quinta-feira, novembro 16, 2023

Hoje é um bom dia para cantar a poesia de Saramago...

 

Nenhuma estrela caiu - Mísia
Letra (adaptada) de José Saramago e música de Franklin Rodrigues 
   
Janelas que me separam
Do vento frio da tarde
Num recanto de silêncio
Onde os gestos do pensar
São as traves duma ponte
Que não paro de lançar
  
Vem a noite e o seu recado
Sua negra natureza
Talvez a lua não falte
Ou venha a chuva de estrelas
Basta que o sono desperte
O sonho que deixa vê-las
  
Abro as janelas...
E o frio vento se esquece
Nenhuma estrela caiu
Nem a lua me ajudou
Mas a ruiva madrugada
Por trás da ponte aparece.

  
Janelas que me separam
Do vento frio da tarde
Num recanto de silêncio
Onde os gestos do pensar
São as traves duma ponte
Que não paro de lançar
  

  

NOTA: aqui fica a versão original do poema de Saramago, tão bem adaptado por Mísia:
    
  
A ponte
  
Vidraças que me separam
Do vento fresco da tarde
Num casulo de silêncio
Onde os segredos e o ar
São as traves duma ponte
Que não paro de lançar
    
Fica-se a ponte no espaço
À espera de quem lá passe
Que o motivo de ser ponte
Se não pára a construção
Vai muito mais a vontade
De estarem onde não estão
    
Vem a noite e o seu recado
Sua negra natureza
talvez a lua não falte
Ou venha a chuva de estrelas
Basta que o sono consinta
A confiança de vê-las
      
Amanhã o novo dia
Se o merecer e me for dado
Um outro pilar da ponte
Cravado no fundo do mar
Torna mais breve a distância
Do que falta caminhar
       
Há sempre um ponto de mira
O mais comum horizonte
Nunca as pontes lá chegaram
Porque acaba o construtor
Antes que a ponte se entronque
Onde se acaba o transpor
      
Sobre o vazio do mar
Desfere o traço da ponte
Vá na frente a construção
Não perguntem de que serve
Esta humana teimosia
Que sobre a ponte se atreve
     
Abro as vidraças por fim
E todo o vento se esquece
Nenhuma estrela caiu
Nem a lua me ajudou
Mas a ruiva madrugada
Por trás da ponte aparece.
    
 
   
in Provavelmente Alegria (1970) - José Saramago

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