Eis o Editorial do DN de 11 de Setembro:
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Que alguém que escreve este tipo de barbaridades a pedido seja apelidado de jornalista e receba um vencimento afigura-se-me surreal! Mais, parece-me perigoso visto que mostra claramente o tipo de imprensa que temos hoje em Portugal. Credível é portanto um adjectivo que se encontra actualmente em desuso, pelo que devemos possuir muita lucidez e escolher criteriosamente os jornais com que julgamos informar-nos. Ainda assim, pode-se sempre dissecar isto e aproveitar para proceder a alguns esclarecimentos.
É verdade que a educação é um ninho de interesses, pois só assim se explica que constitua a base de sustentação e a bandeira hasteada do orgulho de um governo que, até agora, só fez o inverso de tudo o que prometeu e nada tem a apresentar de que se/nos orgulhe.
No que toca ao alegado aumento dos alunos e à diminuição dos custos em vencimentos de professores, recordemos as palavras recentes da ministra da educação relativas às consequências do crescente abandono escolar, sendo a primeira delas a diminuição do número de turmas do terceiro ciclo e do secundário e, por isso mesmo, o aumento de professores desempregados. A incongruência é gritante, a lição não foi estudada em conjunto pelas duas figuras mais (im)populares do governo! Afinal há menos professores porque há menos alunos, caramba! Apesar dos portugueses serem fracos a matemática, há contas que são evidentes. E será que este facto é motivo de gáudio para o primeiro-ministro? Será que o desemprego é mais uma estratégia brilhante de combate à crise? Se assim for temos, no mínimo, que entrar em pânico! Aliás, só o facto de termos inúmeros alunos com 15, 16, 17 e até 18 anos no 7º ano de escolaridade é por demais grave para que alguém se regozije com o estado da educação em Portugal. Saber que as escolas recorrem à publicidade para atrair os alunos em debandada e evitar que os docentes do quadro fiquem sem emprego é tristemente irónico. Constatar que as turmas do ensino secundário diminuem periodicamente de norte a sul do país e que os jovens não encontram saídas profissionais é dramático. Verificar que os alunos na escolaridade obrigatória que se encontram em situação de segunda repetência passam de ano independentemente do número de negativas é suicida. Saber que os alunos com necessidades educativas especiais frequentam as aulas sem o acompanhamento de técnicos e sem quaisquer estratégias de orientação é vergonhoso. Toda esta caça às bruxas no seio da classe docente, que se vê crucificada por quem a devia apoiar, é apenas e tão simplesmente uma grande falácia! Será que o povo cegou?!
Quanto ao alegado silêncio, os professores não deixaram de protestar, os professores cansaram-se de dar murros em pontas de faca. Os professores têm tantos alunos com que se preocupar por falta de pré-requisitos, de dificuldades de aprendizagem ou por negligência familiar, tantos casos de insucesso flagrante que não é combatido pois as ordens superiores são de aprovar os alunos a qualquer preço, tantas carências para suprir por falta de colocação dos que deviam ocupar os cargos (funcionários, professores do ensino especial, psicólogos, terapeutas, assistentes sociais...), tanta falta de condições de trabalho e tanta burrocracia a que dar vazão, que pura e simplesmente deixaram de perder tempo a tentar dialogar com autistas. Os professores têm carreiras e ordenados congelados num país em que só o IVA é de 21%, em que os impostos são tantos e tão diversificados que comprar e manter casa ou carro comportam despesas adicionais inimagináveis, em que quaisquer bens são mais caros do que em qualquer país desenvolvido (o gás em Espanha é 37% mais barato, a gasolina custa menos 20%, os carros custam entre 22,2% a 44,6% menos em qualquer país da zona euro e por aí fora, é só obter informação). Os professores estão fartos de ser maquiavelicamente usados e de constatar que, perante este cenário grotesco, a resposta dos cidadãos é deixar-se (***) a sangue frio com placidez bovina e uma submissão equiparável à dos judeus do Antigo Testamento. Para qualquer português, independentemente até da profissão, não desmoralizar perante um cenário quotidiano deste calibre é tarefa hercúlea! Tanto sacrifício em prol de um buraco orçamental que é um sorvedouro sem fundo e sem fim do nosso suor e do nosso dinheiro? Há muito que deixei de acreditar no Pai Natal e no Homem do Saco!
Quanto às aulas de substituição, ocorre-me apenas usar uma anedota que circula na Net:
A senhora ministra vai ao cardiologista, consequência do stress inerente ao excesso de vaias recebidas e retribuídas, e o médico pede-lhe que se deite e abra as pernas. A perplexa senhora, ruborizada, exclama "Sr. Dr., eu queixo-me do coração!", ao que o médico retorque "Mas minha senhora, eu sou o ginecologista de substituição!"
Quanto aos alunos do 1º ciclo, é bom que tenham inglês, já que ninguém permite que se lhes ensine o português. Nem a eles nem aos seus colegas, pois basta ver o enunciado dos exames nacionais de 9º ano para perceber que tipo de comédia se instalou. Também é bom que saiam às 17:30, visto que mais uns anitos e entrarão às 08:00 e sairão às 18:30, terão entre 12 a 14 disciplinas e aulas de 90 minutos.
