quarta-feira, abril 01, 2009

Pedra parideira

Do Blog Desambientado (o blog científico e poético de um professor amigo - o Doutor Félix - que dá aulas na Universidade dos Açores) publicamos o seguinte post:

Se uma pedra nodular,
É capaz de procriar,
Um coração empedernido
É bem capaz de amar.


Não há feldspato nem mica,
Nem nenhuma teoria explica,
Porque a aldeia da Castanheira
Tem a pedra parideira.


A rocha-mãe, por termoclastia,
Sem demonstrar agonia,
Ultrapassa o seu limite
Dando nódulos de biotite.


Se uma pedra nasce assim,
Como será o seu fim?
O vento batendo-lhe no rosto,
Fá-la não ter posto.
Enquanto eu tenho desgosto,
No andar a contra gosto.

A pedra nasce com sorte,
E eu, com sofrimento,
Até que me leve a morte
Num derradeiro padecimento.


Fotos de Felisberto Matos

Félix Rodrigues

Angra do Heroísmo, 27 de Março de 2009.

Uma comissão de peritos da UNESCO deslocou-se no início do ano a Arouca para avaliar a candidatura do geoparque do município à rede internacional, apostando em seduzir o mundo com «pedras parideiras» e outras singularidades. A candidatura do Geoparque Arouca à UNESCO foi apresentada em finais de Agosto do ano passado e acolhida numa primeira fase.


Uma equipa internacional de avaliação, apreciou a viabilidade da pretensão, revelou o coordenador científico do projecto, Artur Sá. O docente na Universidade de Trás-os-Montes e investigador do Centro de Geociências da Universidade de Coimbra explica que os peritos internacionais, além da componente científica, irão avaliar toda a estrutura organizativa e de gestão, que ficará confiada à AGA - Associação Geoparque Arouca, criada propositadamente para esse fim.


"Será uma estrutura com as pessoas e para as pessoas”, sustentou o coordenador científico, frisando que “não é para ser um parque de diversões para geólogos”, mas para contribuir para o desenvolvimento das populações locais, do concelho e da região.


O Geoparque Arouca, que corresponde à área administrativa do concelho de Arouca, com uma extensão de 330 quilómetros quadrados, é reconhecido pelo seu excepcional património geológico de importância internacional, nomeadamente pelas trilobites (fósseis de animais marinhos que viveram há milhões de anos - no Ordovícico Médio) gigantes de Canelas, pelas «pedras parideiras» da Castanheira, os icnofósseis do Vale do Paiva, e a Frecha da Mizarela, a segunda queda de água de maior desnível na Europa.


As «pedras parideiras», que revelam um fenómeno geológico único no mundo - segundo Artur Sá -, são nódulos negros de biotite, um mineral, encrustados numa matriz granítica, que pelo efeito da erosão saltam da rocha. Para além de constituírem um fenómeno científico único, quer na sua formação, quer na “expulsão” devido à erosão, às «pedras parideiras» está associado um misticismo ancestral, ligado à fecundidade, ainda vivo nas populações locais, e chegaram a ser encontradas numa mamoa - um monumento funerário megalítico.


NOTA: aconselha-se uma ida regular a este Blog - faz bem à alma e aprende-se umas coisas. Esperamos que o Doutor Félix nos dê o prazer da sua companhia (nem que seja um bocadinho...) na nossa estada na ilha Terceira...

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