António Victor Ramos Rosa (Faro, 17 de outubro de 1924 - Lisboa, 23 de setembro de 2013), foi um poeta, tradutor e desenhador português.
Ramos Rosa estudou em Faro, não tendo acabado o ensino secundário por
questões de saúde. Em 1958 publica no jornal «A Voz de Loulé» o poema
"Os dias, sem matéria". No mesmo ano sai o seu primeiro livro «O Grito
Claro», n.º 1 da colecção de poesia «
A Palavra», editada em Faro e dirigida pelo seu amigo e também poeta
Casimiro de Brito.
Ainda nesse ano inicia a publicação da revista «Cadernos do
Meio-Dia», que em 1960 encerra a edição por ordem da polícia política,
a PIDE.
Foi um dos fundadores da revista de poesia Árvore, existente entre 1951 e 1953.
Nascimento último
Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.
in No Calcanhar do Vento (1987) - António Ramos Rosa