do pai, mandou D. Inês regressar do
exílio e os dois passaram a viver juntos, o que provocou grande
escândalo na corte, para enorme desgosto de El-Rei seu pai. Começou
então uma desavença entre o
Rei e o
Infante.
D.
Afonso IV
tentou remediar a situação casando o seu filho com uma dama de sangue
real. Mas D. Pedro rejeitou este projecto, alegando que sentia ainda
muito a perda de sua mulher D. Constança e que não conseguia ainda
pensar num novo
casamento. No entanto, fruto dos seus amores, D. Inês foi tendo filhos de D. Pedro:
Afonso em
1346 (que morreu pouco depois de nascer),
João em
1349,
Dinis em
1354 e
Beatriz em
1347. O nascimento destes veio agudizar a situação porque durante o reinado de
D. Dinis, seu filho D. Afonso IV sentira-se em risco de ser preterido na sucessão ao trono por um dos filhos
bastardos do seu pai. Agora circulavam
boatos de que os Castros conspiravam para assassinar o
infante D. Fernando, herdeiro de D. Pedro, para o trono português passar para o filho mais velho de D. Inês de Castro.
Entretanto, o reino de Castela encontrava-se em grave agitação com a morte de D. Afonso XI e a impopularidade do rei D.
Pedro I de Castela,
cognominado o Cruel. Os irmãos de D. Inês sugeriram a D. Pedro que se declarasse pretendente ao trono de Castela e assim juntasse os reinos de
Leão e de
Castela a
Portugal, uma vez que o príncipe português era, por parte da sua mãe, neto de D.
Sancho IV de Castela. Em
1354 convenceram-no a pôr-se à frente da
conjuração,
na qual D. Pedro se proclamaria pretendente às coroas castelhana e
leonesa. Foi novamente a intervenção enérgica de D. Afonso IV de
Portugal que ao saber da proposta dos
Castros e seus aliados proibiu que
tal sucedesse. O rei mantinha uma linha de neutralidade, abstendo-se de
intervir na política de outras nações, o que lhe permitia paz e
respeito com os reinos vizinhos.
Execução de Inês de Castro
Depois de alguns anos no
Norte de Portugal, Pedro e Inês tinham regressado a
Coimbra e se instalado no
Paço de Santa Clara. Mandado construir pela avó de D. Pedro, a
Rainha Santa Isabel,
foi neste Paço que esta Rainha vivera os últimos anos, deixando
expresso o desejo que se tornasse na habitação exclusiva de Reis e
Príncipes seus descendentes, com as suas esposas legítimas.
Havia boatos de que o Príncipe tinha se casado secretamente com D.
Inês. Na Família Real um incidente deste tipo assumia graves implicações
políticas. Sentindo-se ameaçados pelos irmãos Castro, os fidalgos da
corte portuguesa pressionavam o rei D. Afonso IV para afastar esta
influência do seu herdeiro. O rei D. Afonso IV decidiu que a melhor
solução seria matar a dama galega. Na tentativa de saber a verdade o Rei
ordenou a dois conselheiros seus que dissessem a D. Pedro que ele podia
se casar livremente com D. Inês se assim o pretendesse. D. Pedro
percebeu que se tratava de uma cilada e respondeu que não pensava
casar-se nunca com D. Inês.
A morte de D. Inês provocou a revolta de D. Pedro contra D. Afonso IV. Após meses de conflito, a Rainha
D. Beatriz conseguiu intervir e fez selar a paz em Agosto de
1355.
Raínha póstuma
D. Pedro mandou construir os dois esplêndidos
Túmulos de D. Pedro I e de D. Inês de Castro no
mosteiro de Alcobaça, para onde transladou o corpo da sua amada Inês, em 1361 ou 1362. Juntar-se-ia a ela em
1367.
A posição primeira dos túmulos foi lado a lado, de pés virados a
nascente, em frente da primeira capela do transepto sul, então dedicada a
São Bento. Na década de 80 do século dezoito os túmulos foram mudados
para o recém construído panteão real, onde foram colocados frente a
frente. Em 1956 foram mudados para a sua actual posição, D. Pedro no
transepto sul e D. Inês no transepto norte, frente a frente. Quando os
túmulos, no século XVIII, foram colocados frente a frente apareceu a
lenda que assim estavam para que D. Pedro e D. Inês «
possam olhar-se nos olhos quando despertarem no dia do juízo final».
A tétrica cerimónia da coroação e do beija mão à rainha D. Inês morta,
que D. Pedro pretensamente teria imposto à sua corte e que tornar-se-ia
numa das imagens mais vívidas no imaginário popular, terá sido inserida
pela primeira vez nas narrativas espanholas do final do
século XVI.