Humorista juntou cerca de 200 mil pessoas em Washington
No comício de Jon Stewart, a América teve o seu momento zen Jon Stewart e o seu comparsa Stephen Colbert fizeram três horas de espectáculo
Quando Jon Stewart explicou o motivo que o levou a realizar um “comício” em Washington, no final de três horas de espectáculo, o público já tinha visto o seu comparsa Stephen Colbert atribuir uma medalha à T-shirt preta justa de Anderson Cooper, repórter-estrela da CNN, o robô da Guerra das Estrelas R2D2 falar em palco — ou seja, proferir uma série de bips — e o Peter Pan cantar. Mas faltavam dez minutos para acabar e o espectáculo estava a atingir, se não o seu momento zen, pelo menos o seu momento de sinceridade.
“Estou muito feliz por estarem aqui, apesar de alguns não saberem muito bem porquê”, começou Stewart. Mas foi o seu último suspiro de ironia. O que se seguiu foi um discurso que ecoou o que Barack Obama andou a fazer durante a campanha presidencial, tentando unificar uma América dividida. O humorista Jon Stewart, que entrevistou o Presidente americano na quarta-feira no seu programa, emergiu ontem como um conciliador nacional. “O que é que foi isto exactamente?”, perguntou. Não foi um comício para ridicularizar pessoas de fé, esclareceu, nem para olhar com snobismo para o país real, nem “para sugerir que os tempos não são difíceis e que não temos nada a recear”. Stewart referia-se aos activistas do Tea Party, o movimento de descontentamento popular e ultra-conservador. “Vivemos tempos difíceis, e não o fim dos tempos. E não temos de ser inimigos”, disse.
A mensagem de Stewart, admirado e seguido pela esquerda americana, não se dirigia apenas, nem sobretudo, aos conservadores — os que alguns participantes se referiram como “o outro lado”. “Não ser capaz de distinguir entre racistas a sério e os membros do Tea Party é um insulto, não só para essas pessoas como para os racistas, que são incansáveis no esforço que é preciso para odiar.” Ou ser incapaz de distinguir entre muçulmanos e terroristas. E, no entanto, Stewart sentia-se bem. Porque a imagem dos americanos reflectida pelo sistema político ou pelos media “é falsa”. Os americanos, disse, são gente trabalhadora, “pessoas que estão ligeiramente atrasadas para qualquer coisa que têm de fazer”.
Para ilustrar o seu ponto de vista, os ecrãs gigantes mostraram imagens da fila de trânsito à entrada do túnel que liga New Jersey e Nova Iorque. Os americanos são pessoas que deixam o carro do lado avançar primeiro. O discurso de Stewart vai certamente tornar-se viral no YouTube, como aconteceu com os de Obama em 2008.
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