Os manuais são mais baratos? Bom, segundo os noticiários são precisos 200 euros por aluno, o que em famílias com vários filhos ou monoparentais e vencimentos de 500 euros se pode considerar de facto uma genuína pechincha! E quanto aos livros de português, não esquecer que a TLEBS (terminologia linguística para os ensinos básico e secundário) se encontra congelada. Qual o objectivo ninguém sabe, pois este item encontra-se há longo tempo "Em actualização" no site do ministério. Mas o facto é que os manuais de vários níveis de ensino adquiridos no ano passado têm essa terminologia e que as escolas não têm indicações de como proceder em termos da leccionação da disciplina. Será que o silêncio é mais uma medida eleitoralista para mandar achas para a fogueira e churrascar os professores, ou será que a santa inquisição educacional não quer dizer aos paizinhos que os manuais vão para o lixo e que a TLEBS foi um devaneio surrealista que visava complexificar uma gramática que já praticamente ninguém assimila na versão original, quanto mais revista e piorada? Os alunos do que em tempos normais se podia chamar de primeiro ano do liceu dão em média entre 8 a 20 erros ortográficos por página, aos quais se acrescentam os de sintaxe e de semântica. E também podemos falar da matemática, do inglês, da físco-química ou até da área de projecto. E estes alunos passam de ano? Não, eles reprovam nos conselhos de turma, mas os encarregados de educação interpõem recurso e, se eles forem repetentes, transitam por ordem superior.
Contudo, quem tem a hombridade de assumir todas as realidades acima enunciadas perde o emprego, perde a dignidade tão duramente conquistada no dia-a-dia (a insubordinação e a violência nas escolas existem!), perde a pouca autoridade que a sua profissão lhe trazia, pois hoje até os pais participam nas reuniões intercalares de conselho de turma e emanam os seus pareceres (para quando os cidadãos a participar na governação do seu país com aqueles que democraticamente ajudaram a eleger?!). Pelos vistos os únicos pareceres que não se podem já emitir em Portugal são os que vão contra a prepotência governamental, mesmo que verdadeiros e cristalinos como água. Se calhar o 25 de Abril não passou de um mito! E se calhar é por isso que ainda hoje, 33 depois, se lêem editoriais como este em jornais de referência. Ou então porque, no fundo, há sempre daqueles que querem trepar não importa a que expensas. Já eu preferia ver o meu país evoluir, ao invés de se afundar metodicamente em areias tão movediças.
O que me dói, acima de tudo, é que os senhores que (des)governam falam dos professores de modo a que se creia que estes não se limitam a cumprir as directrizes que eles próprios emanam...
(E. Munch, O Grito)
in Blog BICHO BRAVO - aqui
É verdade que a educação é um ninho de interesses, pois só assim se explica que constitua a base de sustentação e a bandeira hasteada do orgulho de um governo que, até agora, só fez o inverso de tudo o que prometeu e nada tem a apresentar de que se/nos orgulhe.
No que toca ao alegado aumento dos alunos e à diminuição dos custos em vencimentos de professores, recordemos as palavras recentes da ministra da educação relativas às consequências do crescente abandono escolar, sendo a primeira delas a diminuição do número de turmas do terceiro ciclo e do secundário e, por isso mesmo, o aumento de professores desempregados. A incongruência é gritante, a lição não foi estudada em conjunto pelas duas figuras mais (im)populares do governo! Afinal há menos professores porque há menos alunos, caramba! Apesar dos portugueses serem fracos a matemática, há contas que são evidentes. E será que este facto é motivo de gáudio para o primeiro-ministro? Será que o desemprego é mais uma estratégia brilhante de combate à crise? Se assim for temos, no mínimo, que entrar em pânico! Aliás, só o facto de termos inúmeros alunos com 15, 16, 17 e até 18 anos no 7º ano de escolaridade é por demais grave para que alguém se regozije com o estado da educação em Portugal. Saber que as escolas recorrem à publicidade para atrair os alunos em debandada e evitar que os docentes do quadro fiquem sem emprego é tristemente irónico. Constatar que as turmas do ensino secundário diminuem periodicamente de norte a sul do país e que os jovens não encontram saídas profissionais é dramático. Verificar que os alunos na escolaridade obrigatória que se encontram em situação de segunda repetência passam de ano independentemente do número de negativas é suicida. Saber que os alunos com necessidades educativas especiais frequentam as aulas sem o acompanhamento de técnicos e sem quaisquer estratégias de orientação é vergonhoso. Toda esta caça às bruxas no seio da classe docente, que se vê crucificada por quem a devia apoiar, é apenas e tão simplesmente uma grande falácia! Será que o povo cegou?!
