Barreira à poluição para salvar mosteiro
Helena Simão, Henriques da Cunha
Especialistas têm alertado para impacto dos gases e da trepidação dos milhares de veículos que passam diariamente junto do monumento
O impacto do Itinerário Complementar (IC) 2, com um corredor situado a escassos metros do Mosteiro da Batalha, vai ser analisado pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Os gases poluentes libertados e a trepidação causada pelos milhares de veículos, que diariamente passam junto ao monumento, classificado Património Mundial pela UNESCO, são preocupações antigas de inúmeros especialistas que realçam a fragilidade daquele templo. Os apoios comunitários, através do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), podem finalmente minimizar o problema.
O presidente do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), Elísio Summavielle, confirmou, ao JN, que o assunto é considerado prioritário, adiantando estar a ser analisado em parceria com a Estradas de Portugal (EP). O ideal, defende, "é que seja construída o mais rapidamente possível uma nova variante naquela zona, que desvie o trânsito", projecto já concluído pela EP, mas ainda sem data para avançar.
Face às óbvias limitações financeiras, procuram-se alternativas mais baratas. O responsável pelo IGESPAR refere que "a possibilidade de criar barreiras (como a colocação de árvores) à poluição vai ser estudada. Em paralelo, a preservação deste monumento, a par com o Mosteiro de Alcobaça e o Convento de Cristo em Tomar, também classificados pela UNESCO, vai ser alvo de uma estratégia conjunta para captar financiamento do QREN, anunciou Elísio Summavielle.
O responsável garante que desta vez o assunto não vai ficar na gaveta, referindo-se a um estudo semelhante, elaborado na década de 80 e que já alertava para o "cancro" da pedra exterior do mosteiro, embora não tenha originado nenhuma intervenção.
O presidente da Câmara da Batalha, António Lucas, está a acompanhar o processo, revelando que, no que respeita à envolvente do monumento, "há uma série de projectos em curso". "Estamos a tentar chegar a um entendimento com o IGESPAR", disse, optando por não adiantar mais pormenores. Quanto à variante do IC2, o autarca espera que as obras se iniciem em breve, "sob pena de o mosteiro deixar de ser Património da Humanidade". "Foi uma exigência da UNESCO a retirada da estrada", lembrou.
Contactada, a EP não forneceu quaisquer esclarecimentos.
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"Monumento é bastante sensível"
Todas as conclusões dos especialistas apontam no sentido de que a poluição está a deteriorar o mosteiro, não só a pedra, como também os vitrais, que são de extrema importância, e as madeiras. Os impactos negativos não são causados unicamente pelos veículos que passam no IC2, e que libertam gases e causam vibrações, mas também pelo tráfego aéreo, pelo ruído, que pode ter origem em festas, e até pelo lançamento de foguetes. Há uma série de factores que põem em causa a longevidade do mosteiro, que todos queremos que continue de pé nos próximos séculos. Estes são os humanos, mas há os naturais, como o vento a que está exposta sobretudo a ala Norte e o salitre, devido à proximidade do mar. O monumento é bastante sensível.
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