quarta-feira, março 05, 2014

Afonso Duarte morreu há 56 anos

(imagem daqui)

Afonso Duarte (Ereira, 1 de janeiro de 1884 - Coimbra, 5 de março de 1958) foi um poeta português.
Afonso Duarte interessou-se por temas de etnografia e arte popular portuguesa, reflectidos na sua obra poética, ligada às crenças e mitos seculares, aos motivos da terra, vida animal, ao povo e à lide agrária.
Encontra-se colaboração da sua autoria nas revistas Atlântida (1915-1920) e Contemporânea (1915-1926).


Biografia completa

1884 - Nasce Afonso Duarte, a 1 de janeiro, na aldeia da Ereira, freguesia de Verride, concelho de Montemor-o-Velho, filho de Henrique Fernandes Duarte e D. Maria Pereira Cantante.

1896 - Faz exame de instrução primária na Escola de Alfarelos.

1898 - Entra para o Colégio Mondego, de Coimbra, onde permanece como aluno interno durante 3 anos.

1902- Assenta praça nos Lanceiros de EI-Rei e matricula-se no Liceu de José Falcão.

1904 - Sabe-se que tinha já concluído nesta altura o seu primeiro livro de versos, Composições verdes, que não chegou a ser publicado.

1908 - Matricula-se na Universidade de Coimbra (prepararatórios para a Escola do Exército)

1909 - Desiste da carreira das armas, passando a frequentar o curso de Ciências Físico-Naturais da Faculdade de Filosofia, hoje extinta.

1912 - Publica o Cancioneiro das Pedras na Livraria Ferreira, de Lisboa, livro que reúne as poesias escritas de 1906 a 1910. Funda, com Nuno Simões, a revista Rajada.

1913 - Bacharela-se em Ciências Físico- Naturais.

1914 - Publica a Tragédia do Sol-posto, Franca Amado Editor, Coimbra. É colocado como professor provisório no Liceu de Vila Real de Trás-os-Montes.

1915- Abandona Vila Real para frequentar a Escola Normal Superior de Lisboa.

1916 - Publica a Rapsódia do Sol-nado seguida do Ritual do Amor, Renascença Portuguesa, Porto.

1917 - É nomeado professor do Liceu de Gil Vicente, de Lisboa. Mobilizado pouco depois, dá entrada na Escola de Oficiais Milicianos de Artilharia de Costa.

1918 - É licenciado a seguir ao Armistício, sobrevindo-lhe então a grave doença que esteve quase a inutilizá-lo (paraplegia) e de que nunca mais se curou completamente.

1919 - Volta a exercer funções públicas como chefe de secretaria do Liceu Infanta D. Maria e professor da Escola Normal Primária de Coimbra.

1924 - Lança com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca a revista Triptico.

1925 - Abandona o cargo de chefe de secretaria do Liceu de José Falcão, para onde transitara do Liceu Infanta D. Maria, entregando-se a partir de então, na Escola Normal, a uma experiência pedagógica absorvente, que alcançou verdadeira repercussão europeia. Publica Barros de Coimbra, edições Lumen, Coimbra.

1929 - Dá a lume Os sete poemas líricos, edições Presença, Coimbra, compilação da sua obra poética, inédita e publicada.

1932 - É colocado na situação de adido fora do serviço e compelido à aposentação.

1933 - Publica Desenhos animistas de uma criança de 7 anos, Imprensa da Universidade, Coimbra.

1936 - Publica o ciclo do Natal na literatura oral portuguesa, Biblioteca Etnográfica e Histórica Portuguesa, Barcelos.

1947 - Publica Ossadas, edição da Seara Nova, Lisboa. Poesias escritas, provavelmente, entre 1922 e 1946.

1948 - Publica Um esquema do cancioneiro popular português, também edição da Seara Nova.

1949 - Publica o Post-scriptum de um combatente, Colecção Galo, Coimbra. Escrito em janeiro e fevereiro de 1948, excepto as poesias «Post-scriptum de um combatente» (1917), «Coimbra» (1918), «4 de junho de 1944», «Terra Natal (1947), «Eugénio de Castro» (1947) e a «Saudação a Pascoaes» (1949).

1950 - Publica Sibila, edição do autor, Coimbra. Tanto as «trinta e cinco redondilhas fingidas» como o «Soneto verdadeiro» datam de abril de 1950.

1952 - Publica Canto de Babilónia e Canto de morte e amor, ambos edições do autor, o primeiro escrito em 1951, o segundo de janeiro a março de 1952.

1956 - Sai a 1.ª edição da sua Obra Poética, Iniciativas Editoríais, Lisboa. É uma recolha de todos os livros de poesia já publicados e inclui o livro inédito O Anjo da Morte e outros poemas, coligido e completado de 1952 a 1956, embora no plano geral da obra o autor o insira antes do tríptico de redondilhas formado por Sibila, Canto de Babílónia e Canto de Morte e Amor. Acompanha a Obra Poética um apêndice biobibliográfico, organizado por Carlos de Oliveira e João José Cochofel.

1956 - A 24 de junho é-lhe prestada pública homenagem na Ereira, sua terra natal, e descerrada no Castelo de Montemor-o-Velho uma lápide com estes versos seus: Onde nasceu o Fernão Mendes Pinto? Jorge de Montemor onde nasceu? A mesma terra, o mesmo céu que eu pinto, Castelo velho, o que foi deles é meu.

1957 - 2.a edição da Obra Poética, Guimarães Editores, Lisboa, aumentada de novas poesias.

1958 - Morre em Coimbra, a 5 de março. É sepultado no cemitério da Ereira.

1960 - Sai o volume póstumo Lápides e outros poemas (Iniciativas Editoriais, Lisboa), organizado por Carlos de Oliveira e João José Cochofel.

1974 - Publica-se esta 3.ª edição, definitiva, da Obra Poética. A inclusão (não cronológica) de Lápides e outros poemas entre os livros o anjo da morte e Sibila faz-se por determinação de Afonso Duarte, que insistentemente indicou os cicios das redondilhas como fecho de toda a sua obra.

 in EPAAD


In Extremis

1

Só a criança conhece a Eternidade
Que é inocência do desconhecido.
E o que me dá saudade
É havê-la em mim perdido.

Outra herança de tudo que não sou
Podeis levá-la! Faça-se a vontade:
Que a imortal, perene propriedade,
Perdeu-a o homem quando semeou.

Ah! como a onda do mar que é mais bravia
É que abraça os escolhos,
Só terra de poesia
Foi na minh'alma dor, o luto dos meus olhos.

Entre o homem e o mundo há um novelo
De linha preta:
Meu acto de Fé é ser criança, e crê-lo,
Que é ser poeta.

2

O que levamos da terra
É o céu que possuímos:
Esperança das sepulturas.

E à morte que damos vida
Todos os deuses se igualam
Ao mesmo Deus das Alturas.

Sê, ó Morte, o meu dia de Juízo
Se é fantasia o que penso
Sonho a terra que piso.

Mas quando o corpo, a natureza morta
Me for nas mãos dos homens
Com suas luvas pretas,

Ai, cante um rouxinol minha hora derradeira,
Porventura o mais fiel dos cantos
Amigo dos poetas.

 

in O Anjo da Morte e Outros Poemas (1956) - Afonso Duarte

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