(c) Antero Valério
Não sei se notaram - afinal, os meios mobilizados e a cobertura mediática foram escassos - mas a retoma política do Governo este ano centrou-se na área da Educação que, com alguma justeza, os nossos responsáveis políticos detectaram como aquela que pode provocar maiores problemas em matéria de balanço em 2009 ou ser aquela que pode significar a diferença entre uma maioria relativa e uma maioria absoluta.
Depois de um constante deslizar na opinião pública durante este ano, a Ministra surgiu neste início de Setembro novamente a ser promovida na comunicação social - ainda me falta ler a entrevista concedida ao sempre amigável e disponível Jornal de Letras - e a lançar o ano lectivo rodeada pelo executivo em peso, mesmo pelos elementos menos animados do grupo e a necessitarem de entregar prova de vida em São Bento.
Isto não é inocente. Nem por remoto acaso. A Economia não descola, mas a culpa é sempre lá de fora, o petróleo, a crise do subprime na América, o que for. Em matéria de Saúde, as coisas avançam, recuam, lateralizam, cabeceiam para fora e não se percebe exactamente em que ponto estamos. A reforma da administração pública não entusiasma muito mais gente do que dez analistas liberais que dizem sempre o mesmo. Em matéria de Justiça, ainda o novo Código Penal arrancou bem, já a revisão se anuncia merecedora ela própria da sua revisão.
Portanto, a bem dizer, o Governo tem a apresentar como obra de um mandato o que anda a fazer em matéria de Educação, nomeadamente quanto aos indicadores relativos ao abandono e insucesso para apresentar à opinião publicada e ao Presidente da República. E como os alunos não votam já, também interessa recuperar um pouco da generalizada desafeição que pelo menos uma centena de milhar de professores passaram a dedicar a este desgoverno.
Vai daí a propaganda, a “oferta” de computadores e a tentativa desesperada de um sprint nos dois anos lectivos que faltam até às eleições de 2009.
Como todos sabemos, nenhuma reforma educativa digna desse nome produz efeitos em tão pouco tempo e muito menos se não se tratar de uma verdadeira reforma, mas apenas de mudanças (reduções) na alocação dos meios financeiros. E ainda menos se for uma reforma baseada em pressupostos errados.
Por isso, para em 2009 (a)parecer obra feita, é necessário recorrer a dois estratagemas:
- Construir uma realidade educativa virtual para consumo mediático e
- Desenvolver instrumentos legislativos para produzir sucesso e reduzir o abandono.
A propaganda está aí perante os olhos de todos, alimentada a portáteis Fujitsu-Siemens presos a contratos trianuais de ligação à net da TMN ou outros. A acção legislativa subterrânea também anda por aí mas mais disfarçada em forma de circulares, despachos e portarias que regulamentam, esclarecem e aconselham, com o empurrão dos grupos de alunos associados ao insucesso escolar para cursos técnico-profissionais onde a retenção ou “chumbo” são praticamente proibidos, assim como algumas regras decorrentes do novo Estatuto de Aluno visam combater o abandono escolar na secretaria, mantendo os alunos oficialmente no sistema quando não estão lá.
Se em 2009 com tudo isto conseguirem alterar mais de 5-6% em cada um dos indicadores relativamente a 2005 vão lançar foguetes e girândolas alegando um sucesso sem par. O problema é que, mesmo com todos os truques e barragens mediáticas, será então tempo de perceber se não podia ter sido feito melhor e se, aliás, não foi feito melhor no passado.
Mas uma coisa é certa: por muitos elogios que tenha, por muitas recompensas douradas que receba, a História demonstrará o que valeu este consulado de Maria de Lurdes Rodrigues e tudo aquilo que o país (não) lhe deverá.
Posted by Paulo Guinote under Educação, Nevoeiro, Política, Propaganda, Truques
Setembro 15, 2007
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