Quanto ao alegado silêncio, os professores não deixaram de protestar, os professores cansaram-se de dar murros em pontas de faca. Os professores têm tantos alunos com que se preocupar por falta de pré-requisitos, de dificuldades de aprendizagem ou por negligência familiar, tantos casos de insucesso flagrante que não é combatido pois as ordens superiores são de aprovar os alunos a qualquer preço, tantas carências para suprir por falta de colocação dos que deviam ocupar os cargos (funcionários, professores do ensino especial, psicólogos, terapeutas, assistentes sociais...), tanta falta de condições de trabalho e tanta burrocracia a que dar vazão, que pura e simplesmente deixaram de perder tempo a tentar dialogar com autistas. Os professores têm carreiras e ordenados congelados num país em que só o IVA é de 21%, em que os impostos são tantos e tão diversificados que comprar e manter casa ou carro comportam despesas adicionais inimagináveis, em que quaisquer bens são mais caros do que em qualquer país desenvolvido (o gás em Espanha é 37% mais barato, a gasolina custa menos 20%, os carros custam entre 22,2% a 44,6% menos em qualquer país da zona euro e por aí fora, é só obter informação). Os professores estão fartos de ser maquiavelicamente usados e de constatar que, perante este cenário grotesco, a resposta dos cidadãos é deixar-se (***) a sangue frio com placidez bovina e uma submissão equiparável à dos judeus do Antigo Testamento. Para qualquer português, independentemente até da profissão, não desmoralizar perante um cenário quotidiano deste calibre é tarefa hercúlea! Tanto sacrifício em prol de um buraco orçamental que é um sorvedouro sem fundo e sem fim do nosso suor e do nosso dinheiro? Há muito que deixei de acreditar no Pai Natal e no Homem do Saco!
Quanto às aulas de substituição, ocorre-me apenas usar uma anedota que circula na Net:
A senhora ministra vai ao cardiologista, consequência do stress inerente ao excesso de vaias recebidas e retribuídas, e o médico pede-lhe que se deite e abra as pernas. A perplexa senhora, ruborizada, exclama "Sr. Dr., eu queixo-me do coração!", ao que o médico retorque "Mas minha senhora, eu sou o ginecologista de substituição!"
Quanto aos alunos do 1º ciclo, é bom que tenham inglês, já que ninguém permite que se lhes ensine o português. Nem a eles nem aos seus colegas, pois basta ver o enunciado dos exames nacionais de 9º ano para perceber que tipo de comédia se instalou. Também é bom que saiam às 17:30, visto que mais uns anitos e entrarão às 08:00 e sairão às 18:30, terão entre 12 a 14 disciplinas e aulas de 90 minutos.
Os manuais são mais baratos? Bom, segundo os noticiários são precisos 200 euros por aluno, o que em famílias com vários filhos ou monoparentais e vencimentos de 500 euros se pode considerar de facto uma genuína pechincha! E quanto aos livros de português, não esquecer que a TLEBS (terminologia linguística para os ensinos básico e secundário) se encontra congelada. Qual o objectivo ninguém sabe, pois este item encontra-se há longo tempo "Em actualização" no site do ministério. Mas o facto é que os manuais de vários níveis de ensino adquiridos no ano passado têm essa terminologia e que as escolas não têm indicações de como proceder em termos da leccionação da disciplina. Será que o silêncio é mais uma medida eleitoralista para mandar achas para a fogueira e churrascar os professores, ou será que a santa inquisição educacional não quer dizer aos paizinhos que os manuais vão para o lixo e que a TLEBS foi um devaneio surrealista que visava complexificar uma gramática que já praticamente ninguém assimila na versão original, quanto mais revista e piorada? Os alunos do que em tempos normais se podia chamar de primeiro ano do liceu dão em média entre 8 a 20 erros ortográficos por página, aos quais se acrescentam os de sintaxe e de semântica. E também podemos falar da matemática, do inglês, da físco-química ou até da área de projecto. E estes alunos passam de ano? Não, eles reprovam nos conselhos de turma, mas os encarregados de educação interpõem recurso e, se eles forem repetentes, transitam por ordem superior.
Contudo, quem tem a hombridade de assumir todas as realidades acima enunciadas perde o emprego, perde a dignidade tão duramente conquistada no dia-a-dia (a insubordinação e a violência nas escolas existem!), perde a pouca autoridade que a sua profissão lhe trazia, pois hoje até os pais participam nas reuniões intercalares de conselho de turma e emanam os seus pareceres (para quando os cidadãos a participar na governação do seu país com aqueles que democraticamente ajudaram a eleger?!). Pelos vistos os únicos pareceres que não se podem já emitir em Portugal são os que vão contra a prepotência governamental, mesmo que verdadeiros e cristalinos como água. Se calhar o 25 de Abril não passou de um mito! E se calhar é por isso que ainda hoje, 33 depois, se lêem editoriais como este em jornais de referência. Ou então porque, no fundo, há sempre daqueles que querem trepar não importa a que expensas. Já eu preferia ver o meu país evoluir, ao invés de se afundar metodicamente em areias tão movediças.
O que me dói, acima de tudo, é que os senhores que (des)governam falam dos professores de modo a que se creia que estes não se limitam a cumprir as directrizes que eles próprios emanam...
(E. Munch, O Grito)
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