(imagem daqui)
António Victor Ramos Rosa (Faro, 17 de outubro de 1924 - Lisboa, 23 de setembro de 2013), foi um poeta, tradutor e desenhador português.
Ramos Rosa estudou em Faro, não tendo acabado o ensino secundário por questões de saúde. Em 1958 publica no jornal «A Voz de Loulé» o poema "Os dias, sem matéria". No mesmo ano sai o seu primeiro livro «O Grito Claro», n.º 1 da colecção de poesia «A Palavra», editada em Faro e dirigida pelo seu amigo e também poeta Casimiro de Brito. Ainda nesse ano inicia a publicação da revista «Cadernos do Meio-Dia», que em 1960 encerra a edição por ordem da polícia política, a PIDE.
Foi um dos fundadores da revista de poesia Árvore, existente entre 1951 e 1953.
Fez parte do MUD Juvenil.
O seu nome foi dado à Biblioteca Municipal de Faro. Em 2003, a Universidade do Algarve, atribui-lhe o grau de Doutor Honoris Causa.
Prémios:
- Prémio Fernando Pessoa, da Editora Ática (segundo lugar, ex-aequo), 1958 (Viagem através duma nebulosa)
- Prémio Nacional de Poesia, da Secretaria de Estado de Informação e Turismo (recusado pelo autor), 1971 (Nos seus olhos de silêncio)
- Prémio Literário da Casa da Imprensa (Prémio Literário), 1971 (A pedra nua)
- Prémio P.E.N. Clube Português de Poesia, 1980 (O incêndio dos aspectos)
- Prémio Nicola de Poesia, 1986 (Volante verde)
- Prémio Jacinto do Prado Coelho, do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, 1987 (Incisões oblíquas)
- Prémio Pessoa, 1988
- Grande Prémio de Poesia APE/CTT, 1989 (Acordes)
- Prémio da Bienal de Poesia de Liége, 1991
- Prémio Jean Malrieu para o melhor livro de poesia traduzido em França, 1992
- Prémio Municipal Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa (Prémio de Poesia), 1992 (As armas imprecisas)
- Grande Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen (Prémio de Poesia), São João da Madeira, 2005 (O poeta na rua. Antologia portátil)
Obra:
- 1958 - O Grito Claro
- 1960 - Viagem Através duma Nebulosa
- 1961 - Voz Inicial
- 1961 - Sobre o Rosto da Terra
- 1963 - Ocupação do Espaço
- 1964 - Terrear
- 1966 - Estou Vivo e Escrevo Sol
- 1969 - A Construção do Corpo
- 1970 - Nos Seus Olhos de Silêncio
- 1972 - A Pedra Nua
- 1974 - Não Posso Adiar o Coração (vol.I, da Obra Poética)
- 1975 - Animal Olhar (vol.II, da Obra Poética)
- 1975 - Respirar a Sombra (vol.III, da Obra Poética)
- 1975 - Ciclo do Cavalo
- 1977 - Boca Incompleta
- 1977 - A Imagem
- 1978 - As Marcas no Deserto
- 1978 - A Nuvem Sobre a Página
- 1979 - Figurações
- 1979 - Círculo Aberto
- 1980 - O Incêndio dos Aspectos
- 1980 - Declives
- 1980 - Le Domaine Enchanté
- 1980 - Figura: Fragmentos
- 1980 - As Marcas do Deserto
- 1981 - O Centro na Distância
- 1982 - O Incerto Exacto
- 1983 - Quando o Inexorável
- 1983 - Gravitações
- 1984 - Dinâmica Subtil
- 1985 - Ficção
- 1985 - Mediadoras
- 1986 - Volante Verde
- 1986 - Vinte Poemas para Albano Martins
- 1986 - Clareiras
- 1987 - No Calcanhar do Vento
- 1988 - O Livro da Ignorância
- 1988 - O Deus Nu(lo)
- 1989 - Três Lições Materiais
- 1989 - Acordes
- 1989 - Duas Águas, Um Rio (colaboração com Casimiro de Brito)
- 1990 - O Não e o Sim
- 1990 - Facilidade do Ar
- 1990 - Estrias
- 1991 - A Rosa Esquerda
- 1991 - Oásis Branco
- 1992 - Pólen- Silêncio
- 1992 - As Armas Imprecisas
- 1992 - Clamores
- 1992 - Dezassete Poemas
- 1993 - Lâmpadas Com Alguns Insectos
- 1994 - O Teu Rosto
- 1994 - O Navio da Matéria
- 1995 - Três
- 1996 - Delta
- 1996 - Figuras Solares
- 1997 - Nomes de Ninguém
- 1997 - À mesa do vento seguido de As espirais de Dioniso
- 1997 - Versões/Inversões
- 1998 - A imagem e o desejo
- 1998 - A imobilidade fulminante
- 1999 - Pátria soberana seguido de Nova ficção
- 2000 - O princípio da água
- 2001 - As palavras
- 2001 - Deambulações oblíquas
- 2001 - O deus da incerta ignorância seguido de Incertezas ou evidências
- 2001 - O aprendiz secreto
- 2002 - Os volúveis diademas
- 2002 - O alvor do mundo. Diálogo poético, em col.
- 2002 - Cada árvore é um ser para ser em nós
- 2002 - O sol é todo o espaço
- 2003 - Os animais do sol e da sombra seguido de O corpo inicial
- 2003 - Meditações metapoéticas, em col. c/ Robert Bréchon
- 2003 - O que não pode ser dito
- 2004 - Relâmpago do nada
- 2005 - Génese seguido de Constelações
- 2007 - Horizonte a Ocidente
- 2007 - Rosa Intacta
- 2009 - La herida intacta / A intacta ferida. Ediciones Sequitur, Madrid (em espanhol)
- 2011 - Prosas seguidas de diálogos (única obra em prosa)
in Wikipédia
A matéria do desejo
Há palavras com que procuramos navegar:
distância, sombra, lâmpada, vazio.
E às vezes abrem-se repentinos corredores,
no silêncio de uma nuvem veneranda.
E se toda a ciência é esquecimento
que por dentro torna tudo grande
e por fora rasga varandas brancas
para um horizonte que nunca foi pensado,
é porque em nós subsistem estrelas de água
que sob os arcos da noite demoraram.
E então o olhar regressa à fonte
com a força grave e limpa de estar vendo
a matéria mesma do desejo
numa colina que se espraia sob a brisa
e não é ainda um nome e já o inicia.
in A imagem e o desejo (1998) - António Ramos Rosa
Há palavras com que procuramos navegar:
distância, sombra, lâmpada, vazio.
E às vezes abrem-se repentinos corredores,
no silêncio de uma nuvem veneranda.
E se toda a ciência é esquecimento
que por dentro torna tudo grande
e por fora rasga varandas brancas
para um horizonte que nunca foi pensado,
é porque em nós subsistem estrelas de água
que sob os arcos da noite demoraram.
E então o olhar regressa à fonte
com a força grave e limpa de estar vendo
a matéria mesma do desejo
numa colina que se espraia sob a brisa
e não é ainda um nome e já o inicia.
in A imagem e o desejo (1998) - António Ramos Rosa
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