sexta-feira, julho 07, 2023

Poesia para Geopedrados...


 

Vivem ali uns tantos cujo sangue 

 

Vivem ali uns tantos cujo sangue 

é morno 

mas esfria sem demora se vertido. Incubam as crias 

por longos meses. Dão-lhes um nome,

agasalho, teta. 

Desfilam, vestidos de petroquímica, encaroçados 

em cubos metálicos que rolam no crude 

fundido, deitado sobre a terra morta. 

 

Uns quantos, desvairados escalam pináculos,

cavalgam ondas colossais. 

Outros puxam alavancas, carregam em botões, 

colectam coisas, transportam sacas, 

enchem recipientes. 

 

Confinam. Formigam. Unem margens apartadas,

passadiços sobre o vazio. Percorrem túneis, tubos,

escavam buracos, tocas; queimam sem descanso a podridão antiga, 

milhões de anos acumulada tiram dela a flama

do movimento. 

 

Tiveram outrora uma alma, ínfimo desvio 

do azul 

para o vermelho. 

 

 

in Firmamento (2022) - Rui Lage

Sem comentários: